Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 29 de março de 2019

HISTÓRIA E CARTOGRAFIA



          Nesta semana, participei de banca de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FURG.
          A Dissertação foi defendida por Maria Cristina Chaves Pires e a banca também estava composta por Éder Leandro Bayer Maier (Orientador - FURG – ICHI), Jefferson Rodrigues dos Santos (IFRS Campus Rio Grande) e Miguel da Guia Albuquerque (IFRS Campus Rio Grande).
       O título remete a uma possibilidade de diálogo entre os campos da História e da Geografia: “CARTOGRAFIA HISTÓRICA DA CIDADE DO RIO GRANDE/RS: EXPANSÃO URBANA E MUDANÇAS AMBIENTAIS (1737-2017)”. Enquanto primeiro núcleo de formação luso-brasileiro no Rio Grande do Sul, as historicidades em Rio Grande são de longa duração temporal e a produção cartográfica é uma fonte preciosa para investigar a produção do espaço social no passado de quase três séculos da localidade. Conforme Maria Cristina “os mapas históricos preservam informações geográficas sobre a ocupação humana, a expansão urbana e as transformações ambientais ao longo da história. Nesta perspectiva, efetuamos a coleta, catalogação, descrição e interpretação de mapas do sítio urbano da cidade do Rio Grande, a fim de investigar a expansão urbana e as transformações ambientais. A cidade que teve sua gênese a partir da posição político-estratégica, de função portuária/militar e posterior desenvolvimento comercial e industrial atravessou diversos ciclos econômicos que determinaram sua configuração espacial. Foram utilizados oito mapas entre 1737 e 2017, obtidos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, na Biblioteca Rio-Grandense, no acervo de Fortunato Pimentel e no Google Earth Pro. As feições permanentes naturais e antrópicas foram vetorizadas sobre uma imagem de satélite do Google e serviram de referência para configuração espacial dos processos de expansão urbana e transformação ambiental".
        A visualização da ocupação humana no espaço possibilita visualizar didaticamente os usos do espaço e as modificações antrópicas na paisagem natural. Os movimentos populacionais são frutos de processos históricos que podem ser investigados e interpretados. O espaço urbano é uma construção histórica fruto da intervenção humana no espaço geográfico.   A dissertação em foco é uma ferramenta para pensar a ocupação humana do espaço, as modificações ambientais decorrentes e os desafios para um crescimento urbano planejado.  
        Conforme a autora, a cidade do Rio Grande foi edificada em um ambiente fisiográfico que apresentava uma paisagem dominada por dunas, lençóis de areia, sequências lagunares e de banhados, vegetação pobre e a presença constante de ventos fortes. Estas características geológicas impuseram dificuldades aos portugueses durante o processo de ocupação, pois além do terreno instável devido às areias móveis, não haviam materiais apropriados para as construções. A localidade era privilegiada por suas condições geográficas, com sua aptidão portuária, teve em seu porto o único meio de ligação com o restante do país, isso foi fundamental para o seu desenvolvimento econômico e o ponto inicial das mudanças ambientais promovidas no pontal.
       Maria Cristina ressalta que cada período deixou a sua marca na configuração do espaço urbano, com a chegada de milhares de trabalhadores e a necessidade de adequar o gerenciamento da vida urbana. O crescimento e estagnação acompanharam esses processos, pois cada um deles teve seu apogeu e queda, não gerando riqueza suficiente para que os habitantes usufruíssem de uma melhor qualidade de vida. Cabe ressaltar que na última década os programas de habitação favoreceram o adensamento urbano e não a expansão como registrado no século passado. A necessidade de “criar terreno” para a expansão urbana promoveu profundas alterações na fisiografia no pontal. O crescimento ordenado e não ordenado gerou poluição, desmatamento, assoreamentos de arroios, destruição de ecossistemas e utilização de áreas preservadas para usos urbanos, gerando diversos desafios ambientais que Rio Grande precisa enfrentar na busca de um equilíbrio entre os interesses econômicos e ambientais.

Ilustrações: fotografia da Defesa de Dissertação. Gráficos contidos na Dissertação.

Apresentação de Maria Cristina.

Gráficos da expansão urbana. 

Gráficos da Supressão de Ambientes Naturais. 



sexta-feira, 22 de março de 2019

ESPAÇOS DA CRISTANDADE NO CENTRO HISTÓRICO



O precioso acervo fotográfico da Biblioteca Rio-Grandense preserva algumas imagens do patrimônio edificado católico das ruas da Praia (atual Marechal Floriano Peixoto) e da rua Direita (atual General Bacelar).
Nestas fotografias do ano aproximado de 1910, estão em destaque os prédios preservados da Capela de São Francisco (1814) e da Catedral de São Pedro (1755). A fachada da primeira Igreja do Carmo (1809) e o cemitério ao seu fundo foram demolidos no final da década de 1920, quando ocorreu a abertura do Beco do Carmo para o fluxo urbano (atual esquina das ruas Marechal Floriano com Benjamin Constant).
         As fotografias são do acervo da Biblioteca Rio-Grandense.

Antiga Igreja do Carmo por volta de 1910. 

Catedral de São Pedro em 1910.

Capela de São Francisco em 1910. 


A BIBLIOTECA


            A Biblioteca Rio-Grandense foi fundada em 15 de agosto de 1846 e teve por primeira denominação “Gabinete de Leitura”. O objetivo principal era possibilitar aos interessados o acesso aos livros a fim de despertar e difundir a leitura e o cultivo das letras. Nasciam no Rio Grande do Sul as sociedades voltadas à criação de bibliotecas em que a população pudesse ter acesso aos livros que eram relativamente inacessíveis devido aos altos custos.
         Seu idealizador mais destacado foi o comerciante e guarda-livros oriundo de Portugal João Barbosa Coelho que foi o seu primeiro presidente. A ata de criação da Biblioteca Rio-Grandense é elucidadora deste momento fundacional: “Achando-se reunidas vinte duas pessoas convidadas pelo Sr. João Barbosa Coelho, em uma sala da Sociedade Bailante, para formarem um Gabinete de Leitura, foi aclamado o mesmo Sr. Barbosa Coelho para presidente, o qual chamou para ocupar o lugar de secretário a Manoel Coelho da Rocha Junior. Seguiu-se incontinente a eleição da mesa provisória por escrutínio e saíram nomeados por maioria os srs. Domingos Soares Barbosa para presidente, Francisco Pinto de Carvalho para secretário e João Barbosa Coelho para bibliotecário. Foi encarregado o Sr. Barbosa Coelho de organizar os estatutos que devem regular o Gabinete. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou a sessão”. No dia 23 de setembro de 1846 foi eleita a primeira diretoria e a primeira sede foi instalada na rua do Arsenal (atual rua Ewbank).  
             O acervo da Biblioteca não se restringe aos livros, mapas, fotografias, documentos, iconografias etc. Alguns documentos históricos também estão distribuídos nos corredores de seu prédio. São reproduzidos nesta página a “ação de 31 de agosto de 1878 no valor de Rs10$000”; a “ação de Rs5$000 de 17 de abril de 1889”; e o “recibo de Remissão de Mensalidades de 30 de setembro de 1883”.










sexta-feira, 8 de março de 2019

RIO GRANDE ANTIGA


         Uma fotografia é um documento histórico que pode trazer muitas informações sobre o processo civilizatório. Uma imagem panorâmica da cidade do Rio Grande foi realizada entre 1870-1872 e congelou a espacialidade naquele momento que hoje chamamos de passado. O centro da cidade portuária é retratado em seus principais referenciais urbanos: a atual praça Xavier Ferreira é ainda um projeto a ser efetivado; o Casarão do Rasgado, reformado pela Família Tigre, ainda permanece como o maior prédio civil; a rua da Praia (atual Marechal Floriano) é a principal artéria de deslocamento; o prédio do Mercado Público ainda é jovem (finalizado em 1863); o prédio da Alfândega (de frente ao atual lago da  Xavier Ferreira) seria demolido em breve para ser construído o monumental, e atual,  prédio da Alfândega; a Capela de São Francisco se destaca geminada com a Igreja de São Pedro.  
        Imagem rara que evoca um passado distante, mas, repleto de referenciais urbanos que compõem o nosso imaginário no presente.

Fotografia panorâmica do centro da cidade do Rio Grande (1870-72). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Capela de São Francisco (3 portas no térreo e 2 janelas superiores) e as torres da Igreja de São Pedro.

Prédio da Câmara do Comércio (primeiro plano) e do Mercado Público.

Área da atual Praça Xavier Ferreira e Casarão do Rasgado (atual prédio da Prefeitura que modificou o estilo da fachada e foi inaugurado em 1900).

Raríssima imagem do pátio nos fundos do prédio demolido da Alfândega do Rio Grande.