Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 31 de maio de 2020

CARTÕES E A GLOBALIZAÇÃO IMAGÉTICA

 Os cartões-postais são fragmentos congelados do tempo passado. Eles foram trabalhados intencional e artisticamente para se fazerem atraentes aos olhos ávidos por viagens mentais em cenários imagéticos complementados pelas afetividades oriundas das caligrafias. 

Cartão-postal editado em Hamburg e destinado a Alemanha. Cais do Porto Velho e prédio da Alfândega do Rio Grande (na linha do Cais) e prédio da Câmara de Comércio à direita. Data provável de circulação: 1905. Acervo: Leonardo Lopes. 
         
         Os cartões-postais foram a primeira globalização imagética da humanidade, transportando pelo planeta imagens multifacetadas de cenários e personagens rurais e urbanos. Sua simplicidade e eficiência é a capacidade de associar a imagem com o texto afetivo do remetente que realça a curiosidade do destinatário sobre lugares em que estão vivendo os seus amigos e parentes. 

      É um simples pedaço de papel/cartão que eficientemente promoveu a circulação de dezenas de milhares de imagens do planeta que viraram fator lúdico de colecionismo. Eles ajudaram a evidenciar as diversidades entre continentes e países, além de plantar a curiosidade sobre as experiências culturais. 

    Para o historiador os cartões emergem do passado repletos de pistas arquitetônicas; de lugares sociais, políticos e culturais; de diversidades botânicas e zoológicas; de práticas religiosas e pagãs; de técnicas e ideologias; de intencionalidades e encobrimentos. 

   Nestes cartões estão preservados muitos cenários materiais e imateriais que contribuem para a compreensão do passado.

sábado, 30 de maio de 2020

A PESCA DE ARRASTO EM 1940



       A coluna Fatos e Coisas de Antanho do Jornal Rio Grande do dia 22 de julho de 1953 informa que no dia 22 de julho de 1930 faleceu um dos maiores fotógrafos e artistas que atuaram em Rio Grande: Ricardo Giovannini. 

     No dia 22 de julho de 1940, teria ocorrido a primeira pescaria de arrasto defronte ao Cassino. Estando correta a informação, temos uma data para o nascimento desta famigerada prática que malha os espécimes adultos, juvenis e todo o tipo de fauna que habitam próximo à beira-mar.  É das modalidades pesqueira mais predatórias. 

CARREIRA REGULAR DE VAPORES EM 1913

A navegação costeira quase sempre lembra o transporte de mercadorias entre os portos brasileiros. Realmente, a circulação de produtos representava a maioria da entrada e saída de navios dos portos, porém, as péssimas condições das vias terrestres inter provincial/estadual, exigiam que o deslocamento de passageiros fosse realizado por empresas de navegação costeira.

Mesmo dentro das províncias/estados, sempre que o calado das lagoas e rios viabilizassem (a navegabilidade) as águas eram utilizadas para os escoamentos de passageiros ou cargas.

O Almanak Laemmert para o ano de 1913, publicou os dias das viagens dos vapores que faziam a linha Rio de Janeiro a Porto Alegre , com escala em vários portos como é o caso do Porto do Rio Grande. 


Almanak Laemmert para 1913. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

PRAÇA SARAIVA

O espaço para construção de uma praça já está previsto na planta urbana de construção do bairro Cidade Nova (planta da década de 1880). Em 1953, apesar dos moradores frequentarem recreativamente o local, não havia infraestrutura para o conforto dos populares. O jornal Rio Grande do dia 18 de agosto de 1953 pressionava o poder público municipal para realizar as obras básicas que dessem início a transformação de um terreno baldio na praça dos moradores do Bairro Cidade Nova.   

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

TÍTULO ELEITORAL

Alguém recorda deste modelo de título de eleitor? 

Dificilmente, pois é o modelo aplicado a partir de 1904. Ele foi reproduzido do Almanak Laemmert de 1913.
  
Nesta época, só homens tinham direito ao título de eleitor. O Código Eleitoral permitiu que as  mulheres pudessem votar somente em 24 de fevereiro de 1932 e somente as casadas e as viúvas com renda própria. 

Em 1934 a Constituição Federal assegurou o voto feminino.  

Almanak Laemmert para 1913. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

QUEM É O AUTOR? RESPOSTA

Vejamos frase a ser desvendada a autoria:

«(...) não me atrevo a indicar, para a execução total das obras, prazo inferior a dez anos. Devo, entretanto, acrescentar que, em obras desta natureza, é impossível fixar um prazo exato para a sua conclusão. Mas, se se souber enfrentar as dificuldades e as contrariedades, que se depararão infalivelmente durante a execução, se mantiver sempre a calma, a energia e as forças necessárias para resistir a essas contrariedades, o sucesso não poderá ser duvidoso e ter-se-á, assim, erigido um monumento, que será o testemunho do vigor que a nação brasileira é capaz de por em ação, quando se trata do desenvolvimento e da prosperidade do país».


Questões:

       Quem é o autor desta frase que faz parte de um relatório? É o relatório de 1885 do engenheiro holandês Pieter Caland (1826-1902), em que enfatiza das dificuldades e possibilidades de construção de uma das maiores obras de engenharia hidráulica já realizadas no planeta. 

           Que obra está sendo projetada? A obra dos Molhes da Barra do Rio Grande, a qual começou a ser realizada em 1890, parou inúmeras vezes e foi inaugurada em 1915.


O ROUBO DAS TIJOLETAS E O VARAL HORIZONTAL DA CIDADE NOVA

       Memórias do passado ficaram registradas em jornais. Lê-los no presente é fazer uma viagem até o tempo de sua escrita. 

     Quando temos referenciais citados no passado e que convivemos no presente (ruas, prédios, praças, canaletes etc), fica mais interessante relacionar o que era e o que é no presente.  

     Atualmente, temos as discussões sobre o roubo do bronze dos monumentos que acarretam em sua destruição parcial ou total. Em 1953, constatamos que se roubava até as tijoletas do Canalete da Major Carlos Pinto. Alguns trechos ficaram esburacados como se estivesse em ruínas.  


Rio Grande, 14-08-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

    Para uma história do cotidiano da Cidade Nova a informação acima é desconcertante: moradores deixavam estendidas peças de roupa pelos canteiros de grama alta "fazendo da rua, coadouro das vestes expostas ao sol e aos transeuntes".  De fato, alguns os moradores inventaram uma nova modalidade de secagem de roupas e sem uso de prendedores:  o varal horizontal!

ESTÁTUA DA LIBERDADE EM 1953



       Em 14 de julho de 1953 o jornal Rio Grande, jocosamente, fez referência ao destino que seria dado a Estátua da Liberdade: pintada de preto, arrancada do pedestal para ser vendida ou pintada com cal. A última hipótese deve ter sido confirmada, substituindo o cal por tinta branca. 

         Desde de sua inauguração em 1889, a Estátua da Liberdade -por mais que tenha tentado se esconder no alto do pedestal-, acabou sendo fruto de muitas polêmicas e fonte de ironias. 

Cartão-postal da Estátua da Liberdade com carimbo de 14 de julho de 1904. Acervo: www.ebay.co.uk

CINEMA NO BAIRRO

Rio Grande, 30-07-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

       Muito interessante esta matéria do dia 30 de julho de 1953 discorrendo sobre o cinema em Rio Grande. É uma experiência do colunista que foi assistir a um filme numa sala precária do Circulo Operário ("um recinto pequeno e humilde") e teceu elogios pela postura dos presentes que possuíam uma "ética de cinéfilos". Além disso, o que não se via em outros cinemas estava sendo projetado: um filme francês.

       É feita uma comparação com o circuíto de cinema formal e destacado a falta de decoro dos mocinhos mal-educados e boçais durante as sessões. Além da bagunça a má qualidade técnica das fitas fazia com que o "prazer da arte cinematográfica se transformasse em verdadeiro suplício". 

VILA DOS CEDROS

A Vila dos Cedros aparecia com frequência nos jornais. As matérias remetiam as condições insalubres em que viviam milhares de pessoas. Um "barracão" para trabalhadores da área do Porto Novo foi construído no Cedro. Este barracão estava infectado por sarna e em decorrência, estaria difundindo a doença de pele para muitos moradores.   

Rio Grande, 11-08-1953. Acervo Biblioteca Rio-Grandense. 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

SÃO DO RIO GRANDE?

      A revista O Malho do Rio de Janeiro de 10 de agosto de 1907, publicou em sua contra-capa esta preciosidade de anúncio. 
    Precioso por sua criatividade e bom gosto. Duplamento precioso pois apenas estava lendo a Revista em busca de outro tema e leio descomprometidamente o anúncio e encontro a "preciosidade". É um fragmento da história da indústria da cidade e sua divulgação na mídia impressa. 


O Malho, 10-08-1907. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

      A Fábrica de Biscoitos Leal Santos & Cia. começou a funcionar em 1898 e já em 1907 começava a se destacar no mercado brasileiro. 

       Apesar do seu alto custo financeiro, colocar um anúncio colorido na revista O Malho era chegar a milhares de consumidores com poder aquisitivo mais elevado. Desta forma, a linha de biscoitos/bolachas em latas que imitavam os produtos ingleses e dinamarqueses, passou a ter uma acolhida crescente no mercado do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. 

       A chamada era "os biscoitos do Rio Grande", "são do Rio Grande" e estão à venda em "todas as casas de primeira ordem". 

         A Leal Santos & Cia, a Rheingantz, a Swift, a Refinaria Ipiranga e a Pescal, serão ícones da divulgação da indústria da cidade do Rio Grande no mercado brasileiro e por vezes, no mercado internacional. 

CARVÃO CARDIFF AO MAR

A falta de calado para o acesso de embarcações à Barra do Rio Grande provocou, historicamente, situações inusitadas.

 O problema só foi resolvido com a construção dos Molhes da Barra que permitiu a obtenção de um calado de 9 a 10 metros de profundida (a partir de 1915).

Em 1906, o vapor inglês Corinthic, necessitava de 13 pés de calado (aproximadamente 4 metros de profundidade) e ficou um mês fora da Barra esperando inutilmente que isto ocorresse. 

A casa Cory, Brothers & Cia. deu ordem ao comandante para lançar ao mar 300 toneladas de carvão cardiff (300 mil quilos). 

Fiquei com duas dúvidas: esta quantidade de carvão poderia causar dano ambiental? O vapor inglês, mais leve, conseguiu acessar o Porto Velho?  

Rio Grande, 19-08-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

NAVEGAR É PRECISO



     O jornal O Noticiador informava a chegada e saída das embarcações ao Porto do Rio Grande. Os portos de origem e sua carga, além do nome do Mestre da embarcação. 

     O navio parece antigo. Mas a imagem também é muita antiga. Foi retirada do jornal O Noticiador de março de 1833. O movimento portuário era fundamental para a economia da então Vila do Rio Grande de São Pedro (ou Vila do Rio Grande do Sul). Dos portos brasileiros, platinos, europeus e dos Estados Unidos, centenas de embarcações chegavam e saíam anualmente pela Barra do Rio Grande.  

   O trabalho hoje feito pela praticagem da Barra era compartilhado pela população local, que estava voltada a movimentação portuária, essencial para as atividades econômicas dos mais diferentes setores da sociedade. E isto é essencial no meio rural: o gado se convertia em couro, sebo, crina, chifre, charque e precisava dos navios para ser transportado. 

     O ditado, "navegar é preciso" era -radicalmente-, uma realidade para a sobrevivência dos moradores. 

QUESTÃO LITERÁRIA - RESPOSTA

      Questionamento literário:

      Quem é o autor (ou os autores) dos dois trechos a seguir e em que não ano foram escritos: 

Respostas: 

"nada se iguala a tristeza desses lugares. De um lado o Oceano a mugir, e do outro o rio. Destroços de embarcações, semi-enterradas na areia, lembram terríveis desastres e nossa alma enche-se pouco a pouco de melancolia e terror". O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire retratando em seu Diário a localidade da Barra (atualmente em São José do Norte) no ano de 1820. 
Auguste Saint-Hilaire. http://1.bp.blogspot.com/


"Durante todo um dia de outono, monótono, escuro e silencioso, quando as nuvens pendiam opressivamente baixas no céu, eu tinha passado sozinho, a cavalo, por um trecho de terreno, singularmente lúgubre, e finalmente me encontrei, quando as sombras da noite se aproximavam, diante da triste visão...". O escritor norte-americano Edgar Allan Poe no conto "A Queda da Casa de Usher" publicado no ano de 1839.   
Edgar Allan Poe. https://s2.glbimg.com/

terça-feira, 26 de maio de 2020

ILUMINAÇÃO COM ÓLEO DE BALEIA

Jean Debret (década de 1820). 



       Jean Debret legou dezenas de imagens urbanas do Brasil Colonial/transição para o Império. Uma destas cenas cotidianas está ligada a iluminação pública. Na cena que se passa no Rio de Janeiro, um escravo negro tem a função de descer um lampião enquanto o outro negro, com um funil e canjirão com óleo de baleia, reabastecia um candeeiro de quatro mechas. 

      Exatamente! O óleo de baleia era o responsável por iluminar as noites escuras das cidades brasileiras. Apenas em 1854, surgiu no Brasil a iluminação a gás (hidrogênio carbonado) instalada no Rio de Janeiro por Irineu Evangelista de Souza (futuro Barão de Mauá). Felizmente, o óleo de baleia começará a ser substituído e novas alternativas de iluminação urbana irão surgir.   

LA LIBERTÉ EST LA MÈRE DES VERTUS

O Noticiador, 04-03-1833. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

      Este dístico de abertura do jornal O Noticiador é uma referência para o jornalismo da primeira metade do século XIX. É o primeiro jornal do interior do Rio Grande do Sul e que nasceu em janeiro de 1832 na Vila do Rio Grande. É um jornal político, literário e mercantil, sendo o primeiro jornal abolicionista do Rio Grande do Sul. 

      Apenas a chamada: "na Typographia de Francisco Xavier Ferreira", já daria munição para escrever um romance histórico sobre a trajetória deste personagem que marcou a Revolução Farroupilha. Xavier Ferreira tinha a maior coleção particular de livros de todo o Brasil com cerca de 3.500 exemplares. No jornal ele reproduzia muitas citações destes livros. 

     Na abertura sempre reproduziam, em francês, o princípio liberal e contrário a escravidão.


"A liberdade é a mãe das virtudes, da ordem e da duração de um estado. A escravidão, ao contrário, produziu apenas vícios e miséria". Sidney, tomo I, Seção II.    

      *Francisco Xavier Ferreira está se referindo ao inglês Algernon Sydney (1623-1683), numa passagem possivelmente retirada do livro "Discours sur le gouvernement" Sydney, ao lado de John Locke, são considerados os referenciais angulares do pensamento ocidental liberal.   

TERAPIA DAS SYZIGIAS

Ao ler estas informações sobre as marés das "syzigias" para 1913, especialmente recorrendo aos cálculos de Laplace (Mecânica Celeste, tomo II) se consegue chegar a um resultado surpreendente:  durante alguns minutos o cérebro se exaure e para de pensar na "maldita Pandemia"! 

Portanto, surge das folhas amareladas do passado remoto está nascendo a "terapia das syzigias".  

Almanak Laemmert para 1913. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

OFICINA DE FUNDIÇÃO

        O jornal Diário do Rio Grande do dia 26 de agosto de 1851 informava que a oficina de fundição de José Caetano Faria, estabelecida em Rio Grande, estava fabricando uma caldeira de ferro para uso do vapor "Brasileira". Segundo o jornal, com exceção das caldeiras fabricadas na Ponta d'Areia no Rio de Janeiro (empresa do Barão do Mauá), esta seria a primeira construção deste tipo fora do Rio de Janeiro.   


Rio Grande, 26-08-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 


      Em 1853, a escravidão permanecia uma estrutura distante de ser abalada. Estava sendo anunciado na Rua do Fogo (Rua Luiz Loréa) o aluguel de uma "ama de leite sem cria, bastante carinhosa".  

segunda-feira, 25 de maio de 2020

QUESTÃO LITERÁRIA

Questionamento literário:

Quem é o autor (ou os autores) dos dois trechos a seguir e em que ano foram escritos: 


"nada se iguala a tristeza desses lugares. De um lado o Oceano a mugir, e do outro o rio. Destroços de embarcações, semi-enterradas na areia, lembram terríveis desastres e nossa alma enche-se pouco a pouco de melancolia e terror".  

"Durante todo um dia de outono, monótono, escuro e silencioso, quando as nuvens pendiam opressivamente baixas no céu, eu tinha passado sozinho, a cavalo, por um trecho de terreno, singularmente lúgubre, e finalmente me encontrei, quando as sombras da noite se aproximavam, diante da triste visão..." 

O ATESTADO

       O Doutor João Damasceno de Miranda faleceu em Rio Grande e foi enterrado em Pelotas no mês de agosto de 1953. O detalhe: o Dr. Miranda escreveu o seu próprio atestado de óbito! Mesmo sendo médico, ele não poderia atestar sua própria morte. Um novo atestado foi providenciado.  


Rio Grande, 17-08-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

O MERCADO PÚBLICO E O POTREIRO

       O Mercado Público atual foi construído entre 1853-1863. Desde então, passou por períodos de estabilidade e outros períodos de decadência. Em 1953, passava por um mal momento. Estavam ocorrendo obras de conservação e ampliação, com a construção de um segundo piso. Porém, como as obras não andavam o atendimento era feito precariamente num galpão de madeira. 

  O jornal Rio Grande (12-08-1953) informava, sem especificar o ano de ocorrência, que o Mercado já havia sido até um "potreiro municipal".  

    Sistemáticas críticas eram feitas pela imprensa para que o prédio fosse finalizado e entregue aos comerciantes e a comunidade. 

Rio Grande, 12-08-1953. 

CASA CLARK EM 1953

        Quem recorda da Casa Clark?

Rio Grande, 06-08-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 
       A Cia. de Calçado Clark, uma das mais tradicionais empresas do ramo de calçados a se instalar no Brasil, já atuava em Rio Grande em 1938 (possivelmente muito antes) estando estabelecida na Rua Marechal Floriano n.293. Em 1953 está ocorrendo a inauguração de uma loja maior e moderna localizada na Rua 24 de Maio. O jornal Rio Grande faz a cobertura do evento em sua edição de 6 de agosto de 1953.

Clark na Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro. O Malho, 10-08-1907. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

Rua do Ouvidor no Rio de Janeiro. Placa dos Calçados Clark à direita. Revista Life, 1941. 

domingo, 24 de maio de 2020

JOGO DO BICHO

O jogo do bicho nasceu em 1892 e foi criado pelo Barão João Drummond (fundador do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro - em Vila Isabel). 

O Barão queria aumentar a frequência ao Jardim Zoológico e distribuía aos frequentadores na entrada um bilhete com a imagem de um animal. No final do dia o pano era retirado de uma jaula onde um animal ficava oculto e quem tivesse o bilhete respectivo ganhava um prêmio em dinheiro. No mesmo ano, surgiram denúncias de que se tratava de jogo de azar (portanto, contravenção), mas, a proibição oficial da jogatina só ocorreu em 1941.

Ao longo das décadas, o jogo sofisticou e transcendeu a criatividade inicial do Barão, se tornando um símbolo brasileiro.

Inúmeras brincadeiras se fazia, inclusive, as que foram retiradas da revista O Malho de 10 de agosto de 1907  e reproduzidas abaixo. 

Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

DUQUE DE BRAGANÇA - RESPOSTA

O Noticiador, 04-03-1833. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 


      Este título de nobreza foi criado em 1640 com a ascensão ao trono português pela família de Bragança. Todo Rei ou Rainha de Portugal, até 1910 (República Portuguesa) usava este título. 

          O personagem em foco é D. Pedro IV, Rei de Portugal (1831-1834) que foi o nosso famoso D. Pedro I. O seu desgaste político no Brasil, adveio de suas ações centralistas e simpáticas a presença portuguesa no Brasil. É um tema polêmico, mas, para muitos setores da sociedade brasileira representava a recolonização do Brasil pelos caramurus (pró-Portugal) e o retorno a uma condição de subordinação política.

QUEM É O AUTOR?


Atenção leitores: para decifrar só utilizando uma bola de cristal (autêntica).  

«(...) não me atrevo a indicar, para a execução total das obras, prazo inferior a dez anos. Devo, entretanto, acrescentar que, em obras desta natureza, é impossível fixar um prazo exato para a sua conclusão. Mas, se se souber enfrentar as dificuldades e as contrariedades, que se depararão infalivelmente durante a execução, se mantiver sempre a calma, a energia e as forças necessárias para resistir a essas contrariedades, o sucesso não poderá ser duvidoso e ter-se-á, assim, erigido um monumento, que será o testemunho do vigor que a nação brasileira é capaz de por em ação, quando se trata do desenvolvimento e da prosperidade do país».

Questões:

     Quem é o autor desta frase que faz parte de um relatório? Que obra está sendo projetada? 

      Dica: a obra foi executada no Município do Rio Grande.

sábado, 23 de maio de 2020

MONUMENTO À SÃO PEDRO

         Quem já ouviu falar no Monumento à São Pedro?


       A leitura desta matéria publicada no jornal Rio Grande de 10 de agosto de 1953 foi uma novidade. Ao longo da história republicana da cidade do Rio Grande, desde a edificação da Estátua da Liberdade em 1889 até as obras em bronze como a do Barão do Rio Branco, ou seja, entre o mármore e o bronze, a cidade se mobilizou muitas vezes para a construção de monumentos. A maioria destes projetos acabaram se efetivando.  Mas não foi o caso deste monumento à São Pedro. 

    Numa reflexão preliminar, fazendo de conta que não existe a destruição do patrimônio que hoje contemplamos, a ideia é coerente com a história da cidade e do Rio Grande do Sul. Afinal, o Rio Grande do Sul e a cidade receberam sua denominação devido a Barra do Rio Grande (1532). O padroeiro (que definia as definições geográficas) quando do período da passagem do navegador de Pero Lopes de Souza era São Pedro. 

     A entrada da Barra é o acesso ao hinterland do Rio Grande do Sul via Lagoa dos Patos e depois pelos rios da Bacia Hidrográfica do Atlântico. 

     Meu voto é a colocação do monumento no Molhe Oeste da Barra. Ali nos atuais Molhes nasceu o Rio Grande do Sul luso-brasileiro!   

     Porém, devemos pensar com muita calma: frente a crise econômica que resultará da pandemia e as sistemáticas depredações sofridas pelos monumentos (quanto tempo duraria a chave de São Pedro para desaparecer...), será mais racional a valorização da Igreja de São Pedro, a mais antiga do estado. 

      Pelo estilo do blog, os leitores sabem que estou sendo lúdico e não estou falando sério! Hoje, não apoiaria iniciativas que levem a investimentos que sejam problemáticos e que se converterão em dores de cabeça. Um longo e difícil período de crise nos espreita e amargura o horizonte. 

     Depois da pandemia, teremos que definir o que é essencial ser mantido e quais projetos serão lançados para um futuro distante ou muito distante... 

     Até uns 10-15 anos atrás eu estava entusiasmado com uma série de projetos que envolviam os Molhes da Barra. Considero aquele espaço extraordinário para o turismo. Quando participei da equipe que colocou um marco da existência do Forte espanhol da Barra (1776) no trevo de acesso aos Molhes, acreditei que seria o início de grandes avanços no turismo histórico. Achei ótima a ideia de um restaurante panorâmico junto aos Molhes, da (re) construção do Forte da Barra naquela área (ambos projetos negados por questões ambientais e patrimoniais), que se somariam com o Oceanário Brasil. Hoje, depois de tanto empenho, tudo parece um sonho nebuloso que foi virando um pesadelo. Há períodos de esgotamento de certos projetos (como a estatuária em espaços públicos) que podem sofrer novas leituras num futuro de média ou longa duração. Mas não tão cedo...

     Nosso exercício (lição de casa) pós-pandêmico será a reconstrução dos nossos referenciais materiais e imateriais. Só isso, já será um grande desafio!

UMA HERANÇA NA FRANÇA - A HERDEIRA

      Entre as notícias publicadas em 1905 estava a decisão judicial pelo recebimento da herança de Timoleon Zalony por uma "suposta ex-escrava" do súdito francês. De fato a herança foi deixada para um "ex-escravo" mas não recebida por ele. 
       
     A herança chegou tarde para o escravo João Othelo que foi emancipado quando Zalony partiu para a França. A alforria pode ter sido concedida por volta de 1860-61 e longas quatro décadas transcorreram. João já devia ter falecido e a herdeira passou a ser Bemvinda Maria da Conceição e seus filhos.  Bemvinda, ao contrário da matéria do jornal, não deve ter sido escrava de Zalony, e sim, casada com João Othelo. 


      Olavo Bilac escreveu sobre este assunto em seu livro Crítica e Fantasia (Lisboa: Livraria Teixeira, 1904, p. 319-321). O poeta e cronista faz uma empolgada defesa de Zalony e remete a uma questão debatida nos primórdios do século XX: que a escravidão era uma página a ser esquecida e a documentação eliminada, o que Bilac discordava frontalmente.
    Importante: a transcrição respeitou integralmente a grafia do livro. 

   "O Jornal do Commercio transcreve dos jornaes do Rio Grande do Sul, uma noticia de grande interesse emocional. Trata-se de um raro, de um singular, de um extranho caso de gratidão. A gratidão já é um sentimento tão pouco vulgar, que sempre causa certo espanto. Mas, aqui, o espanto é maior: porque no caso maravilhoso, a gratidão vem de um homem rico para um homem miserável, de um senhor para um escravo. 

   Timoléon Zalony, que por muito tempo viveu, e enriqueceu, no Rio Grande do Sul, possuia um escravo, João Othelo, cujos serviços especialmente estimava. Assim que fez fortuna, Zalony deu liberdade ao escravo, e retirou-se para a Europa. Mas, de lá, continuou a interessar-se pela vida do seu antigo servidor, e mandava lhe com pontualidade uma pensão mensal. Agora, fallecido Timoléon Zalony, e aberto o seu testamento, viu-se que o finado deixou a totalidade dos bens ao ex-escravo: e as auctoridades francezas acabam de pedir ás auctoridades brasileiras que procurem esse afortunado liberto, ou os seus herdeiros, para que as disposições testamentarias do morto possam ser cumpridas... 

    Creio que nunca se viu cousa tão extraordinaria: um senhor que ama o seu escravo, que o liberta, que lhe sustenta e ampara a vida, e que ainda lhe deixa em testamento a fortuna. 

   Ah! por esse único, por esse prodigioso, por esse estupendo caso de gratidão, — quantos outros de ingratidão feroz, de criminosa indiferença, de perversa crueldade! 

     Não tem conta os homens do Brasil que, na sua primeira infancia, foram amamentados, carregados ao collo, acariciados e amimados por velhas pretas,— amas de leite ou amas-seccas. Quantos d’esses homens serão capazes de saber que fim levaram, onde foram viver e morrer, onde jazem sepultadas essas mães-pretas — tão carinhosas, tão boas, que, como escravas, eram forçadas a separar se dos proprios filhos para amamentar os filhos das senhoras, e que n’estes concentravam, resignadamente e abnegadamente, todo o seu carinho e todo o seu affecto? 

   Em regra geral, quando acabava o periodo do aleitamento, as mães-pretas voltavam para o eito ou eram vendidas; algumas vezes, os seus serviços eram recompensados com a carta de alforria; — mas não eram muitos os casos, em que os sinhôs-moços amparassem até a morte as suas amas... 

   Lendo agora, a noticia do caso de Zalony, lembro-me d’essa infinita multidão de mulheres martyres. . . Quantas d’ellas terão merecido das mães verdadeiras, que substituíram, e dos homens a quem deram o seu leite, uma prova de carinho e de gratidão, como essa que Zalony deu ao seu antigo escravo ? 

    Dizem por ahi que a escravidão é uma pagina horrivel, que convem rasgar e esquecer. . . Não penso assim. E bom que conservemos e releiamos sempre essa pagina, afim de que, cultivando a nossa bondade, possamos remir a grande culpa das gerações que precederam a nossa. O melhor meio de resgatar um crime, não é esquecel-o: é compensal-o com um progresso moral incessante, com uma incessante ascensão para o bem e para a bondade..." (Olavo Bilac).

JOÃO CAETANO DOS SANTOS EM RIO GRANDE

Selo postal em homenagem a João Caetano. https://i.colnect.net/b/3821/917/Jo%C3%A3o-Caetano-dos-Santos-and-stage.jpg

     Ontem, no blog, foi publicada a notícia da possível vinda do ator João Caetano dos Santos a Rio Grande. Esta possibilidade parecia distante, mas, se concretizou pelos esforços da direção do Teatro Sete de Setembro da cidade do Rio Grande. 

    Este tema foi abordado por Leandro Kerr Gimenez no artigo “A vinda do maior ator do Império ao extremo sul brasileiro” (Mafuá, edição 15). 

    Breves passagens do artigo são reproduzidas abaixo e recomendo a leitura integral no endereço: https://mafua.ufsc.br/2011/vinda-do-maior-ator-do-imperio-ao-extremo-sul-brasileiro/

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      No dia 23 de agosto de 1854, o ator chegou ao Porto do Rio Grande vindo do Rio de Janeiro. No dia 27 de agosto ocorreu a estreia de João Caetano no Teatro Sete de Setembro com a peça “A Dama de Saint Tropez”. 

Conforme Leandro Kerr Gimenez, “no meio dos mais estrondosos aplausos, terminou A Dama de S. Tropez e os brados repetidos de “O Gênio do Brasil à cena!” ecoaram por algum tempo no espaço. Logo após, retornou ao palco o herói da noite e, após alguns momentos, João Caetano dos Santos pediu a atenção do público, e, interrompido a todo o momento pelo som dos bravos, recitou uma poesia intitulada Salve, Estrela do Sul!. Nesse texto, o ator agradece aos rio-grandinos pelo convite e acolhimento, além de dizer que sempre foi um desejo seu visitar a esta província do Sul do Brasil”. 

     Outras peças foram apresentadas e o ator, também fez apresentações em Pelotas. A última peça encenada em Rio Grande foi “A Gargalhada” no dia 31 de outubro e o artista partiu em viagem para o Rio de Janeiro no dia 2 novembro. No jornal O Rio-Grandense (04-11-1854) ele faz sua despedida: 

"Partindo desta Província, não posso ausentar-me sem testemunhar a minha gratidão, a este generoso país. Levo gravado em meu peito vivíssimas saudades, e apreciáveis recordações, e jamais se riscará da minha lembrança o quanto sou devedor do ilustrado público Rio Grandense! Ausento-me penhorado no mais alto quilate, por este benigno público que tanto me honrou, e distinguiu. Terei sempre impresso na memória agradecida que me prodelisaram aqui, aplausos, distinções flores, e primorosas poesias, e que as ilustres, e respeitáveis senhoras desta terra, esses arcanjos do sul, ornaram a minha fronte de artista, com mais uma coroa de glória. Estas elevadas e distintíssimas honras que recebi não as refiro por orgulhoso, nem para exaltar o pouco que considero, se me lembro delas, é para protestar o mais profundo reconhecimento e uma sincera gratidão a par da minha existência! Seja pois este hospitaleiro país sempre ditoso, e prospere sempre. São estes os votos da alma agradecida de João Caetano dos Santos". 

     A vinda e permanência por mais dois meses de João Caetano dos Santos ao extremo sul brasileiro, possibilitou na análise dos poemas recitados e publicados na imprensa ao longo deste período, "observar melhor não só a produção literária presente nas cidades de Rio Grande e Pelotas, na metade do século XIX, mas também resgatar o histórico do ambiente nessas províncias. Pode-se concluir que o Arcadismo foi a escola literária que influiu em tais produções, no entanto a irregularidade nas sílabas poéticas e o sentimento nacionalista presente nos textos demonstra uma influência da escola romântica nas poesias. E que os poemas do extremo sul brasileiro estavam seguindo o mesmo movimento que os da corte, pois, em todos os casos, as características são semelhantes”.

DUQUE DE BRAGANÇA



     Uma questão histórica a ser investigada! 

     Este texto publicado no jornal O Noticiador (Vila do Rio Grande) de 4 de março de 1833, está se referindo ao Duque de Bragança, um personagem muito conhecido no Brasil. Mas o Duque parece não ser muito considerado por parte dos brasileiros... 

    Quem é este personagem?

sexta-feira, 22 de maio de 2020

BALEIAS NO PORTO VELHO

Jornal Rio Grande, 30-07-1953. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

     Não é lenda urbana que as baleias adentraram a Barra do Rio Grande em algum momento do passado. A matéria jornalística confirma um destes ingressos por duas baleias que chegaram até o Porto Velho. Isto ocorreu no dia 30 de julho de 1936. E quantas vezes mais? 

CINEMATOGRAPHO PARISIENSE

O Malho, 10-08-1907. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 
       O imigrante italiano J. R. Staffa estabeleceu no Rio de Janeiro uma sala de projeções que buscava seguir o padrão dos irmãos Lumière: era o "Cinematographo Parisiense". 

       Se algum leitor estivesse visitando o Rio de Janeiro no dia 10 de agosto de 1907, teria a oportunidade de assistir três sessões de filmes/documentários curtos na inauguração desta sala de projeções que fez muito sucesso no Rio de Janeiro. Em 1913, muitas polêmicas envolvem o "Cinematographo Parisiense" que passa a ser chamado nos jornais de "pulgueiro" e outros termos de pouca simpatia.

UMA HERANÇA NA FRANÇA




     No dia 7 de agosto de 1851, chegou ao Porto do Rio Grande um vapor que trazia 150 militares prussianos com destino a Pelotas. Eram mercenários, os brummers, que foram contratos para a guerra que estava sendo travada com a participação do Brasil contra Rosas e Oribe. Com o fim do conflito, parte destes mercenários irão se fixar no Rio Grande do Sul. 

       Em 8 de agosto de 1854 o proprietário do Teatro Sete de Setembro partiu para o Rio de Janeiro com o objetivo de regressar com o mais destacado ator brasileiro do século XIX: João Caetano dos Santos. Mas o ator realmente veio a Rio Grande? Descobriremos em breve... 

     Thymoleon Zalony foi um personagem que se destacou no combate a epidemia do cólera no Uruguai e na cidade do Rio Grande (1855-1856). Após a epidemia, continuou morando em Rio Grande e retornou à França na década de 1860 onde cursou e se formou em Medicina. Sua atuação como médico se estendeu, pelo menos, até os primórdios da década de 1890. Ele deixou em seu testamento, para um ex-escravo em Rio Grande, a totalidade de seu patrimônio. Bemvinda Maria da Conceição estava habilitada a receber, por despacho de 27 de julho de 1905, a herança deixada por Zalony. Mas a herança foi realmente deixada para Bemvinda?