A
revista literária e histórica Arcádia
(1867-1870), foi editada inicialmente em Rio Grande voltando-se a produção literária e
poética, apresentando crônicas e também monografias de caráter histórico. Um
raro exemplar de resgate da história da cidade do Rio Grande desde a sua
fundação em 1737 até 1868, foi elaborado por um colaborador da Revista C. E. Fontana que escreveu Apontamentos Históricos, Topográficos e
descritivos da cidade do Rio Grande, consistindo numa ímpar contribuição
para a historiografia local.
Os dados históricos referentes ao século XVIII
estão repletos de erros, porém as informações contemporâneas apresentados pelo
autor, mesmo que descritivas, são interessantes para identificar a urbanidade e
o desenvolvimento no período em que foi publicado os Apontamentos.
Rio Grande contava com 1870 casas edificadas e 37 estavam
em construção.
Haviam 115 sobrados de um andar e 2 em construção, além de 2
sobrados de dois andares e 1 de três andares.
DENOMINAÇÕES
DE RUAS E PRAÇAS
A cidade tinha 33 ruas, 4 becos e 7 praças. A
maioria das ruas haviam sido renomeadas recentemente devido à atuação
brasileira na então em
curso Guerra do Paraguai (1865-1870). As principais ruas
eram: Riachuelo (anteriormente denominada de Boa Vista), que se situava junto
ao porto; Pedro Segundo (antiga da Praia e atual Marechal Floriano) sendo a
mais importante rua com “lindos edifícios e quase toda calçada”; Príncipes
(antes Direita e atual Bacelar), uma das principais sendo renomeada em
homenagem ao Conde d’Eu; Paysandu (Pito e atual República do Líbano); Vinte de
Fevereiro (antes do Fogo e atual Luiz Loréa); Uruguaiana (Cômoros e atual Silva
Paes); Barroso (Canal) em honra ao herói da Batalha do Riachuelo; Caridade
(atual Coronel Sampaio), por estar localizada a Santa Casa de Misericórdia;
Francisco Marques, em homenagem ao primeiro morador da rua, pai de Tamandaré;
outras denominações de ruas vigentes em 1868 eram Alfândega (atual Andradas),
Castro (atual Duque de Caxias), Rasgado (atual General Netto), Câmara (atual
Carlos Gomes), Lousada, Quartéis (atual 24 de maio), Moinho (atual Aquidaban),
Trincheiras (atual General Portinho), Moron (antiga rua do Bom Fim), Zallony
(antigo Beco do corpo da Guarda), etc.
Entre
os largos e praças haviam a Sete de Setembro (antiga Praça do Poço), São Pedro
(atual Júlio de Castilhos), Caridade Nova (atual Barão de São José do Norte),
Tamandaré (antiga Praça dos Quartéis e Geribanda) e Municipal (atual Xavier
Ferreira). A Municipal consistia numa “vasta praça e único passeio recreativo
da cidade, é comumente denominada de Boulevard Rio-Grandense”, porém
“lamenta-se que não mereça mais atenção da edilidade”. Na praça Tamandaré,
existiam seis fontes públicas para coleta de água e lavagem de roupa,
erguendo-se no centro desta, “uma modesta cruz ali colocada em 1842 pela missão
jesuítica a estas plagas”.
OS CAMINHOS
DA CIVILIZAÇÃO
Fontana afirmou que a Igreja Matriz de São
Pedro encontrava-se pouco cuidada. Já a Igreja do Carmo “é o mais belo templo
da cidade e a ordem a mais rica corporação religiosa. Possui também um hospital
e está prestes a edificar um novo prédio para esse fim”.
O autor ressaltou o trabalho assistencial
realizado pelo Asilo para as Órfãs
Desvalidas “dando abrigo a muitas infelizes sem pai nem mãe e mais tarde
tornando-se pela educação e moral exemplos de sociedade”. Ressaltou o trabalho
da Santa Casa de Misericórdia que atendia anualmente cerca de 500 doentes, além
manter em funcionamento a Roda dos Expostos com mais de trinta indivíduos.
Neste período estava em construção “um grande e belo edifício para a Santa
Casa, que com algum empenho por parte do governo da província, poderia ficar
brevemente concluído”.
Outros prédios que se destacavam eram a Casa
da Câmara Municipal, o novo Mercado Público, a Cadeia Civil e o teatro Sete de
Setembro. Conforme Fontana, “o cemitério extramuros que teve princípio em 1855,
na época da epidemia, já possui alguns belos mausoléus. Próximo a este
cemitério achasse o dos protestantes”.
A instrução pública primária era constituída por quatro
escolas, duas do sexo masculino dirigidas pelos professores Julio Cezar Augusto
e Inácio de Miranda Ribeiro e duas do feminino com a docência de Maria Joaquina
Duval e Maria Fausta de Miranda Campello. A instrução secundária era exercida
apenas por uma aula de francês do prof. José de Pontes França, porém pouco
freqüentada.
Como uma das preocupações do período era a
civilização expandindo seus tentáculos através da educação e do desenvolvimento
urbano, o autor destacou o desenvolvimento da cidade rumo a este ideal. Em
relação a seu trabalho comentou: “contando com a benevolência do leitor, é que
ainda ofereço o meu raquítico trabalho à mocidade rio-grandense”.
Rua Riachuelo em 1865. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Primeira série de Arcádia (1867). Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
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