Machado de Assis nasceu em 21 de junho
de 1839, no Morro do Livramento no Rio de Janeiro. Seu pai foi Francisco
José de Assis, um mulato que pintava paredes, filho de Francisco de Assis
e Inácia Maria Rosa, ambos escravos alforriados. A mãe foi a lavadeira açoriana Maria Leopoldina da Câmara Machado. Machado
de Assis, pelo conjunto de sua obra, é considerado por muitos o maior literato
brasileiro: percorreu os gêneros literários sendo poeta, romancista, cronista,
dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. É um personagem que tem sido visitado
frequentemente para conhecer o processo histórico brasileiro monarquia/república
na dimensão de seu cotidiano e suas práticas. Entre os temas relacionados ao
literato está o da sua participação na campanha abolicionista. O historiador Sidney
Chalhoub no livro “Machado de Assis, historiador”, esclarece: “Machado se empenhou em
desqualificar o estatuto intelectual de teorias racistas e reflete, mais do que
simplesmente retrata, sobre a incapacidade de a classe dos proprietários de
terras e escravos pensar o mundo sem escravidão. Além disso, mostra que dependentes
e escravos ajudaram a enterrar a sociedade paternalista dos senhores de escravos" Como funcionário público federal ele lutou para que a Lei do Ventre Livre (1871) fosse aplicada e ampliada.
Na matéria “Missa Campal de 17 de maio de 1888” de autoria de Andrea C. T. Wanderley (http://brasilianafotografica.bn.br/?p=528) Machado
de Assis foi identificado numa fotografia da Missa
Campal de Ação de Graças pela Abolição da Escravatura realizada no dia 17 de
maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. A atividade ocorreu
pela manhã em homenagem à Princesa Isabel, que se fazia presente com o Conde D’Eu
e encerrou com um almoço festivo no Internato do Colégio Pedro II. Lideranças
abolicionistas estavam presentes entre eles o maior tribuno abolicionista José
do Patrocínio na companhia de seu amigo literato. Eduardo Assis Duarte organizador
do livro “Machado de Assis afrodescendente” (2007) ressaltou que “Machado
foi abolicionista em toda a sua vida e, a seu modo, criticou a escravidão desde
seus primeiros escritos. Nunca defendeu o regime servil nem os escravocratas.
Além disso, era amigo próximo de José do Patrocínio, o grande líder da campanha
abolicionista”.
Depois
de tantos anos de existência, a identificação do personagem na fotografia
revela o potencial da imagem fotográfica para o estudo da História. A identificação
de personagem possibilita uma releitura de sua biografia e cruzar o documento
com outras fontes que podem ampliar a compreensão de um momento histórico ou de
uma trajetória de vida.
Esta
fotografia analisada por Andrea Wanderley foi assim contextualizada pela
autora: “A Missa Campal em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 17 de maio de
1888, foi uma celebração de Ação de Graças pela libertação dos escravos no
Brasil, decretada quatro dias antes, com a assinatura da Lei Áurea. A
festividade contou com a presença da princesa Isabel, regente imperial do
Brasil, e de seu marido, o conde D´Eu, príncipe consorte, que, na foto, está ao
lado da princesa, além de autoridades e políticos. De acordo com os jornais da
época, foi um “espetáculo imponente, majestoso e deslumbrante”, ocorrido em um
“dia pardacento” que contrastava com a alegria da cidade. Cerca de 30 mil
pessoas estavam no Campo de São Cristóvão. Dentre elas, o fotógrafo Antônio
Luiz Ferreira que há muito vinha documentando os eventos da campanha
abolicionista brasileira desde suas votações e debates até as manifestações de
rua e a aprovação da Lei Áurea. Não se conhece um evento de
relevância nacional que tenha sido tão bem fotografado anteriormente no Brasil.
No registro da missa campal é interessante observar a participação efetiva da multidão
na foto, atraída pela presença da câmara fotográfica, o que proporciona um
autêntico e abrangente retrato de grupo. Outra curiosidade é a cena de uma mãe
passeando com seu filho atrás do palanque, talvez alheia à multidão,
fazendo um contraponto de quietude à agitação da festa”.
Ilustrações: Missa
da Abolição. Autor: Antonio Luiz Ferreira. Acervo: Instituto Moreira Salles.
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