A coluna Memória & História do Jornal
Agora está completando 20 anos! A primeira matéria foi publicada no dia 2 de
agosto de 1998 e tinha o título de “Um Brummer na Cidade do Rio Grande” (a
passagem de um militar alemão na década de 1820). Pelo meu registro, foram
publicadas 790 matérias.
A proposta da coluna é evidenciar que os
processos históricos são constituídos por memórias - fragmentos do acontecer, a
serem dilapidados e interpretados buscando sistematizações mais amplas. Nestas
duas décadas inúmeros temas foram tratados mas a está ênfase na história do
município do Rio Grande. Não se pode esquecer que a história local está
inserida -com diferentes intensidades- em histórias mais amplas e que numa
cidade portuária, a dinâmica do acontecer da história regional, nacional e
internacional se faz sentir de forma mais contundente!
As matérias foram escritas com o intuito de
divulgar o conhecimento local e a perspectiva de que as experiências humanas
devem ser questionadas com o intuito de promover a reflexão dos projetos
civilizatórios. O material produzido sempre teve o objetivo de dialogar com os leitores
do jornal Agora e ser um material paradidático de apoio à rede escolar.
Portanto, as visitas ao passado tiveram o
intuito de refletir sobre os processos históricos e as historicidades da cidade
mais antiga do Rio Grande do Sul. Abordando temáticas referentes as populações indígenas, história colonial,
imperial e republicana, pudemos navegar pelos documentos, iconografias e
historiografia dos séculos passados. Em especial, nos voltamos “as gentes” que
compuseram a paisagem, as relações sociais e políticas elas construídas e as
materialidades que edificaram. Nunca esquecendo que a cidade é um grande espaço
de memória para propicia a elaboração de histórias...
Um piloto para a construção da coluna foi
publicado em 19 de fevereiro de 1998 com o título “Visões do Rio Grande”. O
amadurecimento da ideia em divulgar a história local levou a criação da coluna no
mês de agosto e o tempo passou ou as nossas experiências preencheram o tempo...
Vinte anos é um período de curta duração para
a temporalidade histórica mas de longa duração para quem escreve semanalmente. É
um desafio a ser enfrentado a cada semana e que exige a superação criadora vencendo
a fadiga do trabalho semanal na Universidade Federal do Rio Grande.
Parafraseando a afirmativa de Fernando
Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, posso dizer que o Memória &
História, ao longo de duas décadas, ajudou a ampliar a noção de superação e de
instigação de “alma investigativa”. A ritualização semanal da escrita
contribuiu para a ampliação dos horizontes da investigação do passado com os
pés no presente. Visitar o passado, com os olhos do presente e para pessoas de
tempos diversos: a historicidade do tempo é a unidade das multifacetadas
experiências históricas de gerações que navegam no tempo presente!
As memórias enquanto fragmentos dispersos de
um tempo que passou é o nosso objeto multifacetado a ser visitado e interrogado!
São objetos, cartas, documentos, jornais, prédios, chafarizes, ruas,
espacialidades reais e irreais que constituem a história coletiva e individual
de uma cidade. Quando questionamos a memória ela não será a reprodução do que
ocorreu no passado (palpável, odorífica, adrenalínica ou endorfínica) mas
poderá ser o catalizador de lembranças intensas para aqueles que a viveram. Por
outro lado, visitar memórias impessoais (aquelas que não foram vividas pelo
visitante do tempo pretérito) poderá ser fator de novas
experiências/conhecimentos e certamente, de reconstruções, pois as memórias são
a matéria-prima para novas construções mentais e práticas, superficiais ou mais
profundas, que compõem as amálgamas por vezes incoerentes que compõem a nossa
consciência a qual dá sentido para nossa existência.
Ao reconstruirmos as memórias estamos dotando-as
de vida, com novos sentidos e perspectivas: estamos fazendo com que pequenas
frações do passado permaneçam vivas rompendo com o célere passamento e a
diluição das obras das gerações anteriores. Na direção desta reflexão a coluna Memória
& História vai se convertendo em expressões de um tempo presente onde a
vida criadora se manifestou: a busca da compreensão da história (na coluna) se
converte em palavras dotadas de historicidade (as matérias) que são fragmentos
materiais preservados (o jornal) das experiências/vivências em sociedade
(memórias da historicidade fugidia).
Rua Marechal Floriano entre 1865-1870. As areias ainda não foram cobertas pelo calçamento. Quadra da esquina da Benjamin Constant em direção ao Beco do Afonso. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário