Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

segunda-feira, 30 de julho de 2018

PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL E BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE



         Na foto de 1894 (hasteada uma grande bandeira do Brasil), observa-se na rua General Osório esquina com a rua General Neto o prédio da Câmara Municipal (inaugurado em 1850) no local onde hoje está edificada a Biblioteca Rio-Grandense. Em 1846 foi criado um “Gabinete de Leitura” que se denominou em, 1878, de “Biblioteca Rio Grandense”. A instituição teve sedes em quatro endereços sendo o primeiro na rua do Arsenal (Ewbank). Em 1900 negociou o prédio atual sendo a Câmara Municipal transferida para o prédio da Intendência Municipal (que havia sido reformado). 
           O prédio da Biblioteca começou a sofrer remodelações a partir da década de 1920 alterando completamente a estética original (prédio atual foi construído entre as décadas de 1930-50). A Biblioteca Rio-Grandense é um dos espaços de preservação da memória escrita possuindo um acervo bibliográfico, fotográfico e de periódicos de projeção nacional. Acervo: BRG.



domingo, 29 de julho de 2018

MEMÓRIA & HISTÓRIA: 20 ANOS



A coluna Memória & História do Jornal Agora está completando 20 anos! A primeira matéria foi publicada no dia 2 de agosto de 1998 e tinha o título de “Um Brummer na Cidade do Rio Grande” (a passagem de um militar alemão na década de 1820). Pelo meu registro, foram publicadas 790 matérias.
A proposta da coluna é evidenciar que os processos históricos são constituídos por memórias - fragmentos do acontecer, a serem dilapidados e interpretados buscando sistematizações mais amplas. Nestas duas décadas inúmeros temas foram tratados mas a está ênfase na história do município do Rio Grande. Não se pode esquecer que a história local está inserida -com diferentes intensidades- em histórias mais amplas e que numa cidade portuária, a dinâmica do acontecer da história regional, nacional e internacional se faz sentir de forma mais contundente!
As matérias foram escritas com o intuito de divulgar o conhecimento local e a perspectiva de que as experiências humanas devem ser questionadas com o intuito de promover a reflexão dos projetos civilizatórios. O material produzido sempre teve o objetivo de dialogar com os leitores do jornal Agora e ser um material paradidático de apoio à rede escolar.
Portanto, as visitas ao passado tiveram o intuito de refletir sobre os processos históricos e as historicidades da cidade mais antiga do Rio Grande do Sul. Abordando temáticas referentes  as populações indígenas, história colonial, imperial e republicana, pudemos navegar pelos documentos, iconografias e historiografia dos séculos passados. Em especial, nos voltamos “as gentes” que compuseram a paisagem, as relações sociais e políticas elas construídas e as materialidades que edificaram. Nunca esquecendo que a cidade é um grande espaço de memória para propicia a elaboração de histórias...
Um piloto para a construção da coluna foi publicado em 19 de fevereiro de 1998 com o título “Visões do Rio Grande”. O amadurecimento da ideia em divulgar a história local levou a criação da coluna no mês de agosto e o tempo passou ou as nossas experiências preencheram o tempo...
Vinte anos é um período de curta duração para a temporalidade histórica mas de longa duração para quem escreve semanalmente. É um desafio a ser enfrentado a cada semana e que exige a superação criadora vencendo a fadiga do trabalho semanal na Universidade Federal do Rio Grande.   
Parafraseando a afirmativa de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, posso dizer que o Memória & História, ao longo de duas décadas, ajudou a ampliar a noção de superação e de instigação de “alma investigativa”. A ritualização semanal da escrita contribuiu para a ampliação dos horizontes da investigação do passado com os pés no presente. Visitar o passado, com os olhos do presente e para pessoas de tempos diversos: a historicidade do tempo é a unidade das multifacetadas experiências históricas de gerações que navegam no tempo presente!  
As memórias enquanto fragmentos dispersos de um tempo que passou é o nosso objeto multifacetado a ser visitado e interrogado! São objetos, cartas, documentos, jornais, prédios, chafarizes, ruas, espacialidades reais e irreais que constituem a história coletiva e individual de uma cidade. Quando questionamos a memória ela não será a reprodução do que ocorreu no passado (palpável, odorífica, adrenalínica ou endorfínica) mas poderá ser o catalizador de lembranças intensas para aqueles que a viveram. Por outro lado, visitar memórias impessoais (aquelas que não foram vividas pelo visitante do tempo pretérito) poderá ser fator de novas experiências/conhecimentos e certamente, de reconstruções, pois as memórias são a matéria-prima para novas construções mentais e práticas, superficiais ou mais profundas, que compõem as amálgamas por vezes incoerentes que compõem a nossa consciência a qual dá sentido para nossa existência.
Ao reconstruirmos as memórias estamos dotando-as de vida, com novos sentidos e perspectivas: estamos fazendo com que pequenas frações do passado permaneçam vivas rompendo com o célere passamento e a diluição das obras das gerações anteriores. Na direção desta reflexão a coluna Memória & História vai se convertendo em expressões de um tempo presente onde a vida criadora se manifestou: a busca da compreensão da história (na coluna) se converte em palavras dotadas de historicidade (as matérias) que são fragmentos materiais preservados (o jornal) das experiências/vivências em sociedade (memórias da historicidade fugidia).     
Rua Marechal Floriano entre 1865-1870. As areias ainda não foram cobertas pelo calçamento. Quadra da esquina da Benjamin Constant em direção ao Beco do Afonso. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

  
  

A VILA DO RIO GRANDE EM 1776


          Esta aquarela do sargento-mor Francisco Ferreira de Souza retrata o que foi encontrado pelos luso-brasileiros após a retomada da Vila do Rio Grande com a fuga dos espanhóis. A ocupação espanhola perdurou de 1763 a 1776. A força de mar e terra denominada de Exército do Sul, sediada em São José do Norte, retomou a localidade em abril de 1776 superando a resistência espanhola focada nos vários fortes que existiam entre o Ladino (atual área do Porto Novo) e o forte da Barra (proximidades do molhe oeste).
         A Vila encontrava-se tomada pelos ratos e com a maioria das casas muito danificadas, sendo necessário à demolição da maioria para posterior reconstrução das moradias. Durante a ocupação espanhola, grande parte da população se dispersou pelo Continente do Rio Grande  tendo início o repovoamento a partir de 1776. Basicamente o prédio em melhor condição de manutenção foi a Igreja de São Pedro que foi respeitada pelos espanhóis por ser um local de culto religioso essencial na manutenção do cotidiano de súditos católicos.


Aquarela da Vila do Rio Grande de São Pedro em abril de 1776. Arquivo de Évora (Portugal). 

sábado, 28 de julho de 2018

O TEMPO, O VENTO E A AREIA


O Tempo é o depositário de todas as experiências humanas, as repetições do cotidiano e os acontecimentos que dão novos rumos ao desenrolar diário da vida de um indivíduo ou de uma comunidade. 
Na memória do Tempo levitam grânulos que transportam não apenas os fragmentos de porções de matéria formadas da decomposição de rochas, mas também são um ponto de encontro na linguagem de quem esteve em Rio Grande documentando os últimos quase três séculos de história: a Areia. 
Na memória do Tempo habita o secular deslocamento do ar que conduz a areia aos olhos, às bocas, aos turbilhões difusos que encobertam o horizonte e encobrem as moradias. Não há lembrança de Rio Grande sem o Vento. A melhor definição do Tempo em Rio Grande está no Vento e na Areia, um ponto de encontro de nascimentos e mortes, entre os séculos XVIII a XXI. Fotografia do Porto Velho na década de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.



quarta-feira, 25 de julho de 2018

HOMENS E AREIAS

Rua Marechal Floriano nas proximidades da Duque de Caxias em 1865. Não havia calçamento e a areia incomodoava os transeuntes. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  

          A cidade edificada numa Restinga obrigou seus moradores a um contínuo enfrentamento com as areias, os alagadiços e os ventos. O soterramento de casas e a falta de pavimentação exigiam obras públicas e particulares que os poucos recursos financeiros muitas vezes tornavam lentas e que se estendiam por décadas. Uma parte considerável da cidade é constituída por aterros que avançaram adentrando as águas da Lagoa dos Patos e do Saco da Mangueira.

         Consolidar os areais já era um desafio quando o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire esteve aqui  por dois meses. Em seu diário escrito no dia 12 de agosto de 1820 ele registrou: “soprou um vento violentíssimo, nuvens de areia extremamente fina enchiam o ar; saí por alguns instantes, sendo muito importunado pela areia que me entrava nos olhos e me cobriam as vestes”. 

terça-feira, 24 de julho de 2018

PRAÇA XAVIER FERREIRA


A Praça Xavier Ferreira tem uma história que remonta aos primeiros anos do século XIX. Teve várias denominações até a atual, dada em 1935, em homenagem ao autor do projeto de elevação da então Vila do Rio Grande de São Pedro para Cidade do Rio Grande, o boticário e jornalista Francisco Xavier Ferreira.
Foi chamada na década de 1870 de Boulevart Rio-Grandense, local de passeio das famílias ao entardecer e nos finais de semana. Sofreu várias intervenções estéticas entre as quais se destacou a colocação em 1875 do chafariz vindo da França. No cartão-postal datado de 1904 o nome da Praça ainda é General Telles. Acervo: Leonardo Barbosa. 


sexta-feira, 20 de julho de 2018

O PEQUENO PRÍNCIPE: SAINT-EXUPÉRY E O AEROPOSTALE











         Um grande aviador e um pequeno príncipe se encontram na solidão do deserto! Nasceu daí um dos livros mais cultuados do século XX e que tem origem nas atividades de uma empresa de aviação francesa. Vejamos um pouco desta história...
O pioneiro aviador francês Pierre-Georges Latecoère, fundou no ano de 1918, em Toulouse, a Société des Lignes Latécoère. No ano de 1927 passou a chamar-se Compagnie Générale Aéropostale. Especializando-se no transporte de serviços postais, a Aéropostale ligava Toulouse a Barcelona, Casablanca (Marrocos), Dakar (Senegal), cidades brasileiras como Natal e Rio de Janeiro, além da linha ligando Buenos Aires e o sul do Brasil.
Nos primórdios da aviação, os pilotos eram egressos do serviço militar e se constituíam, quase sempre, em ex-combatentes da I Guerra Mundial escolhidos por sua bravura. Afinal, o índice de confiabilidade dos aviões ainda era restrito e os acidentes eram comuns. Mau funcionamento mecânico ou condições atmosféricas desfavoráveis levavam a acidentes graves. Os pilotos, ostentavam em seu corpo, o resultado de quedas ou incêndios em suas aeronaves. As cicatrizes significavam bravura e experiência, resultado de vôos em condições extremamente precárias.
A Aéropostale envolveu-se num escândalo referente a pagamentos postais do governo francês e deixou de operar em 1932. Porém, seu capital fez parte da composição da Air France que surgiu em 1933 e se tornou uma das maiores empresas de aviação do planeta. Em 1934 Saint-Exupéy ingressou na Air France, tendo por missão divulgar as aventuras aéreas e a importância da aviação nos tempos pioneiros.
Portanto, dos quadros de aviadores da Aéropostale surgiu o “poeta da aviação” Antoine de Saint-Exupéry que nasceu em Lyon em 29 de junho de 1900 e que a partir de 1926 ingressou na Aéropostale com missões diplomáticas entre Touluose e Casablanca/Dakar. Clássicos da literatura como “Vôo Noturno” (1931) e “O Pequeno Príncipe” (1943) tiveram como tema as experiências reais e fictícias de Saint-Exupery em suas viagens aéreas pela Europa, norte da África e América do Sul. O livro “Correio Sul” foi publicado em 1929, fruto da permanência do autor na opressora solidão do deserto do Marrocos.
O capítulo de sua trajetória - que interessa de forma mais direta aos rio-grandenses -, ocorreu a partir de setembro de 1929 quando ele é designado como diretor da Aéropostale (Aeroposta Argentina). Fruto destas experiências na região platina foi publicado “Vôo Noturno” e neste período de 1929-1931, ele fez muitas viagens pelo céu do Brasil, pois havia 11 escalas da Aéropostale em território brasileiro.
Em 1935, tentando o raid Paris-Saigon junto com seu mecânico Prévot, Saint-Exupéry sofre um acidente no deserto da Líbia onde permanecem entre a vida e a morte até serem salvos por um beduíno. Um novo raid, na Guatemala, acaba resultando em outro acidente extremamente grave que lhe deixou novos ferimentos e seqüelas físicas. Em 1939, ele publicou “Terra dos Homens”, ressaltando a história de aviadores da Aéropostale.
Na II Guerra Mundial, lutando pela França em 1940, torna-se piloto de reconhecimento e em 1942, parte para os Estados Unidos, onde escreve o livro até hoje lembrado: “O Pequeno Príncipe” com ilustrações por ele feitas. É autorizado a se reintegrar as missões de reconhecimento aéreo no Mediterrâneo e desaparece sobre este Mar no dia 31 de julho de 1944, surgindo um longo mistério sobre o seu destino. Em 1998, um pescador resgata no mar de Marselha um bracelete com o seu nome gravado e os destroços do avião P-Lightining 38 que finalmente foi localizado.
O famoso aviador realmente esteve no Rio Grande do Sul? A resposta é sim! Entre os anos de 1929 e 1931 ele fez muitas viagens entre Buenos e cidades brasileiras trazendo correspondências para localidades onde havia escalas da Aeropostale. Foi o caso de Porto Alegre e Pelotas. Na capital rio-grandense, o próprio escritor em seu livro “Vôo Noturno” deixou este registro durante um vôo: “Havia brumas para os lados de Porto Alegre”. Ele foi identificado tomando o refrigerante hidrolitol nos cafés da Rua da Praia no centro de Porto Alegre vestindo “os casacos de couros que os aviadores, e só eles, então vestiam” (Nilo Ruschel, “Rua da Praia”) e também participou de um churrasco na zona sul da capital junto com o piloto Jean Mermoz.     
Já em Pelotas as evidências de sua permanência são difusas. A Aeropostale mantinha uma pista de pouso, oficina mecânica e uma casa nesta cidade e o famoso aviador Jean Mermoz participou de atividades sociais na cidade as quais foram documentadas. Mas Saint-Exupery? Em artigo de A.F. Monquelat e Jonas Tenfen (http://www.amigosdepelotas.com.br) esta questão é levantada. Estes escritores citam a biografia J’ai vécu l’épopée de l’Aéropostale  do mecânico Marcel Moré em colaboração William Desmond como fonte para alguns esclarecimentos.
Marcel Moré escreveu em seu livro que Saint-Exupéry aterrissou um dia em Pelotas, vindo de Buenos Aires, no comando de um avião Laté-28, possivelmente nos primeiros meses de 1930. Era apenas uma escala técnica para seguir para o Rio de Janeiro. Porém o mecânico escuta um barulho anormal do motor e fez sinais para que o avião não decolasse. Ocorreu uma troca de aviões, com Saint-Exupéry pilotando o avião reserva um modelo Laté-26 (menos veloz e mais desconfortável) para a viagem até o Rio de Janeiro. Examinando o motor, constatou-se que uma peça mestra da hélice estava seriamente avariada e que o avião não suportaria mais 15 minutos de vôo. Ou seja, o avião poderia ter sofrido uma queda anterior a chegar a Pelotas ou certamente sofreria um acidente minutos após decolar.
Na passagem seguinte por Pelotas, foi explicado ao piloto-escritor que o avião estava com sério problema e ele teria agradecido a Moré por ter impedido a decolagem que poderia ser fatal. Segundo Monquelat e Tenfen “podemos afirmar que Saint-Exupéry esteve e não esteve em Pelotas. Pousou no aeródromo em escala compulsória e parte do serviço (por isso esteve no aeródromo), mas não freqüentou Pelotas, não recebeu homenagens ou jantares (por isso não esteve na cidade)”.
Realmente, neste período ele ainda não era o famoso escritor e divulgador da aviação que atraia multidões para conhecê-lo. É preciso ressaltar que pesquisas em estão andamento buscando novas evidências sobre a presença do aviador no Brasil e no Rio Grande do Sul.  
Ilustrações: cartão-postal, selos e notas de franco (emitidos na França) comemorativos a Saint-Exupéry. 




IGREJA DO BOMFIM



          O proprietário dos terrenos onde foi edificada a capela e cemitério do Bomfim foi José Luiz da Silva que realizou a doação em abril de 1832. Em 1842 doou novo terreno para construção da capela para os serviços funerários e a capela recebeu a benção em 13 de agosto de 1843. 
           Estava situada aos fundos do cemitério, ou seja, na rua Duque de Caxias. Em 1866 foi legalmente aprovada a criação da Irmandade do Bomfim possibilitando captar maiores recursos para construção de uma igreja. Em 9 de dezembro de 1886 foi feita a benção e colocação da pedra fundamental. 
          Em 5 de dezembro de 1887 a imagem do Senhor do Bomfim foi conduzida em procissão da antiga capela para a nova igreja. O cartão- postal da Igreja do Bomfim é datado de 1904. 

CEMITÉRIO DO BOMFIM


           A área hoje ocupada pela Igreja do Bomfim e pela praça a sua frente, apresentava outra fisionomia e funcionalidade em meados do século XIX. Quando de sua construção, o cemitério do Bomfim estava afastado do centro urbano, numa área para os lados dos pântanos da Mangueira que se estendiam em direção ao atual Lar Gaúcho. 
      A entrada do cemitério era pela rua da Alfândega (atual Andradas) enquanto a rua do Castro (atual Duque de Caxias) ficava fechada por maricás e pelo muro com as catacumbas. Chegando a rua Vice-Almirante Abreu era necessário seguir em direção a rua dos Andradas para ter acesso ao portão de entrada. 
     Com o início dos enterramentos no cemitério extra-muros em 12 de dezembro de 1855, o cemitério do Bomfim ficou desativado com os seus túmulos cercados pela cidade que avançava em acelerado processo urbano. A demolição dos muros do cemitério teve início em 25 de janeiro de 1882. Foram enterrados no cemitério 5.570 pessoas. 
        Aquarela de Wendroth retratando o cemitério e a capela em 1852.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

COMÉRCIO NA RUA RIACHUELO


         Atividades comerciais foram essenciais para o desenvolvimento da cidade, fato já ressaltado pelo francês John Luccock em 1809: “A proximidade do oceano, garante-lhe uma preeminência permanente. É aqui que todos os navios têm que entregar seus papéis, sendo que a maior parte deles raramente segue adiante. É aqui também que os principais negociantes residem ou têm seus agentes estabelecidos; de tal maneira que ela pode ser considerada como o maior mercado do Brasil Meridional”.
 A fotografia do ano de 1870 (rua Riachuelo quase esquina com a rua Ewbank), congelou ao passar do tempo os dois figurantes deste cenário por onde transitavam freneticamente pessoas e mercadorias. Com o fluxo comercial rumando para o Porto Novo a área se redefiniu para a logística da circulação de prestação de serviços do centro da urbe na atualidade. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 



O INVERNO DE 1918



Para quem pensa que está frio em 2018 (não só pensa como realmente está...), cem anos no passado estava de “renguear cusco”.  
O ano de 1918 teve um dos invernos mais frios já registrados em Rio Grande. O jornal Echo do Sul de 10 de julho de 1918 registrou que o inverno foi gelado a ponto de matar de frio, durante a tarde, um homem que estava sentado na praça central: “o infeliz sentou-se num banco da praça General Telles, talvez por não ter onde se recolher, e ali se deixou ficar até que, inteiriçado, caiu ao solo”. No dia 24 de junho nevou na cidade durante a manhã, embranquecendo os telhados.
Em 24 de junho de 1918 a temperatura mínima em Rio Grande foi de 1,0° e a máxima foi de 7,0° com fortes geadas que chegaram a São Paulo e Belo Horizonte nos dias seguintes. A temperatura na cidade do Rio de Janeiro chegou a 6,2°. No interior de Minas Gerais chegou a -9,0°  
A partir de 08 de julho de 1918, outra massa polar provocou frio extremo no centro sul do Brasil com a capital de São Paulo não superando os 9,5° no dia 9 de julho. Em Porto Alegre a temperatura chegou a -4,0° e em Vacaria -9,0°. Caxias teve queda intensa de neve que se manteve sem descongelar por quatro dias.
A persistência do frio é que marcou o mais gelado inverno já registrado no Rio Grande do Sul. Nem sempre alguns episódios de neve, por mais marcantes que sejam, significam o inverno mais rigoroso. É mais importante a persistência de dias com temperaturas máximas abaixo dos dois dígitos e mínimas próximas ou abaixo de zero. A geada generalizada e persistente causou grande prejuízo aos agricultores e ao setor leiteiro. O clima fragilizou a sociedade no ano em que a I Guerra Mundial estava sendo encerrada.
E não foi só o Rio Grande do Sul e parte do Brasil que deixou este registro histórico de frio. O ano de 1918 foi um dos mais gelados da história de muitas cidades da América do Norte.
E o pior ainda estava por vir: a gripe espanhola que eclodiria na primavera! A trilogia macabra se fez: 1918 o ano da guerra, do frio e da peste...

Ilustrações: Jornal A Federação (Porto Alegre, julho de 1918). Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.







RAZÃO E FISIOLOGISMO


Foi-se a Monarquia e veio a República!  A discussão do fisiologismo e dos interesses pessoais tem uma raiz profunda na vida pública brasileira. Vale à pena ler esta matéria de um jornal que defendia militantemente a derrubada da Monarquia para instituir a ética República.
Os registros deixados pelas sociedades, como os jornais, são de extrema utilidade para se buscar as raízes mais profundas da dificuldade de gestão racional na administração e na política. A matéria "Usos e Abusos" situa o problema dos desmandos administrativos no regime monárquico. A República seria a solução...



terça-feira, 17 de julho de 2018

PORTO VELHO EM 1852


         A intensa movimentação de embarcações no porto em 1852 foi retratada por Hermann Wendroth nesta aquarela. Observam-se navios à vela e a vapor, com o casario da rua da Boa Vista ao fundo. Nicolau Dreys publicou a seguinte passagem em 1839: "Pelos antecedentes, o leitor já sabe da desgraçada posição da cidade de S. Pedro do Sul. No meio das areias estéreis que a circundam e invadem continuadamente, ela se apresenta como uma criação excepcional da política e do comércio; indiferente e, como estrangeira ao território que ocupa, não deve nada senão ao caráter ativo, industrioso e empreendedor dos habitantes. Ali, o homem pode mais que a natureza; aonde achou impotência e miséria, ele fez nascer à prosperidade, pois a cidade de S. Pedro, com suas casas suntuosas, seus ricos armazéns, seus cair regulares e seu porto retificado, pode agora concorrer com as mais notáveis cidades da América do Sul".



sábado, 14 de julho de 2018

INDÚSTRIAS DA CIDADE DO RIO GRANDE



         Um dos fatores do desenvolvimento econômico da cidade do Rio Grande foi às indústrias têxteis e de enlatados, que entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX empregaram milhares de trabalhadores. Rio Grande era chamada de a cidade das chaminés, com um considerável operariado envolvido com a produção de bens de consumo não duráveis, especialmente produtos alimentícios e têxteis. Além da tradicional indústria Rheingantz, que desde 1874, projetou Rio Grande em nível de Brasil como um modelo de integração do sítio industrial com o sítio de moradia do operariado, outras empresas tiveram destaque nacional e tinham um considerável mercado de consumo no centro do país. Dois exemplos são a Leal Santos & Cia, com capital inicial português e a Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira, com participação acionária italiana.  

 LEAL SANTOS & CIA

         A Indústria Leal Santos foi fundada em Lisboa no ano de 1881, inaugurando uma fábrica em Rio Grande no ano de 1889. Seus fundadores foram Francisco Marques Leal Pancada, José Antônio Santos e Moysés Marcondes. Na década de 1910 cerca de 600 funcionários trabalhavam na fábrica que produzia bolachas com equipamentos que eram os mais modernos do Brasil naquele período. Fabricava também enlatados com peixes, carnes, caças, frutas e legumes. A fábrica em Rio Grande tinha três caldeiras e dois motores de 120 cavalos vapor, além de inúmeras máquinas. Com a forte concorrência do centro do país, a fabricação de bolachas foi encerrada, pois, somente o mercado regional não absorvia a produção. As latas de bolacha eram verdadeiras obras-primas produzidas na própria empresa. No ano de 1947, com a denominação de Indústrias Reunidas Leal Santos S/A, as atividades foram voltadas a indústria pesqueira com a utilização de dois barcos de grande tonelagem para pesca em alto mar denominados Albamar e Brisamar. No ano de 1967, em parceria com o Grupo Ipiranga, constituiu-se a Leal Santos Pescal S/A, que chegou a ser a maior empresa brasileira do setor pesqueiro em receita e em exportação.

Parte do complexo da Leal Santos (década de 1910) na rua Aquidaban (área atual da UNIMED). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  
Operárias no interior da Fábrica da Leal Santos na década de 1910. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.


COMPANHIA DE TECELAGEM ÍTALO-BRASILEIRA

         Denominada pela população de fábrica nova, foi fundada por Giovanini Hesemberger em 1894, o qual transferiu a empresa para Santo Bechi & Cia, de Gênova. Sua fachada principal ocupava duas quadras com frente para a Av. Senador Corrêa, terminando na esquina da rua 24 de Maio onde havia o palacete em que residia o diretor. A fábrica apresentava uma área construída de mais de 10.000 metros quadrados sendo desativada na década de 1950 tendo as instalações e o palacete demolidos. Restou a chaminé no interior do supermercado que atualmente ocupa aquela área. A indústria era especializada na fabricação de tecidos de algodão, recebendo de Pernambuco a matéria-prima. O algodão bruto era transformado em diversos tecidos, empregando mais de 600 operários e utilizando modernos equipamentos. Esta indústria têxtil fabricava brins, camisetas, panos para colchões etc. Em 1921, Paulo Ângelo Pernigotti, um de seus dirigentes, incorporou a empresa alterando a razão social para Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira. No ano de 1942, nova mudança na razão social, para Companhia Fiação e Tecelagem Rio Grande, neste período tendo por dirigente Giuseppe Renato Pernigotti.
         Foram duas empresas de produtos de consumo não duráveis que obtiveram destaque no mercado nacional durante a época áurea de sua expansão e que acabaram por sucumbir frente ao complexo quadro concorrencial do mercado central brasileiro a partir da década de 1930.

Cartão-postal da Fábrica Ítalo-Brasileira por volta de 1915-20. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. 

Cartão-postal Fábrica Ítalo-Brasileira por volta de 1930. Flagrante de operários se deslocando na rua Senador Corrêa. 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

RIO GRANDE EM 1868

        A revista literária e histórica Arcádia (1867-1870), foi editada inicialmente em Rio Grande voltando-se a produção literária e poética, apresentando crônicas e também monografias de caráter histórico. Um raro exemplar de resgate da história da cidade do Rio Grande desde a sua fundação em 1737 até 1868, foi elaborado por um colaborador da Revista C. E. Fontana que escreveu Apontamentos Históricos, Topográficos e descritivos da cidade do Rio Grande, consistindo numa ímpar contribuição para a historiografia local.
          Os dados históricos referentes ao século XVIII estão repletos de erros, porém as informações contemporâneas apresentados pelo autor, mesmo que descritivas, são interessantes para identificar a urbanidade e o desenvolvimento no período em que foi publicado os Apontamentos.
           Rio Grande contava com 1870 casas edificadas e 37 estavam em construção. Haviam 115 sobrados de um andar e 2 em construção, além de 2 sobrados de dois andares e 1 de três andares.

DENOMINAÇÕES DE RUAS E PRAÇAS


A cidade tinha 33 ruas, 4 becos e 7 praças. A maioria das ruas haviam sido renomeadas recentemente devido à atuação brasileira na então em curso Guerra do Paraguai (1865-1870). As principais ruas eram: Riachuelo (anteriormente denominada de Boa Vista), que se situava junto ao porto; Pedro Segundo (antiga da Praia e atual Marechal Floriano) sendo a mais importante rua com “lindos edifícios e quase toda calçada”; Príncipes (antes Direita e atual Bacelar), uma das principais sendo renomeada em homenagem ao Conde d’Eu; Paysandu (Pito e atual República do Líbano); Vinte de Fevereiro (antes do Fogo e atual Luiz Loréa); Uruguaiana (Cômoros e atual Silva Paes); Barroso (Canal) em honra ao herói da Batalha do Riachuelo; Caridade (atual Coronel Sampaio), por estar localizada a Santa Casa de Misericórdia; Francisco Marques, em homenagem ao primeiro morador da rua, pai de Tamandaré; outras denominações de ruas vigentes em 1868 eram Alfândega (atual Andradas), Castro (atual Duque de Caxias), Rasgado (atual General Netto), Câmara (atual Carlos Gomes), Lousada, Quartéis (atual 24 de maio), Moinho (atual Aquidaban), Trincheiras (atual General Portinho), Moron (antiga rua do Bom Fim), Zallony (antigo Beco do corpo da Guarda), etc.
Entre os largos e praças haviam a Sete de Setembro (antiga Praça do Poço), São Pedro (atual Júlio de Castilhos), Caridade Nova (atual Barão de São José do Norte), Tamandaré (antiga Praça dos Quartéis e Geribanda) e Municipal (atual Xavier Ferreira). A Municipal consistia numa “vasta praça e único passeio recreativo da cidade, é comumente denominada de Boulevard Rio-Grandense”, porém “lamenta-se que não mereça mais atenção da edilidade”. Na praça Tamandaré, existiam seis fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupa, erguendo-se no centro desta, “uma modesta cruz ali colocada em 1842 pela missão jesuítica a estas plagas”.

OS CAMINHOS DA CIVILIZAÇÃO

Fontana afirmou que a Igreja Matriz de São Pedro encontrava-se pouco cuidada. Já a Igreja do Carmo “é o mais belo templo da cidade e a ordem a mais rica corporação religiosa. Possui também um hospital e está prestes a edificar um novo prédio para esse fim”.
O autor ressaltou o trabalho assistencial realizado pelo Asilo para as Órfãs Desvalidas “dando abrigo a muitas infelizes sem pai nem mãe e mais tarde tornando-se pela educação e moral exemplos de sociedade”. Ressaltou o trabalho da Santa Casa de Misericórdia que atendia anualmente cerca de 500 doentes, além manter em funcionamento a Roda dos Expostos com mais de trinta indivíduos. Neste período estava em construção “um grande e belo edifício para a Santa Casa, que com algum empenho por parte do governo da província, poderia ficar brevemente concluído”.
Outros prédios que se destacavam eram a Casa da Câmara Municipal, o novo Mercado Público, a Cadeia Civil e o teatro Sete de Setembro. Conforme Fontana, “o cemitério extramuros que teve princípio em 1855, na época da epidemia, já possui alguns belos mausoléus. Próximo a este cemitério achasse o dos protestantes”.
       A instrução pública primária era constituída por quatro escolas, duas do sexo masculino dirigidas pelos professores Julio Cezar Augusto e Inácio de Miranda Ribeiro e duas do feminino com a docência de Maria Joaquina Duval e Maria Fausta de Miranda Campello. A instrução secundária era exercida apenas por uma aula de francês do prof. José de Pontes França, porém pouco freqüentada.

Como uma das preocupações do período era a civilização expandindo seus tentáculos através da educação e do desenvolvimento urbano, o autor destacou o desenvolvimento da cidade rumo a este ideal. Em relação a seu trabalho comentou: “contando com a benevolência do leitor, é que ainda ofereço o meu raquítico trabalho à mocidade rio-grandense”.
Rua Riachuelo em 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 
Primeira série de Arcádia (1867). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


quarta-feira, 11 de julho de 2018

A MISSA DA ABOLIÇÃO E MACHADO DE ASSIS


Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento no Rio de Janeiro. Seu pai foi Francisco José de Assis, um mulato que pintava paredes, filho de Francisco de Assis e Inácia Maria Rosa, ambos escravos alforriados. A mãe foi a lavadeira açoriana Maria Leopoldina da Câmara Machado. Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra, é considerado por muitos o maior literato brasileiro: percorreu os gêneros literários sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. É um personagem que tem sido visitado frequentemente para conhecer o processo histórico brasileiro monarquia/república na dimensão de seu cotidiano e suas práticas. Entre os temas relacionados ao literato está o da sua participação na campanha abolicionista. O historiador Sidney Chalhoub no livro “Machado de Assis, historiador”, esclarece: “Machado se empenhou em desqualificar o estatuto intelectual de teorias racistas e reflete, mais do que simplesmente retrata, sobre a incapacidade de a classe dos proprietários de terras e escravos pensar o mundo sem escravidão. Além disso, mostra que dependentes e escravos ajudaram a enterrar a sociedade paternalista dos senhores de escravos" Como funcionário público federal ele lutou para que a Lei do Ventre Livre (1871) fosse aplicada e ampliada.
Na matéria “Missa Campal de 17 de maio de 1888” de autoria de Andrea C. T. Wanderley (http://brasilianafotografica.bn.br/?p=528) Machado de Assis foi identificado numa fotografia da Missa Campal de Ação de Graças pela Abolição da Escravatura realizada no dia 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A atividade ocorreu pela manhã em homenagem à Princesa Isabel, que se fazia presente com o Conde D’Eu e encerrou com um almoço festivo no Internato do Colégio Pedro II. Lideranças abolicionistas estavam presentes entre eles o maior tribuno abolicionista José do Patrocínio na companhia de seu amigo literato. Eduardo Assis Duarte organizador do livro “Machado de Assis afrodescendente” (2007) ressaltou que “Machado foi abolicionista em toda a sua vida e, a seu modo, criticou a escravidão desde seus primeiros escritos. Nunca defendeu o regime servil nem os escravocratas. Além disso, era amigo próximo de José do Patrocínio, o grande líder da campanha abolicionista”.
Depois de tantos anos de existência, a identificação do personagem na fotografia revela o potencial da imagem fotográfica para o estudo da História. A identificação de personagem possibilita uma releitura de sua biografia e cruzar o documento com outras fontes que podem ampliar a compreensão de um momento histórico ou de uma trajetória de vida.  
Esta fotografia analisada por Andrea Wanderley foi assim contextualizada pela autora: “A Missa Campal em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1888, foi uma celebração de Ação de Graças pela libertação dos escravos no Brasil, decretada quatro dias antes, com a assinatura da Lei Áurea. A festividade contou com a presença da princesa Isabel, regente imperial do Brasil, e de seu marido, o conde D´Eu, príncipe consorte, que, na foto, está ao lado da princesa, além de autoridades e políticos. De acordo com os jornais da época, foi um “espetáculo imponente, majestoso e deslumbrante”, ocorrido em um “dia pardacento” que contrastava com a alegria da cidade. Cerca de 30 mil pessoas estavam no Campo de São Cristóvão. Dentre elas, o fotógrafo Antônio Luiz Ferreira que há muito vinha documentando os eventos da campanha abolicionista brasileira desde suas votações e debates até as manifestações de rua e a aprovação da Lei Áurea. Não se conhece um evento de relevância nacional que tenha sido tão bem fotografado anteriormente no Brasil. No registro da missa campal é interessante observar a participação efetiva da multidão na foto, atraída pela presença da câmara fotográfica, o que proporciona um autêntico e abrangente retrato de grupo. Outra curiosidade é a cena de uma mãe passeando com seu filho atrás do palanque, talvez alheia à multidão, fazendo um contraponto de quietude à agitação da festa”.

Ilustrações: Missa da Abolição. Autor: Antonio Luiz Ferreira. Acervo: Instituto Moreira Salles.









sexta-feira, 6 de julho de 2018

RIO GRANDE E A GEOGRAFIA DA PROVÍNCIA




Hilário Ribeiro foi um educador e escritor nascido em Porto Alegre em 1847 e falecido no Rio de Janeiro em 1886. Atuou no magistério e na produção de livros didáticos que tiveram circulação nacional. Em 1880 publicou “Geografia da Província do Rio Grande do Sul” pela Livraria Carlos Pinto de Pelotas. O livro é organizado em perguntas e respostas. A leitura e reprodução de capa e mapas foram feitas a partir do livro disponível no endereço https://digital.bbm.usp.br/view  

Ribeiro dedica alguns parágrafos à cidade do Rio Grande no ano de 1880.

“Qual é a situação da cidade do Rio Grande ou S. Pedro? Esta cidade está situada sobre a margem direita do Rio Grande, em uma península arenosa e baixa.
Que sabe dizer sobre esta cidade? É o principal empório comercial da província. Suas ruas são regulares e bem calçadas, apresentando um belo aspecto a de Riachuelo, que costeia o litoral e possui o mais importante cais da província, construído de granito, sob a direção do ilustre engenheiro rio-grandense Ewbank da Câmara.
Tem uma só freguesia e mais 3 igrejas, que são: a do Carmo, S. Francisco e a do Senhor do Bom Fim. Entre seus edifícios públicos notam-se: a Santa Casa de Misericórdia, a Alfândega, que é uma das primeiras do Império pela sua arquitetura e grandeza; o Arsenal de Marinha, a Biblioteca Pública, que contém avultadíssimo número de obras importantes; o teatro, a Escola Silveira Martins, em construção, o Mercado, o Quartel, etc. A Praça Municipal encerra um magnífico passeio ajardinado.
Em que ano começou a fundação desta cidade? Data de 19 de Fevereiro de 1727 (*1737) em que o brigadeiro José da Silva Paes, regressando da Colônia do Sacramento com alguma tropa e povoadores, estabeleceu ao sul da barra os fortes de Jesus Maria José e Sant’Anna. Como, porém, este local não era o mais próprio, foi transferida a povoação para onde atualmente se acha a cidade, por ordem de Gomes Freire de Andrade, então capitão general e governador do Rio de Janeiro e S. Paulo.
Porque é notável o porto do Rio Grande? Por ser o mais concorrido de navios de longo curso e cabotagem, bem como de outros destinados à navegação interior da província.
Com que cidades comunica o Rio Grande por meio da navegação interna? Com Porto Alegre, Pelotas e Jaguarão.
Quantos kilom. está distante destas três cidades? 347 e meio kilom. de Porto Alegre, 52 de Pelotas e 211 de Jaguarão.
Qual é a população do Rio Grande? Aproximadamente 14.000 habitantes.
Onde fica a freguesia de N S. das Necessidades do Povo Novo? Dista 39 e meio kilômetros do Rio Grande e é paróquia desse município, que conta também a capela curada de S. João Evangelista, criada na ilha dos Marinheiros.
A cidade do Rio Grande possui a importante fábrica nacional de tecidos de lã. Este notável estabelecimento pertence à Rheingantz & Water; sendo o primeiro sócio filho da província. Começou a funcionar em Junho de 1874 e acha-se hoje perfeitamente montado. A matéria prima empregada na fábrica é produto da criação de ovelhas na província, para cujo desenvolvimento muito tem concorrido. O edifício ocupa uma área de 1.500 metros quadrados e emprega para cima de 80 operários. Os produtos da fábrica consistem em cobertores, baetas, chales e diferentes qualidades de panos”.