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| Incêndio em vegetação na cidade do Rio Grande, 21-11-2025. Fotografia: Luiz Henrique Torres. |
Quando comecei a acompanhar as noticias da COP-30 me interessei na realização deste evento. O clima terráqueo não tem mais tempo para protelamentos em ações efetivas.
Caiu o queixo em cima da mesa quando li que o Governo Federal estava autorizando a Petrobrás a fazer as prospecções testes na Bacia da Amazônia. A Ministra Marina que resistiu ao assédio se demitiu? Não. Quase toda credibilidade do evento, para mim, morreu naquele instante. Qual o motivo para não esperar até o day after de enceramento da COP-30 para autorizar que a Foz do Amazonas poderia produzir, num futuro próximo, 1,1 bilhões de barris de petróleo diariamente? Confrontar impunemente o ambientalismo planetário me pareceu absurdo. Mas real...
Um segundo golpe, simbólico, foi quando a presidência da república afirmou que o evento seria mesmo no Pará, num cenário pré-apocalíptico de calor escaldante e infraestrutura beirando o patético, mas, que o presidente sentiria a vida dos pescadores e moradores locais em termos de instalações. Na sequência, uma embarcação luxuosa -para os padrões amazônicos-, foi deslocada para dar conforto ao presidente e seus convidados: este não é o mundo real na Amazônia! O mundo de um futuro próximo não será de conforto e luxo, a não ser para os privilegiados. Foi como olhar para o futuro e ver que a miséria advinda das alterações climáticas não serão democráticas e sim, seletivas para quem tiver o poder para ter uma vida de conforto e um discurso ambiental e uma prática incoerente. Foi relevante para se observar onde reside o discurso onde se efetiva a prática.
Na sequência uma COP-30 caótica de problemas de infraestrutura mínima para receber tantos participantes. Contradições básicas na própria Belém em que manifestações envolvendo povos ancestrais, quilombolas e moradores que evidenciaram práticas antiambientalistas, com derruba de trechos de árvores da floresta amazônica, para construir uma estrada e outras denúncias.
Na sequência, um incêndio em pavilhão da COP com pessoas asfixiadas que lembra um cenário apocalíptico gerado por onda de calor - um dos temas centrais discutidos por tantas pessoas com preocupação no futuro ambiental do planeta. A asfixia distópica se fez presente de forma real!
Porém, um gancho de coerência pode ser feito em relação a liberação para a queima de combustíveis fósseis pela Petrobrás e o documento final do Evento que retirou referência a redução efetiva de queima de combustíveis fósseis. Ou seja, a COP-30 já sabia de antemão (um deja vu?) que seria apenas um encontro escaldante em que pessoas pagariam valores absurdos por hospedagem e alimentação, sem qualquer avanço concreto na discussão real das mudanças climáticas?
Entre o assustador e o patético, as contradições do governo brasileiro ficaram evidentes entre discursos preservacionistas e práticas predatórias do convívio com a natureza. No fim, eram apenas discursos de impacto e mídia. Combustíveis fósseis são apenas ficção pois não aparecem na carta final do evento o que oficializa a vitória da indústria de petróleo e gás alicerçada em vários países. A certeza é que queimaremos até o último galão de petróleo para realizarmos a transição energética. O resto são compensações e ações de mitigação de danos.
Que a terra seja leve para os terráqueos!