Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O CHALET DOS DOIS BICOS

Gravura do Chalet dos Dois Bicos em 1890 publicada no jornal O Bisturi. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

         
Uma das construções mais exóticas construídas no Balneário Cassino foi o Chalet dos Dois Bicos. Quando surgiu, onde se localizava, em que ano foi demolido e qual a sua funcionalidade?
         Comecemos a partir da sua funcionalidade. Com a inauguração do Balneário em janeiro de 1890, o afluxo do público impõe a necessidade do fornecimento de comida aos veranistas. Atividade em parte realizada pelo Hotel Casino que em seu restaurante servia refeições para os hóspedes. Já no mês de março, frente à intensa demanda, foi contratado o gourmet René Pascal do Hotel Paris, para suprir os sabores da mesa. Porém, o Hotel Casino não ficava junto a praia, sendo necessário percorrer algumas centenas de metros a pé, a cavalo ou pegando o bonde puxado a burros que levava até outra antiga construção: o Chalet dos Dois Bicos. O chalet, inicialmente, era um restaurante a beira-mar, a última construção antes do deleite das águas do Oceano Atlântico. Neste local, quase tocado pelas águas, os veranistas faziam refeições e provavam petiscos com o sabor do mar. Porém, no ano de 1908, o Chalet era a residência de um importante político rio-grandense: o maragato Ramiro Barcelos, nada menos que o autor do livro Antonio Chimango, que lançava pesadas críticas (sem citar nomes...) ao governador do Rio Grande do Sul Antonio Augusto Borges de Medeiros e popularizava o termo chimango. Portanto, o chalet também foi utilizado como residência. O período de ocupação e a data de sua demolição é incerta...
         Mas se não sabemos o epílogo da construção, uma publicação do ano de 1890 (O Artista) nos traz a gravura mais antiga existente do Chalet. Ele já estava aí quando nasceu o Balneário e ao lado dele, as estruturas de madeira para troca de roupa pelos banhistas. Poucos metros à frente estava a água. É claro que às inúmeras histórias cotidianas aí ocorridas viraram silêncio. Mas desvendamos o ano de seu nascimento, 1890, a sua funcionalidade como restaurante e posteriormente, residência de um destacado político. Mas onde ele se localizava é um dos itens mais interessantes para os estudos históricos relativos a linha de praia do Cassino. A Avenida Rio Grande tinha terrenos e casarões no lado direito e esquerdo, com um canteiro central, num formato próximo ao atual. O Chalet não ficava a direita nem à esquerda, mas no centro da avenida, aproximadamente, num ponto onde hoje a av. Rio Grande cruza com a av. Atlântida. Se as águas ficavam relativamente próximas ao Chalet, a linha média da água deveria ficar no máximo na altura do atual Barracão. A localização em que estava, também é um fator que justifica a necessidade de sua demolição.
Constatamos que nestes últimos 129 anos, o recuo do Oceano em centenas de metros, foi muito expressivo na Praia do Cassino. É claro que nada comparado com o cenário de recuo marinho que se tinha há 17.000 anos atrás, durante o período glacial, quando o Balneário Cassino teria que ser construído 70 km mar adentro em relação a localização atual. Mas esta é outra história...
Cartão produzido pelo Estúdio Fontana com a imagem do Chalet dos Dois Bicos no ano de 1908.
Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande. 

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