Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 31 de agosto de 2023

MISTÉRIOS DA MEIA-NOITE NO CEMITÉRIO

 

Echo do Sul. 21-03-1912. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Matéria estranha publicada no Echo do Sul do dia 21 de março de 1912! 

Conforme o responsável pela ronda na empresa têxtil União Fabril/Rheingantz, assovios e fogachos eram escutados de dentro do Cemitério. Especialmente, nas noites de quinta-feira. 

Coincidência ou não, o maior número de relatos sobre transformação em lobisomem ocorria entre a meia-noite da quinta-feira para a madrugada da sexta-feira (sei disso pois estou escrevendo um livro sobre as raízes históricas dos lobisomens).

Os rapazes armados encontraram a fonte dos sons? Alguém voltou para contar o que viu? 

Mas voltaram. E nada viram... Porém, o detalhe é que não permaneceram até a meia noite!

Echo do Sul, 22 de março de 1912. 


No dia 25 de março o mistério aumentou! Conforme o Echo do Sul "várias pessoas que regressavam no bonde das 11 horas da noite do Parque, sábado último (dia 23), afirmaram-nos terem visto três vultos suspeitos". Um dos vultos tinha a "cara mascarada". Os fatos ocorridos no cemitério levaram a que o vigilante da União Fabril tenha se demitido "
hoje do cargo que ocupava".   


Echo do Sul, 30 de março de 1912. 

No dia 30 de março o assunto se tornou extremamente complexo com o ferimento a bala do leiteiro sr. José Seixas de Lemos. O bando de vigilantes que atuava no Cemitério viu um vulto sobre a parede sul e fez vários disparos que acertaram o alvo. O ferido foi recolhido para sua casa e não quis dar explicações sendo acolhido por um dos vigilantes, engenheiro da Companhia Francesa, que era seu amigo íntimo. O que Seixas de Lemos estava escondendo? 

Na edição do dia 1 de abril de 1912 foi esclarecido o mistério dos assovios no cemitério. Literalmente, a solução veio a tona no "dia dos bobos". 

Acredite quem quiser: "Foi averiguado tratar-se de um enorme macaco fugido há dias da casa do sr. Seixas de Lemos, o mesmo que na edição anterior noticiamos estar sobre um dos muros do Cemitério, na ocasião em que chegou a ronda que patrulhava aquele local. O feroz animal esta noite foi morto ali por um grupo de populares, ficando exposto naquele à visitação pública. Mede um metro e setenta e cinco centímetros de altura e tinha uma força prodigiosa, segundo declarou seu dono. Muitas pessoas estiveram hoje no Cemitério, admirando o perigoso animal que trouxe sobressaltos aos moradores daquelas imediações. O ferimento que recebeu o sr. Seixas de Lemos não tem a importância que se julgava. estando ele já completamente restabelecido". 

Imaginei inúmeros cenários para estes acontecimentos. Jamais pensaria neste desencadear envolvendo um "macaco"! No momento que escrevo esta matéria é que fiz a leitura do jornal e o queixo está caído. Orelhas de jumento parecem estar crescendo... 

Será que algum jornalista leu Assassinatos da Rua Morgue (1841) de Edgar Allan Poe e fez uma adaptação ao Cemitério em Rio Grande?

A solução foi dada de forma tão rápida como se tudo tivesse que ser enterrado (e o cemitério é o local ideal para o enterramento do caso...). 

Ao mesmo tempo, divaguei, a transformação de um homem em um animal muito peludo, forte, ágil e veloz, o macaco, lembra muito as qualidades de um lobisomem.  O corpo do macaco realmente ficou exposta para visitação? Ou seria uma roupa peluda tendo em seu interior o homem que, com a morte, voltou a sua condição original de hominídeo?

Qual destas explicações é a mais absurda nesta história insana? 
  

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