O pioneiro
aviador francês Pierre-Georges Latecoère, fundou no ano de 1918, em Toulouse, a
Société des Lignes Latécoère. No ano de 1927 passou a chamar-se Compagnie
Générale Aéropostale. Especializando-se no transporte de serviços postais, a
Aéropostale ligava Toulouse a Barcelona, Casablanca (Marrocos), Dakar
(Senegal), cidades brasileiras como Natal e Rio de Janeiro, além da linha
ligando Buenos Aires e o sul do Brasil.
Nos
primórdios da aviação, os pilotos eram egressos do serviço militar e se
constituíam, quase sempre, em ex-combatentes da I Guerra Mundial escolhidos por
sua bravura. Afinal, o índice de confiabilidade dos aviões ainda era restrito e
os acidentes eram comuns. Mau funcionamento mecânico ou condições atmosféricas
desfavoráveis levavam a acidentes graves. Os pilotos, ostentavam em seu corpo,
o resultado de quedas ou incêndios em suas aeronaves. As cicatrizes significavam
bravura e experiência, resultado de vôos em condições extremamente precárias.
A
Aéropostale envolveu-se num escândalo referente a pagamentos postais do governo
francês e deixou de operar em 1932. Porém, seu capital fez parte da composição
da Air France que surgiu em 1933 e se tornou uma das maiores empresas de
aviação do planeta. Em 1934 Saint-Exupéy ingressou na Air France, tendo por
missão divulgar as aventuras aéreas e a importância da aviação nos tempos
pioneiros.
Portanto, dos quadros de aviadores da Aéropostale surgiu
o “poeta da aviação” Antoine de Saint-Exupéry que nasceu em Lyon em 29 de junho
de 1900 e que a partir de 1926 ingressou na Aéropostale com missões
diplomáticas entre Touluose e Casablanca/Dakar. Clássicos da literatura como “Vôo
Noturno” (1931) e “O Pequeno Príncipe” (1943) tiveram como tema as experiências
reais e fictícias de Saint-Exupery em suas viagens aéreas pela Europa, norte da
África e América do Sul. O livro “Correio Sul” foi publicado em 1929, fruto da
permanência do autor na opressora solidão do deserto do Marrocos.
O capítulo de sua trajetória - que interessa de forma
mais direta aos rio-grandenses -, ocorreu a partir de setembro de 1929 quando
ele é designado como diretor da Aéropostale (Aeroposta Argentina). Fruto destas
experiências na região platina foi publicado “Vôo Noturno” e neste período de
1929-1931, ele fez muitas viagens pelo céu do Brasil, pois havia 11 escalas da
Aéropostale em território brasileiro.
Em 1935, tentando o raid Paris-Saigon junto com seu
mecânico Prévot, Saint-Exupéry sofre um acidente no deserto da Líbia onde permanecem
entre a vida e a morte até serem salvos por um beduíno. Um novo raid, na
Guatemala, acaba resultando em outro acidente extremamente grave que lhe deixou
novos ferimentos e seqüelas físicas. Em 1939, ele publicou “Terra dos Homens”,
ressaltando a história de aviadores da Aéropostale.
Na II Guerra Mundial, lutando pela França em 1940,
torna-se piloto de reconhecimento e em 1942, parte para os Estados Unidos, onde
escreve o livro até hoje lembrado: “O Pequeno Príncipe” com ilustrações por ele
feitas. É autorizado a se reintegrar as missões de reconhecimento aéreo no
Mediterrâneo e desaparece sobre este Mar no dia 31 de julho de 1944, surgindo
um longo mistério sobre o seu destino. Em 1998, um pescador resgata no mar de
Marselha um bracelete com o seu nome gravado e os destroços do avião P-Lightining
38 que finalmente foi localizado.
O famoso aviador realmente esteve no Rio Grande do Sul? A
resposta é sim! Entre os anos de 1929 e 1931 ele fez muitas viagens entre
Buenos e cidades brasileiras trazendo correspondências para localidades onde
havia escalas da Aeropostale. Foi o caso de Porto Alegre e Pelotas. Na capital
rio-grandense, o próprio escritor em seu livro “Vôo Noturno” deixou este
registro durante um vôo: “Havia brumas para os lados de Porto Alegre”. Ele foi
identificado tomando o refrigerante hidrolitol nos cafés da Rua da Praia no
centro de Porto Alegre vestindo “os casacos de couros que os aviadores, e só
eles, então vestiam” (Nilo Ruschel, “Rua da Praia”) e também participou de um
churrasco na zona sul da capital junto com o piloto Jean Mermoz.
Já em Pelotas as evidências de sua permanência são
difusas. A Aeropostale mantinha uma pista de pouso, oficina mecânica e uma casa
nesta cidade e o famoso aviador Jean Mermoz participou de atividades sociais na
cidade as quais foram documentadas. Mas Saint-Exupery? Em artigo de A.F. Monquelat e Jonas Tenfen (http://www.amigosdepelotas.com.br) esta questão é levantada. Estes escritores citam a biografia J’ai vécu l’épopée de l’Aéropostale do mecânico Marcel Moré em
colaboração William Desmond como fonte para alguns esclarecimentos.
Marcel Moré escreveu em seu livro que
Saint-Exupéry aterrissou um dia em Pelotas, vindo de Buenos Aires, no comando
de um avião Laté-28, possivelmente nos primeiros meses de 1930. Era apenas uma
escala técnica para seguir para o Rio de Janeiro. Porém o mecânico escuta um
barulho anormal do motor e fez sinais para que o avião não decolasse. Ocorreu
uma troca de aviões, com Saint-Exupéry pilotando o avião reserva um modelo
Laté-26 (menos veloz e mais desconfortável) para a viagem até o Rio de Janeiro.
Examinando o motor, constatou-se que uma peça mestra da hélice estava
seriamente avariada e que o avião não suportaria mais 15 minutos de vôo. Ou
seja, o avião poderia ter sofrido uma queda anterior a chegar a Pelotas ou
certamente sofreria um acidente minutos após decolar.
Na passagem seguinte por Pelotas, foi
explicado ao piloto-escritor que o avião estava com sério problema e ele teria
agradecido a Moré por ter impedido a decolagem que poderia ser fatal. Segundo
Monquelat e Tenfen “podemos afirmar que Saint-Exupéry esteve e não esteve em
Pelotas. Pousou no aeródromo em escala compulsória e parte do serviço (por isso esteve no aeródromo), mas não freqüentou
Pelotas, não recebeu homenagens ou jantares (por isso não esteve na cidade)”.
Realmente, neste período ele ainda não era o
famoso escritor e divulgador da aviação que atraia multidões para conhecê-lo. É
preciso ressaltar que pesquisas em estão andamento buscando novas evidências
sobre a presença do aviador no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Ilustrações: cartão-postal, selos e notas de franco (emitidos na França) comemorativos a Saint-Exupéry.
Nenhum comentário:
Postar um comentário