Correio do Povo. |
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Hoje,
há quarenta anos no passado, o outono estava muito rigoroso e flertava com o
inverno. O frio na serra gaúcha estava de, no dizer gauchesco, de “renguear
cusco”. Aquele foi o dia mais frio do mês de maio dos
últimos 70 anos, ou seja, desde 1909.
Na
cidade de Bento Gonçalves, na noite do dia 30 de maio de 1979, o Esportivo e o
Grêmio se enfrentaram pelo gauchão que foi vencido pelo time tricolor naquele
ano. Quatro mil intrépidos torcedores foram ao Estádio da Montanha naquela
noite. Porém, o jogo não passou de 0 X 0. Os jogadores estavam mais preocupados
em não congelar do que em jogar futebol...
O
jornal Zero Hora, do dia 31 de maio de 1979, deixou o seguinte relato daquela
noite gélida: “A temperatura em Bento Gonçalves era de zero grau quando a partida
começou ontem no Estádio da Montanha. (…) Já nevava aos nove minutos quando
Raquete recebeu cartão amarelo por jogada violenta contra Tarciso. (…) O
primeiro tempo terminou com muita neve. Alguns jogadores tinham a cabeça branca
e outros ainda sentiam frio, apesar dos 45 minutos de movimentação. A
visibilidade piorava e Carlos Martins admitia até mesmo a hipótese de ter que
suspender o jogo antes do final”.
O jornal Correio do Povo do dia 30 de maio de 2009 rememorou esta
história quando completava 30 anos e fez o seguinte relato do “jogo da neve”:
Correspondente
da Folha da Tarde no jogo, o jornalista do Correio do Povo Ilgo Wink ainda
recorda do aspecto prateado do campo. ‘Inesquecível’, diz. Os flocos tinham
caído antes, mas foi aos 30 minutos da etapa inicial que vieram com força. ‘A
neve chegou a cobrir o bigode do alegre Jesum’, escreveu na saudosa Folha.
Jogadores ficaram com as cabeças brancas. O técnico Orlando Fantoni lembrava da
neve da Itália.
A massa de ar polar era intensa e a carta sinótica publicada no jornal
mostrava o clássico cenário para neve com uma alta pressão continental e um
sistema de baixa pressão na costa. O primoroso relato de Ilgo Wink na Folha
terminou noticiando uma batalha. ‘Ao final do jogo, os torcedores, tanto de
Grêmio como Esportivo faziam uma divertida batalha de neve.’ Batalha essa que
ninguém se incomodaria em ver repetida.
“Quando chegamos em Bento a temperatura estava próxima do zero grau. E
caindo, caindo. Chegou a hora do jogo. Os jogadores entraram em campo. Fiquei com pena deles. O gramado úmido,
a temperatura no zero grau e um vento cortante como uma navalha, parecia que
atravessava a alma. Pouca gente no estádio. Noite boa para ficar em casa, tomar
um caldo quente com vinho tinto. Meus pés estavam congelados, quase não os
sentia. Os dedos da mão viraram picolé. O jogo começou morno na noite gelada. Ninguém queria nada com nada.
Prenúncio de 0 a 0, que acabou sendo o resultado final.
O vento estancou de repente. Parecia que o tempo havia parado. Em campo,
os jogadores corriam muito mais para se aquecer do que para jogar bola. De
repente, começaram a cair flocos de neve, que foram aumentando de intensidade
rapidamente. O campo ganhou uma camada fina de neve. Pensei no pessoal na
redação aquecida, na previsão do Hiltor. Pensei num café bem quente, num
cobertor de lã, num garrafão de vinho, uma canja de capeletti.
O Jesum, um ponta habilidoso e rápido, passou perto de mim. Seu enorme
bigode estava branco. Mais adiante, o carioca Paulo César Caju com sua
cabeleira coberta de neve. Na área, o Baltazar pedia a bola, braços erguidos.
Parecia que haviam congelados no ar.
No intervalo, eu e o Lupi Martins, grande parceiro e excelente repórter
da Rádio Guaíba, paramos para tirar uma foto e registrar aquele momento mágico.
Um colega de outra emissora, lá de Bento, entrou de gaiato. Eu estava congelado. Um boneco de neve. De barba, mas um boneco de neve.”
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