Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O SETE DE SETEMBRO


Atividade no Sete de Setembro (década de 1940). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

         Em outubro de 1831 foi criada a Sociedade Sete de Setembro que foi responsável pela construção do prédio situado na rua Direita (atual General Bacelar) e que tinha a saída na atual praça Júlio de Castilhos. A inauguração foi no dia 7 de Setembro de 1832 foi à apresentação da peça de Antônio Xavier de Azevedo, O Bom Amigo. Foi o espaço teatral com infraestrutura básica projetado no Rio Grande do Sul.
O prédio ficava recuado em relação ao alinhamento da rua e apresentava três pavimentos, construído com o estilo austero da arquitetura tradicional luso-brasileira da época. O pavimento térreo era constituído de cinco portas e o recuo da fachada era de oito metros do alinhamento da calçada.
No Sete de Setembro, pela primeira vez na cidade, ocorreu a apresentação de aparelhos óticos que levaram a criação do cinema. É o caso da apresentação do aparelho Diorama em 1852, o qual produzia imagens fantasmagóricas por meio de gás hidrogênio e oxigênio e a apresentação, em 1897, do cinematógrafo Edison. Nas décadas seguintes o Sete de Setembro foi cinema, teatro, local de apresentações etc.
Em 15 de novembro de 1949 o Cineteatro Sete de Setembro foi reinaugurado com a mais moderna sala de projeção da cidade e administrada pela Empresa Cupello. Sua arquitetura foi modificada para o estilo art déco e marcou o imaginário daqueles que o frequentaram entrando pela General Bacelar e tendo sua saída na Praça Júlio de Castilhos (que era chamada de Praça Sete...). 

TEATRO POLITEAMA

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Um dos mais tradicionais espaços de teatro e cinema em Rio Grande foi o Politeama que recua ao século 19. O artista e diretor circense, Albano Pereira, esteve por trás deste empreendimento. Em 1875, foi autorizado pela Câmara Municipal a construir um circo de apresentações entre o Mercado Público e a Câmara do Comércio. A construção em madeira foi inaugurada em janeiro de 1876 e funcionou até julho de 1881, quando um temporal fez desabar o prédio. O circo-anfiteatro foi reconstruído em madeira e inaugurado em dezembro do mesmo ano com a denominação de Politeama Rio-grandense, sendo demolido em 1884. Albano Pereira em sociedade com Antonio Rey, conseguiram os recursos para construir um prédio em alvenaria na esquina das ruas Andradas com General Câmara. Em 15 de fevereiro de 1885, o espaço era inaugurado com um baile a fantasia. Em estilo eclético, o Politeama possuía dois pavimentos e tinha capacidade para 1.600 pessoas. Cadeiras eram retiradas da plateia que se transformava em picadeiro para atividades circenses que foi a origem das apresentações promovidas por Albano. Esta mesma estratégia permitia o espaço para os foliões pulassem os bailes de carnaval. Em 15 de agosto de 1913 foi inaugurado no interior do Politeama o Victol Cinema que apresentava filmes e números de variedades. Surgia o cineteatro Politeama em que a linguagem cinematográfica, num crescendo, passa a atrair o público. O Politeama foi demolido na década de 1950. Fotografia do prédio com uma bandeira hasteada na década de 1920. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A BÍBLIA DO DIABO

Capa do Codex Gigas. Biblioteca Nacional da Suécia. 


A imagem do diabo. 





        O maior manuscrito medieval que sobreviveu aos séculos é o Codex Gigas que foi escrito no início do século XIII. Suas dimensões são de 92 cm, de altura, 50 cm de largura e 22 cm de espessura, pesando 75 kg. Foi produzido com pele de vitelo (160 bezerros teriam sido utilizados). O local de sua produção remete ao mosteiro beneditino de Podlazice na Boemia (atual República Tcheca) e desde 1649 faz parte do acervo da Biblioteca Nacional da Suécia.
         O Codex Gigas é também conhecido pelo nome de “Bíblia do Diabo” por dois motivos: em seu interior está uma figura satânica e a sua criação está envolta em especulação sobre o autor ter feito um pacto com o diabo.
      O mosteiro beneditino de Podlazice era relativamente pobre para ter produzido uma obra desta dimensão. A conclusão do Codex, escrito em latim, deve ter ocorrido no ano de 1229 e o seu conteúdo era constituído pela versão “Vulgata Latina” da Bíblia (com exceção de  Actos e Apocalipse). Também está reproduzida a enciclopédia "Etymologiae" de Isidoro de Sevilha; "Antiguidades Judaicas" e "Guerras dos Judeus" de Flávio Josefo; "Chronica Boemorum" (Crónica dos Boémios) de Cosmas de Praga; tratados sobre medicina; alfabetos; orações; exorcismos; um calendário com as datas de celebração de santos locais e registro de acontecimentos relevantes;  uma lista de nomes, possivelmente de benfeitores e de monges do mosteiro de Podlažice.
        O problema não reside no texto e sim na parte iconográfica, pois, o Codex apresenta figuras decoradas, as iluminuras e entre elas foi reproduzida à imagem do “diabo”. É na página 577, com 50 cm de altura, que está a figura de um diabo. Os livros eram copiados por monges ou escribas “letra por letra”. Poderia levar décadas para serem finalizados e poderiam apresentar variações na escrita (se passaram anos desde o início do trabalho de reprodução...). O Codex pode ter levado mais de 20 anos para ser concluído, mas, a escrita não apresenta alterações significativas.
         O documento foi disputado nas décadas seguintes: foi adquirido pelo mosteiro de Sedlec (ordem dos Cistercienses), pelo mosteiro de Brevnov (beneditino), por um mosteiro em Broumov, levado para Praga em 1594 na coleção de Rodolfo II. Em 1648, ao final da Guerra dos Trinta Anos, o manuscrito foi levado para a Biblioteca Nacional da Suécia.
       “Segundo a lenda, o escriba foi um monge que quebrou os votos monásticos e foi condenado a ser emparedado vivo. A fim de evitar esta severa sanção, ele prometeu a criação, de um livro que glorificaria o mosteiro para sempre e que incluiria todo o conhecimento humano. Perto da meia-noite, ele teve a certeza que não conseguiria concluir esta tarefa sozinho e, por isso, fez uma oração especial, não dirigida a Deus, mas ao arcanjo banido, Lúcifer, o Satanás, pedindo-lhe que o ajudasse a terminar o livro em troca da sua alma. O monge vendeu, assim, a sua alma ao diabo. Assim o manuscrito do monge foi concluído e acrescentada uma imagem do diabo como agradecimento pela sua ajuda. Apesar desta lenda, o códice não foi proibido pela Inquisição e foi analisado por muitos estudiosos ao longo dos tempos.
        Considerava-se por muito tempo que esta versão de condenação ao emparedamento do monge era verdadeira, devido à interpretação precipitada da palavra Inclusus, como sendo emparedamento. Na verdade foi reconsiderada esta tradução como sendo "recluso". Seria um monge que foi condenado, ou se condenou à reclusão no mosteiro para realizar o trabalho de uma vida. Se reforça essa versão pela "dedicatória" encontrada no final do livro: hermanus inclusus, ou "Herman, o recluso" ou "Herman, o enclausurado". (https://pt.wikipedia.org/wiki/Codex_Gigas).
 Acessei o “Codex Gigas” na Biblioteca Digital Mundial (https://www.wdl.org/pt/search/?q=codex+gigas).

domingo, 29 de dezembro de 2019

2020 COM MUITAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS





            Desejo aos leitores um 2020 de muitas leituras!  
         Entre tantas leituras um lugar especial para as graphic novel/HQs que continuarei a distribuir no Novo Ano para incentivar que a Nona Arte se mantenha cada vez mais viva e tenha uma longa duração. Nos últimos 11 anos fiz estas distribuições com temas de História do Município do Rio Grande totalizando mais de 3.000 livros físicos presenteados a acadêmicos e comunidade em geral. Além disso, os livros estão disponíveis para download neste blog.
          Ao longo de 2019 fui adquirindo novas HQs (reservei 50 exemplares) para distribuir durante 2020. Em especial, nas disciplinas que ministro nos Cursos de História e no Programa de Pós-Graduação em Letras da FURG.
          Este ano o enfoque se volta às adaptações de obras literárias para as Histórias em Quadrinhos (Coleção da UNESCO “Grandes Clássicos em Quadrinhos” entre outros títulos).
      O objetivo mais amplo desta divulgação é tornar as Histórias em Quadrinhos um objeto de pesquisa. Analisar sua historicidade, narratividade, semiologia, contexto historiográfico e todas as facetas imagéticas e escritas pertinentes a este objeto. Por hora, continuo a plantar a semente para que pesquisadores se interessem por esta “documentação” que se projetou como entretenimento e arte a partir do século XX.

HQ – JEAN DEBRET



Breve, caricata, lúdica, documental, sentimental... É como defino esta HQ do cartunista e ilustrador João Spacca de Oliveira (ou Spacca, 1964).
A HQ Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil (Companhia das Letras, capa flexível, colorida, 22x17cm, p.48, 2006) se debruçou sobre o pintor francês Jean Debret (1768-1848) e trouxe para linguagem dos quadrinhos alguns olhares incisivos de um dos mais argutos observadores do cotidiano brasileiro.
Conforme Elaine Dias na apresentação Debret nos Trópicos (p. 5 a 8 da HQ): “Jean-Baptiste Debret, o principal personagem da arte brasileira no século XIX, integrou a chamada Missão Artística Francesa e foi o maior articulador da fundação da Academia de Belas-Artes no Rio de Janeiro. Responsável por formar a primeira geração de artistas brasileiros voltados à produção artística oficial, representou de maneira marcante, através da ilustração e da gravura, os diversos grupos que compunham a sociedade carioca daquele período”.  
Seu olhar sobre as populações indígenas era de uma curiosidade não abarrotada de etnocentrismo e eurocentrismo. Sua curiosidade antropológica residia mais na busca da valentia e da esfera cultural das sociedades indígenas do que na visão do “bom selvagem” rousoniano. De tal forma que fazia comparações em que colocava no mesmo nível de autoridade um chefe indígena, em relação a um grego ou romano: “Tudo aquilo que o homem concebeu como ideias filosóficas elevadas, admiráveis ou mesmo estranhas encontra-se em princípio em germe, no índio selvagem...”.
 Na página 21 é construído um diálogo (com base nas anotações de Debret) que remete as práticas cotidianas dos lugares sociais e a visão iluminista de que o avanço na educação traria a igualdade que não era observada no Brasil:
“Entre os dois extremos da civilização, o nobre das florestas e o nobre da cidade, ambos livres e orgulhosos, Debret localiza o homem cativo, que realiza todos os trabalhos físicos. [Comentário de Debret nos quadrinhos – Tudo assenta, neste país, no escravo negro. O mulato é o homem mais robusto do Rio, oprimido pelo branco que o despreza, e detestado pelo negro. Já o português trata o branco brasileiro de mulato. Somente a civilização poderá destruir esses elementos de desordem: materialmente, pela mistura mais frequente dos dois sangues, e moralmente pelo progresso da educação].
Debret permaneceu 15 anos no Brasil documentando o período de transição da permanência do “espírito colonial” durante o Reino Unido de D. João VI, a Independência do Brasil e o início do Império, a abdicação de D. Pedro I e a aclamação do menino de cinco anos D. Pedro II. Portanto, momentos decisivos da formação histórica brasileira.
Debret chegou ao Brasil em março de 1816 e retornou a França em julho de 1831. O seu olhar artístico se voltou ao povo brasileiro, às comidas, os utensílios, da cuia de chimarrão aos balaios, as festas, os funerais, o carnaval, as residências dos nobres e as casas comunais dos índios, o multicolorido da presença dos escravos e os seus sofrimentos.
 Felizmente para os brasileiros, este projeto que cobriu parte de sua vida, foi publicado em três volumes nos anos de 1834, 1835 e 1839, com mais de 250 gravuras. Visitar estas gravuras possibilita um retorno no tempo em que não havia fotografia e que os documentos nem sempre colorizavam – ou quase nunca o faziam – os homens e mulheres reais que viviam no Brasil num tempo em que a nação começava a ser construída.
Ilustrações de Spacca. In: Debret em HQ...

Contra-capa do livro Debret em HQ...

POEMA


Luz que Fenece. Pipoca e Nanquim, 2019. 

        Tenho publicado referências a graphic novel/HQ de diferentes estilos e temáticas. Pensei em explicar o fundamento de tão distintas escolhas, e acabou se transformando neste poema. Comecei pensando em explicar o que a HQ “Luz que Fenece” tem a ver com “A Balada do Oeste” e inspirou a argumentação convertida para o formato de poema (que nada explica, mas, sugere...) a qual reproduzo a seguir:

Luz que Fenece
Na Balada do Oeste
Chabouté Solitário
Moby Dick temerário...

Como esta salada de frutas,
De cores e sabores variados
Que flertam com a literatura
Podem ser lidas juntas ou separadas?

Basta liberar a imaginação,
Buscar os contornos brutos ou sensíveis
O realismo ou a ficção escrachada
Exercitar a irrazão!

Afinal, os graphic novel são mais fluidos que a vida
que por tantas vezes insiste em se arrastar.
São mais permitidos que os convívios sociais
que tantas vezes nos travam e podem ser de amargar.

[Num adendo], não esqueçamos que a alma amarga brutaliza
Planta sementes de frustração
Limita as possibilidades de projeção
Apaga a chama de um mundo que quer se fazer luz.

O melhor de tudo é que o isolamento na leitura é ilusão:
As HQs são socializadas!
De mão em mão, por meio digital,
por presente ou por doação...

Individual e solitariamente
Elas podem ser lidas e saboreadas:
Na claridade do sol pela claraboia
Na luz tênue da lua que resvala pela janela.

Ao ler uma HQ sabemos que outros a curtiram,
Na solidão de suas existências
Na projeção de seus desejos
Na ânsia de totalização de um mundo de quadrinhos e balões.
 
Mas sabendo que muitos partilham desta solidão
Em seus diferentes quadrados e Continentes
Os leitores mantém um elo em comum:
Liberar a sua imaginação que está na linguagem digital e do papel.

O leitor constrói mundos de narrativas - reais ou irreais-
Constituída por traços em nanquim ou digitais
Em fugas premeditas da realidade
Tão necessárias quanto respirar.

Fugas onde a existência se alimenta
Onde o silêncio se converte em palavras de alento.
As HQs podem tornar a jornada humana mais fecunda
Luz que Fenece. Pipoca e Nanquim. 2019. 
Num deserto de criatividade que se fez oásis.

GRAPHIC NOVEL – BILLIE HOLIDAY

Edição da Veneta de 2018.


Ilustrações do HQ de Paolo Parisi. 
 



        O italiano Paolo Parisi, quadrinista e ilustrador, publicou uma HQ que recomendo a leitura. O título é Blues for Lady Day – a história de Billie Holiday (Veneta, capa flexível, p&b, 19x13cm, p.112, 2018).
         Parisi retratou a trajetória da cantora negra Billie Holiday (1915-1959) num período de intensa segregação racial nos Estados Unidos. As falas da cantora, coletadas em entrevistas e apresentações, além das letras das músicas vão costurando e conduzindo a narrativa que demarca lembranças da infância, as dificuldades familiares, a pobreza, a prostituição e o nascimento e estrelato na música negra: o blues. Billie Holiday tinha um estilo inconfundível de cantar que ela assim definiu: “Há dois tipos de blues. O blues alegre e o blues triste. Jamais canto o blues do mesmo modo duas vezes. Nem repito o ritmo. Na primeira noite é um pouco mais lento, na seguinte um pouco mais rápido. Depende de como me sinto”.
        Paolo Parisi afirmou que “este livro é um blues (...) falar sobre blues significa narrar as coisas que acontecem à volta, fragmentos da vida experimentada. O blues representa um risco de vida, uma vontade de ser outro. O blues é entretenimento e história. O blues é voz política (...) Lady Day é um modo de ver as coisas da vida, de enfrentá-las e narrá-las. Significa falar de entretenimento, palavra cujo sentido nos remete a um alívio temporário das dores do cotidiano. Nós nos entretemos para não morrer”.  
 Lady Sings The Blues (Billie Holiday e Herbie Nichols)
“A Dama Canta o Blues
Ela está mal
Ela se sente tão triste
O mundo saberá
Ela nunca vai cantá-lo de novo
Não mais”.

GRAPHIC NOVEL – LAIKA

Edição de Laika, Barricada, 2017. 
Ilustrações do HQ Laika. Autoria de Nick Abadzis.




      Laika (Barricada, capa flexível, colorida, 17x12cm, p. 208, 2017) foi originalmente publicada nos Estados Unidos em 2007. O britânico Nick Abadzis é responsável pelo roteiro e desenho da história, que transita entre os fatos da década de 1950 e a ficção, da trajetória da cadela Laika que se tornou o primeiro ser vivo a entrar em órbita da Terra. 

        O esquizofrênico contexto da Guerra Fria e da Corrida Espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos é bem trabalhado na HQ. Com o lançamento, pela União Soviética, do primeiro satélite artificial o Sputnik esta corrida se intensifica e os soviéticos desenvolvem em curtíssimo tempo o projeto Sputnik II (1957) colocando um ser vivo em órbita sem a possibilidade de trazê-lo de volta. 

        O roteiro traz este contexto da Guerra Fria, os dilemas da equipe envolvida no projeto em não questionar as ordens do Partido e a morte premedita de Laika (também chamada de Kudriávca), a primeira “heroína” da Corrida Espacial. 

        A HQ apresenta um caráter documental do período de busca da hegemonia e construção de um discurso de supremacia. As ilustrações apresentam um estilo cartunesco, alternando cores frias e quentes para conduzir o leitor aos momentos dramáticos ou sentimentais da trama. 

      Temas correlatos são a paranoia soviética neste contexto de Guerra Fria; a submissão inquestionável dos cientistas ao Estado; a ciência submetida aos ditames políticos; e um tema atual que são os maus-tratos aos animais. Este tema da ética no uso de animais em pesquisas científicas e no desenvolvimento de produtos industriais tem se ampliado nos últimos anos. Certamente, Nick Abadzis almejou trazer esta discussão em dois momentos: a relação afetuosa entre a técnica em veterinária Elena com Laika; o projeto Sputnik II (1957) e o uso científico e político de um animal numa missão suicida.
Selo postal Romeno em homenagem a Laika e com imagem do Sputnik 2 a esquerda.

*Laika morreu algumas horas após o lançamento devido ao excesso de calor e umidade na cápsula do Sputnik 2. O coração de Laika apresentou o triplo dos batimentos normal. Já morta, ela fez 2.570 voltas ao redor da Terra quando o Sputnik queimou e se desintegrou no dia 
4 de abril de 1958.  

sábado, 28 de dezembro de 2019

GRAPHIC NOVEL – NIETZSCHE

Capa da edição da Nova Fronteira, 2013.


Contra-capa. 
          Nietzsche em HQ (Editora Nova Fronteira, capa flexível, colorido, formato 27,2 x 20,2 cm, 136 p., 2013). Foi roteirizada por Michel Onfray (1959) com ilustrações de Maximilien Le Roy (1985). A primeira edição francesa é de 2010.  
        A introdução do graphic novel foi assinada por Francisco Bosco que esclarece a proposta/desafio de abordar Nietzsche através dos quadrinhos e com enfoque de divulgação filosófica: “Diferentemente dos romances, e em especial dos romances calcados em tramas elaboradas, a filosofia é um gênero que em princípio se presta mal a adaptações para a linguagem visual. Como traduzir em imagens as ideias e os conceitos, abstrações por definição? Entretanto estamos diante precisamente dessa proposta – e constatamos, alegres, que o que parecia impossível torna-se possível (...) Entendo que a presente obra pode contentar seus dois tipos de leitor: os familiarizados com a filosofia nietzschiana, e os que desejam nela se iniciar. A esses últimos, deverá funcionar como atraente introdução, perturbadora o bastante. Aos primeiros, proporcionará o prazer da encarnação das ideias, da concretização do imaginado”.
         Recomendo a leitura cujo competente roteiro vagou entre a objetividade e a subjetividade da trajetória de vida de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e o desenvolvimento de seus pressupostos filosóficos. As idiossincrasias no relacionamento social e as crises existenciais estão contextualizadas nas dificuldades em divulgar a sua produção e na restrita aceitação desta durante a sua vida. As influências familiares deturpando alguns de seus escritos se insere em sua crescente perda das faculdades mentais. Ilustrações magistrais de Le Roy estão em sintonia com o peso da reflexão filosófica visceral, alternando tons mais claros e mais escuros, de acordo com o que está sendo abordado e a dramaticidade que emerge.
         Como está ressaltado no romance gráfico “o leitor terá em mãos um retrato da vida de um pensador que não fazia concessões, traçando o limite entre genialidade e loucura, e disposto a pagar o preço por seu pensamento revolucionário”.

Edição da Nova Fronteira, 2013. 

ESTÁTUA DA LIBERDADE

Cartão-postal editado por volta de 1915. 

O monumento foi edificado na transição entre a Monarquia e a República e buscava homenagear o 13 de Maio de 1888, data da Lei Áurea e fim da escravidão no Brasil. Com a chegada dos republicanos ao poder buscou-se destacar também o 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República. Os jornais rio-grandinos inclusive anunciavam que a Coluna à Liberdade fora o primeiro monumento brasileiro a homenagear a República. O assentamento da pedra fundamental da coluna ocorreu no dia 28 de setembro de 1889. A inauguração ocorreu num domingo, dia 15 de dezembro de 1889 já na era republicana.
O monumento consta de uma coluna de cerca de dez metros, um pedestal de quatro metros e meio e a figura feminina com pouco mais de três metros totalizando aproximadamente 18 metros.
A figura feminina foi o símbolo máximo da liberdade e da República. Não é possível afirmar que o autor da obra o italiano Ravagnelli já estava com a estátua feminina pronta quando da interferência republicana na obra ou se a presença simbólica da mulher foi idealização monarquista aceita pelo olhar dos novos detentores do poder: os republicanos. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

REFINARIA DE PETRÓLEO



         Em 1934, na cidade de Uruguaiana, foi criada a empresa Destilaria Rio-Grandense. Em 6 de agosto de 1936, em Porto Alegre, empresários brasileiros, argentinos e uruguaios, constituíram a empresa Ipiranga S.A. Companhia Brasileira de Petróleos. Para construir uma refinaria de petróleo foi escolhida a única cidade com porto lagunar-marítimo no Rio Grande do Sul. O local da construção ficava nos alagadiços junto ao Saco da Mangueira. Em 7 de setembro de 1937, ocorreu a inauguração da Refinaria, que fora trazida da União Soviética.
A atuação da Ipiranga, especialmente com a Fundação Cidade do Rio Grande, foi marcada pela inserção na comunidade através de atividades de divulgação/preservação do patrimônio histórico e arquitetônico e com a criação de cursos superiores no campo da Engenharia, semente que originou a Fundação Universidade Federal do Rio Grande em 1969. Na feliz definição de Francisco Martins Bastos, a Ipiranga foi “o grão de areia que virou montanha”’. Em 2007 o controle acionário das Empresas de Petróleo Ipiranga foi vendido e em 2009 passa a se chamar de Refinaria Rio-grandense S/A. Fotografia aérea de meados da década de 1950 da Foto Postal Colombo.

GRAPHIC NOVEL - SARGENTO ROCK

Sargento Rock da EBAL. Primeira edição em janeiro de 1967. 


Edição especial dos 50 anos em 2009. 

Sgt. Rock. Criado por Bob Haney, Robert Kanigher e Ross Andru. 


Edição de dezembro de 2006 da Opera Graphica. 

Primeira aparição em edição americana de 1959.



        Em abril deste ano, o personagem de HQ Sargento Rock completou 60 anos. 
      Matéria publicada no site http://www.guiadosquadrinhos.com     está sendo reproduzida a seguir:  
      “Personagem de quadrinhos de guerra, o Sargento Rock foi o grande sucesso da editora DC no gênero. Esse militar durão apareceu pela primeira vez em 1959 (com data de abril) no n° 81 da revista “Our Army at War” (e não no n° 83, como afirmam alguns pesquisadores).

        Um protótipo do Sargento Rock apareceu três meses antes, no n° 68 do gibi “G.I. Combat” (com data de janeiro de 1959, mas vendido nas bancas americanas ainda no final de 1958). Na trama, sua patente não é revelada e o personagem é referido apenas como “The Rock”.

       Mas o verdadeiro Sargento Rock surgiu mesmo foi no citado “Our Army at War” n° 81. A idéia foi do editor Robert Kanigher, que bolou o personagem, mas entregou a primeira história para o roteirista Bob Haney.

      A partir do n° 83 de “Our Army at War”, o corajoso soldado passou a ser desenhado por Joe Kubert, aumentando ainda mais a popularidade da série. Outro bom desenhista da historieta foi Russ Heath. As histórias se passavam durante a Segunda Guerra e eram narradas pelo próprio protagonista, que geralmente começava assim: “Aqui é o Sargento Rock da Companhia Moleza. Eis aqui uma história que etc. etc.”. O herói liderava um pelotão chamado Companhia Moleza, na Europa (no decorrer da série eles atuariam no Norte da África também).

     Kanigher baseou as cenas de ação nos filmes de guerra estrelados por John Wayne. Os soldados da Moleza eram tirados dos antigos épicos da MGM.

     O sucesso de Rock começou a chamar a atenção da concorrência. Em 1963, Stan Lee veio com seu “Sargento Fury”, para a Marvel.

    A partir do n° 302 (março de 1977), a revista teve o nome mudado oficialmente para “Sgt. Rock”, devido à incrível popularidade do personagem. O título foi cancelado em 1988, mas foi seguido no ano seguinte por uma série de reprises chamada “Sgt. Rock Special”.

    Recentemente, Rock apareceu como convidado no desenho animado “Batman: The Brave and the Bold” — no episódio “The plague of the prototypes!” (2010), escrito por Dean Stephan. - Antônio Luiz Ribeiro". http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/sargento-rock-(franklin-frank-rock)/90.

GRAPHIC NOVEL – SOLITÁRIO


 
Solitário. Editora Pipoca & Nanquim. 



        O quadrinista Christophe Chabouté publicou em 2008, na França, este graphic novel que recentemente foi publicado no Brasil com título de Solitário (Pipoca & Nanquim, capa dura, 380 páginas, dimensões 23,8 x 16,4  2019).  
          Uma síntese da obra é feita a seguir:
      “Em um pequeno farol numa ilhota afastada do resto do mundo, um eremita experimenta uma vida rodeada de solidão. Morador do lugar desde que nasceu, há 50 anos, a rocha é seu navio de granito; uma embarcação imóvel e segura que não o leva a lugar algum e que jamais chegará a nenhum porto… Afinal, por que sair dali, se o mundo além desse horizonte é tão assustador? Para onde fugir quando não há lugar para ir? Como combater o isolamento e evitar que o silêncio perpétuo se torne ensurdecedor? Anos passados em sua rocha, recebendo comida do mar e tendo a imaginação como única companheira…
        Até agora.
     Quando um marinheiro novato começa a trabalhar no barco que toda semana leva provisões para o Solitário, ele passa a fazer perguntas que toda a população dos arredores evitou ao longo de uma vida: quem é esse homem? Por que ele se esconde? Por que nunca saiu do farol? Como é viver com tanta… solidão? Uma simples e pequena atitude será o bastante para dar início a uma sucessão de eventos que golpearão irrevogavelmente a existência serena do ermitão.
    Repleto de belíssimas ilustrações em preto e branco de tirar o fôlego, Solitário é uma obra-prima de Chabouté — uma história inesquecível que retrata de forma impecável como alguém pode ter sua vida tolhida a ponto de se tornar uma sombra, e como uma sombra pode reclamar sua identidade e se tornar alguém.
        Esta é mais uma graphic novel do mestre ilustrador e contador de histórias (Moby Dick, Um Pedaço de Madeira e Aço) que chega ao Brasil em formato de luxo, em um volume único de 380 páginas e capa dura com acabamento soft touch e lombada redonda” (https://pipocaenanquim.com.br/produto/solitario/).
        
         Para quem quer iniciar as leituras de Chabouté sugiro Um Pedaço de Madeira e Aço ou Moby Dick. Para os leitores que já conhecem estas obras é indispensável conhecer esta outra proposta criativa do quadrinista e roteirista francês. 
       Sem o objetivo de fazer uma crítica pertinente a partir de uma análise detalhada, repasso apenas as impressões preliminares e subjetivas que ficaram ao final da leitura que realizei hoje (considero esta primeira leitura muito importante, mas, não decisiva na recepção de uma obra): senti uma fragilidade na construção visual da empatia entre os dois personagens principais; ilustrações que por vezes são demasiadamente despojadas e sem acabamento estético (comentário totalmente subjetivo) e uma sequência gráfica muito longa que poderia ter sido condensada num número menor de páginas. Heresias de minha parte podem ter sido proferidas, mas, espero que as fogueiras da inquisição não se abata sobre um leitor que subjetivamente constrói suas percepções críticas a partir de concepções de estética que dormitam em seu inconsciente.