Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O POVO NOVO

Inauguração da Subprefeitura do Povo Novo em 1904. Acervo: Papareia.

         A postagem anterior foi a história da Vila da Quinta. Nesta postagem, indico novamente a leitura do historiador Cledenir Vergara Mendonça e remeto ao texto que trata da Igreja do Povo Novo. Este e outros artigos organizados por Cledenir, estão disponíveis para leitura no endereço http://estacaoquinta.blogspot.com.  


O Povo Novo surgiu em 1763 sendo um povoamento constituído por lavradores luso-açorianos formado durante a invasão espanhola no Rio Grande de São Pedro entre 1763 a 1776. O assentamento estava localizado à margem da Estrada Real da Palma, onde os espanhóis colocaram parte dos colonos luso-açorianos que não conseguiram retirar-se ante a invasão. Carreiros, Paulista e Mangueira foram os outros núcleos para assentarem colonizadores sem condições de fuga ou que por escolha, decidiram permanecer em Rio Grande. O historiador João Borges Fortes realça essa possibilidade, afirmando “[...] que em conseqüência da invasão alguns teriam ficado em suas terras na Vila do Rio Grande; outros fugiram para Santa Catarina e que a maior parte teria acompanhado o governador Elói de Madureira em seu êxodo para Viamão”
Assim sendo o núcleo da Torutama, que já existia anteriormente (a Fazenda Real na ilha da Torutama), recebeu a maior parte das famílias portuguesas, formando o Pueblo Nuevo del Torutama nas terras pertencentes a Manoel Fernandes Vieira, que se retirou durante o domínio espanhol.
Quando da restauração das terras portuguesas, o antigo proprietário retoma a área, originárias estas das primeiras doações de sesmarias na região, as 112 famílias de lavradores e criadores são transferidos para o Rincão d’El Rey, a área hoje compreendida pelo atual distrito. Desenhava-se assim um novo processo de firmação fundiária e social quanto ao domínio português pós- tratado de Santo Idelfonso de 1777, ao menos nesta região.
Com a mudança, no ano de 1777, “[...] alguns destes portugueses e outras famílias foram habitar o novo lugar duas léguas distantes, e aí edificaram uma casa para celebrar missa [...]”. Regularizou-se a posse da terra a moradores que possuíam títulos e animais – eram 91 – e também os que não tinham a posse de terra durante a invasão, somando 47 proprietários, mas não fora uma ação imediata este processo de estabilização. Miséria, caos e indefinições marcaram o período de estruturação do povoado, quando somente em 1785 os proprietários regularizaram suas propriedades com doações de terras pela Coroa Portuguesa. As datas de terra prometidas (1 data=272hectares) viraram para a maioria pequenas áreas que raramente ultrapassavam os 10 hectares, verdadeiros minifúndios com assentamentos demorados. Porém, quando instalados, ocorreram pressões por parte dos latifundiários que possuíam sesmarias (equivalente a 13.000 hectares). Conforme um morador do período, “fizeram-nos e, não por exceção, abandonar terras ou pagar pelas que legalmente lhe pertenciam por doação governamental.”
Por Provisão Eclesiástica de 07/02/1785, cria-se a Capela Curada de Nossa Senhora das Necessidades do Povo Novo, tendo como capelão o Padre Manoel dos Santos Rezende, nomeado em 05/12/1785. Os Livros de assento de Batismo, livres ou de escravos, de Casamento e Óbitos, começam em 1792 e estão na Mitra Diocesana em Rio Grande. Em 1795 a Capela foi elevada a Curato dependente da Matriz do Rio Grande, a Igreja de São Pedro. Por lei da Assembléia Provincial de 06/05/1846, lei nº 35, Povo Novo é elevado a Paróquia, criando assim a Freguesia do Povo Novo. Estivera pregando no local o padre jesuíta Tiago Villarupia e o primeiro pároco Raimundo Tarrago, foi nomeado em abril de 1847 .
Nesse sentido é importante citar o único padre colado, o padre Estevão de Semiglia, nomeado em 27/10/1856, sendo apresentado por decreto do Governo em 25/02/1865 e confirmada canonicamente a 4/3/1865 por D. Sebastião Dias Laranjeira, que criara a Vara Eclesiástica em junho de 1863.
O desenvolvimento viria em um primeiro ciclo com a cultura do trigo. Assim ficou demarcada a opulência econômica no final da década de 1780 com o plantio de 7.472 hectares de trigo no Povo Novo até a retração da cultura nos campos a partir das primeiras décadas dos anos 1800. Aos poucos, a produção de bois para as charqueadas em Pelotas e culturas de subsistência voltadas para o abastecimento da Vila do Rio Grande, identificavam igualmente o modelo produtivo característico desenvolvido pela Província desaparecendo a produção em larga escala da cultura do trigo.
A Freguesia ia se desenvolvendo. Os negros cativos equivaliam a 40% do universo dos moradores, com predominância de açorianos e seus descendentes, formaram um mosaico cultural e social que aproximava a localidade com Pelotas.
Em 12/12/1913, a capela deixou de ser a sede da Paróquia, sendo esta transferida pelo Bispo de Pelotas para a Igreja de Nossa Senhora da Penha, no nascente distrito de Julio de Castilhos, hoje Vila da Quinta. Quanto às reformas solicitadas, e isto não significa inserções arquitetônicas no mesmo período, cita-se na ata da Câmara Municipal do Rio Grande em 13/02/1856, que a Igreja precisava ser reformada, pois o “telhado estava arriado, imagens defeituosas e precisando de 5 banquetas completas para os 5 altares” e a reclamação que os 6 contos de réis decretados pela Assembléia Provincial ainda não havia chegado. Já no ano de 1878, forma-se uma comissão na povoação para novos melhoramentos na Igreja das Necessidades. É bem provável que pequenas obras tenham sido feitas, porém no ano de 1958, quando ocorre o tombamento lateral e da cobertura, a Igreja foi reconstruída seguindo o mesmo estilo e tipificação arquitetônica.

2 comentários:

  1. Obrigado pelo texto, sou morador do Povo Novo, há 15 anos e administro um grupo no FaceBook chamado Estação Povo Novo, objetivo melhorar o conhecimento da comunidade de si mesma... Assim peço Autorização para compartilhar sua postagem. Desde já obrigado.

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  2. Boa noite: Podes reproduzir o que for de seu interesse para divulgação de conhecimento histórico. Postagens ou imagens. Atenciosamente, prof. Torres

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