Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE NO CEMITÉRIO

 

Echo do Sul. 21-03-1912. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Matéria estranha publicada no Echo do Sul do dia 21 de março de 1912! 

Conforme o responsável pela ronda na empresa têxtil União Fabril/Rheingantz, assovios e fogachos eram escutados de dentro do Cemitério. Especialmente, nas noites de quinta-feira. 

Coincidência ou não, o maior número de relatos sobre transformação em lobisomem ocorria entre a meia-noite da quinta-feira para a madrugada da sexta-feira (sei disso pois estou escrevendo um livro sobre as raízes históricas dos lobisomens).

Os rapazes armados encontraram a fonte dos sons? Alguém voltou para contar o que viu? 

Mas voltaram. E nada viram... Porém, o detalhe é que não permaneceram até a meia noite!

Echo do Sul, 22 de março de 1912. 


No dia 25 de março o mistério aumentou! Conforme o Echo do Sul "várias pessoas que regressavam no bonde das 11 horas da noite do Parque, sábado último (dia 23), afirmaram-nos terem visto três vultos suspeitos". Um dos vultos tinha a "cara mascarada". Os fatos ocorridos no cemitério levaram a que o vigilante da União Fabril tenha se demitido "
hoje do cargo que ocupava".   


Echo do Sul, 30 de março de 1912. 

No dia 30 de março o assunto se tornou extremamente complexo com o ferimento a bala do leiteiro sr. José Seixas de Lemos. O bando de vigilantes que atuava no Cemitério viu um vulto sobre a parede sul e fez vários disparos que acertaram o alvo. O ferido foi recolhido para sua casa e não quis dar explicações sendo acolhido por um dos vigilantes, engenheiro da Companhia Francesa, que era seu amigo íntimo. O que Seixas de Lemos estava escondendo? 

Na edição do dia 1 de abril de 1912 foi esclarecido o mistério dos assovios no cemitério. Literalmente, a solução veio a tona no "dia dos bobos". 

Acredite quem quiser: "Foi averiguado tratar-se de um enorme macaco fugido há dias da casa do sr. Seixas de Lemos, o mesmo que na edição anterior noticiamos estar sobre um dos muros do Cemitério, na ocasião em que chegou a ronda que patrulhava aquele local. O feroz animal esta noite foi morto ali por um grupo de populares, ficando exposto naquele à visitação pública. Mede um metro e setenta e cinco centímetros de altura e tinha uma força prodigiosa, segundo declarou seu dono. Muitas pessoas estiveram hoje no Cemitério, admirando o perigoso animal que trouxe sobressaltos aos moradores daquelas imediações. O ferimento que recebeu o sr. Seixas de Lemos não tem a importância que se julgava. estando ele já completamente restabelecido". 

Imaginei inúmeros cenários para estes acontecimentos. Jamais pensaria neste desencadear envolvendo um "macaco"! No momento que escrevo esta matéria é que fiz a leitura do jornal e o queixo está caído. Orelhas de jumento parecem estar crescendo... 

Será que algum jornalista leu Assassinatos da Rua Morgue (1841) de Edgar Allan Poe e fez uma adaptação ao Cemitério em Rio Grande?

A solução foi dada de forma tão rápida como se tudo tivesse que ser enterrado (e o cemitério é o local ideal para o enterramento do caso...). 

Ao mesmo tempo, divaguei, a transformação de um homem em um animal muito peludo, forte, ágil e veloz, o macaco, lembra muito as qualidades de um lobisomem.  O corpo do macaco realmente ficou exposta para visitação? Ou seria uma roupa peluda tendo em seu interior o homem que, com a morte, voltou a sua condição original de hominídeo?

Qual destas explicações é a mais absurda nesta história insana? 
  

MISS SAHARET

Echo do Sul, 05-04-1913. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

 O anúncio foi publicado no jornal Echo do Sul do dia 4 de abril de 1913. No Cinema Rio Branco seria apresentado o filme "Na Prisão Dourada" com a dançarina Miss Saharet. 
A curiosidade inicial era sobre o conteúdo do que era apresentado aos frequentadores do cinema naqueles primórdios do século XX. Inclusive os padrões estéticos de beleza e do estilo de dança. Neste caso, a dançarina destacou-se em quadrilhas francesas e danças picantes de cooch. 

https://www.digitalcommonwealth.org/search/commonwealth:vh53xm83z

E a convergência se deu em saber quem seria esta atriz? Fiz uma pesquisa na internet e as informações estavam difusas. Mas a pesquisa avançou e foi possível um desvelamento preliminar para saber quem é a mulher da fotografia. 

Trata-se de Paulina Clarissa Molony (1878-1964) conhecida como Saharet (referência ao deserto do Saara e a dança do ventre) uma australiana cujo pai era irlandês e a mãe parcialmente chinesa. Com apenas 13 anos já estava se apresentando com uma companhia teatral em São Francisco, Estados Unidos. Destacou-se como dançarina e realizou sete filmes (produções alemãs). Casou-se três vezes com maridos nascidos na Alemanha. O auge de sua fama foi entre 1905-1914, tendo realizado "Na Prisão Dourada" ou "Em uma Gaiola Dourada" em 1912. Aposentou-se da dança em 1920. 

O anúncio não exagerou ao se referir a "célebre dançarina" pois realmente ela havia chegado no auge da carreira. 
Saharet (à direita) no filme alemão que foi projetado em Rio Grande.
Acervo: Biblioteca Digital de História da Mídia. 

A escritora austríaca Hermynia Zur Mühlen viu Saharet se apresentar ainda criança. Em sua autobiografia, ela lembrou : “Tenho visto muitos dançarinos desde aquela época, incluindo todo o balé russo, mas nunca mais vi uma graça e um encanto tão completamente naturais, a expressão, simultaneamente, de um pequeno animal selvagem e de uma linda mulher refinada.”

Saharet por Jean Reutlinger. Acervo: Biblioteca Digital Gallica. 

Os antigos jornais permitem buscar a historicidade de personagens que se destacaram no passado e cujas memórias se perderam ao longo das décadas. Estas investigações possibilitam refletir sobre experiências culturais e valores cultuados em outras temporalidades. As trajetórias de vida também nos ensinam sobre a transitoriedade do sucesso e da insustentável materialidade da corporeidade humana. 

Acervo: Biblioteca Nacional da França. 


quarta-feira, 30 de agosto de 2023

COMPANHIA DE OPERETAS - AGULHA NO PALHEIRO (1912)


Echo do Sul, 18 de março de 1912. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 


O anúncio do jornal Echo do Sul de 18 de março de 1912 destaca a apresentação da Grande Companhia de Operetas, Mágica e Revistas do Theatro Apollo de Lisboa. A "suntuosa revista portuguesa em três atos e doze quadros -Agulha no Palheiro-, considerada pela crítica a melhor de quantas tem sido representadas nos últimos anos". A estreia ocorreu no dia 21 de março no Polytheama Rio-Grandense. 

A edição do Echo do Sul de 22 de março tece inúmeros elogios a apresentação da Opereta Portuguesa.



Echo do Sul, 22-03-1912. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 


Cruzando a informação na internet encontrei uma página (https://restosdecoleccao.blogspot.com/2015/04/teatro-apolo.html) com imagens de "Agulha no Palheiro" obtidas no Theatro Apollo em Lisboa.   
As imagens abaixo permite conhecer um pouco do que foi apresentado em Rio Grande em março de 1912. 


Divulgação da atividade teatral realizada no Teatro Apollo em Lisboa com data de 4 de abril de 1911. Acervo: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhw5sqG1NvJ4nRMsDsNw9EzsUvsTHOeVjuThe8508Y73aBoaOLoBVdkvctEGp1e44GDsb3kBdm8XtBhb-jgkEDKYJ_6UQ5hVF0FbD8vdzJHbOpYO1IZiKaCw0d9-WHthlOeGDTM806XgPY/s1600-h/Teatro-Apolo.4-Abril-19115.jpg 

terça-feira, 29 de agosto de 2023

SANTO BECHI & CIA EM 1908

 

Foto de José Boscagli (1908). Acervo: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/11830


Na Exposição Nacional do Rio de Janeiro em 1908, a Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira Santo Bechi & Cia se fez presente no pavilhão industrial do Rio Grande do Sul. 

Nesta vitrine estão tecidos, linhas, rendas etc, produzidos na cidade do Rio Grande por esta empresa. 

Abaixo uma visão geral da Exposição nas fotografias de Augusto Malta. 

https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/5481

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

HOSPITAL BENEFICÊNCIA PORTUGUESA - 1947

Acervo: Luiz Henrique Torres. 
 

Cartão-postal fotográfico sem editor mostrando a Rua General Vitorino (mão dupla) com destaque para o prédio do hospital Beneficência Portuguesa. A Praça Tamandaré está ao lado esquerdo. 

O ano é 1947. 

domingo, 27 de agosto de 2023

COMPANHIA PERSEVERANÇA DE SEGUROS

https://www.avenidalivros.com.br

 

https://www.avenidalivros.com.br

Esta é uma apólice de seguro contra incêndio contratada pelos sr. Daniel Waughan na quantia de dezoito contos de réis. As propriedades descritas na apólice estariam asseguradas no caso de sinistro por fogo. A assinatura remete a onze de janeiro de 1883. Há quase 140 anos. 

É o primeiro documento que visualizo desta "Companhia Perseverança de Seguros Marítimos e Terrestres". Quando foi estabelecida na cidade do Rio Grande e até quando aqui funcionou? 

A imagem que identifica a empresa é muito relevante. Pena não ser possível identificar o nome da tipografia, pois foi realizado um ótimo trabalho imagético. O prédio da Alfândega é mostrado em detalhes entre a esquina da Rua Marechal Floriano (lado esquerdo com um pequeno detalhe da praça Xavier Ferreira) com a Rua Ewbank (onde tem pessoas caminhando, um homem a cavalo e o porto com embarcações ao fundo).  A mulher (demonstrando equilíbrio e harmonia) está sentada sobre caixas/pacotes que representam mercadorias que são fontes da riqueza. Ela segura a esfera armilar do Império Brasileiro, mas que no contexto também pode representar a integração brasileira com as atividades econômicas mundiais. A âncora remete a navegação marítima que foi a essência para o surgimento do comércio de exportação e importação e a importância econômica da urbe. 

sábado, 26 de agosto de 2023

CLUBE CAIXEIRAL E R. STRAUCH

https://www.avenidalivros.com.br

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Esta é uma partitura intitulada "Polka Caixeral" dedicada por Francisco Santini ao Clube Caixeiral do Rio Grande na passagem do seu décimo terceiro aniversário de fundação. 
Este impresso datado de 3 de maio de 1908 foi realizado na Tipografia e Litografia de Ricardo Strauch/Livraria Rio-Grandense na cidade do Rio Grande. 

Tenho dedicado uma atenção a encontrar peças editadas por R. Strauch e aqui está mais um exemplar da vasta produção deste editor que foi pioneiro na publicação de cartões-postais no Brasil.  
 


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

PORTO VELHO - R. STRAUCH

Acervo: https://www.bvcolecionismo.lel.br


 Cartão-postal de R. Strauch/Livraria Rio-Grandense com uma vista do agitado Porto Velho do Rio Grande. Com a inauguração do Porto Novo (1915) a movimentação de grandes navios vai desaparecendo deste espaço portuário que começou a ser edificado no XVIII. Vários navios à vapor estão atracados. No lado direito, não visível, está a Rua Riachuelo. 

A movimentação portuária do comércio de exportação e importação ainda estava em bom momento como evidenciado na fotografia que foi colorizada. A data aproximada da imagem é 1910. 

O CINEMA EM 1913

 

Echo do Sul, 2 de janeiro de 1913. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Echo do Sul do dia 2 de janeiro de 1913 nos fornece uma informação que mostra a importância do cinema em Rio Grande. 

 Haviam cinco salas de cinema na cidade: America, Rio Branco, Moderno, Ideal e Parisiense. 

 Para os cinéfilos as opções não faltavam. E os jornais faziam a cobertura da programação o que propicia, no presente, conhecer algumas temáticas mais projetadas naquela época. 

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

ETIQUETAS DA LIVRARIA AMERICANA









As etiquetas eram fixadas em inúmeros produtos vendidos por uma livraria: livros, itens da papelaria etc. Era uma identidade que ligava a empresa com o comprador. Muitas vezes era uma valorização do produto, pois remetia a determinada empresa que era respeitada pela reputação na qualidade. 

É o caso das etiquetas da Livraria Americana que foi fundada em Pelotas em 1871 e que abriu filial em Porto Alegre em 1879. 

As três etiquetas (reproduzidas acima) podem ser datadas do período 1879 a 1885. O raciocínio se fundamenta na citação da matriz de Pelotas e da filial de Porto Alegre. Porém, não faz referência a filial de Rio Grande que surgiu no ano de 1885.  

As duas primeiras etiquetas (reproduzidas abaixo), hipoteticamente, circularam entre 1885 a 1899. 






 
Esta última etiqueta pairou uma dúvida, pois, o formato e estilo gráfico destoou bastante das anteriores e tem traços estéticos de século XX. Exige pesquisa apurada. Trabalho com a hipótese inicial de uma datação 1910 ou posterior. 


Todas estas imagens foram retiradas de um site de leilões que estava visitando. O endereço é: https://www.avenidalivros.com.br

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

RICARDO GIOVANNINI

 

Echo do Sul, 2 de janeiro de 1913. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

O jornal Echo do Sul está divulgando que o atelier de Ricardo Giovannini havia passado por reformas. A parte térrea foi dividida em duas partes: atelier de pintura e desenho; galeria de retratos. 

Ricardo Giovannini (Parma, 1853 - Rio Grande, 1930) é uma referência como fotógrafo, pintor, desenhista, cantor, ator  e professor. Radicou-se em Rio Grande em 1903 e faleceu nesta cidade em 1930. Após sua morte, sua esposa, Alzira Cuppertino Giovannini, manteve parte do seu legado mantendo a oferta de um Curso de Desenho e Pintura.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

A CASA FEIA NA ILHA DO LADINO

 

https://www.bvcolecionismo.lel.br

O cartão-postal fotográfico em tom sépia (sem editor) mostra a Praça Tamandaré em seu acesso vindo da Rua General Netto e cruzando as duas pontes de concreto para chegar na centralidade deste espaço público: o monumento-túmulo a Bento Gonçalves da Silva inaugurado em 20 de setembro de 1909. 

O entorno do monumento é um dos cenários mais repetidos nos cartões-postais. Mas neste caso, o interessante é o verso do cartão. Inicialmente, foi decisivo para esclarecer sobre a datação. O manuscrito é de 2 de fevereiro de 1933. 

O conteúdo é muito interessante e foi escrito por uma "amiga velha" para um casal de amigos e seu filhinho. 

Esta senhora diz que está na cidade do Rio Grande à cerca de um mês e assina como emitente da Capitania do Porto da Cidade do Rio Grande (RS). E afirma: "a nossa nova residência é muito feia, fica situada no meio de um campo, que pertence a Capitania, onde moramos foi a extinta Escola de Aprendizes Marinheiros, a casa é velha bem perto do mar; de casa vê-se passar os vapores tão perto, se estivermos no cais pudesse até falar com os passageiros; as noites sem luar é medonho, só se vê o lampejo dos faróis e a luz dos vagalumes; a nossa distração é as vezes apanhar siris". 

Este é um registro histórico, pois na área que fazia parte da Ilha do Ladino que ficava isolada da área central da cidade. A Rua Marechal Floriano, no tempo em que era denominada de Rua da Praia, encerrava na altura da Almirante Barroso, pois ali passava um riacho - foi necessário fazer uma ponte de madeira para cruzar na década de 1850. 

Nesta Ilha do Ladino foi construído o Porto Novo a partir de 1908. E, posteriormente, surgiu o BGV. Antes disso era uma área alagadiça com dificuldade de acesso. A umidade deixava o espaço muito insalubre e ali foi construída a Escola de Aprendizes Marinheiros a partir de 1861. Para localizar: é o espaço entre a atual Rua Marechal Andréa desde a Pescal, passando pela Capitania dos Portos, Comando Naval e finalizando na altura do Clube Regatas. 

A partir de 1884-88 obras de acesso são feitas para estabelecer a Estação Marítima no limite com a "cidade velha". Por volta de 1900, o padre jesuíta Ambrósio Schupp relatou que caminhava nesta região alagadiça e de marisma e "chamava a atenção o grande número de siris". 

A autora da carta morou numa área de difícil conquista para integração à urbanidade da "cidade velha" que começava a partir do final da Rua Riachuelo e do final da Rua Marechal Floriano. 

A casa em que morou deveria estar bastante danificada, mas, ela já pegou a fase em que o Porto Novo estava edificado nas proximidades e o bonde passava com frequência na rua em frente. Trabalhadores do porto e especialmente, os dois mil operários da Swift, movimentavam o trânsito. Outro aspecto é que ela tinha uma das vistas mais bonitas da cidade que é a Lagoa dos Patos, a Ilha da Pólvora, alguns detalhes da Ilha dos Marinheiros e a parte urbana de São José do Norte. 

Não sei se estes argumentos conseguiriam consolá-la...   

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Esta fotografia mostra a Escola de Aprendizes Marinheiros. Terá sido aqui que esta senhora residiu?


Escola de Aprendizes Marinheiros. Fotografia de Amílcar Fontana, 1912. 

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

PAUL WALLE E RIO GRANDE EM 1910

Porto Velho do Rio Grande em 1910. Paul Walle. Acervo: Biblioteca Nacional da França. 

 

WALLE, Paul. Au Brésil de L’Uruguay au Rio São Francisco. Préface de M. E. Levasseur. Librairie Orientale & Américaine. E. Guilmoto, Éditeur, Paris. 
Acervo: Biblioteca Nacional da França. 


Paul Walle foi Assessor de Comércio Exterior da França e responsável por missões econômicas na América do Sul. A sua quarta viagem ao Brasil resultou neste livro publicado em Paris no ano de 1910. A obra mostra o panorama das atividades econômicas brasileiras e das possibilidades de investimento francês. Sobre o Brasil o autor ainda tem publicações, mas, esta obra remete ao Rio Grande do Sul. 

Acessando um exemplar da Biblioteca Nacional da França fiz uma livre tradução do trecho referente a cidade do Rio Grande. Walle esteve na cidade e acompanhou o andamento das obras de construção do Porto Novo e dos Molhes da Barra pela Companhia Francesa do Porto do Rio Grande. Era um momento de grande expectativa de abertura da barra do Rio Grande para embarcações com calado de até 10 metros e a garantia da segurança da navegação no canal de acesso. Walle acreditou que a obra estaria encerrada em 1912 e de fato se estendeu até o ano de 1915. A Primeira Guerra Mundial estava no caminho das obras. Mas o objetivo foi cumprido e a maldição da “Barra Diabólica” (que promoveu centenas de afundamentos de navios) que recuava aos primórdios da ocupação do Rio Grande no século XVIII, estava cedendo frente a tecnologia/engenharia dos primórdios do século XX.

Eis as referências do autor em relação a navegação na Lagos dos Patos, a construção do Porto e a cidade do Rio Grande e suas perspectivas de crescimento econômico no ano de 1910:

“Agora temos que falar do Rio Grande, o porto e a grande saída do Estado do Rio Grande do Sul para o Oceano. A cidade, que tem perto de 35.000 habitantes e está em constante progresso; mas apesar de inúmeras novas construções, ainda mantém o seu aspecto de uma cidade provinciana portuguesa.

É iluminada a gás e tem várias linhas de bonde. As ruas mais importantes e movimentadas são a Marechal Floriano, 24 de Maio e Riachuelo. Prédios do Rio Grande não são numerosos e nem muito notáveis. Entre os melhores estão o Palácio da Municipalidade, a Beneficência Portuguesa, a Igreja Protestante do Salvador, a graciosa Igreja do Bomfim; a catedral é de arquitetura pesada e desinteressante. Rio Grande é antes de tudo um centro comercial e industrial. Existem, de fato, 48 fábricas ou estabelecimentos no município; moinhos fiações, fábricas de conservas, charutos, alimentos, sapatos, chapéus, biscoitos, etc. Mais importante são as fiações de tecidos de lã e algodão "União Fabril", sucessora de Rheingantz e C°, que possui três fábricas, uma de tecidos de lã com fiação, outra de tecidos de algodão e uma de tecidos de juta. Esta empresa ocupa cerca de 900 trabalhadores; o seu capital ascende a 3.500 contos e distribui aos seus acionistas dividendos. Outra grande fábrica é a “Sociedade de Tecelagem Italo Brazileira, Santos Becchi e C°”, fundada por industriais italianos, com um capital de 1 milhão de liras. Estabelecimento que emprega 750 trabalhadores, faz tecelagem e tecidos de algodão e linho. O algodão vem do norte do Brasil e o linho da Europa. Toda a produção escoa facilmente no país. Vem depois a fábrica de biscoitos e conservas da Leal, Santos e C°-; o engenho de farinha de trigo riograndense, Albino e C°; Mata e C°, uma importante fábrica de calçados. A grande fábrica de Charutos Pook e C°e as oficinas de fundição de A. Dias e James Campbell Osborne, etc.

Rio Grande certamente seria uma cidade de mais de 50.000 habitantes e o próprio Estado teria atingido um grau de prosperidade e desenvolvimento dez vezes maior, se a barra do Rio Grande não estivesse parcialmente obstruída o que dificulta a navegação e as comunicações com a Europa e o resto do Brasil, além de tornar as viagens mais caras e demoradas.

Esta infeliz barra, que dificulta a entrada na Lagoa dos Patos, é o desespero dos riograndenses que, há quase meio século, buscam resolver o problema de seu acesso. Está localizada na entrada do oceano, a 11 milhas do atual porto de Rio Grande, ao qual está ligada por dois canais naturais, um dos quais, o “Canal do Norte”, é muito largo e uma profundidade de quase 10 metros; é neste canal que um outro ramo muito mais raso leva a cidade. O obstáculo é constituído pelos depósitos de areia que se forma na saída do Canal do Norte, onde a ação do mar e da corrente que vem do interior se unem colidindo, na maioria das vezes permitindo apenas o acesso a navios com menos de 11 pés de calado. Esta profundidade não é constante, e muitas vezes acontece que os vapores do "Lloyd" e "Costeira", que costumam fazer a viagem, mas especialmente o primeiro, deve esperar vários dias antes de entrar com profundidade de água suficiente. Os navios alemães do “Hamburg Sudamerikanischen” e do “Hamburg-Amerika Linie”, seção da América do Sul, que fazem o serviço direto duas vezes por mês o serviço direto (duração 40 dias) entre Hamburgo, Antuérpia e Rio Grande, devem descarregar em batelões e sua entrada, quando ocorre, é retardada por quatro a cinco dias. É o mesmo na saída, e nós mesmos esperamos dois dias para que a profundidade fosse suficiente; o navio deu sacolejos para conseguir sair da barra. Os viajantes nunca sabem quanto tempo vai demorar para cumprir sua jornada, pois podem ficar vários dias antes de poder entrar ou sair da Lagoa dos Patos. Apresenta também diferentes lugares onde, devido aos baixios existentes, a profundidade não é suficiente para embarcações maiores. De Rio Grande a Porto Alegre, uma distância de 300 quilômetros, a profundidade da lagoa é de 7 metros na maior parte do percurso; apesar de tudo, a navegação só é possível para embarcações com calado inferior a 10 pés (3 metros). O primeiro obstáculo que frustra a grande navegação, subindo a lagoa em direção a Porto Alegre, é o baixio próximo a barra do São Gonçalo (que é francamente navegável até Pelotas), que demora quatro a cinco horas depois de sair de Rio Grande. Além dessas águas rasas do sul, a navegação é direta com uma profundidade de 7 metros numa extensão de 99 milhas. A partir deste ponto, perto do Guaíba, que é muito largo e cuja entrada é marcada pelo farol de Itapuã, a navegação volta a ser difícil e os navios precisam seguir um canal que nem sempre chega aos 3 metros de profundidade. O vapor que nos trouxe de volta à costa, tendo saído um pouco do canal, teve que rastejar por seis horas em um baixio antes de poder sair dele; pode-se ficar dias inteiros nesta situação. Os canais acessíveis a navegação são indicados em toda a extensão da lagoa por marcos que indicam os baixios e a direção, e por um grande número de bóias iluminadas queimando noite e dia. Este estado de coisas, que torna incerta a duração das viagens, resulta num transporte extremamente caro: calculou-se que as mercadorias para Rio Grande e Porto Alegre pagaram o dobro das que são direcionadas para Buenos Aires, porto que é muito mais distante. As cartas também demoram mais de um mês para chegar ao destino. Os produtos de exportação do Rio Grande do Sul, destinados, aos demais Estados do Brasil, sofrem os efeitos da dificuldade de navegação e, devido ao preço do transporte, sofrem concorrência nos mercados do norte com os produtos similares da Argentina e do Uruguai. Esses países vendem, de fato, 34.000 toneladas de charque por ano nestes Estados, pagando uma taxa de 60 réis por quilo.

Em diversas ocasiões, projetos foram elaborados e concessões concedidas com o objetivo de abir a barra, mas as obras iniciadas não tiveram continuidade, tanto que frente a forte decepção os rio-grandense acabaram duvidando que algum dia concretizariam sua mais cara esperança. Mas parece que esse velho problema está prestes a ser resolvido; a questão de fato, acaba de entrar numa nova e decisiva fase. Em 1906, a concessão para a abertura da barra, foi concedida ao engenheiro americano Lawrence Corthell. Este concessão foi transferida, em julho de 1908, para a "Compagnie Française du Port Rio Grande do Sul”. A concessão envolve a escavação da barra e a construção de um porto de águas profundas na cidade de Rio Grande. No que diz respeito a barra, um canal marítimo, que dá acesso a navios de 10 metros de calado, terá de ser escavado a partir do Canal do Norte até as águas profundas do Oceano, dentro de seis anos, a partir de setembro de 1906. O porto, que será construído um pouco a sudeste da cidade, no Canal do Norte, a oito milhas da barra, terá de ser acessível a navios de 10 metros de calado, e equipado estruturas e extensão ncessária para atender aos requisitos atuais de um porto de primeira ordem. A obra deve ser concluída em agosto de 1912. As obras de escavação da barra e a construção do porto são da responsabilidade da “Société Générale de Construction”, empresa constituída em Paris. O empreiteiro principal desta empresa é a casa Daydé e Pillé, de Creil. A importância do trabalho realizado pela Compagnie Française du Port de Rio Grande do Sul deve estar perto de 60 milhões; o projeto das obras portuárias prevêem um gasto de 46 milhões 206.400 francos. Durante nossa passagem por Rio Grande, no início de setembro de 1909, a obra estava bem adiantada, tudo feito por pessoal técnico, bem como cerca de sessenta funcionários e uma dúzia de engenheiros. Com o engenheiro gerente-chefe da casa Daydé-Pillé, visitamos o progresso das obras. Apesar das dificuldades, estão evoluindo normal e satisfatoriamente. As barras destinadas a reter as areias foram construídas a uma grande distância. Mais de 15 milhões em equipamentos, incluindo várias dragas potentes e aperfeiçoadas, estavam no local, e mais equipamentos eram aguardados. Esta empresa constrói uma ferrovia a partir de Monte Bonito, pedreiras localizadas a 22 quilômetros de Pelotas, até a barra, ou seja, 74 quilômetros, agora quase totalmente concluídos. Trecho entre Monte Bonito e Pelotas está concluída. A Companhia, temporariamente, utiliza a linha de Bagë a Rio Grande para o transporte de suas pedras, que também podem ser transportadas por barcaças. Pelo que vimos e nos foi informado recentemente, é razoável acreditar que esta empresa será desta vez coroada com sucesso total e então nada vai parar o boom comercial do Rio Grande”.

domingo, 20 de agosto de 2023

CARTÃO-POSTAL COMO FONTE HISTÓRICA

https://www.bvcolecionismo.lel.br

 

Cartão-postal fotográfico do editor V. Albert Aust da cidade de Hamburgo na Alemanha. 

"Rio Grande do Sul" se refere a cidade do Rio Grande. A datação manuscrita é 22 de setembro de 1900. 

O cenário é a Rua Uruguayana (atual Avenida Silva Paes). O trecho é nas proximidades da Praça Sete de Setembro. O prédio em tom escuro no lado direito era o Hospital do Carmo que fica onde hoje é o Colégio Juvenal Muller. O prédio térreo ao lado esquerdo do Hospital era uma cocheira e na esquina é a Rua Andrade Neves. 

O que restou do cenário de 1900? Os dois prédios do lado esquerdo tiveram (incrivelmente, dada a devastação patrimonial nesta avenida) suas fachadas preservadas! Pela imagem do final de 2022 um prédio está com pintura azul e o outro laranja-salmão. Portanto, são prédios cuja construção recua ao século XIX. 

https://www.google.com.br/maps/

Um dos aspectos mais interessantes e que me atrai na investigação de cartões-postais é buscar as mudanças na espacialidade urbana. Prédios mantidos e seus estilos arquitetônicos; o que desapareceu e qual o estilo atual; qual a funcionalidade econômica/domiciliar antiga e a presente; a melhoria ou a decadência do espaço urbano. A arquitetura e a infraestrutura urbana do espaço público ajuda muito a evidenciar as condições econômicas e a qualidade de vida de uma comunidade. Permite observar as tecnologias disponíveis (luz à gás, luz elétrica, telefonia etc) e a logística urbana (tipo de calçamento e de pavimentação, uso de bondes a tração animal ou elétrico etc). 

O cartão-postal inicia no deleite de olhar para o passado. Mas ele está repleto de falas imagéticas a serem decodificadas. O cartão traz informações que estão latentes nas imagens congeladas do tempo as quais são fontes históricas a serem visitadas e convertidas em produções de sentido e interpretações a serem dadas pelo historiador. 


O verso do cartão identifica que o destinatário era a sra. Marie na cidade de Hamburgo. Foram utilizados cinco selos de 20 réis (totalizando o porte internacional para cartões de 100 réis). Esta série de selos foram denominados de "Madrugada Republicana" (pois remetia aos primeiros anos de nascimento da república brasileira que ainda buscava o seu amanhecer) e foram emitidos a partir de 1894. Os valores iam de 10 réis até 2.000 réis. 

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A seguir, um exemplo ampliado do selo ""Madrugada Republicana de 20 réis. No centro do selo está uma estrela iluminando o Pão de Açúcar na entrada da Baía de Guanabara.  


sábado, 19 de agosto de 2023

PASSAGEM DA CARRIS - PORTO ALEGRE

 

Passagem escolar da Carris, 1986. Acervo: https://www.avenidalivros.com.br

Encontrei esta imagem de uma passagem escolar da Cia. Carris Porto-Alegrense num site de leilões. Na hora a pupila dilatou quando a memória foi despertada: muito carreguei no bolso este modelo de borda azul de passagem! Mentalmente voltei no tempo até Porto Alegre entre 1986-1989.

Quando fiz o Mestrado em História na Pontifícia Universidade Católica do RS utilizava esta passagem (um pequeno pedaço de papel liso) para o deslocamento de ônibus entre a Cidade Baixa até a Avenida Ipiranga (PUCRS).  Eram no mínimo dois deslocamentos diários e muitas vezes, eram quatro viagens entre a Avenida Ipiranga e a Avenida João Pessoa. 

Descia e já estava próximo a Rua Sofia Veloso esquina com a Rua Lima e Silva. Minha irmã, Mara, alugava um JK num edifício da Sofia Veloso e me deu um teto durante quatro anos ajudando decisivamente a viabilizar a realização do Mestrado. Éramos ótimos irmãos já que não havia sequer uma parede divisória para evitar rusnas que felizmente não existiam. Infelizmente, não tive tempo de retribuir tanta dedicação, pois ela partiu muito cedo. A história ficou com um vazio patético até hoje... 

Em 1986, quando comecei o Mestrado, ela me estendeu a mão com uma algumas destas passagens que ela utilizava para se deslocar até às escolas onde dava aula para crianças com deficiência auditiva. Tendo a matrícula na Universidade passei a comprar as passagens. Quando faltava, era só pedir que ela sempre tinha algumas na carteira. O pouco que tinha ela queria dividir: o pão, o leite, qualquer objeto que estivesse no apartamento. Pessoas de bom coração não são fáceis de encontrar.    

O mais comum era ir para PUC pela manhã e retornar às 22h. Como a dissertação era sobre historiografia, o volume de leitura era grande e passava longos períodos pesquisando na Biblioteca/Hemeroteca desta instituição. 

Foram quatro anos de aprendizagem que abriu as portas para colher frutos profissionais sem os quais este blog hoje não existiria.  

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A ADÚLTERA - AMERICA CINEMA

Echo do Sul, 2 de janeiro de 1913. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

 

Estava iniciando o ano de 1913 e o America Cinema da cidade do Rio Grande anunciava um "magnífico drama passional" em três partes. 

A Adúltera estava em exibição e uma longa sinopse foi publicada no jornal Echo do Sul. Na falta da película (mais uma que desapareceu) é possível compreender qual é a abordagem do tema. 

O filme deve ter atraído um bom público, pois o tema do adultério estava em pauta desde o assassinato do escritor Euclides da Cunha em 15 de agosto de 1909. Euclides tentou matar Dilermando de Assis, amante de sua esposa Ana, porém, acabou perdendo a vida na troca de tiros. No julgamento de Dilermando, em maio de 1911, ele foi considerado inocente gerando muitos debates na imprensa brasileira. 

A lembrança destes acontecimentos estava presente em quem assistiu o filme neste início de ano de 1913 e novos debates devem ter vindo a tona. Porém, ninguém poderia afirmar que uma nova tragédia ocorreria em julho de 1916: Euclides da Cunha Filho, buscando vingar a honra/morte do pai, tentou matar Dilermando que foi ferido a tiros, mas conseguiu disparar sua arma e matar Euclides da Cunha Filho. Levado a julgamento no mês de setembro de 1916, Dilermando foi considerado inocente por atuar em legítima defesa. Nos anos seguintes, o tema do adultério e dos crimes passionais novamente voltaram a inundar a imprensa e os lares brasileiros. 

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O LOBO E OS SETE CABRITINHOS

 

Cartão-postal década de 1920. Ilustração: Oskar Herrfurth. 

Os Irmãos Grimm publicaram entre 1811 e 1812 uma coletânea de contos populares germânicos que transcenderam as fronteiras da Europa e fazem parte de um patrimônio de oralidades que se converteram em narrativas escritas. 

Entre estes contos está O Lobo e os Sete Cabritinhos que tem alguns elementos que o aproximam, dos mesmos autores, das histórias de Os Três Porquinhos e Chapeuzinho Vermelho. O conto faz parte do ciclo fabular do lobo que é o símbolo da selvageria e ferocidade. Os carneiros são a inocência desamparada e ingênua. Deveriam ser muito cuidadosos pois no mundo real haviam muitos lobos que seriam inclementes com as crianças. Gerações se sucederam contando estas histórias com intuito de preparar para o difícil convívio em sociedade onde desfilavam espertalhões e psicopatas. 

Neste conto, o lobo, inicialmente se dá muito bem. Na sequência ele acaba sendo morto devido ao excesso da gula e os carneirinhos conseguiram sobreviver na força da imaginação. 

Na década de 1920, a empresa Uvachcrom lançou um conjunto de cartões-postais com este tema que foram distribuídos aos seus clientes. O ilustrador foi Oskar Herrfurth.  

Quem quiser conhecer o conto dos Irmãos Grimm é só fazer a leitura a seguir:



"Era uma vez uma velha cabra que tinha sete cabritos e os amava como uma mãe ama seus filhos. Um dia ela quis ir para a floresta buscar comida, então ela chamou todos os sete e disse: “Queridos filhos, eu quero ir para a floresta, cuidado com o lobo, se ele entrar, vai comer todos vocês com ele. Pele e cabelo. O canalha muitas vezes dissimula, mas você vai reconhecê-lo logo pela voz áspera e pelos pés pretos.” As crianças disseram: “Querida mãe, vamos ter cuidado, você pode ir embora sem se preocupar.” Então a velha reclamou e colocou-se confiante. Não demorou muito para que alguém batesse na porta da frente e gritasse: "Abram, queridos filhos, sua mãe está aqui e trouxe algo para cada um de vocês". lobo. "Não vamos abrir", gritaram, "você não é nossa mãe, ela tem uma voz linda e adorável, mas sua voz é áspera; você é o lobo".

Então o lobo foi a uma mercearia e comprou para si um grande pedaço de giz: comeu-o e usou-o para embelezar a sua voz. Então ele voltou, bateu na porta da frente e gritou: "Abri, queridos filhos, sua mãe está aqui e trouxe algo para cada um de vocês." gritou: "Não vamos abrir, nossa mãe não tem preto pés como você: você é o lobo."

Então o lobo correu até um padeiro e disse: "Bati com o pé, espalhei a massa por cima." Quando o padeiro abriu a pata, correu até o moleiro e disse: "Passa farinha branca na minha pata." O moleiro pensou : "O lobo quer te enganar", e recusou, mas o lobo disse: "Se você não fizer isso, eu vou te comer." O moleiro ficou com medo e embranqueceu a pata. Sim, essas são as pessoas.

Agora o vilão foi até a porta da frente pela terceira vez, bateu e disse: "Abram a porta, crianças, sua querida mãezinha chegou em casa e trouxe algo para cada um de vocês da floresta." As cabras gritaram: "Primeiro mostra-nos a tua pata, para que saibamos que és a nossa querida mãe.” Então ele pôs a pata na janela, e quando viram que era branca, acreditaram que tudo o que ele dizia era verdade, e abriram a porta.

Mas quem entrou foi o lobo. Eles estavam com medo e queriam se esconder. Um pulou debaixo da mesa, o segundo na cama, o terceiro no forno, o quarto na cozinha, o quinto no armário, o sexto embaixo da pia, o sétimo na caixa do relógio de parede. Mas o lobo encontrou todos eles e não perdeu tempo lendo: um por um ele os engoliu; ele simplesmente não conseguia encontrar o mais novo na caixa do relógio. Quando o lobo satisfez sua luxúria, ele se afastou, deitou-se sob uma árvore na campina verde lá fora e começou a dormir.

Não muito tempo depois, a velha cabra voltou da floresta. Ah, o que ela deve ver lá! A porta da frente estava escancarada: a mesa, as cadeiras e os bancos revirados, a pia em pedaços, o cobertor e os travesseiros arrancados da cama. Ela procurou por seus filhos, mas eles não estavam em lugar nenhum. Ela os chamou pelo nome, um por um, mas ninguém respondeu. Finalmente, quando ela se aproximou do caçula, uma bela voz gritou: "Querida mãe, estou presa na caixa do relógio." Ela o tirou e disse a ela que o lobo tinha vindo e comido todos os outros. Você pode pensar em como ela chorou por causa de seus pobres filhos.

Por fim, ela saiu em sua miséria, e o filho mais novo correu com ela. Quando chegaram ao prado, o lobo estava deitado ao lado da árvore e roncava tanto que os galhos tremiam. Ela olhou para ele de todos os lados e viu que algo se movia e se contorcia em seu estômago cheio. "Oh Deus", ela pensou, "meus pobres filhos que ele engasgou para jantar ainda estão vivos?"

Então o garotinho teve que correr para casa e buscar tesoura, agulha e linha. Então ela cortou a barriga do monstro, e mal ela fez um corte, uma pequena cabra colocou a cabeça para fora, e enquanto ela cortava mais, todos os seis pularam um após o outro, e todos ainda estavam vivos e nem mesmo feridos sofreram porque o monstro a havia engolido inteira em sua ganância.

Foi um prazer! Lá eles abraçaram sua querida mãe e pularam como um alfaiate em um casamento. Mas a velha disse: "Agora vá procurar pedregulhos, com os quais queremos encher a barriga do animal ímpio enquanto ele ainda dorme." eles poderiam trazer. Então a velha costurou de novo tão rápido que ele não percebeu nada e nem se mexeu.

Quando o lobo finalmente dormiu, ele se levantou e, porque as pedras em seu estômago o estavam deixando com tanta sede, ele quis ir a um poço e beber. Mas quando ele começou a andar e se mover, as pedras em seu estômago bateram umas nas outras e chacoalharam. 

"O que está roncando e batendo
dentro do meu estômago?
Achei que eram seis crianças pequenas,
então são todos Wackerstein."

E quando ele chegou ao poço e se inclinou sobre a água para beber, as pedras pesadas o puxaram e ele teve que se afogar miseravelmente.

Quando as sete crianças viram aquilo, vieram correndo e gritaram bem alto: "O lobo está morto! O lobo está morto!", e "dançaram de alegria em volta do poço com a mãe".

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

O HOMEM E OS LOBOS

Jornal italiano La Domenica del Corrieri. Fevereiro de 1929. 
 

Quando pensamos em estar numa situação difícil... Talvez a do homem agarrado no poste seja um pouco mais complexa. 

A fome da alcateia de lobos parece ser intensa. Lobos famintos realmente devoravam suas vítimas e pouco restava para comprovar o ataque. No caso de tantos lobos, possivelmente, nenhum vestígio restará. 

A salvação pode ser os dois homens ao fundo da imagem. O problema é que eles parecem correr na direção oposta ao infeliz escalador de postes. Não entendo porque estão com tanta pressa para sumirem no horizonte. 

O lobo que pular mais alto poderá ser o primeiro a abocanhar a refeição... As coisas ficarão periclitantes se ele for esperto e subir nas costas de um companheiro para dar um salto olímpico... 

terça-feira, 15 de agosto de 2023

A DONZELA DE GÉVAUDAN

 

Gravura colorida com o ataque da besta em 1765. Coleção Marolles.
 Acervo: Biblioteca Nacional da França. 


Os ataques da Besta de Gévaudan (1764-1767) foram os que tiveram a maior cobertura iconográfica entre as centenas de ataques de lobos ou outros animais na França.

Se o animal (ou para alguns era um lobisomem) fez centenas de vítimas, em alguns casos a resistência foi ferrenha e a fuga foi necessária.

Marie-Jeanne Vallet, uma camponesa de 20 anos, foi atacada em 11 de agosto de 1765 e conseguiu cravar sua lança no peito da besta que caiu no rio e desapareceu. A lança ficou ensanguentada. Marie-Jeanne é comparada a Joana d’Arc e ficou conhecida como a Donzela de Gévaudan.


Detalhe ampliado.