Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 27 de junho de 2019

MERCADO PÚBLICO

Mercado Público em 1909. Atelier Fontana. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Fotografia obtida da torre do prédio da Alfândega e retrata, em primeiro plano, o Mercado Público do Rio Grande que foi inaugurado em 1863. O Mercado Público era um ponto essencial de sociabilidade com a venda de produtos horti-fruti-granjeiros vindos da área rural do município, em especial, das Ilhas. Além disso, produtos nacionais, estrangeiros e do Rio Grande do Sul, eram vendidos neste local composto por bancas. Neste período, o Mercado não estava fechado em sua parte superior. Ao seu lado ficava a banca de venda de pescado. As embarcações, descarregavam os produtos nos fundos do Mercado e também no Rincão da Cebola. O prédio, no canto esquerdo é o da Biblioteca Rio-Grandense (hoje modificado) e no seu lado esquerdo parte do prédio do Quartel-General. A torre, ao fundo esquerdo da imagem é a cúpula da Santa Casa.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O MERCANTIL DO RIO GRANDE


A imprensa em Rio Grande teve início há 187 anos com “O Noticiador”. Ao longo deste tempo ela foi variada em gêneros e inúmeros jornais foram publicados e o que restou no presente são coleções parciais. Muitos títulos se reduzem há poucos números ou somente ao nome de um jornal que não restou nenhum exemplar. O acervo que sobreviveu ao tempo e aos descuidos humanos de preservação das fontes do passado possibilita acompanhar os processos civilizatórios ocorrido em tempos pretéritos. Estes fragmentos são instigadores para à pesquisa histórica e para à busca de informações e interpretações das sociedades que legaram o presente.
Entre estes jornais de coleções parciais está “O Mercantil do Rio Grande”. Segundo Abeillard Barreto no livro “Primórdios da Imprensa no Rio Grande do Sul” o editor era Sabino Antonio de Sousa Niteroi que teve experiência anterior com o jornal “Folha Mercantil”.  O gênero era de uma folha comercial voltada aos interesses dos comerciantes e das atividades econômicas ligadas ao Porto do Rio Grande e suas conexões marítimas. O estilo era crítico-opinativo com ferrenhos e passionais ataques ao movimento farroupilha. A tipografia era própria e as instalações ficavam na Praça São Pedro d’Alcântara. Os exemplares disponíveis e descontínuos temporalmente são do período de 1835 a 1840.
O jornal combate os farroupilhas que são taxados de “rebeldes” e defende o governo Imperial centralizado no Rio de Janeiro. Reflete os interesses locais de manutenção das relações harmoniosas com o centro do país em detrimentos de cisões que levassem a ruptura política e a influência da órbita do prata no Rio Grande do Sul. Desde 1836, com a proclamação da República Rio-Grandense, a Província vivia uma luta fratricida entre imperiais e farroupilhas, com a existência de um “país” independente (não reconhecido internacionalmente) que fazia frente ao Império Brasileiro. Na documentação farroupilha, os brasileiros passam a ser chamados de “estrangeiros” em contraposição ao novo projeto dos “cidadãos rio-grandenses”. “O Mercantil do Rio Grande” faz ardoroso ataque as lideranças e ao ideário liberal-radical dos farroupilhas e uma reverência às ações dos chefes políticos e militares imperiais que defendiam “o Império da Lei e da Ordem”.
É mais uma das contribuições da imprensa produzida na cidade do Rio Grande que possibilita ampliar os conhecimentos sobre a história rio-grandense e brasileira.

Ilustração: O Mercantil do Rio Grande no ano de 1840. Acervo: Museu de Comunicação Social Hipólito da Costa.







SOCIEDADE PROMOTORA DA EMANCIPAÇÃO DE ESCRAVOS



Há 150 anos, foi criada em Rio Grande, a primeira sociedade de emancipação de escravos do Brasil. O nome era Sociedade Promotora da Emancipação de Escravos na Província do Rio Grande do Sul e a proposição partiu da Loja Maçônica Acácia Rio-Grandense. A finalidade era a manumissão de escravas na idade de procriação, entre 8 e 25 anos, com o objetivo de os filhos nascessem livres e desta forma a escravidão teria uma natural extinção em algumas (várias) décadas, pois escravas com mais de 25 anos não eram aceitas para terem a sua liberdade comprada de seus proprietários.
O presidente da Sociedade era o médico João Landel, porém, João Frick é tido como o seu idealizador, especialmente, pelo livro que escreveu em Lisboa no ano de 1885, em que são obtidos detalhes sobre o funcionamento da Sociedade (“Abolição da escravatura - Breve notícia sobre a Primeira Sociedade de Emancipação de Escravos do Brasil”). Conforme, Frick, “apresentavam-se muitas escravas de todas as idades, de todas as condições, sem autorização dos senhores, umas pedindo informações, outras auxílio, outras queixando-se de que não podiam arranjar os 5$000 réis da matrícula, outras maltrapilhas, embriagadas”. Porém, o limite de idade afastava a maioria destas mulheres. Conforme o estatuto da sociedade, “Cada sócio tem a obrigação de angariar subscritores para a sociedade (...). A contribuição anual é de 6$000 para o fundo de emancipação (...) Todo o fundo de emancipação é para alforriar escravas; quaisquer despesas miúdas de anúncios, impressos etc., são por conta dos sócios fundadores; - só poderão ser alforriadas escravas entre oito e vinte e cinco anos (...) A alforria será por sorteio sobre o número de ordem das escravas matriculadas; e esta para se habilitarem contribuirão com 5$000 réis, e trarão o consentimento de seus senhores e a declaração da quantia que estes pretendem pela liberdade (...) O sorteio terá lugar cada vez que haja dinheiro para uma alforria; e logo que à escrava saia a sorte da liberdade, a Diretoria da Sociedade tratará com o senhor sobre o preço da alforria; se não chegarem a um acordo, entrará o número outra vez para a urna, e se procederá a novo sorteio”.
A Sociedade foi criada em março e em agosto de 1869 ocorreu a compra de duas alforrias. Uma das sorteadas foi a escrava Amélia cuja proprietária Clara Vieira de Castro exigiu valor alto por sua compra e se negou a aceitar um valor menor. Novo sorteio foi feito e novamente Amélia foi sorteada e a comissão retornou a sua proprietária que negou novamente a venda. A própria escrava conseguiu em três dias a diferença do valor com doações e pagou a sua ex-proprietária o valor estipulado. De um lado evidencia o escravismo brutal e inflexível da escravista e de outro a sensibilidade de pessoas que doaram para que ela obtivesse a sua liberdade, mesmo sendo um valor absurdo.
A carta de libertação é um documento histórico que esclarece a relação propriedade e mercadoria: “Eu abaixo assinada, D. Clara Vieira de Castro, declaro que sou legítima senhora da escrava Amélia nascida nesta cidade, e filha de outra minha escrava de nome Aldina, e que tendo recebido da Sociedade Promotora de Emancipação de Escravos nesta cidade a quantia de dois contos de réis, desde este momento considero liberta a minha referida escrava Amélia, e desisto de todos os direitos que nela tinha como minha propriedade. Rio Grande do Sul, 6 de Setembro de 1869. Clara Vieira de Castro”.
A Sociedade teve vida curta pois a Lei do Ventre Livre (1871) garantia a liberdade aos filhos de escravas sem necessidade de libertar suas mães. Também é preciso destacar que o idealizador, João Frick, não era favorável a abolição da escravatura mas sim a um processo lento em que o último escravo morresse por velhice no Brasil. Conforme o sanitarista João Frick, “as moléstias de longa data, quando curáveis, devem curar-se morosamente, e não de um só golpe; porque a cura rápida pode trazer inconvenientes, ou novas moléstias”. A transição muito lenta seria necessária para a readaptação dos negros livres e a adaptação dos proprietários as mudanças econômicas inerentes ao desenvolvimento do capitalismo e de uma sociedade não escravista. Ele era contrário a emancipação total dos escravos devido a “circunstância de inferioridade de raça e da posição de embrutecimento que a condição humilde da servidão dá ao escravo no Brasil”.  Especialmente, a partir do movimento republicano, o encaminhamento do fim da escravidão se deu, entre avanços e recuos, de forma mais contundente em direção a abolição e não ao prolongamento das relações escravistas. A Sociedade, dentro de seus objetivos, foi uma experiência pioneira, mas, não deixou herança a ser seguida em outras cidades brasileiras. Os clubes abolicionistas posteriores, foram mais amplos em sua proposta, com homens e mulheres podendo obter sua liberdade.
Disputa entre escravistas e abolicionistas.Revista Ilustrada de Ângelo Agostini. 

Lei do Ventre Livre, Revista Ilustrada, 21-05-1871.


quinta-feira, 20 de junho de 2019

CORUJANDO



A coluna “Corujando” do jornal “Rio Grande” se dedicava a fazer críticas, solicitações ou elogios ao governo municipal em relação à prestação de serviços aos munícipes. Para conhecermos o passado este tipo de coluna é muito relevante pelo detalhismo dos comentários e das reinvindicações que possibilita visitar alguns aspectos do cotidiano urbano. No caso, são algumas matérias do ano de 1956 as quais, possivelmente, os assuntos serão recordados por alguns leitores.
Uma das matérias se refere aos problemas de limpeza pública daquele período. Ironicamente, o jornal destaca que uma “coisa sensacional ocorreu ontem na rua Riachuelo. Os ‘comandos’ da Limpeza Pública atacaram as primeiras horas da manhã e varreram (isto mesmo, varreram) a velha rua de ponta a ponta”. No elogio está à crítica ao “fato estranho” da limpeza ter sido feita e que agora a Riachuelo “ficou uma rua da Boa Vista” numa referência ao nome antigo desta rua até o ano de 1865.
O “Corujando” também afirma que, em tom irreverente, recebeu uma denúncia de que na rua Primeiro de Maio, em plena zona urbana, em certa residência havia um legítimo “zoo” constituído por “3 vacas, 3 terneiros, 1 cavalo, 5 ovelhas, 20 galinhas e 6 cachorros”.  
Referência foi feita a Rodoviária que estava instalada em “ótimo local” na esquina das ruas 24 de Maio e 19 de Fevereiro (isto mesmo!), porém, às reclamações é de que não “existem bancos” para os passageiros que ficam de pé esperando o ônibus. Como a Rodoviária era “uma sala de visita da cidade”, o jornal pedia providências para a instalação de bancos.
Na rua General Netto proximidades da Cia. Fiação e Tecelagem (na atual Senador Corrêa) “o barral que forma em virtude do acúmulo das águas é enorme estimulando rápida vegetação”. Hoje, uma das vias de maior fluxo de veículos da cidade ficava quase interditada.
Nos períodos de chuva, os transtornos eram grandes. Quando chovia volumosamente a cidade mostrava “o estado em que esse achava os boeiros e encanamentos, quase que completamente obstruídos pela areia, folhagens e outros detritos”. A cidade, basicamente no nível do mar, teve problemas desde o século XVIII com o escoamento das águas em períodos chuvosos. Na década de 1950, a região mais atingida era o sudeste da cidade.   
Em 1956, a população era de 70 mil habitantes. Um dos problemas era o do funcionamento das farmácias aos sábados à tarde e aos domingos: “penetrar numa farmácia que está de plantão exige coragem homérica. Dezenas de pessoas aglomeram-se em torno do balcão e, mesmo na calçada do estabelecimento, aguardando o momento de ser atendidas. E as horas voam. É difícil comprar numa farmácia de plantão”. A proposta do “Corujando” é de que duas farmácias abrissem para plantão. No presente, 63 anos depois, a questão das farmácias está bem resolvida, pois, estas proliferaram num ritmo avassalador.

Ilustrações: Jornal Rio Grande, abril de 1956. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.




segunda-feira, 17 de junho de 2019

180 ANOS DA PRIMEIRA MÁQUINA FOTOGRÁFICA


Em agosto de 1839, o governo francês divulgava uma das mais importantes invenções da humanidade: um mecanismo capaz de fotografar cenas e preservar esta imagem por tempo indeterminado. A fotografia hoje pode ser obtida até com celular e smartphone, mas seu desenvolvimento inicial foi muito complexo. A fixação da imagem era um desafio que envolvia conhecimento de fenômenos químicos que começavam a se desenvolver no século XIX. O francês Joseph Nicéphore Niépce obteve a primeira fotografia em 1826 utilizando uma placa com betume numa câmara obscura.
Primeira fotografia. Niépce, 1826.

          Deixando em exposição por oito horas, Niépce conseguiu uma pálida imagem de telhados, provando ser possível obter uma imagem sobre uma emulsão sensível à luz, porém, faleceu em 1833 sem conseguir fazer novos avanços. Seu sócio, o também francês Louis Daguerre fez a descoberta do processo de fixação da imagem. Em 1835, de forma acidental, ele constatou que os vapores de mercúrio permitiam fixar (revelar) a imagem ao ser exposta por cerca de 30 minutos.
Primeira fotografia com daguerriótipo em 1837.
Isto levou a produção de um meio físico (máquina) que foi adquirida pelo governo francês em troca de uma renda vitalícia para Daguerre. Surgia em 1839 o daguerreotipo que poderia ser usado livremente pelos interessados. O equipamento era constituído por câmara, chapas metálicas, polidor de couro, caixa de madeira para sensibilização da emulsão, caixa de madeira para a revelação das placas expostas e produtos químicos, totalizando mais de 100 quilos de peso.
Daguerriótipo. 
Este kit era acompanhado de um manual explicativo sendo vendidos, apenas em Paris, 2.000 kits no ano de 1846. As dificuldades de manuseio e revelação exigiam muita habilidade e frustraram muitos amadores, mas a curiosidade e a busca de uma profissão fizeram com que apenas nos Estados Unidos, no ano de 1853, havia dez mil daguerreotipo. A imagem gerada era apenas positiva e não podia ser reproduzida (obter cópias), mas o interesse pela fotografia não parou de crescer desde então.
Daguerriótipo pela primeira vez retratando pessoas em área urbana. 

Ficheiro:Paço imperial 1840.jpg
Primeiro daguerriótipo no Brasil. Louis Compte, 1840, Paço Imperial (Rio de Janeiro). 

sexta-feira, 14 de junho de 2019

A LINHA DA LAGOA E O FUTEBOL



     Sempre é bom recontar que a cidade do Rio Grande está diretamente contextualizada com os primórdios da aviação comercial no Brasil. A criação da VARIG teve participação marcante de investidores da cidade e no acompanhamento das tratativas da empresa alemã Condor Syndikat na realização de voos no Rio Grande do Sul. Conforme o site https://www.varig-airlines.com/pt/20.htm a Condor recebeu autorização para voar no Brasil no dia 26 de janeiro de 1927 e no dia 3 de fevereiro foi inaugurado o primeiro voo comercial do Brasil. No dia 7 de maio de 1927 foi criada oficialmente a Viação Aérea Rio Grandense, ou simplesmente, VARIG. A primeira aeronave da empresa foi o Dornier Wal, batizado de "Atlântico". A primeira rota da VARIG ficou conhecida como a "Linha da Lagoa" e ligava Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande. O voo era feito em baixa altitude, entre 20 e 50 metros, sobre a Lagoa dos Patos, numa velocidade de cruzeiro de 160 km/h. O avião tinha capacidade para levar nove passageiros. No check-in, o passageiro era pesado junto com a sua bagagem, e se passasse de 75 kg era cobrado como excesso. Também eram distribuídos para os passageiros, algodão e chicletes. O algodão servia para colocar nos ouvidos para abafar o barulho dos motores e os chicletes para aliviar o desconforto causado pela mudança de pressão. O voo durava cerca de duas horas e 20 minutos, bem mais rápido do que uma viagem de trem e o bilhete não era muito mais caro.  A VARIG construiu uma rampa e algumas oficinas na Ilha Grande dos Marinheiros, na foz do Rio Jacuí, bem em frente à cidade de Porto Alegre, para servir como base de operações.
A primeira oficina de conservação, revisões e consertos foi instalada nas margens do Saco da Mangueira, em Rio Grande. O pouso e a decolagem eram realizados nas águas do Saco da Mangueira e o acesso era pela Av. Presidente Vargas na altura do Educandário Coração de Maria.
A lendária Linha da Lagoa legou muitas histórias nos tempos pioneiros da aviação no Brasil. Entre elas está a da primeira viagem área de um time de futebol em todo o planeta. O Esporte Clube São José, de Porto Alegre, partiu da capital gaúcha no dia 5 de junho de 1927 com destino a Pelotas. A partida teve o placar final de Pelotas 2 X São José 2, e passou para os anais do futebol mundial como a primeira viagem aérea de um time, conforme reconhecimento da FIFA. O hidroavião Atlântico comportava apenas 9 passageiros sentados obrigando dois integrantes do São José a viajarem no porão em companhia das malas. Com uma temperatura de 10 graus, os jogadores viajaram com casacões pesados o que sobrecarregou o peso normal do avião. Com perícia, o comandante Rodolfo Cramer, conseguiu decolar o primeiro avião comercial do Brasil e levar em segurança os jogadores para a partida. Nestes tempos pioneiros, de tecnologia mínima e muita habilidade do piloto, voar era uma aventura constante.   


Equipe do São José posando para a fotografia antes do embarque. Acervo: Esporte Clube São José.

 Anúncio da VARIG em 1931. Acervo: Revista Aérea Condor. 


 
Atlântico na Ilha Grande dos Marinheiros (Porto Alegre). https://www.varig-airlines.com/pt/atlantico.htm

segunda-feira, 10 de junho de 2019

GATOS E PRAÇAS

     
Praça Xavier Ferreira. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.

        Conheço fotografias em que cachorros estão posando em espaços públicos da cidade do Rio Grande. A mais antiga é de 1865-e um guaipeca observa o fotógrafo e sua parafernália.  São cerca de 150 anos de fotogenia canina! Mas e os gatos. Estes felinos são mais discretos e cuidadosos na circulação em espaços públicos mas encontrei uma fotografia onde um destes adorados animais do antigo Egito caminha calmamente na larga calçada da Praça Xavier Ferreira em sua fronteira com a rua Marechal Floriano: o boulevard rio-grandense, como era chamado desde 1868, local de passeio e circulação cotidiana. 

        O gato (a) de cor preto e branco chama a atenção nesta fotografia do ano de 1935. Seus descendentes ainda hoje habitam a cidade, como é o caso da gata Elisabete. 




A gata Elisabete em 2019. 

sexta-feira, 7 de junho de 2019

JOHN PROUDFOOT



         A presença de comerciantes ingleses na cidade do Rio Grande remete aos primórdios do século XIX, mas, se intensificou na segunda metade daquela centúria. Um personagem exponencial desta presença foi o escocês John Proudfoot que atuou em Rio Grande, Montevidéu e Buenos Aires.
John Proudfoot era um escocês nascido, com divergência entre autores, em Glasgow ou Dumbartonshire no ano de 1811. Ele veio para Buenos Aires em 1835. Alguns anos após, transferiu-se para a cidade do Rio Grande, aí se estabelecendo com a sociedade Proudfoot, Usc & Moffat (consta como firma atacadista em 1851). Em 1852, fundou em Montevidéu a firma Proudfoot & Cia., retirando-se em 1855 para a Inglaterra. Em Rio Grande, em 1870 está registrada a firma importadora John Proudfoot Cia que ainda aparece pagando impostos municipais em 1884. O escocês fez várias visitas periódicas à América do Sul, e em 1862 concebeu a ideia de transformar Rio Grande numa zona produtora de algodão, trazendo para isto lavradores experientes, maquinaria, etc., de seu país, iniciando no Cocuruto (São José do Norte), próximo à Barra, o novo empreendimento. Foi essa a única iniciativa em que perdeu dinheiro, nela invertendo cerca de 20.000 libras, mas ao fracassar a cultura algodoeira, ainda tratou de convertê-la numa grande horta para o abastecimento da cidade. Sua última viagem ao Rio Grande do Sul foi em 1873, quando encontrou a linha de navegação que estabelecera onze anos antes, para Porto Alegre, com um enorme tráfego. BARRETO, Abeillard. Bibliografia Sul-Rio-Grandense. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1976, v. 2. p. 968). O navio a vapor “São Pedro” foi construído para a Proudfoot and Co em 1867 pela T. Wingate and Company, construtores navais do Clyde e foi usado no comércio com a América do Sul. Proudfoot também foi um dos fundadores da Companhia Telegráfica do Rio da Prata, na qual ele se envolveria na instalação de cabos submarinos com a Telegraph Company que forneceu uma linha terrestre e submarina entre Buenos Aires e Montevidéu (1866). Proudfoot fez tratamento de saúde em Lisboa e faleceu em Liverpool em 1875.
       Francisco Riopardense de Macedo no livro “Ingleses no Rio Grande do Sul” destacou: “entre todos os primeiros ingleses na construção do Rio Grande do Sul um deve ser citado que é John Proudfoot (...) é importante citá-lo pelo eminente papel que desempenhou na introdução de barcos a vapor. Agricultor, comerciante e industrialista era o proprietário do mais elegante vapor que circulava nos rios e na Lagoa dos Patos – o Guaíba – construído em Clyde. Além de outros barcos de menor calado para os rios de menor vasão”.       
      Michael George Mulhall “O Rio Grande do Sul e suas colônias alemãs” deixou o seguinte registro referente a cidade do Rio Grande: “A casa de Proudfoot & Co. é uma das mais bem situadas na rua Pedro II, a principal de Rio Grande. Perto dessa casa há um belo edifício quadrado (com lojas no andar térreo) que custou 30.000 libras esterlinas e foi construído no ano passado. Numerosos vapores ligam Rio Grande a Pelotas, Porto Alegre, Jaguarão e outros portos das lagoas dos Patos e Mirim. O melhor deles é o Guaíba (no qual parto hoje para Porto Alegre), que foi construído no Clyde, para os srs. Proudfoot & Co., a grande casa inglesa com a qual o comércio e o progresso de Rio Grande estão identificados. Os estrangeiros que vêm a Rio Grande deveriam procurar obter, como seu melhor passaporte, uma carta de apresentação aos srs. Proudfoot & Co., pois, sob a proteção do sr. Crawford, nunca lhes faltará qualquer informação ou assistência. Na praia que fica ao norte, bem na frente de Rio Grande, está à fazenda do Coqueruto (Cocuruto), do sr. Proudfoot, onde ele fez várias tentativas para plantar algodão há uns sete ou oito anos, preparando considerável gleba de terra e montando máquinas e aparelhos adequados; mas, embora o solo parecesse apropriado e as plantas medrassem saudáveis e vigorosas, seus frutos não amadureciam na estação adequada e o plano teve de ser abandonado. A fazenda é hoje utilizada para prover o mercado e é dirigida por um escocês. O sr. Proudfoot tem mais duas fazendas nos arredores; de fato, para qualquer lado que se olhe, veem-se sinais evidentes da energia e dos empreendimentos desse grande homem, um dos primeiros estrangeiros a desenvolver os recursos desta parte do Brasil, e que, mesmo agora, quando goza os frutos de uma principesca fortuna nas colinas de sua Escócia natal, tem sua atenção tão voltada para o progresso desta terra, que todos os anos tomam parte em novas empresas de navios a vapor, telégrafos, estradas de ferro, gás etc., para utilizá-las na sua marcha para o desenvolvimento. O desolado lugarejo de São José do Norte, na frente do porto de Rio Grande, está quase soterrado pelos cômoros de areia, e os barcos a vela fazem a travessia até lá em meia hora. Passamos suficientemente perto para verificar que a maioria das casas parecem desocupadas, exceto algumas na praia, uma das quais ostenta o título English Ship Store. Vê-se uma igreja de tamanho apreciável ao fundo, mas receio que algum dia um deslocamento de areia destrua o local. Um dos passageiros observou que estas areias, com suas casas brancas, lhe lembraram do Suez, que é talvez o lugar mais inóspito do mundo; entretanto, disseram-me que a meia hora de São José encontra-se uma região aprazível, onde há muita caça e, aqui e acolá, chácaras e quintas. Depois de passar por um farol e algumas casas pequenas, entramos na Lagoa dos Patos e vimos um magnífico lençol d’água, sem outra terra no horizonte que as serras de Pelotas. (...) Retornando de São Leopoldo a Porto Alegre, parei alguns dias nesta última cidade e obtive do Governo uma brochura publicada na Província por um engenheiro chamado Camargo, com muitas informações gerais e dados estatísticos. Como tivesse vontade de visitar Pelotas, comprei uma passagem no Guaíba para Rio Grande. A noite foi tão agitada sobre o lago, que quase todos os passageiros tiveram enjoos”.
 Os restos mortais estão no Memorial John Proudfoot no cemitério de Dumbarton (cidade e porto da Escócia). Na inscrição abaixo da estátua está registrado: “Sagrado à memória de John Proudfoot, Merchant, Liverpool, Rio Grande do Sul e Monte Video, que morreu em Liverpool no dia 7 de março de 1875, com 64 anos”. A estátua de dois metros e meio de altura, é obra do escultor Sir John Steel, sendo fundido em Edinburgh. O monumento retrata um trabalhador da América do Sul, segurando uma pá e com o casaco no ombro.

Ilustrações: O Memorial John Proudfoot. 
cc-by-sa / 2.0
 - © Lairich Rig - geograph.org.uk/p/2282151



Memoria In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751

Memória In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751