Estação da Quinta no final do século 19. Acervo: livro "Patrimônio Ferroviário no Rio Grande do Sul". |
Recomendo os
leitores a visitarem o endereço http://estacaoquinta.blogspot.com.
Neste endereço, Cledenir Vergara Mendonça, Especialista em História do Rio
Grande do Sul (FURG), elaborou reflexivos textos contando um pouco da história
e da cultura da Vila da Quinta. Reproduzo a seguir, o escrito referente a
eventos históricos relacionados à ocupação do espaço e a organização
político-administrativa da localidade.
Conforme
Cledenir, no mapa de Cano e Olmilla de 1777, a área correspondente ao atual distrito,
já consta a denominação ‘Quinta do Cap. Mor’. Segundo consta a tradição oral, a
origem do nome Quinta vem de uma enorme quinta de árvores frutíferas de uma
residência que existia na estrada que segue para o Taim. Tratava-se de uma
grande casa em estilo colonial com 12 peças, aberturas com para-peito em
granito, com vestígios de mármore e na entrada, um vasto portão em forma de
arco. O antigo casarão desabou a mais de 20 anos. Seu estilo arquitetônico e os
materiais utilizados nos remetem aos padrões de construções dos meados do
século XIX.
A quinta do
Capitão Mor, quartel, local de moradia e feições militares/administrativa,
fazia parte naquele de um sistema de ocupação territorial baseada nas antigas
sesmarias – modelo de concessões de terras – variando entre 10 a 13 mil hectares – da
Coroa Portuguesa para a ocupação e proteção de seus limites. Todos os campos do
Povo Novo, Torotama e Taim estão relacionados ao nosso inicio do povoamento
pelo homem europeu, firmando assim, a posse definitiva do território sul.
A geografia
dos campos da Quinta esfacela-se ao longo do tempo com as contínuas divisões,
vendas permutas e heranças. No inventário de Sebastião José Castanheira de 1862, a área que lhe
pertencia, foi dividida em nove partes para os seus herdeiros. De acordo com as
escrituras, na página 11 do inventário cita: “ huma horta de arvoredo de
fructas por um conto de réis – lugar denominado Quinta.”
As
significativas mudanças estruturais viriam mais tarde, com o levantamento do
traçado topográfico da futura estrada de ferro. Delineava-se em 02 de dezembro,
com a inauguração da Estação Férrea, um novo capítulo da organização urbana do
futuro distrito. O então povoado de escassas residências adotava o nome de
Estação Quinta. Agora não seria mais uma moradia de caráter militarizado com
suas árvores frutíferas o referencial histórico do nome herdado, mas sim, um
suntuoso prédio de alvenaria e telhas de zinco que, no trajeto ferroviário,
seria um ponto de parada estratégico e obrigatório aos caminhos do sul.
Com a
proclamação da República em 1889 e a Constituição de 1891, esperava-se uma
verdadeira revolução democrática no país, o que acabou não acontecendo. Sem a
participação popular e que desconhecia os novos ventos do regime, a política
exercida na jovem República estava enclausurada ainda nos moldes monárquicos.
Mulheres, analfabetos e menores de 21 anos não votavam. Em compensação, um
imenso eleitorado fantasma desfilava nas urnas do país inteiro. Esse domínio a
arbitrariedades diversas ao longo da República Velha tinha por base uma extensa
rede de relações, cujo ponto inicial estava na estrutura agrária, no latifúndio
monocultor, na grande estância e na dependência entre trabalhadores e peões com
os grandes fazendeiros e senhores de terras.
Era a
representação eleitoral manobrada pelo coronelismo e pelos currais eleitorais
que garantiram um longo sucesso ao regime. O Rio Grande do Sul não era exceção
na geografia política do país, nem mesmo os pequenos povoados e seus chefes
políticos. A incipiente Estação Quinta contribuía com seus coronéis nessa ordem
dominante através de apoio logístico, sustentado basicamente na sua estrutura
latifundiária. Essa essência republicana convivia intimamente com seus capitães
e coronéis. Era mais de 70 nomes do Partido Republicano Rio-Grandense dos
distritos rurais, com a sede na povoação, agrupados no Centro Republicano em 1909.
Na ordem ou
na desordem, nas concessões fraudulentas, no livre transito, nas melhorias na
igreja, nas pontes ou nas estradas ou posses legais ou não de terras, passavam
pelas bênçãos do poder local. As manifestações da política regional, o
cotidiano da vida social e política entranhavam no modo de viver da maioria das
pessoas. Tínhamos o subintendente e o subdelegado, chefes maiores da
organização distrital e que representavam o último contato entre o povo e o eleitorado.
A povoação
da Quinta crescia neste emaranhado de jogos de poder. Passava aos poucos a ser
o contato inicial, o entorno das ações políticas, centralizada pela sua posição
geográfica. Nossos chefes locais tinham suas origens na monarquia e na
escravatura. Pequenos estancieiros ou grandes latifundiários, não importava,
tinham em sua base econômica as atividades ligadas à pecuária.
Fiéis aos
seus princípios inauguram a Sociedade e Instrução e Recreio da Quinta em 1903.
Queriam um clube que dispusesse de recreação, cultura e divertimento para a
elite quintense. Em 1906, surge o jornal O Gaúcho, dedicado aos interesses dos
moradores da campanha. Durou até 1909. Antes disso em 1892, em frente à
Estação, surgia a Fábrica de Pentes e Barbatanas, uma espécie de pioneirismo industrial
no interior de Rio Grande.
No inicio
dos anos de 1900, já funcionava a empresa de transportes de Quintino Machado e
Manuel Cunha, que instituíram linhas regulares de três vezes ao mês ligando
Quinta/Taim/Santa Vitória do Palmar, com sua diligência puxada com cavalos. Em
31 de dezembro de 1909, foi criado o 5º distrito com o nome de Julio de
Castilhos pelo então Intendente municipal, Dr. Trajano Augusto Lopes. Respirava-se
certo orgulho e a indispensável sensação que o melhor que havia fora do centro
do município, estava no novo distrito, desmembrado do Povo Novo. O trem só não
circulava com passageiros ou produtos, como era o único meio de transportes de
longo curso terrestre. Circulavam também idéias e conhecimentos com uma rapidez
estupenda quando comparadas às informações vindas pelos emissários a cavalo do
tempo distante.
Com a
oficialização e a criação jurídica do distrito, surgiu o Cartório distrital
(1910) a Igreja da Penha (1912), a Escola Agrícola com os padres Josefinos
(Ordem de São Jose de Murialdo) em 1915, diminutos hotéis, expansão do comércio
atacadista, cooperativas de cebola e os encantos dos bailes de negros. O nome
de Julio da Castilhos fora suprimido em 1916, mas somente em 1938 ficou
oficializado o nome Vila da Quinta, o 5º distrito de Rio Grande.