Gravura do Chalet dos Dois Bicos em 1890 publicada no jornal O Bisturi. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Uma das
construções mais exóticas construídas no Balneário Cassino foi o Chalet dos Dois Bicos. Quando surgiu,
onde se localizava, em que ano foi demolido e qual a sua funcionalidade?
Comecemos
a partir da sua funcionalidade. Com a inauguração do Balneário em janeiro de
1890, o afluxo do público impõe a necessidade do fornecimento de comida aos
veranistas. Atividade em parte realizada pelo Hotel Casino que em seu restaurante servia refeições para os
hóspedes. Já no mês de março, frente à intensa demanda, foi contratado o
gourmet René Pascal do Hotel Paris, para suprir os sabores da mesa. Porém, o
Hotel Casino não ficava junto a praia, sendo necessário percorrer algumas
centenas de metros a pé, a cavalo ou pegando o bonde puxado a burros que levava
até outra antiga construção: o Chalet dos
Dois Bicos. O chalet, inicialmente, era um restaurante a beira-mar, a
última construção antes do deleite das águas do Oceano Atlântico. Neste local,
quase tocado pelas águas, os veranistas faziam refeições e provavam petiscos
com o sabor do mar. Porém, no ano de 1908, o Chalet era a residência de um
importante político rio-grandense: o maragato Ramiro Barcelos, nada menos que o
autor do livro Antonio Chimango, que
lançava pesadas críticas (sem citar nomes...) ao governador do Rio Grande do
Sul Antonio Augusto Borges de Medeiros e popularizava o termo chimango. Portanto, o chalet também foi
utilizado como residência. O período de ocupação e a data de sua demolição é
incerta...
Mas
se não sabemos o epílogo da construção, uma publicação do ano de 1890 (O Artista) nos traz a gravura mais antiga
existente do Chalet. Ele já estava aí quando nasceu o Balneário e ao lado dele,
as estruturas de madeira para troca de roupa pelos banhistas. Poucos metros à
frente estava a água. É claro que às inúmeras histórias cotidianas aí ocorridas
viraram silêncio. Mas desvendamos o ano de seu nascimento, 1890, a sua funcionalidade
como restaurante e posteriormente, residência de um destacado político. Mas
onde ele se localizava é um dos itens mais interessantes para os estudos
históricos relativos a linha de praia do Cassino. A Avenida Rio Grande tinha
terrenos e casarões no lado direito e esquerdo, com um canteiro central, num
formato próximo ao atual. O Chalet não ficava a direita nem à esquerda, mas no
centro da avenida, aproximadamente, num ponto onde hoje a av. Rio Grande cruza
com a av. Atlântida. Se as águas ficavam relativamente próximas ao Chalet, a
linha média da água deveria ficar no máximo na altura do atual Barracão. A
localização em que estava, também é um fator que justifica a necessidade de sua
demolição.
Constatamos
que nestes últimos 129 anos, o recuo do Oceano em centenas de metros, foi muito
expressivo na Praia do Cassino. É claro que nada comparado com o cenário de
recuo marinho que se tinha há 17.000 anos atrás, durante o período glacial,
quando o Balneário Cassino teria que ser construído 70 km mar adentro em relação
a localização atual. Mas esta é outra história...
Cartão produzido pelo Estúdio Fontana com a imagem do Chalet dos Dois Bicos no ano de 1908. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. |
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