Um tornado atingiu Rio Grande no dia 23 de
outubro de 1960? Quase seis décadas depois do evento é difícil uma afirmação
científica sobre os acontecimentos da tarde daquele dia. Era um domingo, às
14h30, quando algumas áreas da cidade foram atingidas por um fenômeno
atmosférico que causou pesados danos estruturais em residências e na área
portuária. A matéria do jornal Rio Grande do dia 24 de outubro, deixa algumas
pistas sobre o que ocorreu naquela tarde: “Nada mais do que 56 segundos foram
suficientes para que um ciclone, provocasse danos de monta em vários pontos da
cidade (...) Redemoinhando como um pião, o forte vento atingiu a algumas zonas
da cidade, deixando marcas muito fortes, fazendo vítimas pessoais (feridos) e
demolindo casas de madeira. Enquanto na zona central nada mais do que uma chuva
forte ‘tocada a vento’ se fazia sentir, nas vilas Frederico Ernesto Bucholz,
Braz e Rural, ruíam casas de madeira, voavam telhados, caiam fios da rede
elétrica e pesadas árvores; também na zona compreendida pela rua Marechal
Andréa e adjacências, o flagelo produziu danos de monta”. Relatos enfatizaram
que casas foram arrancadas e jogadas em cima de outras casas!
A Capitania dos Portos Naval foi duramente
atingida e uma torre de Estação de Rádio foi totalmente inutilizada. Casas da
Vila Naval tiveram seus telhados danificados. Oficinas do DEPREC foram
destelhadas e o ginásio do Clube Náutico Honório Bicalho foi totalmente
destruído. “O espetáculo mais triste é o que ofereceram as vilas suburbanas,
onde, foram destruídas 169 casas de moradia, todas de madeira”. Pelo menos sessenta
e oito pessoas ficaram feridas, sendo atendidas na Santa Casa e uma mulher faleceu
na localidade da Barra. Estimou-se em mais de 100 milhões de cruzeiros os
prejuízos. Ampla campanha de mobilização
foi realizada para reconstruir as casas e minimizar a perda total que os
flagelados tiveram.
O jornal Rio Grande do dia 26 de outubro de
1960 deu mais uma dica em relação às condições atmosféricas: a Rádio Nacional
da Suécia, informou sobre a formação de um ciclone no sul do Brasil naqueles
dias. Ou seja, o fenômeno que atingiu Rio Grande está inserido no mau tempo
relacionado ao ciclone extratropical (que poderia provocar chuvas fortes e ventos
intensos) mas o nível de estrago “seletivo” (em alguns bairros) e a narrativa
do jornal referente aos “56 segundos que perdurou o vento” e a expressão “redemoinhando
como um pião” sugere, enquanto hipótese, a atuação de um “tornado” que tocou o
solo em alguns pontos até se dispersar na Lagoa dos Patos (canal de navegação
para São José do Norte).
Não esqueçamos, que o município do Rio Grande
está situado na periferia do Corredor de Tornados da América do Sul, o qual é o
segundo do mundo em atividade de fenômenos tornádicos.
Ilustrações: Jornal Rio Grande 23-10-1960; 25 e 26-10-1960.
Nenhum comentário:
Postar um comentário