Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 31 de maio de 2019

A CRUZ DE SÃO PEDRO

Caravaggio e a crucificação de Pedro (1601). 

A cruz invertida. 
   
Há mais de vinte anos, junto com o prof. Pedro Augusto Mentz Ribeiro, estive na localidade do Estreito em São José do Norte. O objetivo era identificar o sítio original onde foi construída a Aldeia e depois Freguesia do Estreito no período posterior a ocupação espanhola da Vila do Rio Grande. Era o ano de 1763 e a hoje pacata localidade do Estreito, foi se tornando o aldeamento mais populoso do Rio Grande português daquela época. Entre os fragmentos de cerâmica inglesa, portuguesa e indígena, pedaços de vidro e peças de metal, se destacou uma pequena, em tamanho, descoberta: um crucifixo, o qual estava invertido e que poderia ter pertencido a alguém que praticava culto satânico? Certamente não!
A Barra do Rio Grande de São Pedro, a Vila do Rio Grande de São Pedro, a Capitania do Rio Grande de São Pedro e a Igreja de São Pedro estão em sintonia, com a denominação geográfica surgida em 1532 junto ao local onde a Lagoa dos Patos escoa suas águas no Oceano Atlântico. O registro do local se deu no período de comemoração a São Pedro e daí derivou, trazendo para o presente, o nome da Barra, da cidade e até do Estado do Rio Grande do Sul.
Em 1763, a fuga da Vila do Rio Grande frente à invasão espanhola, levou moradores a se estabelecerem ao Norte da Barra do Rio Grande. A devoção a São Pedro recua aos primórdios da ocupação lusitana e a edificação da Igreja se deu 1755: o espaço patrimonial preservado da cristandade mais antigo do Rio Grande do Sul.
Catedral de São Pedro e o padroeiro. http://www.catedraldesaopedro.com.br.
O crucifixo deveria pertencer a um morador da Vila do Rio Grande que era devoto de São Pedro, o qual foi o primeiro papa da Igreja e um convicto pregador do cristianismo que foi condenado à morte por Nero e pediu para ser crucificado de cabeça-para-baixo por não se sentir digno de morrer da mesma forma como Jesus. Este ato simboliza humildade, amor e respeito. Portanto, a interpretação original é a que a “cruz latina invertida é a cruz de São Pedro”. Demônios nada tem a ver com esta origem histórica.  
Historiando: Pedro, durante uma década, governou a Igreja em Jerusalém, na Judéia, Samaria, no litoral e em Antioquia. Em 42 d.C. fundou a Igreja em Roma. No tempo de Nero, em 67 d.C., foi preso e crucificado no Vaticano. Ele pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, dizendo “Não sou digno de morrer como meu mestre Jesus”, que morreu em posição normal. Séculos mais tarde, no lugar de sua morte, em Roma, foi construída a basílica de São Pedro (330 d.C.), reconstruída no século 16 d.C. e que preserva a arte de Michelangelo.  Na Galileia, foi construído um Santuário, onde, em honra de São Pedro, está a cruz de cabeça para baixo, para significar “de que modo Pedro morreu, para a glória de Deus.” (João, 21, 19).


João Paulo II em visita a Israel e o símbolo da cruz invertida. Acervo: CNN.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

O JOGO DA NEVE

Correio do Povo. 

Correio do Povo. 

Revista Placar. 

Jornal Zero Hora. 


Hoje, há quarenta anos no passado, o outono estava muito rigoroso e flertava com o inverno. O frio na serra gaúcha estava de, no dizer gauchesco, de “renguear cusco”.   Aquele foi o dia mais frio do mês de maio dos últimos 70 anos, ou seja, desde 1909.
Na cidade de Bento Gonçalves, na noite do dia 30 de maio de 1979, o Esportivo e o Grêmio se enfrentaram pelo gauchão que foi vencido pelo time tricolor naquele ano. Quatro mil intrépidos torcedores foram ao Estádio da Montanha naquela noite. Porém, o jogo não passou de 0 X 0. Os jogadores estavam mais preocupados em não congelar do que em jogar futebol...
O jornal Zero Hora, do dia 31 de maio de 1979, deixou o seguinte relato daquela noite gélida: “A temperatura em Bento Gonçalves era de zero grau quando a partida começou ontem no Estádio da Montanha. (…) Já nevava aos nove minutos quando Raquete recebeu cartão amarelo por jogada violenta contra Tarciso. (…) O primeiro tempo terminou com muita neve. Alguns jogadores tinham a cabeça branca e outros ainda sentiam frio, apesar dos 45 minutos de movimentação. A visibilidade piorava e Carlos Martins admitia até mesmo a hipótese de ter que suspender o jogo antes do final”.
      O jornal Correio do Povo do dia 30 de maio de 2009 rememorou esta história quando completava 30 anos e fez o seguinte relato do “jogo da neve”:
      Correspondente da Folha da Tarde no jogo, o jornalista do Correio do Povo Ilgo Wink ainda recorda do aspecto prateado do campo. ‘Inesquecível’, diz. Os flocos tinham caído antes, mas foi aos 30 minutos da etapa inicial que vieram com força. ‘A neve chegou a cobrir o bigode do alegre Jesum’, escreveu na saudosa Folha. Jogadores ficaram com as cabeças brancas. O técnico Orlando Fantoni lembrava da neve da Itália.
      A massa de ar polar era intensa e a carta sinótica publicada no jornal mostrava o clássico cenário para neve com uma alta pressão continental e um sistema de baixa pressão na costa. O primoroso relato de Ilgo Wink na Folha terminou noticiando uma batalha. ‘Ao final do jogo, os torcedores, tanto de Grêmio como Esportivo faziam uma divertida batalha de neve.’ Batalha essa que ninguém se incomodaria em ver repetida.
         Ilgo Wink:
      “Quando chegamos em Bento a temperatura estava próxima do zero grau. E caindo, caindo. Chegou a hora do jogo. Os jogadores entraram em campo. Fiquei com pena deles. O gramado úmido, a temperatura no zero grau e um vento cortante como uma navalha, parecia que atravessava a alma. Pouca gente no estádio. Noite boa para ficar em casa, tomar um caldo quente com vinho tinto. Meus pés estavam congelados, quase não os sentia. Os dedos da mão viraram picolé. O jogo começou morno na noite gelada. Ninguém queria nada com nada. Prenúncio de 0 a 0, que acabou sendo o resultado final.
     O vento estancou de repente. Parecia que o tempo havia parado. Em campo, os jogadores corriam muito mais para se aquecer do que para jogar bola. De repente, começaram a cair flocos de neve, que foram aumentando de intensidade rapidamente. O campo ganhou uma camada fina de neve. Pensei no pessoal na redação aquecida, na previsão do Hiltor. Pensei num café bem quente, num cobertor de lã, num garrafão de vinho, uma canja de capeletti.
      O Jesum, um ponta habilidoso e rápido, passou perto de mim. Seu enorme bigode estava branco. Mais adiante, o carioca Paulo César Caju com sua cabeleira coberta de neve. Na área, o Baltazar pedia a bola, braços erguidos. Parecia que haviam congelados no ar.
      No intervalo, eu e o Lupi Martins, grande parceiro e excelente repórter da Rádio Guaíba, paramos para tirar uma foto e registrar aquele momento mágico. Um colega de outra emissora, lá de Bento, entrou de gaiato. Eu estava congelado. Um boneco de neve. De barba, mas um boneco de neve.”


EINSTEIN E O ECLIPSE DE SOBRAL: 100 ANOS

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48296017

Hoje, há cem anos, ocorreu um eclipse total do Sol cuja observação mudou os conhecimentos de Física.  O artigo de Camilla Costa “Teoria da relatividade: como eclipse solar no Ceará a 100 anos transformou Einstein em celebridade mundial” (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48296017) aborda este evento e conta um pouco desta historia que projetou a cidade cearense de Sobral na enciclopédia dos conhecimentos científicos.

Era o dia 29 de maio de 1919, às 5h13 quando o eclipse foi observado por cientistas ingleses (Davidson e Crommelin) e fotografado com seus equipamentos.  Um mês depois, os cientistas repetiram as fotografias das estrelas Híades no espaço da abóboda celeste. No mês de novembro de 1919, após exaustivas análises, foi divulgado que as previsões de Albert Einstein, relativas à curvatura do espaço-tempo, (decorrência dos postulados da Teoria da Relatividade Geral) estava correto.

Conforme relatado na matéria da bbc: “Segundo a relatividade geral, a força de gravidade é um efeito causado pela curvatura do espaço-tempo. Um corpo massivo como o Sol, por exemplo, distorce o espaço-tempo a seu redor, e faz com que outros objetos menores tenham que seguir essa distorção. Até mesmo a luz de outras estrelas, em seu caminho até nós na Terra, tem sua trajetória alterada quando passa perto do Sol. Por isso, se pudessem ser vistas durante o dia, as estrelas se pareceriam um pouco mais afastadas do Sol do que realmente estão. Cálculos de Einstein previam um desvio da luz duas vezes maior do que o que era previsto de acordo com a teoria de Newton. Para testar a teoria, seria necessário fotografar estrelas próximas ao Sol e depois fotografá-las no mesmo lugar à noite. Em seguida, medir a posição delas no céu a cada momento, e encontrar a diferença entre estas medidas. O cenário ideal para isso seria um eclipse total, um alinhamento que faz com que a Lua esconda o Sol, projetando sua sombra sobre a Terra. A escuridão permite que os astrônomos observem as estrelas, os planetas e a atmosfera solar durante o dia, com mais facilidade”.Há cem anos, a Teoria da Relatividade teve sua primeira confirmação experimental e Einstein, com toda a resistência por sua origem alemã, começou a ser reconhecido como um dos grandes físicos que modificaram as interpretações sobre o Cosmos e a natureza dos fenômenos.

A matéria completa, ampla e detalhada, pode ser lida no site da bbc brasil.


 
Eclipse de Sobral. Acervo: SCIENCE MUSEUM LONDON



sexta-feira, 17 de maio de 2019

RESTAURANTE ANGOLA


O jornal O Tempo do dia 29 de junho de 1960 publicou uma longa matéria com Albino Tavares Pinho, proprietário do Restaurante Angola. Pinho, assim como tantos outros portugueses vindos para trabalhar na cidade, migrou de Portugal para o Brasil em 1933, desembarcando em Rio Grande no dia 8 de outubro deste ano. Natural de Aveiro, inicialmente trabalhou como carpinteiro para depois administrar em sociedade o “Restaurante Luzitano” (Av. Brigadeiro Silva Paes com Rua dos Andradas). Montou novo restaurante o “Sete de Setembro” na Av. Silva Paes defronte a Praça Sete de Setembro, o qual foi inaugurado em 1938. Conforme o jornal O Tempo “foi um dos melhores e de mais movimento da época”, porém, sofreu um incêndio em abril de 1941 em que sobraram apenas as paredes. Ainda no ano de 1941 abria as portas o Restaurante Angola localizado na rua Luiz Loréa esquina com Benjamin Constant. Em 24 de dezembro de 1959 o Angola passou por uma ampla reforma que o tornou um dos melhores e mais tradicionais da cidade. Paralelamente Albino abriu um atacado de Conservas, Especialidades e Bebidas na rua Riachuelo 185.
O jornal O Tempo ressaltou a trajetória e o esforço deste imigrante português que ao longo de sua vida trabalhou com seus familiares no comércio local e construiu um nome até hoje lembrado na cidade: o Restaurante Angola e o seu cardápio de peixes e frutos do mar.
Quem ainda recorda?


 



 Ilustrações: Jornal O Tempo de 29 de junho de 1960. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


quinta-feira, 9 de maio de 2019

O TUTANCÂMON INGLÊS


Pesquisador analisando a tumba. Imagem: MOLA. 
  
 O site https://www.bbc.com/portuguese/geral-48212907 postou neste dia 9 de maio de 2019 uma matéria sobre a tumba do “Tutancâmon inglês”. A descoberta ocorreu em 2003 a leste de Londres e uma longa pesquisa tem sido realizada na vasta câmara funerária que foi encontrada entre um pub e um supermercado. A matéria é da bbc e os direitos de imagem pertencem a MOLA.
Local em que foi encontrada a tumba. Imagem: MOLA. 
“Operários desenterraram a sepultura, que continha dezenas de artefatos raros, durante obras rodoviárias em Prittlewell, perto de Southend, na costa a leste de Londres, em 2003, e detalhes sobre o suposto ocupante foram agora finalmente revelados. Fragmentos de esmalte dos dentes eram os únicos restos humanos, mas especialistas dizem que o seu "melhor palpite" é que eles pertenciam a um príncipe anglo-saxão do século 6. A descoberta foi considerada o exemplo mais antigo de um enterro de um membro da realeza anglo-saxã cristã.
Quando escavou o local, a equipe do Museu de Arqueologia de Londres (Mola, da sigla em inglês) disse estar "surpresa" de encontrar a câmara funerária intacta.
Os restos da estrutura de madeira, que teria medido cerca de 4 metros quadrados e 5 metros de profundidade, abrigavam cerca de 40 artefatos raros e nobres. Entre eles havia uma lira - uma antiga harpa - e uma caixa de 1.400 anos, que acreditava-se ser o único exemplo que restou de madeira anglo-saxônica pintada na Grã-Bretanha. Moedas de ouro, o gargalo de prata dourado de um vaso de madeira, copos de vidro decorativos e um jarro que seria procedente da Síria também foram encontrados. Cada um deles foi colocado dentro do túmulo "como parte de um ritual de sepultamento cuidadosamente coreografado", indicando o local de descanso de um homem de linhagem de príncipe, disseram eles. 
O túmulo continha 40 artefatos, incluindo tesouros de outros reinos Moradores apelidaram o ocupante desconhecido do túmulo de Príncipe de Prittlewell.

O túmulo continha 40 artefatos, incluindo tesouros de outros reinos. Imagem: MOLA. 
Chegou-se a cogitar que os restos mortais fossem de Saebert, rei saxão de Essex entre 604 e 616 d.C.. Mas a datação por carbono e outros testes indicaram que o túmulo foi construído entre 575 e 605 d.C. - pelo menos 11 anos antes de sua morte. Após 15 anos de pesquisa, arqueólogos disseram que o "melhor palpite" nesse caso era de que o túmulo pertencia a Seaxa, irmão de Saebert.
De acordo com informações do Museu de Arqueologia de Londres, cruzes de folha dourada encontradas na cabeceira, por exemplo, teriam sido colocadas sobre os olhos dele como sinal de que era cristão. No entanto, outras características, como a mamoa (pequenos montes artificiais que recobrem monumentos fúnebres), os artefatos presentes nele e a câmara de madeira, refletem crenças e tradições pré-cristãs. Uma fivela de cinto de ouro, provavelmente feita especialmente para o enterro, indica um indivíduo de status elevado. O caixão de madeira de freixo "excepcionalmente grande" e de tampa elaborada também chamou a atenção, com espaço para um corpo e outros itens. Acredita-se que o caixão sozinho pesava 160 kg.
Vasos de ouro decorados estavam entre os tesouros encontrados na área. Imagem: MOLA.
O tamanho do caixão e a disposição dos itens dentro dele sugerem ainda que o ocupante tinha cerca de 1,68 m de altura. Entre os itens encontrados também havia um banquinho dobrável de ferro, que um lorde usaria, por exemplo, para distribuir recompensas e julgamentos a seus leais seguidores e guerreiros. Uma "espada habilmente trabalhada", com detalhes em ouro adornando o punho de chifre e uma lâmina de padrões complexos, era um sinal claro de um funeral real ou aristocrático.
Sophie Jackson, diretora de pesquisa do Museu, disse que ninguém esperava que o "local pouco promissor" encontrado em 2003 contivesse "o equivalente ao túmulo de Tutancâmon". "O local fica entre uma linha de trem e uma estrada, basicamente um limite. Não é onde você esperaria encontrá-lo", disse ela. Segundo pesquisadora, local onde a tumba foi encontrada era considerado "pouco promissor". Ela disse que o túmulo forneceu um retrato de uma "época realmente interessante", quando o cristianismo estava "apenas começando" nas Ilhas Britânicas. "Era uma fase de transição entre ter enterros pagãos com todos os seus objetos, mas também ter essas cruzes", disse ela. Jackson disse que "o melhor palpite" foi que o túmulo abrigava Seaxa. "Há muito debate sobre se ele era um verdadeiro guerreiro saxão maduro, ou mais jovem", acrescenta. "Teria ele morrido antes que pudesse realmente provar o seu valor?"
Quem foi Tutancâmon? Ele foi um rei egípcio que morreu há cerca de 3.000 anos. Seu túmulo foi descoberto pelo arqueólogo britânico Howard Carter em 1922 em uma área hoje conhecida como o Vale dos Reis. Foi uma das tumbas mais bem preservadas que os arqueólogos já viram, e aproximadamente 2 mil objetos foram encontrados dentro. A câmara estava cheia de tesouros e pinturas de parede detalhadas que mostravam a história da vida e da morte do rei Tutancâmon. Depois que os tesouros foram catalogados e limpos, a tumba se tornou um destino turístico quando foi aberta ao público na década de 1930.
Máscara funerária de Tutancâmon. Imagem: REUTERS.
Mais de 40 especialistas de várias áreas trabalharam juntos em Prittlewell para escavar, limpar e reconstruir a câmara. Em alguns casos, os itens haviam sido tão desgastados que sobraram apenas suas marcas impressas no solo. Esses artefatos foram recriados digitalmente usando técnicas como tomografia computadorizada e análise microscópica de amostras de solo. Alguns dos artefatos recuperados serão exibidos no Museu Central em Southend. O museu também lançou um site com informações sobre sua pesquisa, bem como um diagrama interativo da tumba”, conclui a matéria (https://www.bbc.com/portuguese/geral-48212907).
Artefato encontrado na tumba. A datação por carbono indicou as datas de sepultamento do "Tutancâmon inglês" entre 575 e 605 Depois de Cristo. Imagem: MOLA. 

quarta-feira, 8 de maio de 2019

O TORNADO DE 1960?


Um tornado atingiu Rio Grande no dia 23 de outubro de 1960? Quase seis décadas depois do evento é difícil uma afirmação científica sobre os acontecimentos da tarde daquele dia. Era um domingo, às 14h30, quando algumas áreas da cidade foram atingidas por um fenômeno atmosférico que causou pesados danos estruturais em residências e na área portuária. A matéria do jornal Rio Grande do dia 24 de outubro, deixa algumas pistas sobre o que ocorreu naquela tarde: “Nada mais do que 56 segundos foram suficientes para que um ciclone, provocasse danos de monta em vários pontos da cidade (...) Redemoinhando como um pião, o forte vento atingiu a algumas zonas da cidade, deixando marcas muito fortes, fazendo vítimas pessoais (feridos) e demolindo casas de madeira. Enquanto na zona central nada mais do que uma chuva forte ‘tocada a vento’ se fazia sentir, nas vilas Frederico Ernesto Bucholz, Braz e Rural, ruíam casas de madeira, voavam telhados, caiam fios da rede elétrica e pesadas árvores; também na zona compreendida pela rua Marechal Andréa e adjacências, o flagelo produziu danos de monta”. Relatos enfatizaram que casas foram arrancadas e jogadas em cima de outras casas!
A Capitania dos Portos Naval foi duramente atingida e uma torre de Estação de Rádio foi totalmente inutilizada. Casas da Vila Naval tiveram seus telhados danificados. Oficinas do DEPREC foram destelhadas e o ginásio do Clube Náutico Honório Bicalho foi totalmente destruído. “O espetáculo mais triste é o que ofereceram as vilas suburbanas, onde, foram destruídas 169 casas de moradia, todas de madeira”. Pelo menos sessenta e oito pessoas ficaram feridas, sendo atendidas na Santa Casa e uma mulher faleceu na localidade da Barra. Estimou-se em mais de 100 milhões de cruzeiros os prejuízos.  Ampla campanha de mobilização foi realizada para reconstruir as casas e minimizar a perda total que os flagelados tiveram.
O jornal Rio Grande do dia 26 de outubro de 1960 deu mais uma dica em relação às condições atmosféricas: a Rádio Nacional da Suécia, informou sobre a formação de um ciclone no sul do Brasil naqueles dias. Ou seja, o fenômeno que atingiu Rio Grande está inserido no mau tempo relacionado ao ciclone extratropical (que poderia provocar chuvas fortes e ventos intensos) mas o nível de estrago “seletivo” (em alguns bairros) e a narrativa do jornal referente aos “56 segundos que perdurou o vento” e a expressão “redemoinhando como um pião” sugere, enquanto hipótese, a atuação de um “tornado” que tocou o solo em alguns pontos até se dispersar na Lagoa dos Patos (canal de navegação para São José do Norte).  
Não esqueçamos, que o município do Rio Grande está situado na periferia do Corredor de Tornados da América do Sul, o qual é o segundo do mundo em atividade de fenômenos tornádicos.   
Ilustrações: Jornal Rio Grande 23-10-1960; 25 e 26-10-1960.








PROGRAMAÇÃO DE CINEMA


Desde os primórdios do século XX o cinema fez parte do cotidiano dos moradores da cidade do Rio Grande. O cine-teatro e as salas de cinema estavam presentes no cenário urbano do centro e também de bairros. Na década de 1950, o Jornal Rio Grande destaca a programação de cinco espaços cinematográficos: Glória, Cine Sete de Setembro, Carlos Gomes, Guarani e Avenida. Filmes de aventuras, western, romance, drama, suspense, horror e muito clima de matinê fazem parte da ampla programação semanal que era projetada nas telas locais e partilhada entre os inúmeros cinéfilos.
Ilustrações: Jornal Rio Grande, 13-03-1956. Acervo da Biblioteca Rio-Grandense.