O prédio da Biblioteca começou a sofrer
remodelações a partir da década de 1920 alterando completamente a estética
original (prédio atual foi construído entre as décadas de 1930-50). A
Biblioteca Rio-Grandense é um dos espaços de preservação da memória escrita
possuindo um acervo bibliográfico, fotográfico e de periódicos de projeção
nacional. Acervo: BRG.
A proposta deste blog é instigar a leitura, o conhecimento e a investigação dos processos históricos. Livros com temas ligados a História do RS e Hist. do Município do Rio Grande estão disponíveis para leitura ou baixar (basta clicar em cima da imagem da capa do livro ou copiar o link com o botão direito do mouse). Também serão abordados temas de "História e Terror", "Literatura Fantástica", "Graphic Novel-HQ" etc. Administradora: Rejane Martins Torres. Facebook: Professor Torres
Porto do Rio Grande em 1908
segunda-feira, 30 de julho de 2018
PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL E BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE
domingo, 29 de julho de 2018
MEMÓRIA & HISTÓRIA: 20 ANOS
A coluna Memória & História do Jornal
Agora está completando 20 anos! A primeira matéria foi publicada no dia 2 de
agosto de 1998 e tinha o título de “Um Brummer na Cidade do Rio Grande” (a
passagem de um militar alemão na década de 1820). Pelo meu registro, foram
publicadas 790 matérias.
A proposta da coluna é evidenciar que os
processos históricos são constituídos por memórias - fragmentos do acontecer, a
serem dilapidados e interpretados buscando sistematizações mais amplas. Nestas
duas décadas inúmeros temas foram tratados mas a está ênfase na história do
município do Rio Grande. Não se pode esquecer que a história local está
inserida -com diferentes intensidades- em histórias mais amplas e que numa
cidade portuária, a dinâmica do acontecer da história regional, nacional e
internacional se faz sentir de forma mais contundente!
As matérias foram escritas com o intuito de
divulgar o conhecimento local e a perspectiva de que as experiências humanas
devem ser questionadas com o intuito de promover a reflexão dos projetos
civilizatórios. O material produzido sempre teve o objetivo de dialogar com os leitores
do jornal Agora e ser um material paradidático de apoio à rede escolar.
Portanto, as visitas ao passado tiveram o
intuito de refletir sobre os processos históricos e as historicidades da cidade
mais antiga do Rio Grande do Sul. Abordando temáticas referentes as populações indígenas, história colonial,
imperial e republicana, pudemos navegar pelos documentos, iconografias e
historiografia dos séculos passados. Em especial, nos voltamos “as gentes” que
compuseram a paisagem, as relações sociais e políticas elas construídas e as
materialidades que edificaram. Nunca esquecendo que a cidade é um grande espaço
de memória para propicia a elaboração de histórias...
Um piloto para a construção da coluna foi
publicado em 19 de fevereiro de 1998 com o título “Visões do Rio Grande”. O
amadurecimento da ideia em divulgar a história local levou a criação da coluna no
mês de agosto e o tempo passou ou as nossas experiências preencheram o tempo...
Vinte anos é um período de curta duração para
a temporalidade histórica mas de longa duração para quem escreve semanalmente. É
um desafio a ser enfrentado a cada semana e que exige a superação criadora vencendo
a fadiga do trabalho semanal na Universidade Federal do Rio Grande.
Parafraseando a afirmativa de Fernando
Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, posso dizer que o Memória &
História, ao longo de duas décadas, ajudou a ampliar a noção de superação e de
instigação de “alma investigativa”. A ritualização semanal da escrita
contribuiu para a ampliação dos horizontes da investigação do passado com os
pés no presente. Visitar o passado, com os olhos do presente e para pessoas de
tempos diversos: a historicidade do tempo é a unidade das multifacetadas
experiências históricas de gerações que navegam no tempo presente!
As memórias enquanto fragmentos dispersos de
um tempo que passou é o nosso objeto multifacetado a ser visitado e interrogado!
São objetos, cartas, documentos, jornais, prédios, chafarizes, ruas,
espacialidades reais e irreais que constituem a história coletiva e individual
de uma cidade. Quando questionamos a memória ela não será a reprodução do que
ocorreu no passado (palpável, odorífica, adrenalínica ou endorfínica) mas
poderá ser o catalizador de lembranças intensas para aqueles que a viveram. Por
outro lado, visitar memórias impessoais (aquelas que não foram vividas pelo
visitante do tempo pretérito) poderá ser fator de novas
experiências/conhecimentos e certamente, de reconstruções, pois as memórias são
a matéria-prima para novas construções mentais e práticas, superficiais ou mais
profundas, que compõem as amálgamas por vezes incoerentes que compõem a nossa
consciência a qual dá sentido para nossa existência.
Ao reconstruirmos as memórias estamos dotando-as
de vida, com novos sentidos e perspectivas: estamos fazendo com que pequenas
frações do passado permaneçam vivas rompendo com o célere passamento e a
diluição das obras das gerações anteriores. Na direção desta reflexão a coluna Memória
& História vai se convertendo em expressões de um tempo presente onde a
vida criadora se manifestou: a busca da compreensão da história (na coluna) se
converte em palavras dotadas de historicidade (as matérias) que são fragmentos
materiais preservados (o jornal) das experiências/vivências em sociedade
(memórias da historicidade fugidia).
Rua Marechal Floriano entre 1865-1870. As areias ainda não foram cobertas pelo calçamento. Quadra da esquina da Benjamin Constant em direção ao Beco do Afonso. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
A VILA DO RIO GRANDE EM 1776
A Vila encontrava-se tomada pelos ratos
e com a maioria das casas muito danificadas, sendo necessário à demolição da
maioria para posterior reconstrução das moradias. Durante a ocupação espanhola,
grande parte da população se dispersou pelo Continente do Rio Grande tendo início o repovoamento a partir de 1776.
Basicamente o prédio em melhor condição de manutenção foi a Igreja de São Pedro
que foi respeitada pelos espanhóis por ser um local de culto religioso
essencial na manutenção do cotidiano de súditos católicos.
Aquarela da Vila do Rio Grande de São Pedro em abril de 1776. Arquivo de Évora (Portugal). |
sábado, 28 de julho de 2018
O TEMPO, O VENTO E A AREIA
O Tempo é o depositário de todas as experiências humanas, as
repetições do cotidiano e os acontecimentos que dão novos rumos ao desenrolar
diário da vida de um indivíduo ou de uma comunidade.
Na memória do Tempo
levitam grânulos que transportam não apenas os fragmentos de porções de matéria
formadas da decomposição de rochas, mas também são um ponto de encontro na linguagem de
quem esteve em Rio Grande documentando os últimos quase três séculos de
história: a Areia.
Na memória do Tempo habita o secular deslocamento do
ar que conduz a areia aos olhos, às bocas, aos turbilhões difusos que
encobertam o horizonte e encobrem as moradias. Não há lembrança de Rio Grande
sem o Vento. A melhor definição do Tempo em Rio Grande está no Vento e na
Areia, um ponto de encontro de nascimentos e mortes, entre os séculos XVIII a XXI.
Fotografia do Porto Velho na década de 1910. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.
quarta-feira, 25 de julho de 2018
HOMENS E AREIAS
Rua Marechal Floriano nas proximidades da Duque de Caxias em 1865. Não havia calçamento e a areia incomodoava os transeuntes. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
A cidade
edificada numa Restinga obrigou seus moradores a um contínuo enfrentamento com
as areias, os alagadiços e os ventos. O soterramento de casas e a falta de
pavimentação exigiam obras públicas e particulares que os poucos recursos
financeiros muitas vezes tornavam lentas e que se estendiam por décadas. Uma parte
considerável da cidade é constituída por aterros que avançaram adentrando as
águas da Lagoa dos Patos e do Saco da Mangueira.
Consolidar os areais já era um desafio
quando o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire esteve aqui por dois meses. Em seu diário escrito no dia
12 de agosto de 1820 ele registrou: “soprou um vento violentíssimo, nuvens de
areia extremamente fina enchiam o ar; saí por alguns instantes, sendo muito
importunado pela areia que me entrava nos olhos e me cobriam as vestes”.
terça-feira, 24 de julho de 2018
PRAÇA XAVIER FERREIRA
A Praça Xavier Ferreira tem uma história que remonta aos primeiros
anos do século XIX. Teve várias denominações até a atual, dada em 1935, em
homenagem ao autor do projeto de elevação da então Vila do Rio Grande de São
Pedro para Cidade do Rio Grande, o boticário e jornalista Francisco Xavier
Ferreira.
Foi chamada na década de 1870 de Boulevart Rio-Grandense, local de
passeio das famílias ao entardecer e nos finais de semana. Sofreu várias
intervenções estéticas entre as quais se destacou a colocação em 1875 do
chafariz vindo da França. No cartão-postal datado de 1904 o nome da
Praça ainda é General Telles. Acervo: Leonardo Barbosa.
sexta-feira, 20 de julho de 2018
O PEQUENO PRÍNCIPE: SAINT-EXUPÉRY E O AEROPOSTALE
O pioneiro
aviador francês Pierre-Georges Latecoère, fundou no ano de 1918, em Toulouse, a
Société des Lignes Latécoère. No ano de 1927 passou a chamar-se Compagnie
Générale Aéropostale. Especializando-se no transporte de serviços postais, a
Aéropostale ligava Toulouse a Barcelona, Casablanca (Marrocos), Dakar
(Senegal), cidades brasileiras como Natal e Rio de Janeiro, além da linha
ligando Buenos Aires e o sul do Brasil.
Nos
primórdios da aviação, os pilotos eram egressos do serviço militar e se
constituíam, quase sempre, em ex-combatentes da I Guerra Mundial escolhidos por
sua bravura. Afinal, o índice de confiabilidade dos aviões ainda era restrito e
os acidentes eram comuns. Mau funcionamento mecânico ou condições atmosféricas
desfavoráveis levavam a acidentes graves. Os pilotos, ostentavam em seu corpo,
o resultado de quedas ou incêndios em suas aeronaves. As cicatrizes significavam
bravura e experiência, resultado de vôos em condições extremamente precárias.
A
Aéropostale envolveu-se num escândalo referente a pagamentos postais do governo
francês e deixou de operar em 1932. Porém, seu capital fez parte da composição
da Air France que surgiu em 1933 e se tornou uma das maiores empresas de
aviação do planeta. Em 1934 Saint-Exupéy ingressou na Air France, tendo por
missão divulgar as aventuras aéreas e a importância da aviação nos tempos
pioneiros.
Portanto, dos quadros de aviadores da Aéropostale surgiu
o “poeta da aviação” Antoine de Saint-Exupéry que nasceu em Lyon em 29 de junho
de 1900 e que a partir de 1926 ingressou na Aéropostale com missões
diplomáticas entre Touluose e Casablanca/Dakar. Clássicos da literatura como “Vôo
Noturno” (1931) e “O Pequeno Príncipe” (1943) tiveram como tema as experiências
reais e fictícias de Saint-Exupery em suas viagens aéreas pela Europa, norte da
África e América do Sul. O livro “Correio Sul” foi publicado em 1929, fruto da
permanência do autor na opressora solidão do deserto do Marrocos.
O capítulo de sua trajetória - que interessa de forma
mais direta aos rio-grandenses -, ocorreu a partir de setembro de 1929 quando
ele é designado como diretor da Aéropostale (Aeroposta Argentina). Fruto destas
experiências na região platina foi publicado “Vôo Noturno” e neste período de
1929-1931, ele fez muitas viagens pelo céu do Brasil, pois havia 11 escalas da
Aéropostale em território brasileiro.
Em 1935, tentando o raid Paris-Saigon junto com seu
mecânico Prévot, Saint-Exupéry sofre um acidente no deserto da Líbia onde permanecem
entre a vida e a morte até serem salvos por um beduíno. Um novo raid, na
Guatemala, acaba resultando em outro acidente extremamente grave que lhe deixou
novos ferimentos e seqüelas físicas. Em 1939, ele publicou “Terra dos Homens”,
ressaltando a história de aviadores da Aéropostale.
Na II Guerra Mundial, lutando pela França em 1940,
torna-se piloto de reconhecimento e em 1942, parte para os Estados Unidos, onde
escreve o livro até hoje lembrado: “O Pequeno Príncipe” com ilustrações por ele
feitas. É autorizado a se reintegrar as missões de reconhecimento aéreo no
Mediterrâneo e desaparece sobre este Mar no dia 31 de julho de 1944, surgindo
um longo mistério sobre o seu destino. Em 1998, um pescador resgata no mar de
Marselha um bracelete com o seu nome gravado e os destroços do avião P-Lightining
38 que finalmente foi localizado.
O famoso aviador realmente esteve no Rio Grande do Sul? A
resposta é sim! Entre os anos de 1929 e 1931 ele fez muitas viagens entre
Buenos e cidades brasileiras trazendo correspondências para localidades onde
havia escalas da Aeropostale. Foi o caso de Porto Alegre e Pelotas. Na capital
rio-grandense, o próprio escritor em seu livro “Vôo Noturno” deixou este
registro durante um vôo: “Havia brumas para os lados de Porto Alegre”. Ele foi
identificado tomando o refrigerante hidrolitol nos cafés da Rua da Praia no
centro de Porto Alegre vestindo “os casacos de couros que os aviadores, e só
eles, então vestiam” (Nilo Ruschel, “Rua da Praia”) e também participou de um
churrasco na zona sul da capital junto com o piloto Jean Mermoz.
Já em Pelotas as evidências de sua permanência são
difusas. A Aeropostale mantinha uma pista de pouso, oficina mecânica e uma casa
nesta cidade e o famoso aviador Jean Mermoz participou de atividades sociais na
cidade as quais foram documentadas. Mas Saint-Exupery? Em artigo de A.F. Monquelat e Jonas Tenfen (http://www.amigosdepelotas.com.br) esta questão é levantada. Estes escritores citam a biografia J’ai vécu l’épopée de l’Aéropostale do mecânico Marcel Moré em
colaboração William Desmond como fonte para alguns esclarecimentos.
Marcel Moré escreveu em seu livro que
Saint-Exupéry aterrissou um dia em Pelotas, vindo de Buenos Aires, no comando
de um avião Laté-28, possivelmente nos primeiros meses de 1930. Era apenas uma
escala técnica para seguir para o Rio de Janeiro. Porém o mecânico escuta um
barulho anormal do motor e fez sinais para que o avião não decolasse. Ocorreu
uma troca de aviões, com Saint-Exupéry pilotando o avião reserva um modelo
Laté-26 (menos veloz e mais desconfortável) para a viagem até o Rio de Janeiro.
Examinando o motor, constatou-se que uma peça mestra da hélice estava
seriamente avariada e que o avião não suportaria mais 15 minutos de vôo. Ou
seja, o avião poderia ter sofrido uma queda anterior a chegar a Pelotas ou
certamente sofreria um acidente minutos após decolar.
Na passagem seguinte por Pelotas, foi
explicado ao piloto-escritor que o avião estava com sério problema e ele teria
agradecido a Moré por ter impedido a decolagem que poderia ser fatal. Segundo
Monquelat e Tenfen “podemos afirmar que Saint-Exupéry esteve e não esteve em
Pelotas. Pousou no aeródromo em escala compulsória e parte do serviço (por isso esteve no aeródromo), mas não freqüentou
Pelotas, não recebeu homenagens ou jantares (por isso não esteve na cidade)”.
Realmente, neste período ele ainda não era o
famoso escritor e divulgador da aviação que atraia multidões para conhecê-lo. É
preciso ressaltar que pesquisas em estão andamento buscando novas evidências
sobre a presença do aviador no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Ilustrações: cartão-postal, selos e notas de franco (emitidos na França) comemorativos a Saint-Exupéry.
IGREJA DO BOMFIM
O proprietário dos terrenos onde foi edificada a capela e cemitério do
Bomfim foi José Luiz da Silva que realizou a doação em abril de 1832. Em 1842
doou novo terreno para construção da capela para os serviços funerários e a capela recebeu a benção em 13 de agosto de 1843.
Estava situada aos fundos do
cemitério, ou seja, na rua Duque de Caxias. Em 1866 foi legalmente aprovada a criação da Irmandade do Bomfim
possibilitando captar maiores recursos para construção de uma igreja. Em 9 de
dezembro de 1886 foi feita a benção e colocação da pedra fundamental.
Em 5 de
dezembro de 1887 a imagem do Senhor do Bomfim foi conduzida em procissão da antiga
capela para a nova igreja. O cartão- postal da
Igreja do Bomfim é datado de 1904.
CEMITÉRIO DO BOMFIM
A área hoje ocupada pela Igreja do Bomfim e pela praça a sua frente,
apresentava outra fisionomia e funcionalidade em meados do século XIX. Quando de
sua construção, o cemitério do Bomfim estava afastado do centro urbano, numa
área para os lados dos pântanos da Mangueira que se estendiam em direção ao
atual Lar Gaúcho.
A entrada do cemitério era pela rua da Alfândega (atual
Andradas) enquanto a rua do Castro (atual Duque de Caxias) ficava fechada por
maricás e pelo muro com as catacumbas. Chegando a rua Vice-Almirante Abreu era
necessário seguir em direção a rua dos Andradas para ter acesso ao portão de
entrada.
Com o início dos enterramentos no cemitério extra-muros em 12 de
dezembro de 1855, o cemitério do Bomfim ficou desativado com os seus túmulos
cercados pela cidade que avançava em acelerado processo urbano. A demolição dos
muros do cemitério teve início em 25 de janeiro de 1882. Foram enterrados no
cemitério 5.570 pessoas.
Aquarela de Wendroth retratando o cemitério e a capela
em 1852.
quarta-feira, 18 de julho de 2018
COMÉRCIO NA RUA RIACHUELO
Atividades comerciais foram essenciais
para o desenvolvimento da cidade, fato já ressaltado pelo francês John Luccock
em 1809: “A proximidade do oceano, garante-lhe uma preeminência permanente. É
aqui que todos os navios têm que entregar seus papéis, sendo que a maior parte
deles raramente segue adiante. É aqui também que os principais negociantes
residem ou têm seus agentes estabelecidos; de tal maneira que ela pode ser considerada como o maior mercado do Brasil Meridional”.
A fotografia do ano de
1870 (rua Riachuelo quase esquina com a rua Ewbank), congelou ao passar do
tempo os dois figurantes deste cenário por onde transitavam freneticamente
pessoas e mercadorias. Com o fluxo comercial rumando para o Porto Novo a área
se redefiniu para a logística da circulação de prestação de serviços do centro
da urbe na atualidade. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.
O INVERNO DE 1918
Para quem
pensa que está frio em 2018 (não só pensa como realmente está...), cem anos no
passado estava de “renguear cusco”.
O ano de 1918 teve um dos invernos mais frios já registrados em Rio
Grande. O jornal Echo do Sul de 10 de julho de 1918 registrou que o inverno foi gelado a ponto de matar de frio,
durante a tarde, um homem que estava sentado na praça central: “o infeliz
sentou-se num banco da praça General Telles, talvez por não ter onde se
recolher, e ali se deixou ficar até que, inteiriçado, caiu ao solo”. No dia 24
de junho nevou na cidade durante a manhã, embranquecendo os telhados.
Em 24 de junho de 1918 a
temperatura mínima em Rio Grande foi de 1,0° e a máxima foi de 7,0° com fortes
geadas que chegaram a São Paulo e Belo Horizonte nos dias seguintes. A temperatura
na cidade do Rio de Janeiro chegou a 6,2°. No interior de Minas Gerais chegou a
-9,0°
A partir de 08 de
julho de 1918, outra massa polar provocou frio extremo no centro sul do Brasil
com a capital de São Paulo não superando os 9,5° no dia 9 de julho. Em Porto
Alegre a temperatura chegou a -4,0° e em Vacaria -9,0°. Caxias teve queda
intensa de neve que se manteve sem descongelar por quatro dias.
A persistência do
frio é que marcou o mais gelado inverno já registrado no Rio Grande do Sul. Nem
sempre alguns episódios de neve, por mais marcantes que sejam, significam o
inverno mais rigoroso. É mais importante a persistência de dias com
temperaturas máximas abaixo dos dois dígitos e mínimas próximas ou abaixo de
zero. A geada generalizada e persistente causou grande prejuízo aos
agricultores e ao setor leiteiro. O clima fragilizou a sociedade no ano em que
a I Guerra Mundial estava sendo encerrada.
E não foi só o Rio
Grande do Sul e parte do Brasil que deixou este registro histórico de frio. O
ano de 1918 foi um dos mais gelados da história de muitas cidades da América do
Norte.
E o pior ainda
estava por vir: a gripe espanhola que eclodiria na primavera! A trilogia
macabra se fez: 1918 o ano da guerra, do frio e da peste...
Ilustrações: Jornal A Federação (Porto Alegre, julho de 1918). Acervo:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
RAZÃO E FISIOLOGISMO
Foi-se
a Monarquia e veio a República! A
discussão do fisiologismo e dos interesses pessoais tem uma raiz profunda na
vida pública brasileira. Vale à pena ler esta matéria de um jornal que defendia
militantemente a derrubada da Monarquia para instituir a ética República.
Os
registros deixados pelas sociedades, como os jornais, são de extrema utilidade
para se buscar as raízes mais profundas da dificuldade de gestão racional na administração
e na política. A matéria "Usos e Abusos" situa o problema dos desmandos administrativos no regime monárquico. A República seria a solução...
terça-feira, 17 de julho de 2018
PORTO VELHO EM 1852
A intensa movimentação de embarcações no porto em 1852 foi
retratada por Hermann Wendroth nesta aquarela. Observam-se navios à vela e a
vapor, com o casario da rua da Boa Vista ao fundo. Nicolau Dreys publicou a
seguinte passagem em 1839: "Pelos antecedentes, o leitor já sabe da desgraçada
posição da cidade de S. Pedro do Sul. No meio das areias estéreis que a
circundam e invadem continuadamente, ela se apresenta como uma criação
excepcional da política e do comércio; indiferente e, como estrangeira ao
território que ocupa, não deve nada senão ao caráter ativo, industrioso e
empreendedor dos habitantes. Ali, o homem pode mais que a natureza; aonde achou
impotência e miséria, ele fez nascer à prosperidade, pois a cidade de S. Pedro,
com suas casas suntuosas, seus ricos armazéns, seus cair regulares e seu porto
retificado, pode agora concorrer com as mais notáveis cidades da América do
Sul".
sábado, 14 de julho de 2018
INDÚSTRIAS DA CIDADE DO RIO GRANDE
Um dos
fatores do desenvolvimento econômico da cidade do Rio Grande foi às indústrias
têxteis e de enlatados, que entre as últimas décadas do século XIX e meados do
século XX empregaram milhares de trabalhadores. Rio Grande era chamada de a
cidade das chaminés, com um considerável operariado envolvido com a
produção de bens de consumo não duráveis, especialmente produtos alimentícios e
têxteis. Além da tradicional indústria Rheingantz, que desde 1874, projetou Rio
Grande em nível de Brasil como um modelo de integração do sítio industrial com
o sítio de moradia do operariado, outras empresas tiveram destaque nacional e
tinham um considerável mercado de consumo no centro do país. Dois exemplos são a
Leal Santos & Cia, com capital inicial português e a Companhia de Tecelagem
Ítalo-Brasileira, com participação acionária italiana.
LEAL SANTOS
& CIA
A
Indústria Leal Santos foi fundada em Lisboa no ano de 1881, inaugurando uma
fábrica em Rio Grande no ano de 1889. Seus fundadores foram Francisco Marques
Leal Pancada, José Antônio Santos e Moysés Marcondes. Na década de 1910 cerca
de 600 funcionários trabalhavam na fábrica que produzia bolachas com
equipamentos que eram os mais modernos do Brasil naquele período. Fabricava
também enlatados com peixes, carnes, caças, frutas e legumes. A fábrica em Rio
Grande tinha três caldeiras e dois motores de 120 cavalos vapor, além de
inúmeras máquinas. Com a forte concorrência do centro do país, a fabricação de
bolachas foi encerrada, pois, somente o mercado regional não absorvia a
produção. As latas de bolacha eram verdadeiras obras-primas produzidas na
própria empresa. No ano de 1947, com a denominação de Indústrias Reunidas Leal
Santos S/A, as atividades foram voltadas a indústria pesqueira com a utilização
de dois barcos de grande tonelagem para pesca em alto mar denominados Albamar e
Brisamar. No ano de 1967, em parceria com o Grupo Ipiranga, constituiu-se a Leal
Santos Pescal S/A, que chegou a ser a maior empresa brasileira do setor
pesqueiro em receita e em exportação.
Parte do complexo da Leal Santos (década de 1910) na rua Aquidaban (área atual da UNIMED). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Operárias no interior da Fábrica da Leal Santos na década de 1910. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
COMPANHIA DE
TECELAGEM ÍTALO-BRASILEIRA
Denominada pela população
de fábrica nova, foi fundada por Giovanini Hesemberger em 1894, o qual
transferiu a empresa para Santo Bechi & Cia, de Gênova. Sua fachada
principal ocupava duas quadras com frente para a Av. Senador Corrêa, terminando
na esquina da rua 24 de Maio onde havia o palacete em que residia o diretor. A
fábrica apresentava uma área construída de mais de 10.000 metros quadrados
sendo desativada na década de 1950 tendo as instalações e o palacete demolidos.
Restou a chaminé no interior do supermercado que atualmente ocupa aquela área.
A indústria era especializada na fabricação de tecidos de algodão, recebendo de
Pernambuco a matéria-prima. O algodão bruto era transformado em diversos
tecidos, empregando mais de 600 operários e utilizando modernos equipamentos.
Esta indústria têxtil fabricava brins, camisetas, panos para colchões etc. Em
1921, Paulo Ângelo Pernigotti, um de seus dirigentes, incorporou a empresa
alterando a razão social para Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira.
No ano de 1942, nova mudança na razão social, para Companhia Fiação e
Tecelagem Rio Grande, neste período tendo por dirigente Giuseppe Renato
Pernigotti.
Foram duas empresas de produtos
de consumo não duráveis que obtiveram destaque no mercado nacional durante a
época áurea de sua expansão e que acabaram por sucumbir frente ao complexo
quadro concorrencial do mercado central brasileiro a partir da década de 1930.
Cartão-postal da Fábrica Ítalo-Brasileira por volta de 1915-20. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
Cartão-postal Fábrica Ítalo-Brasileira por volta de 1930. Flagrante de operários se deslocando na rua Senador Corrêa. |
quinta-feira, 12 de julho de 2018
RIO GRANDE EM 1868
A
revista literária e histórica Arcádia
(1867-1870), foi editada inicialmente em Rio Grande voltando-se a produção literária e
poética, apresentando crônicas e também monografias de caráter histórico. Um
raro exemplar de resgate da história da cidade do Rio Grande desde a sua
fundação em 1737 até 1868, foi elaborado por um colaborador da Revista C. E. Fontana que escreveu Apontamentos Históricos, Topográficos e
descritivos da cidade do Rio Grande, consistindo numa ímpar contribuição
para a historiografia local.
Os dados históricos referentes ao século XVIII
estão repletos de erros, porém as informações contemporâneas apresentados pelo
autor, mesmo que descritivas, são interessantes para identificar a urbanidade e
o desenvolvimento no período em que foi publicado os Apontamentos.
Rio Grande contava com 1870 casas edificadas e 37 estavam
em construção.
Haviam 115 sobrados de um andar e 2 em construção, além de 2
sobrados de dois andares e 1 de três andares.
DENOMINAÇÕES
DE RUAS E PRAÇAS
A cidade tinha 33 ruas, 4 becos e 7 praças. A
maioria das ruas haviam sido renomeadas recentemente devido à atuação
brasileira na então em
curso Guerra do Paraguai (1865-1870). As principais ruas
eram: Riachuelo (anteriormente denominada de Boa Vista), que se situava junto
ao porto; Pedro Segundo (antiga da Praia e atual Marechal Floriano) sendo a
mais importante rua com “lindos edifícios e quase toda calçada”; Príncipes
(antes Direita e atual Bacelar), uma das principais sendo renomeada em
homenagem ao Conde d’Eu; Paysandu (Pito e atual República do Líbano); Vinte de
Fevereiro (antes do Fogo e atual Luiz Loréa); Uruguaiana (Cômoros e atual Silva
Paes); Barroso (Canal) em honra ao herói da Batalha do Riachuelo; Caridade
(atual Coronel Sampaio), por estar localizada a Santa Casa de Misericórdia;
Francisco Marques, em homenagem ao primeiro morador da rua, pai de Tamandaré;
outras denominações de ruas vigentes em 1868 eram Alfândega (atual Andradas),
Castro (atual Duque de Caxias), Rasgado (atual General Netto), Câmara (atual
Carlos Gomes), Lousada, Quartéis (atual 24 de maio), Moinho (atual Aquidaban),
Trincheiras (atual General Portinho), Moron (antiga rua do Bom Fim), Zallony
(antigo Beco do corpo da Guarda), etc.
Entre
os largos e praças haviam a Sete de Setembro (antiga Praça do Poço), São Pedro
(atual Júlio de Castilhos), Caridade Nova (atual Barão de São José do Norte),
Tamandaré (antiga Praça dos Quartéis e Geribanda) e Municipal (atual Xavier
Ferreira). A Municipal consistia numa “vasta praça e único passeio recreativo
da cidade, é comumente denominada de Boulevard Rio-Grandense”, porém
“lamenta-se que não mereça mais atenção da edilidade”. Na praça Tamandaré,
existiam seis fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupa,
erguendo-se no centro desta, “uma modesta cruz ali colocada em 1842 pela missão
jesuítica a estas plagas”.
OS CAMINHOS
DA CIVILIZAÇÃO
Fontana afirmou que a Igreja Matriz de São
Pedro encontrava-se pouco cuidada. Já a Igreja do Carmo “é o mais belo templo
da cidade e a ordem a mais rica corporação religiosa. Possui também um hospital
e está prestes a edificar um novo prédio para esse fim”.
O autor ressaltou o trabalho assistencial
realizado pelo Asilo para as Órfãs
Desvalidas “dando abrigo a muitas infelizes sem pai nem mãe e mais tarde
tornando-se pela educação e moral exemplos de sociedade”. Ressaltou o trabalho
da Santa Casa de Misericórdia que atendia anualmente cerca de 500 doentes, além
manter em funcionamento a Roda dos Expostos com mais de trinta indivíduos.
Neste período estava em construção “um grande e belo edifício para a Santa
Casa, que com algum empenho por parte do governo da província, poderia ficar
brevemente concluído”.
Outros prédios que se destacavam eram a Casa
da Câmara Municipal, o novo Mercado Público, a Cadeia Civil e o teatro Sete de
Setembro. Conforme Fontana, “o cemitério extramuros que teve princípio em 1855,
na época da epidemia, já possui alguns belos mausoléus. Próximo a este
cemitério achasse o dos protestantes”.
A instrução pública primária era constituída por quatro
escolas, duas do sexo masculino dirigidas pelos professores Julio Cezar Augusto
e Inácio de Miranda Ribeiro e duas do feminino com a docência de Maria Joaquina
Duval e Maria Fausta de Miranda Campello. A instrução secundária era exercida
apenas por uma aula de francês do prof. José de Pontes França, porém pouco
freqüentada.
Como uma das preocupações do período era a
civilização expandindo seus tentáculos através da educação e do desenvolvimento
urbano, o autor destacou o desenvolvimento da cidade rumo a este ideal. Em
relação a seu trabalho comentou: “contando com a benevolência do leitor, é que
ainda ofereço o meu raquítico trabalho à mocidade rio-grandense”.
Rua Riachuelo em 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Primeira série de Arcádia (1867). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
quarta-feira, 11 de julho de 2018
A MISSA DA ABOLIÇÃO E MACHADO DE ASSIS
Machado de Assis nasceu em 21 de junho
de 1839, no Morro do Livramento no Rio de Janeiro. Seu pai foi Francisco
José de Assis, um mulato que pintava paredes, filho de Francisco de Assis
e Inácia Maria Rosa, ambos escravos alforriados. A mãe foi a lavadeira açoriana Maria Leopoldina da Câmara Machado. Machado
de Assis, pelo conjunto de sua obra, é considerado por muitos o maior literato
brasileiro: percorreu os gêneros literários sendo poeta, romancista, cronista,
dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. É um personagem que tem sido visitado
frequentemente para conhecer o processo histórico brasileiro monarquia/república
na dimensão de seu cotidiano e suas práticas. Entre os temas relacionados ao
literato está o da sua participação na campanha abolicionista. O historiador Sidney
Chalhoub no livro “Machado de Assis, historiador”, esclarece: “Machado se empenhou em
desqualificar o estatuto intelectual de teorias racistas e reflete, mais do que
simplesmente retrata, sobre a incapacidade de a classe dos proprietários de
terras e escravos pensar o mundo sem escravidão. Além disso, mostra que dependentes
e escravos ajudaram a enterrar a sociedade paternalista dos senhores de escravos" Como funcionário público federal ele lutou para que a Lei do Ventre Livre (1871) fosse aplicada e ampliada.
Na matéria “Missa Campal de 17 de maio de 1888” de autoria de Andrea C. T. Wanderley (http://brasilianafotografica.bn.br/?p=528) Machado
de Assis foi identificado numa fotografia da Missa
Campal de Ação de Graças pela Abolição da Escravatura realizada no dia 17 de
maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A atividade ocorreu
pela manhã em homenagem à Princesa Isabel, que se fazia presente com o Conde D’Eu
e encerrou com um almoço festivo no Internato do Colégio Pedro II. Lideranças
abolicionistas estavam presentes entre eles o maior tribuno abolicionista José
do Patrocínio na companhia de seu amigo literato. Eduardo Assis Duarte organizador
do livro “Machado de Assis afrodescendente” (2007) ressaltou que “Machado
foi abolicionista em toda a sua vida e, a seu modo, criticou a escravidão desde
seus primeiros escritos. Nunca defendeu o regime servil nem os escravocratas.
Além disso, era amigo próximo de José do Patrocínio, o grande líder da campanha
abolicionista”.
Depois
de tantos anos de existência, a identificação do personagem na fotografia
revela o potencial da imagem fotográfica para o estudo da História. A identificação
de personagem possibilita uma releitura de sua biografia e cruzar o documento
com outras fontes que podem ampliar a compreensão de um momento histórico ou de
uma trajetória de vida.
Esta
fotografia analisada por Andrea Wanderley foi assim contextualizada pela
autora: “A Missa Campal em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 17 de maio de
1888, foi uma celebração de Ação de Graças pela libertação dos escravos no
Brasil, decretada quatro dias antes, com a assinatura da Lei Áurea. A
festividade contou com a presença da princesa Isabel, regente imperial do
Brasil, e de seu marido, o conde D´Eu, príncipe consorte, que, na foto, está ao
lado da princesa, além de autoridades e políticos. De acordo com os jornais da
época, foi um “espetáculo imponente, majestoso e deslumbrante”, ocorrido em um
“dia pardacento” que contrastava com a alegria da cidade. Cerca de 30 mil
pessoas estavam no Campo de São Cristóvão. Dentre elas, o fotógrafo Antônio
Luiz Ferreira que há muito vinha documentando os eventos da campanha
abolicionista brasileira desde suas votações e debates até as manifestações de
rua e a aprovação da Lei Áurea. Não se conhece um evento de
relevância nacional que tenha sido tão bem fotografado anteriormente no Brasil.
No registro da missa campal é interessante observar a participação efetiva da multidão
na foto, atraída pela presença da câmara fotográfica, o que proporciona um
autêntico e abrangente retrato de grupo. Outra curiosidade é a cena de uma mãe
passeando com seu filho atrás do palanque, talvez alheia à multidão,
fazendo um contraponto de quietude à agitação da festa”.
Ilustrações: Missa
da Abolição. Autor: Antonio Luiz Ferreira. Acervo: Instituto Moreira Salles.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
RIO GRANDE E A GEOGRAFIA DA PROVÍNCIA
Hilário
Ribeiro foi um educador e escritor nascido em Porto Alegre em 1847 e falecido
no Rio de Janeiro em 1886. Atuou no magistério e na produção de livros
didáticos que tiveram circulação nacional. Em 1880 publicou “Geografia da
Província do Rio Grande do Sul” pela Livraria Carlos Pinto de Pelotas. O livro
é organizado em perguntas e respostas. A leitura e reprodução de capa e mapas
foram feitas a partir do livro disponível no endereço https://digital.bbm.usp.br/view
Ribeiro
dedica alguns parágrafos à cidade do Rio Grande no ano de 1880.
“Qual é a situação da cidade do Rio Grande ou
S. Pedro? Esta cidade está situada sobre a margem direita do Rio Grande, em uma
península arenosa e baixa.
Que sabe dizer sobre esta cidade? É o
principal empório comercial da província. Suas ruas são regulares e bem
calçadas, apresentando um belo aspecto a de Riachuelo, que costeia o litoral e
possui o mais importante cais da província, construído de granito, sob a direção
do ilustre engenheiro rio-grandense Ewbank da Câmara.
Tem uma só freguesia e mais 3 igrejas, que
são: a do Carmo, S. Francisco e a do Senhor do Bom Fim. Entre seus edifícios
públicos notam-se: a Santa Casa de Misericórdia, a Alfândega, que é uma das
primeiras do Império pela sua arquitetura e grandeza; o Arsenal de Marinha, a
Biblioteca Pública, que contém avultadíssimo número de obras importantes; o teatro,
a Escola Silveira Martins, em construção, o Mercado, o Quartel, etc. A Praça
Municipal encerra um magnífico passeio ajardinado.
Em que ano começou a fundação desta cidade?
Data de 19 de Fevereiro de 1727 (*1737) em que o brigadeiro José da Silva Paes,
regressando da Colônia do Sacramento com alguma tropa e povoadores, estabeleceu
ao sul da barra os fortes de Jesus Maria José e Sant’Anna. Como, porém, este
local não era o mais próprio, foi transferida a povoação para onde atualmente
se acha a cidade, por ordem de Gomes Freire de Andrade, então capitão general e
governador do Rio de Janeiro e S. Paulo.
Porque é notável o porto do Rio Grande? Por
ser o mais concorrido de navios de longo curso e cabotagem, bem como de outros
destinados à navegação interior da província.
Com que cidades comunica o Rio Grande por
meio da navegação interna? Com Porto Alegre, Pelotas e Jaguarão.
Quantos kilom. está distante destas três cidades? 347 e meio kilom. de
Porto Alegre, 52 de Pelotas e 211 de Jaguarão.
Qual é a população do Rio Grande? Aproximadamente
14.000 habitantes.
Onde fica a freguesia de N S. das
Necessidades do Povo Novo? Dista 39 e meio kilômetros do Rio Grande e é paróquia
desse município, que conta também a capela curada de S. João Evangelista, criada
na ilha dos Marinheiros.
A cidade do Rio Grande possui a importante fábrica
nacional de tecidos de lã. Este notável estabelecimento pertence à Rheingantz
& Water; sendo o primeiro sócio filho da província. Começou a funcionar em
Junho de 1874 e acha-se hoje perfeitamente montado. A matéria prima empregada
na fábrica é produto da criação de ovelhas na província, para cujo
desenvolvimento muito tem concorrido. O edifício ocupa uma área de 1.500 metros
quadrados e emprega para cima de 80 operários. Os produtos da fábrica consistem
em cobertores, baetas, chales e diferentes qualidades de panos”.
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