A imprensa em Rio Grande teve início há 187
anos com “O Noticiador”. Ao longo deste tempo ela foi variada em gêneros e inúmeros
jornais foram publicados e o que restou no presente são coleções parciais.
Muitos títulos se reduzem há poucos números ou somente ao nome de um jornal que
não restou nenhum exemplar. O acervo que sobreviveu ao tempo e aos descuidos humanos
de preservação das fontes do passado possibilita acompanhar os processos
civilizatórios ocorrido em tempos pretéritos. Estes fragmentos são instigadores
para à pesquisa histórica e para à busca de informações e interpretações das
sociedades que legaram o presente.
Entre estes jornais de coleções parciais está
“O Mercantil do Rio Grande”. Segundo Abeillard Barreto no livro “Primórdios da
Imprensa no Rio Grande do Sul” o editor era Sabino Antonio de Sousa Niteroi que
teve experiência anterior com o jornal “Folha Mercantil”. O gênero era de uma folha comercial voltada
aos interesses dos comerciantes e das atividades econômicas ligadas ao Porto do
Rio Grande e suas conexões marítimas. O estilo era crítico-opinativo com
ferrenhos e passionais ataques ao movimento farroupilha. A tipografia era
própria e as instalações ficavam na Praça São Pedro d’Alcântara. Os exemplares
disponíveis e descontínuos temporalmente são do período de 1835 a 1840.
O jornal combate os farroupilhas que são
taxados de “rebeldes” e defende o governo Imperial centralizado no Rio de
Janeiro. Reflete os interesses locais de manutenção das relações harmoniosas
com o centro do país em detrimentos de cisões que levassem a ruptura política e
a influência da órbita do prata no Rio Grande do Sul. Desde 1836, com a
proclamação da República Rio-Grandense, a Província vivia uma luta fratricida entre
imperiais e farroupilhas, com a existência de um “país” independente (não
reconhecido internacionalmente) que fazia frente ao Império Brasileiro. Na
documentação farroupilha, os brasileiros passam a ser chamados de “estrangeiros”
em contraposição ao novo projeto dos “cidadãos rio-grandenses”. “O Mercantil do
Rio Grande” faz ardoroso ataque as lideranças e ao ideário liberal-radical dos farroupilhas
e uma reverência às ações dos chefes políticos e militares imperiais que
defendiam “o Império da Lei e da Ordem”.
É mais uma das contribuições da imprensa produzida
na cidade do Rio Grande que possibilita ampliar os conhecimentos sobre a
história rio-grandense e brasileira.
Ilustração: O Mercantil do Rio Grande no ano de 1840. Acervo: Museu de Comunicação Social Hipólito da Costa.
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