Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 7 de junho de 2019

JOHN PROUDFOOT



         A presença de comerciantes ingleses na cidade do Rio Grande remete aos primórdios do século XIX, mas, se intensificou na segunda metade daquela centúria. Um personagem exponencial desta presença foi o escocês John Proudfoot que atuou em Rio Grande, Montevidéu e Buenos Aires.
John Proudfoot era um escocês nascido, com divergência entre autores, em Glasgow ou Dumbartonshire no ano de 1811. Ele veio para Buenos Aires em 1835. Alguns anos após, transferiu-se para a cidade do Rio Grande, aí se estabelecendo com a sociedade Proudfoot, Usc & Moffat (consta como firma atacadista em 1851). Em 1852, fundou em Montevidéu a firma Proudfoot & Cia., retirando-se em 1855 para a Inglaterra. Em Rio Grande, em 1870 está registrada a firma importadora John Proudfoot Cia que ainda aparece pagando impostos municipais em 1884. O escocês fez várias visitas periódicas à América do Sul, e em 1862 concebeu a ideia de transformar Rio Grande numa zona produtora de algodão, trazendo para isto lavradores experientes, maquinaria, etc., de seu país, iniciando no Cocuruto (São José do Norte), próximo à Barra, o novo empreendimento. Foi essa a única iniciativa em que perdeu dinheiro, nela invertendo cerca de 20.000 libras, mas ao fracassar a cultura algodoeira, ainda tratou de convertê-la numa grande horta para o abastecimento da cidade. Sua última viagem ao Rio Grande do Sul foi em 1873, quando encontrou a linha de navegação que estabelecera onze anos antes, para Porto Alegre, com um enorme tráfego. BARRETO, Abeillard. Bibliografia Sul-Rio-Grandense. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1976, v. 2. p. 968). O navio a vapor “São Pedro” foi construído para a Proudfoot and Co em 1867 pela T. Wingate and Company, construtores navais do Clyde e foi usado no comércio com a América do Sul. Proudfoot também foi um dos fundadores da Companhia Telegráfica do Rio da Prata, na qual ele se envolveria na instalação de cabos submarinos com a Telegraph Company que forneceu uma linha terrestre e submarina entre Buenos Aires e Montevidéu (1866). Proudfoot fez tratamento de saúde em Lisboa e faleceu em Liverpool em 1875.
       Francisco Riopardense de Macedo no livro “Ingleses no Rio Grande do Sul” destacou: “entre todos os primeiros ingleses na construção do Rio Grande do Sul um deve ser citado que é John Proudfoot (...) é importante citá-lo pelo eminente papel que desempenhou na introdução de barcos a vapor. Agricultor, comerciante e industrialista era o proprietário do mais elegante vapor que circulava nos rios e na Lagoa dos Patos – o Guaíba – construído em Clyde. Além de outros barcos de menor calado para os rios de menor vasão”.       
      Michael George Mulhall “O Rio Grande do Sul e suas colônias alemãs” deixou o seguinte registro referente a cidade do Rio Grande: “A casa de Proudfoot & Co. é uma das mais bem situadas na rua Pedro II, a principal de Rio Grande. Perto dessa casa há um belo edifício quadrado (com lojas no andar térreo) que custou 30.000 libras esterlinas e foi construído no ano passado. Numerosos vapores ligam Rio Grande a Pelotas, Porto Alegre, Jaguarão e outros portos das lagoas dos Patos e Mirim. O melhor deles é o Guaíba (no qual parto hoje para Porto Alegre), que foi construído no Clyde, para os srs. Proudfoot & Co., a grande casa inglesa com a qual o comércio e o progresso de Rio Grande estão identificados. Os estrangeiros que vêm a Rio Grande deveriam procurar obter, como seu melhor passaporte, uma carta de apresentação aos srs. Proudfoot & Co., pois, sob a proteção do sr. Crawford, nunca lhes faltará qualquer informação ou assistência. Na praia que fica ao norte, bem na frente de Rio Grande, está à fazenda do Coqueruto (Cocuruto), do sr. Proudfoot, onde ele fez várias tentativas para plantar algodão há uns sete ou oito anos, preparando considerável gleba de terra e montando máquinas e aparelhos adequados; mas, embora o solo parecesse apropriado e as plantas medrassem saudáveis e vigorosas, seus frutos não amadureciam na estação adequada e o plano teve de ser abandonado. A fazenda é hoje utilizada para prover o mercado e é dirigida por um escocês. O sr. Proudfoot tem mais duas fazendas nos arredores; de fato, para qualquer lado que se olhe, veem-se sinais evidentes da energia e dos empreendimentos desse grande homem, um dos primeiros estrangeiros a desenvolver os recursos desta parte do Brasil, e que, mesmo agora, quando goza os frutos de uma principesca fortuna nas colinas de sua Escócia natal, tem sua atenção tão voltada para o progresso desta terra, que todos os anos tomam parte em novas empresas de navios a vapor, telégrafos, estradas de ferro, gás etc., para utilizá-las na sua marcha para o desenvolvimento. O desolado lugarejo de São José do Norte, na frente do porto de Rio Grande, está quase soterrado pelos cômoros de areia, e os barcos a vela fazem a travessia até lá em meia hora. Passamos suficientemente perto para verificar que a maioria das casas parecem desocupadas, exceto algumas na praia, uma das quais ostenta o título English Ship Store. Vê-se uma igreja de tamanho apreciável ao fundo, mas receio que algum dia um deslocamento de areia destrua o local. Um dos passageiros observou que estas areias, com suas casas brancas, lhe lembraram do Suez, que é talvez o lugar mais inóspito do mundo; entretanto, disseram-me que a meia hora de São José encontra-se uma região aprazível, onde há muita caça e, aqui e acolá, chácaras e quintas. Depois de passar por um farol e algumas casas pequenas, entramos na Lagoa dos Patos e vimos um magnífico lençol d’água, sem outra terra no horizonte que as serras de Pelotas. (...) Retornando de São Leopoldo a Porto Alegre, parei alguns dias nesta última cidade e obtive do Governo uma brochura publicada na Província por um engenheiro chamado Camargo, com muitas informações gerais e dados estatísticos. Como tivesse vontade de visitar Pelotas, comprei uma passagem no Guaíba para Rio Grande. A noite foi tão agitada sobre o lago, que quase todos os passageiros tiveram enjoos”.
 Os restos mortais estão no Memorial John Proudfoot no cemitério de Dumbarton (cidade e porto da Escócia). Na inscrição abaixo da estátua está registrado: “Sagrado à memória de John Proudfoot, Merchant, Liverpool, Rio Grande do Sul e Monte Video, que morreu em Liverpool no dia 7 de março de 1875, com 64 anos”. A estátua de dois metros e meio de altura, é obra do escultor Sir John Steel, sendo fundido em Edinburgh. O monumento retrata um trabalhador da América do Sul, segurando uma pá e com o casaco no ombro.

Ilustrações: O Memorial John Proudfoot. 
cc-by-sa / 2.0
 - © Lairich Rig - geograph.org.uk/p/2282151



Memoria In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751

Memória In: https://www.geograph.org.uk/photo/2905751

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