A
presença de comerciantes ingleses na cidade do Rio Grande remete aos primórdios
do século XIX, mas, se intensificou na segunda metade daquela centúria. Um
personagem exponencial desta presença foi o escocês John Proudfoot que atuou em
Rio Grande, Montevidéu e Buenos Aires.
John
Proudfoot era um escocês nascido, com divergência entre autores, em Glasgow ou Dumbartonshire no ano de 1811. Ele veio para Buenos Aires em 1835. Alguns anos
após, transferiu-se para a cidade do Rio Grande, aí se estabelecendo com a
sociedade Proudfoot, Usc & Moffat (consta como firma atacadista em 1851).
Em 1852, fundou em Montevidéu a firma Proudfoot & Cia., retirando-se em
1855 para a Inglaterra. Em Rio Grande, em 1870 está registrada a firma
importadora John Proudfoot Cia que ainda aparece pagando impostos municipais em
1884. O escocês fez várias visitas periódicas à América do Sul, e em 1862
concebeu a ideia de transformar Rio Grande numa zona produtora de algodão,
trazendo para isto lavradores experientes, maquinaria, etc., de seu país,
iniciando no Cocuruto (São José do Norte), próximo à Barra, o novo
empreendimento. Foi essa a única iniciativa em que perdeu dinheiro, nela
invertendo cerca de 20.000 libras, mas ao fracassar a cultura algodoeira, ainda
tratou de convertê-la numa grande horta para o abastecimento da cidade. Sua
última viagem ao Rio Grande do Sul foi em 1873, quando encontrou a linha de
navegação que estabelecera onze anos antes, para Porto Alegre, com um enorme
tráfego. BARRETO, Abeillard. Bibliografia Sul-Rio-Grandense. Rio de Janeiro:
Conselho Federal de Cultura, 1976, v. 2. p. 968). O navio a vapor “São Pedro” foi construído para a
Proudfoot and Co em 1867 pela T. Wingate and Company, construtores navais do
Clyde e foi usado no comércio com a América do Sul. Proudfoot também foi
um dos fundadores da Companhia Telegráfica do Rio da Prata, na qual ele se envolveria
na instalação de cabos submarinos com a Telegraph Company que forneceu uma
linha terrestre e submarina entre Buenos Aires e Montevidéu (1866). Proudfoot fez tratamento de saúde em Lisboa e
faleceu em Liverpool em 1875.
Francisco Riopardense de Macedo no livro “Ingleses
no Rio Grande do Sul” destacou: “entre todos os primeiros ingleses na
construção do Rio Grande do Sul um deve ser citado que é John Proudfoot (...) é
importante citá-lo pelo eminente papel que desempenhou na introdução de barcos
a vapor. Agricultor, comerciante e industrialista era o proprietário do mais
elegante vapor que circulava nos rios e na Lagoa dos Patos – o Guaíba –
construído em Clyde. Além de outros barcos de menor calado para os rios de
menor vasão”.
Michael George Mulhall “O Rio Grande do Sul e
suas colônias alemãs” deixou o seguinte registro referente a cidade do Rio
Grande: “A casa de Proudfoot & Co. é uma das mais bem situadas na rua Pedro
II, a principal de Rio Grande. Perto dessa casa há um belo edifício quadrado
(com lojas no andar térreo) que custou 30.000 libras esterlinas e foi
construído no ano passado. Numerosos vapores ligam Rio Grande a Pelotas, Porto
Alegre, Jaguarão e outros portos das lagoas dos Patos e Mirim. O melhor deles é
o Guaíba (no qual parto hoje para Porto Alegre), que foi construído no Clyde,
para os srs. Proudfoot & Co., a grande casa inglesa com a qual o comércio e
o progresso de Rio Grande estão identificados. Os estrangeiros que vêm a Rio
Grande deveriam procurar obter, como seu melhor passaporte, uma carta de
apresentação aos srs. Proudfoot & Co., pois, sob a proteção do sr.
Crawford, nunca lhes faltará qualquer informação ou assistência. Na praia que
fica ao norte, bem na frente de Rio Grande, está à fazenda do Coqueruto
(Cocuruto), do sr. Proudfoot, onde ele fez várias tentativas para plantar
algodão há uns sete ou oito anos, preparando considerável gleba de terra e
montando máquinas e aparelhos adequados; mas, embora o solo parecesse
apropriado e as plantas medrassem saudáveis e vigorosas, seus frutos não
amadureciam na estação adequada e o plano teve de ser abandonado. A fazenda é
hoje utilizada para prover o mercado e é dirigida por um escocês. O sr.
Proudfoot tem mais duas fazendas nos arredores; de fato, para qualquer lado que
se olhe, veem-se sinais evidentes da energia e dos empreendimentos desse grande
homem, um dos primeiros estrangeiros a desenvolver os recursos desta parte do
Brasil, e que, mesmo agora, quando goza os frutos de uma principesca fortuna
nas colinas de sua Escócia natal, tem sua atenção tão voltada para o progresso
desta terra, que todos os anos tomam parte em novas empresas de navios a vapor,
telégrafos, estradas de ferro, gás etc., para utilizá-las na sua marcha para o
desenvolvimento. O desolado lugarejo de São José do Norte, na frente do porto
de Rio Grande, está quase soterrado pelos cômoros de areia, e os barcos a vela
fazem a travessia até lá em meia hora. Passamos suficientemente perto para
verificar que a maioria das casas parecem desocupadas, exceto algumas na praia,
uma das quais ostenta o título English Ship Store. Vê-se uma igreja de tamanho
apreciável ao fundo, mas receio que algum dia um deslocamento de areia destrua
o local. Um dos passageiros observou que estas areias, com suas casas brancas,
lhe lembraram do Suez, que é talvez o lugar mais inóspito do mundo; entretanto,
disseram-me que a meia hora de São José encontra-se uma região aprazível, onde
há muita caça e, aqui e acolá, chácaras e quintas. Depois de passar por um
farol e algumas casas pequenas, entramos na Lagoa dos Patos e vimos um
magnífico lençol d’água, sem outra terra no horizonte que as serras de Pelotas.
(...) Retornando de São Leopoldo a Porto Alegre, parei alguns dias nesta última
cidade e obtive do Governo uma brochura publicada na Província por um
engenheiro chamado Camargo, com muitas informações gerais e dados estatísticos.
Como tivesse vontade de visitar Pelotas, comprei uma passagem no Guaíba para
Rio Grande. A noite foi tão agitada sobre o lago, que quase todos os
passageiros tiveram enjoos”.
Memoria In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751 |
Memória In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751 |
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