Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 31 de março de 2020

FUNDIÇÃO AUGUSTO JOSÉ DIAS

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense, 1914.


         A documentação das empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, acabam desaparecendo ao longo das décadas. Pesquisá-las se torna muito difícil ou inviável, restando apenas alguns fragmentos. Os jornais com suas notícias e também anúncios são uma fonte que permite um resgate básico. Detalhes mais aprofundados dependem de outras fontes como a do registro das firmas, pagamento de impostos, processos judiciais, falências entre outras. 
       Este anúncio publicado em Almanaque de 1914 é interessante pois aponta o proprietário Augusto José Dias como sucessor de J.J.Dias que era uma empresa tradicional em Rio Grande. A "Fundição Dias" é o local onde Carlos Santos começou, ainda menor de idade, a trabalhar como operário em reparos navais e outros trabalhos de fundição. 
        O endereço da Fundição é a Rua Conselheiro Pinto Lima em local que atualmente está edificado o Hotel Swan. 
     Outro aspecto que parece muito básico mas que também é uma informação não óbvia nas fontes é que esta "ferraria de mar e terra" havia sido fundada em 1866. Ou seja, durante a Guerra do Paraguai e talvez com o objetivo de alguma demanda de reparos envolvendo embarcações neste conflito ou outros serviços do esforço de guerra. Claro, isto é apenas uma hipótese a ser investigada pelos pesquisadores...

PHARMACIA POPULAR

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense (1914).

       Pandemia de farmácia como temos hoje era um corpo estranho nas primeiras décadas do século XX. Havia três ou quatro em toda a cidade! Ao longo deste século ocorreu o avanço da indústria farmacêutica que fez com que as antigas boticas de manipulação e também as lojas de homeopatia, fossem perdendo espaço para a alopatia. Hoje, a indústria farmacêutica mundial movimenta mais de 1,2 trilhões de dólares e a farmácias crescem vertiginosamente. 
      A Pharmacia Popular (fundada em 1871) era uma das mais destacadas da cidade no atendimento da população mais descapitalizada e funcionava na Rua 24 de Maio n.164. 
     Percebe-se por alguns produtos disponíveis no anúncio que a pharmacia ainda estava com um "pé na botica e na homeopatia". Especialmente, buscava no anúncio divulgar produtos numa linha "popular" para as demandas mais comuns da população operária local: Lombrigueira Masseron (produzido pela própria farmácia para combater vermes intestinais); Gleinal Masseron (outro produto manipulado pela empresa para fortificar o organismo debilitado); Xarope da Serra dos Tapes (feito com vegetais desta Serra para combater afecções dos brônquios e pulmões); Elixir de Garoba e Erva do Bugre (um depurativo do sangue que na época era um "resolve tudo senão a coisa tá feia...".     

JORNAIS

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense, 1914.


       Pergunto ao leitor: quantos jornais temos hoje em Rio Grande? O sobrevivente, se não estou enganado de haver mais algum, é o jornal mensal o "Sul RS" do jornalista Ique de La Rocha (o último bastião de resistência da imprensa escrita).
     No ano de 1914 eram nove jornais circulando em Rio Grande, entre os diários, semanais e mensal. Os títulos estão contemplados no Almanaque de 1914.  
     Antes que eu seja xingado: eu sei que não havia TV, internet, rede social, streaming etc e os tempos eram outros (mas já havia cinema naquela época...). Mas nove jornais circulando já é desaforo demais...

ENCADERNAÇÃO EM 1914



     Entre as "incríveis e extraordinárias" profissões que ao longo do século XX foram entrando em quase extinção está a de encadernador. 
      No ano de 1914, havia em Rio Grande quatro oficinas de encadernação, inclusive, a R. Strauch, que se destacou na edição de cartões-postais. 
    Encadernação era um bom negócio numa cidade com forte comércio em que as empresas queriam preservar sua documentação protegendo com encadernações resistentes seus balanços e registros financeiros. 
     Encadernador está se tornando uma arte em extinção ou quase. 
    Os formatos digital são a devastação final mas não precisa tanto. No meio acadêmico poderíamos ter um bom mercado, mas a simplificação das encadernações espirais ou com colagens à quente dos TCCs, dissertações e teses, baratearam o custo final mas tiraram o glamour: com o manuseio persistente, não se espere longevidade no material.  
     Ainda é possível preservar esta técnica/arte de forma amadora. Há alguns anos comprei o equipamento para encadernação de uma empresa que trabalha com a venda de capas duras e todos os itens necessários para cartonagem. Fiz alguns testes domiciliares e deu certo. Cópias de documentos que estavam soltos foram costurados e receberam uma capa dura que trará décadas de segurança para sua sobrevivência. Coleção de fascículos foi furada, costurada, colada e acondicionada em capa. O sonho da gráfica caseira quase se realizou: produzi um livro, diagramei, imprimi em casa e encadernei e fiquei com um raríssimo exemplar único para usar nas aulas. Exige paciência, concentração e tempo. Este último faltou e tudo parou... 
     Quem sabe, em meio a esta quarentena (que talvez supere os 40 dias), a atividade de cartonagem não retorna para mais alguns testes?

ALFAIATARIAS


Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense (1914). 

       O título não está incorreto! Realmente não é um engano a palavra "alfaiatarias"! 
      Fica difícil imaginar um número tão grande de alfaiates na cidade mas era outro tempo e o ano era 1914. As lojas de Departamento -onde se compra roupas já prontas -  era uma ficção científica e muito lentamente as lojas começaram a colocar produtos já confeccionados em tamanhos p-m-g-.  
     Numa loja de fazendas (termo genérico) se comprava o tecido desejado e o alfaiate faria sob medida para o cliente. Inclusive meu avô Henrique, desempenhou esta atividade em determinado momento de sua trajetória profissional. Comenta-se, em família, que ele fazia belos trajes masculinos. 
   As costureiras também se faziam presentes neste comércio que sempre deixava uma certeza: o da exclusividade e não na reprodução aos milhares de um mesmo modelo de roupa...  
Alfaiataria Poli & Cia. em Manaus. Fonte: Indicador Illustrado do Estado do Amazonas de 1910 / Editado por: Courrier e Billiter.

segunda-feira, 30 de março de 2020

MATER DOLOROSA - HQ

    Tradicionalmente Mater Dolorosa é uma pintura atribuída ao pintor flamengo de origem alemã Hans Memling, tendo sido criada por volta de 1480. O quadro representa Maria na situação de Mater Dolorosa, de devoção católica a Virgem Maria. Ou seja, representa o sofrimento de uma mãe ao ver o sofrimento do filho. 
         
      A Mater Dolorosa do título do personagem Dylan Dog (edição lançada em 2016 na Itália para comemorar os 30 anos do detetive do sobrenatural) se refere a mãe de Dylan Dog que na história se contrapõe ao poder de outra mulher: a Mater Morbi. Reproduzindo o texto de Roberto Recchione (página 12 da revista) ele assim define a Mater x Mater: 
       "No canto direito com um corpete de couro preto, botas de bucaneiro, armada com um chicote afilado - a senhora dos sofrimentos, a genitora de todas as doenças, MATER MORBI! Até mesmo a morte tem seus admiradores entre poetas, filósofos e artistas vários, mas não ela, a Nossa Senhora da Dor! Apesar de desprezada e marginalizada por todos, Mater Morbi também tem méritos que raramente são reconhecidos: "Se ama o seu filho, leve-o a um arbusto de espinhos", dizia alguém de quem não me recordo o nome, e ele tinha razão. Porque a árvore das penas gera frutos belíssimos que já alimentaram muitos seres humanos maravilhosos. 
      No canto esquerdo com um vestido de tule, seda e algodão cru, armada com uma espada gerada diretamente no seu coração de mãe - a orgulhosa leoa, a senhora angustiada, MATER DOLOROSA! Nada pode separá-la de seu filho, e ela o protegerá para sempre de qualquer mal, Nossa Nascente da Vida! Símbolo do amor mais puro, Mater Dolorosa também tem seu lado obscuro: "O verdadeiro amor de uma mãe é ajudar o filho a cortar o cordão umbilical", disse outro alguém, porque quando o afeto de uma mãe se faz opressão, aos filhos se impede de crescer e se fazer homens!" 
 
Dylan Dog Mater Dolorosa. Roberto Recchioni; (roteiro) Gigi Cavenago (ilustração).
São Paulo: Mythos Editora, 2018, p. 108,  29,6 x 21,6, capa dura.

 O primoroso acabamento gráfico da Mythos (Prime Edition) contribuiu para tornar este HQ uma obra de arte visual a ser conhecida. Neste espetáculo de traços e cores ocorre o confronto entre as duas Mater pela "alma de um menino". 
Dylan Dog Mater Dolorosa, Mythos, 2018. 

DEMÔNIOS - ALUÍSIO AZEVEDO/GUAZZELLI - HQ

Demônios em Quadrinhos. Aluísio de Azevedo por Guazzeli. São Paulo: Peirópolis, 2010, p. 56, 25x19cm.

        Resenha: "Neste novo título da coleção Clássicos em quadrinhos, o premiado quadrinista Eloar Guazzelli transpõe o conto Demônios, de Aluísio Azevedo, para o universo da HQ. Admirador do gênero fantástico desde adolescente, Guazzelli pinçou, na vasta obra de um autor célebre por sua produção naturalista, um conto fantástico de grande vigor – tanto que lhe rendeu também o reconhecimento como precursor da literatura fantástica no Brasil. Com Demônios em quadrinhos, Guazzelli realiza um belo trabalho de adaptação, dosando com extrema perícia os tons da terrível noite descrita por Aluísio, e mantendo, assim, o mistério de Demônios. Com seu estilo inconfundível, contribui para trazer à tona um texto pouco conhecido de um grande autor brasileiro".

      Tem HQs que te surpreendem! É o caso de Demônios que adapta magistralmente para os Quadrinhos uma precoce contribuição para o fantástico na literatura brasileira publicada pelo escritor naturalista Aluísio Azevedo (1857-1913). O conto Demônios foi publicado em 1893.  
      O traço de Guazzelli conduz o leitor pelo conto que se funda na alteração do ritmo natural das coisas cotidianas e pelo torpor e estranhamento da perda dos referenciais de segurança. 
Demônios em Quadrinhos. Editora Peirópolis, 2010. 

      O gaúcho de Vacaria Eloar Guazzelli explica o seu processo criativo no HQ Demônios: "Antes das tempestades, muito comuns próximo ao Lago Guaíba, tudo ficava em suspensão numa atmosfera carregada, extremamente tensa. Quando comecei a desenhar, foi pra essas noites que viajei em busca desse clima, e foi numa ambientação de sonho que procurei construir minha tradução. Deixei que a própria estrutura dos quadrinhos fosse contaminada pelo caos da narrativa e desenhei as páginas como se eu também fosse um solitário desenhista que despertou no meio da noite em um mundo morto, tendo pela frente somente o exercício do seu ofício, muitas horas antes de uma improvável aurora". 
     Para quem se interessa pela leitura do próprio conto Demônios e deseja conhecer a narrativa de Aluísio Azevedo, o conto está disponível para leitura no endereço: 

CARLOS BONOW

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense (1914).

         No ano de 1914, na cidade do "Rio Grande do Sul" com filiais em Pelotas e Porto Alegre, estava estabelecida a empresa de Carlos Bonow comissões, consignações e representações. O endereço era a Rua Ewbanck n.2.

LLOPART, MATA & CIA

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense, 1914.
     Rio Grande já teve fábrica de calçados e também de alpargatas (será que produzia o modelo tradicional da alpargata uruguaia?). 
     A marca registrada da Llopart, Mata & Cia. era um coração. A fábrica funcionava no Boulevard 14 de Julho (Avenida Portugal).  

CASA RIOS

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense, 1914.

      Os anúncios antigos, como este de 1914, permite vislumbrar uma primeira aproximação com os produtos vendidos no comércio do Rio Grande e o poder aquisitivo de segmentos econômicos da população local. Com base nos produtos vendidos é possível avançar mais um pouco e investigar o país que produziu e pesquisar a história da empresa e sua inserção no mercado brasileiro. 
       No caso da Casa Rios, ela é especializada em presentes e importa os pianos "Steck", "Pleyer" e "Rachals".  O anúncio ainda ressalta um detalhe muito interessante: o pagamento à vista era o hábito neste período e a Casa Rios vendia "em prestações" e se considerava "a única no gênero".  

A GUERRA DOS MUNDOS - HQ


"Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século 19, que a humanidade estava sendo observada da maneira mais invasiva e atenta por civilizações superiores (...). Através do infinito do espaço, porém, seres terríveis nos observavam com olhos invejosos, traçando planos para a conquista de nosso mundo" (A Guerra dos Mundos, Mythos, 2018).

            


A Guerra dos Mundos. H.G. Wells, Dobbs (roteiro), Vicente Cifuentes (ilustrações) Vattani (cores).
São Paulo: Mythos Editora, 2018, p. 116, 31,4 x 23,6 cm. 

A Guerra dos Mundos é um romance de ficção científica publicado em 1898 por de H. G. Wells (1866-1946). 

O roteiro se tornou um clássico readaptado em centenas de livros e filmes desde o lançamento do livro: vida inteligente em outros planetas poderão promover a aniquilação dos terráqueos. Inimigos reais, delírios do inconsciente ou a criação de inimigos ideológicos, passam a ser projetados como invasores de mentes e de corpos. Nesta versão de H. G. Wells eles são exterminadores de terráqueos sem maior profundidade psicológica ou artimanhas: matar para dominar o planeta. 

Em síntese: no final do século XIX, num observatório astronômico nos arredores de Londres, são observadas explosões na superfície de Marte. De fato, está ocorrendo o lançamento de foguetes para iniciar a invasão da Terra mas ninguém acredita no alerta do cientista (tema que se repetirá muito...). Ao caírem na Terra, serão confundidos com meteoritos mas de fatos são naves repletas de vorazes e inclementes marcianos com o seu "raio da morte" (o medo de uma tecnologia bélica superior). Os marcianos iniciam a matança e se locomovem em tripés metálicos (tripods) que lançam bombas e raios. Os ETs arrasam Londres e se expõem demasiadamente ao contato com os terráqueos (inclusive sugam o seu sangue numa sugestão de vampirismo). A tecnologia superior os torna insuperáveis mas, numa reflexão em tempos de pandemia de coronavírus, os marcianos acabam morrendo por serem atacados por bactérias (poderia ser vírus?) para a qual não tinham resistência. 

O enredo do livro rendeu uma espetacular dramatização em 30 de outubro de 1938, na rede de rádio CBS. Orson Welles foi tão realista na transmissão de uma invasão alienígena aos Estados Unidos que mais de um milhão de pessoas entraram em pânico acreditando ser verdadeira a novela que estava sendo encenada. O inconsciente de uma invasão alienígena havia sido testado com ampla vitória para os ETs. 
A Guerra dos Mundos, Mythos, 2018. 

A HQ A Guerra dos Mundos buscou fazer uma adaptação fiel ao romance de ficção. Sua qualidade gráfica deve ser elogiada assim como a coleção Gold Edition da Mythos Book. Capa dura, papel couche, formato grande e primoroso acabamento tornaram esta HQ uma referência em qualidade gráfica e de busca de fidelidade ao texto original.

domingo, 29 de março de 2020

WIGG E O FORD 1949

Prédio da Wigg por volta de 1947. Acervo: Luiz Alfredo Sampayo. https://carrosantigos.wordpress.com/2009/11/24/o-lancamento-do-ford-1949-na-wigg-s-a/

 Interior do prédio da Wigg com o lançamento do Ford 1949 (Shoebox Ford). Acervo: Luiz Alfredo Sampayo. https://carrosantigos.wordpress.com/2009/11/24/o-lancamento-do-ford-1949-na-wigg-s-a/
       Em meados do século XX a Wigg era representante da montadora Ford em Rio Grande. A fotografia está mostrando um modelo 1949 Ford que marcou a indústria automobilística por apresentar um design novo (moderno e aerodinâmico) após a estagnação durante a Segunda Guerra Mundial.  
      Para saber mais sobre este automóvel e a importância das fotografias reproduzidas acima sugiro uma visita ao site: https://carrosantigos.wordpress.com/2009/11/24/o-lancamento-do-ford-1949-na-wigg-s-a/. Neste endereço é contextualizado a importância do automóvel, a raridade do registro fotográfico e a atuação da empresa Wigg em Rio Grande. 

Anúncio do 1949 Ford. Acervo: https://i.pinimg.com/564x/12/63/a4/1263a48a5c714b49af9f1385a5249c77.jpg

HOTEL BRAZIL

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense (1914). 

    Vários hotéis funcionaram em Rio Grande no período áureo do comércio de exportação e importação. A circulação de pessoas era considerável na cidade e a hotelaria foi promissora. Um dos melhores hotéis da cidade era o Hotel Brazil localizado na Rua Marechal Floriano 199. Havia sido recentemente reformado e dispunha de acomodações de primeira classe e "hábeis culinários".

BROMBERG & CIA

Almanaque Comercial Ilustrado Rio-Grandense (1914). 
       Uma das maiores empresas já estabelecidas em Rio Grande foi a Bromberg & Cia. que atuava no atacado e também no varejo. A loja de atacado funcionava na Rua Marechal Floriano e tinha uma ampla linha de produtos, especialmente importados, que ia de tintas a máquinas de costura. Já atuava com exclusividade em marcas que se tornaram referência em qualidade: espada e berta. 
      Os endereços varejistas ficavam na Rua General Bacellar e na Rua Riachuelo esquina com Andrade Neves.  
     A empresa, que nasceu em Hamburgo, sofreu um revés quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial e ocorreu a perseguição a teuto-brasileiros com o fechamento de lojas. 1942 demarca o fim da Era de Ouro da Bromberg no Brasil. 

PECORA - HQ



       Fiz a leitura imagética da HQ Pecora. São Paulo: Veneta, 2019, p. 132. Não há texto e a "leitura" se faz na arte sequencial e nas diferenciadas interpretações dos leitores. A resenha da editora resume a proposta: 
      "O que as ovelhas sonham? Grande retorno aos quadrinhos do artista e ilustrador Marcelo Bicalho, velho conhecido das páginas da revista Animal, Pecora narra a saga de uma ovelha no mundo de seus sonhos e pesadelos: um lugar cruel, onde o humano e o selvagem se confundem. Neste mundo de traços e padrões incertos, o pequeno animal se vê fora de lugar, distante dos cuidados de seu pastor, perdido em algum ponto entre o céu e o inferno e cercado por demônios e ilusões.
       Com seu clima onírico e conceitual, Pecora é uma fábula moderna. Sem diálogos, com um traço denso, influenciado por artistas como Goya e William Blake, e uma poderosa noção de narrativa gráfica, Bicalho revela um universo sentimental inteiro, filtrado pela inocência dos olhos de uma ovelha perdida".
Pecora. Veneta, 2019. 

             Os maiores temores de uma ovelha são os homens ou os lobos; ou os lobos em roupagem de homens; todos os seres humanos são iguais na maldade e na compaixão? 

sábado, 28 de março de 2020

O CÃO DOS BASKERVILLES - HQ

Primeira edição de O Cão dos Baskervilles (1902). Acervo: https://archive.org/details/houndofbaskervil00doylrich
            O Cão dos Baskerville é uma das mais conhecidas histórias do escritor Arthur Conan Doyle. É um romance policial publicado em 1902, tendo por protagonistas Sherlock Holmes e Dr. Watson. O roteiro se volta a temática gótica com um roteiro sombrio, pântanos perigosos, história de maldição, um cão sobrenatural e secular, antepassados perversos, a mansão que esconde segredos em suas paredes e quadros etc. O cão sobrenatural e os assassinatos terão uma explicação racional quando da investigação promovida por Sherlock Holmes? 
     Em 1953 foi publicada no Brasil uma versão em Quadrinhos na coleção Edição Maravilhosa da Editora Brasil-América. 
        Para quem gosta de suspense e investigação vale a pena conferir gratuitamente no site:  http://guiaebal.com/   






A RUA DOS CANTEIROS

Cartão-postal do acervo de Walter Albrecht. 

       A Rua Marquez de Caxias referida neste cartão-postal nada mais é do que atual Rua Duque de Caxias. Quase inviável reconhecer pois falta o que caracteriza e dá o charme para esta rua: os canteiros centrais com arborização e pedras portuguesas. 
      O sentido da rua é a partir da Rua Luiz Loréa em direção a Igreja do BomFim que aparece à direita da imagem. O cartão foi editado por volta de 1920.  

APÓLICE DA ÍTALO-BRASILEIRA

Acervo: http://www.albertolopesleiloeiro.com.br/peca.asp?ID=3660109#

    Este belo documento artístico é uma apólice da Companhia Ítalo-Brasileira mais conhecida popularmente por Fábrica Nova. 
      A gravura mostra a ampla área ocupada pelo parque fabril e no detalhe o prédio da administração.  Possível emissão no final da década de 1920.

PRÉDIO DA WIGG

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

      Acertou quem reconheceu o prédio da Wigg (Rua Marechal Floriano) construído em 1870. A iluminação se deve as comemorações do centenário da Independência do Brasil. Portanto, o ano é 1922. 

sexta-feira, 27 de março de 2020

A GRANDE FESTIVIDADE

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.

        Este prédio está edificado numa das ruas principais da cidade do Rio Grande. Ele foi iluminado para uma data festiva comemorada em todo o Brasil. 
   Questiono: que prédio é este? qual o ano e a comemoração que está transcorrendo?
         A resposta será dada amanhã. 

FANTASMAS E FOTOGRAFIAS

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

      Temos uma fotografia para investigar alguns aspectos que faziam parte do cotidiano na época em que foi realizada. 
       Inicialmente, percebemos que é uma rua que não está calçada e que um paredão de prédios de dois pisos e de até três se estendem até o horizonte abrangido pela foto. Os prédios evidenciam opulência e as roupas dos personagens recordam uma fotografia muito antiga do século XIX. Não há postes de luz elétrica ou telefone, nem se identificam trilhos de bondes urbanos. 
      Vou se mais objetivo: esta fotografia remete ao ano de 1870 na Rua Riachuelo na cidade do Rio Grande. Estamos junto ao Cais do Porto Velho numa das ruas mais capitalizadas em termos de estabelecimentos comerciais da Província do Rio Grande de São Pedro. 
  Inúmeros detalhes poderiam ser destacados para caracterizar esta época, mas vamos nos deter em três recortes na imagem. 

1) Temos um conjunto de três elementos que anima qualquer historiador! O recorte é constituído pela confirmação do nome da Rua Riachuelo que está afixada na fachada do prédio comercial "Naval Store". Este é o estilo de identificação de nome de ruas deste período. Ao seu lado, um lampião de iluminação (possivelmente óleo) que era utilizado na fachada das lojas e na iluminação pública. A luz elétrica só chegaria e lentamente implantada, a partir de 1912. O  terceiro detalhe é um cartaz com a imagem de um homem olhando para o lado: seria um cartaz policial de "procurado vivo ou morto"?; cartaz de um candidato de uma eleição? um anúncio comercial? Ou...  






2)Dois homens em frente a loja comercial "Naval Store". Com suas cartolas e casas parecem dois fantasmas cuja imagem foi preservado nestes últimos 150 anos (1870-2020). Exatamente leitores, estamos diante de uma imagem de 150 anos no passado! A câmara fotográfica não era um sistema discreto nesta época e o fotógrafo está posicionado do outro lado da Rua junto a linha do Cais de estacada. Com todo o equipamento pesado e o tripé com pano na cabeça, um descuido poderia significar tomar um perigoso banho no Cais com equipamento e tudo. O fato é que o fotógrafo chamava muito a atenção e os dois personagens fixam atentamente os seus movimentos para serem eternizados fazendo "pose". É como posar no estúdio só que aqui é ao ar livre. Mas voltando a provocação inicial: que parecem fantasmas, parecem...   

3)Três frades de pedra podem ser observados. Os frades de pedra são pilares ou marcos arredondados que eram fixados no chão para impedir a passagem  e defender a fachada de um prédio ou para amarrar animais (como cavalos ou mulas). Em esquinas era útil para evitar que carroças pudessem atingir a fachada ou os transeuntes.  Quem quer conhecer presencialmente frades de pedra do século XIX que foram retirados das ruas da cidade é só visitar o Museu da Cidade do Rio Grande.  


       Na próxima postagem vamos esclarecer mais um elemento desta fotografia.

A FRAGATA INVICTA

Cine-teatro Carlos Gomes. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

     Um dos espaços de sociabilidade mais concorridos em Rio Grande foi a esquina das Ruas General Bacelar com Duque de Caxias. A cafeteria CristalPalast posteriormente se tornaria a confeitaria A Dalila. Ao seu lado a grande atração que era o Cine-teatro Carlos Gomes que atraia multidões para suas sessões de cinema. 

      Mas que ano foi realizada esta fotografia? 

    Uma sugestão foi dada no cartaz promocional que está afixado no telhado do CristalPalast. A atração anunciada é A Fragata Invicta. Se o filme foi projetado contemporaneamente ao seu lançamento nos Estados Unidos podemos datar esta fotografia como sendo do ano de 1926. 

     *Desconheço a motivação do nome CristalPalast mas a palavra vem do alemão e significa Palácio de Cristal. Em Leipzig, estruturas construídas com cristal na década de 1880, chamadas de Krystallpalast até hoje são uma referência arquitetônica naquela cidade alemã. 




       A Fragata Invicta é um filme épico luxuoso em formato Widescreen. Este filme mudo tem por enredo o enfrentamento e combate envolvendo a atuação de piratas contra navios mercantes no Mar Mediterrâneo.  A sua estréia foi em abril de 1926 e suas cenas de combate foram elogiadas frente a limitação técnica para realizar efeitos especiais nesta época.  
Acervo: https://www.imdb.com/title/tt0017226/mediaviewer/rm1020405760

https://en.wikipedia.org/wiki/Old_Ironsides_(film)

FLIT

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

       Nesta fotografia de uma casa comercial abandonada (Ao Pampa, localizada na Rua Duque de Caxias), se observa na porta a propaganda de um produto que foi muito utilizado no Brasil e que se tornou sinônimo de inseticida: o FLIT. 




           O inseticida Flit foi inventado pelo químico Dr. Franklin C. Nelson e lançado em 1923. Seu objetivo era matar moscas e mosquitos, era baseado em óleo mineral e fabricado pela Standard Oil Company de Nova Jersey, depois denominada Esso (atual ExxonMobil). A formulação da Esso continha 5% de DDT no final da década de 1940 e no início da década de 1950. Um dispositivo manual chamado pistola Flit era comumente usado para realizar a pulverização.
    O cheiro intenso e desagradável produzido na aplicação do produto exigia que todos saíssem da peça pulverizada por cerca de 30 minutos. Pelo menos, isto também valia para os mosquitos... 


Acervo: Revista O Cruzeiro. Anos 1930.

Acervo: Revista O Cruzeiro. Anos 1930.

quinta-feira, 26 de março de 2020

CAIS DO PORTO VELHO EM 1872


Construção do Cais de concreto do Porto Velho do Rio Grande. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 
        Rara fotografia da construção do cais de concreto do Porto Velho do Rio Grande no mês de janeiro de 1872.  O atual prédio da Alfândega só começaria a ser construído em 1874. Se observa a edificação de um cais de concreto (até então é um cais de estacadas) teve início neste trecho entre o prédio da Alfândega e o Mercado Público.
     A identificação da casa comercial "Naval Store" é do prédio existente na esquina da Rua Riachuelo com a Rua Ewbank.  
      Evidenciando a ampla utilização da mão-de-obra negra na cidade do Rio Grande, entre os trabalhadores contemplados na fotografia, basicamente todos são negros. Quantos serão escravos e quantos alforriados?
Detalhe da fotografia mostrando os trabalhadores negros do Cais de concreto do Porto Velho do Rio Grande. 

CRA

        A Companhia Rio-Grandense de Adubos (CRA) foi fundada a 30 de junho de 1950 com capital da indústria francesa Réna Engrais et Produits Chimiques, em conjunto com o Instituto Rio-Grandense do Arroz (IRGA). Em junho de 1953 inaugurou sua primeira fábrica, uma planta de superfosfato junto ao Porto Novo do Rio Grande. 
        Foi a primeira fábrica de adubos em Rio Grande e deixou uma história sinistra de poluição excessiva e falta de cuidados com a saúde e o ambiente.   
         Em 1956, na edição do jornal Rio Grande de 27 de fevereiro, um anúncio de emprego foi publicado e um pouco abaixo é informado que os operários da CRA continuavam em greve. As contratações já seriam para a vaga de alguns grevistas?

Rio Grande, 27-02-1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

LADRÕES DE LATAS DE LIXO

        Dificuldades na manutenção dos espaços públicos é um problema administrativo histórico. Lixo acumulado e mato crescendo nas ruas e calçadas, eram cenários comuns na década de 1950. 
       O jornal Rio Grande do dia 15 de fevereiro de 1956 ainda destaca a existência de uma indústria de ladrões de latas de lixo que atuavam na cidade... 

Rio Grande, 15-02-1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

quarta-feira, 25 de março de 2020

FORNECIMENTO DE ÁGUA

          O fornecimento de água foi um problema histórico em Rio Grande. Dos poços de captação em praças até a instalação do reservatório metálico da Hidráulica na década de 1870, a água foi fator de muitas discussões relativas a sua qualidade e os constantes cortes no fornecimento. 
        No ano de 1956, o jornal Rio Grande situa esta questão em seu editorial. O desafio no fornecimento persistia e a busca por soluções persistia.  

Antiga fotografia, possivelmente dos primórdios dos anos 1920, no Reservatório da Hidráulica. Rio Grande, 04-01-1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Rio Grande, 03-01-1956, Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.

O PROJETO DO EDIFÍCIO DO BANCO

    Em 10 de fevereiro de 1956 (conforme jornal Rio Grande) a crise envolvendo a construção de uma nova agência do Banco do Brasil em Rio Grande já envolvia até a Câmara de Vereadores. O prédio original já havia sido demolido as expensas da Prefeitura Municipal na expectativa que fosse efetivado o projeto de um Banco com nove pavimentos que seria, naquele momento, o prédio mais alto da cidade. 
       Atualmente sabemos que o resultado não foi a aplicação do projeto original e sim a construção de um prédio constituído pelo térreo e mais quatro pavimentos espaçosos mas sem atrativos arquitetônicos. 
        A notícia de capa do jornal é reproduzida abaixo: 

Rio Grande, 09-02-1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


Projeto não executado.  Rio Grande, 28-02-1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

CORONAVÍRUS


         Em período de intenso fluxo de acesso ao noticiário, já é do conhecimento que Rio Grande tem um caso confirmado de coronavírus e 14 casos suspeitos. Nossa atenção precisa ser redobrada! 
       Esta pandemia é uma aprendizagem mas o vírus não está dando tempo para uma adaptação de hábitos a partir de uma readaptação comportamental. Porém, precisamos ser rápidos nesta aprendizagem e estar atentos ao que vai sendo cientificamente descoberto sobre o coronavírus. Para todos, inclusive cientistas, é o desafio de algo novo, rápido e agressivo. Fazer a nossa parte, pensando nos leitores, é divulgar informações fundamentadas e orientar com calma e foco na superação. Tendo consciência que esta transição será longa até sairmos do sufoco e que precisamos de muita disciplina e persistência para não ser um a mais para sobrecarregar o sistema de saúde. 
        A informação científica e útil é o melhor companheiro nestes dias. 
       Precisamos enfrentar e vencer os dois inimigos que podem nos afligir: o ataque viral ao nosso corpo e ansiedade que pode prejudicar o equilíbrio de nossas funções psíquicas.   





 


Endereço útil para orientar pacientes em quarentena: