Porto do Rio Grande em 1908

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domingo, 29 de dezembro de 2019

HQ – JEAN DEBRET



Breve, caricata, lúdica, documental, sentimental... É como defino esta HQ do cartunista e ilustrador João Spacca de Oliveira (ou Spacca, 1964).
A HQ Debret em Viagem Histórica e Quadrinhesca ao Brasil (Companhia das Letras, capa flexível, colorida, 22x17cm, p.48, 2006) se debruçou sobre o pintor francês Jean Debret (1768-1848) e trouxe para linguagem dos quadrinhos alguns olhares incisivos de um dos mais argutos observadores do cotidiano brasileiro.
Conforme Elaine Dias na apresentação Debret nos Trópicos (p. 5 a 8 da HQ): “Jean-Baptiste Debret, o principal personagem da arte brasileira no século XIX, integrou a chamada Missão Artística Francesa e foi o maior articulador da fundação da Academia de Belas-Artes no Rio de Janeiro. Responsável por formar a primeira geração de artistas brasileiros voltados à produção artística oficial, representou de maneira marcante, através da ilustração e da gravura, os diversos grupos que compunham a sociedade carioca daquele período”.  
Seu olhar sobre as populações indígenas era de uma curiosidade não abarrotada de etnocentrismo e eurocentrismo. Sua curiosidade antropológica residia mais na busca da valentia e da esfera cultural das sociedades indígenas do que na visão do “bom selvagem” rousoniano. De tal forma que fazia comparações em que colocava no mesmo nível de autoridade um chefe indígena, em relação a um grego ou romano: “Tudo aquilo que o homem concebeu como ideias filosóficas elevadas, admiráveis ou mesmo estranhas encontra-se em princípio em germe, no índio selvagem...”.
 Na página 21 é construído um diálogo (com base nas anotações de Debret) que remete as práticas cotidianas dos lugares sociais e a visão iluminista de que o avanço na educação traria a igualdade que não era observada no Brasil:
“Entre os dois extremos da civilização, o nobre das florestas e o nobre da cidade, ambos livres e orgulhosos, Debret localiza o homem cativo, que realiza todos os trabalhos físicos. [Comentário de Debret nos quadrinhos – Tudo assenta, neste país, no escravo negro. O mulato é o homem mais robusto do Rio, oprimido pelo branco que o despreza, e detestado pelo negro. Já o português trata o branco brasileiro de mulato. Somente a civilização poderá destruir esses elementos de desordem: materialmente, pela mistura mais frequente dos dois sangues, e moralmente pelo progresso da educação].
Debret permaneceu 15 anos no Brasil documentando o período de transição da permanência do “espírito colonial” durante o Reino Unido de D. João VI, a Independência do Brasil e o início do Império, a abdicação de D. Pedro I e a aclamação do menino de cinco anos D. Pedro II. Portanto, momentos decisivos da formação histórica brasileira.
Debret chegou ao Brasil em março de 1816 e retornou a França em julho de 1831. O seu olhar artístico se voltou ao povo brasileiro, às comidas, os utensílios, da cuia de chimarrão aos balaios, as festas, os funerais, o carnaval, as residências dos nobres e as casas comunais dos índios, o multicolorido da presença dos escravos e os seus sofrimentos.
 Felizmente para os brasileiros, este projeto que cobriu parte de sua vida, foi publicado em três volumes nos anos de 1834, 1835 e 1839, com mais de 250 gravuras. Visitar estas gravuras possibilita um retorno no tempo em que não havia fotografia e que os documentos nem sempre colorizavam – ou quase nunca o faziam – os homens e mulheres reais que viviam no Brasil num tempo em que a nação começava a ser construída.
Ilustrações de Spacca. In: Debret em HQ...

Contra-capa do livro Debret em HQ...

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