Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 31 de agosto de 2019

JANNA LEVIN -FRONTEIRAS DO PENSAMENTO




         No próximo dia 2 de setembro a física Janna Levin estará em Porto Alegre para palestrar no Fronteiras do Pensamento. Este projeto teve início em 2006, na cidade de Porto Alegre, com o objetivo de oferecer uma ampla compreensão das mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas do mundo contemporâneo. O projeto Fronteiras "propõe uma profunda análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade, o projeto promove conferências internacionais e desenvolve conteúdos múltiplos com pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação".
As informações e imagens foram retiradas do site https://www.fronteiras.com/.

         A conferencista é física teórica e astrônoma norte-americana. Com os olhos voltados para o vasto espaço acima de nós, o trabalho de Janna Levin busca compreender os buracos negros e as ondas gravitacionais no espaço-tempo. Professora de física e astronomia, Levin escreve sobre a obstinação do homem em desvendar os mistérios do universo. Formada em física e astronomia pela Universidade de Columbia, onde leciona atualmente, e Ph.D em física teórica pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Além disso, é diretora de ciências do centro cultural Pioneer Works, em Nova York. Em suas pesquisas aborda o início do cosmos, buscando evidências de sua finitude. 
Em 2012, foi condecorada com a Guggenheim Fellowship. É autora de Um louco sonha a máquina universal, romance que traz referências ao filósofo e matemático Kurt Gödel e ao matemático Alan Turing. Seu livro mais recente é A música do universo, publicado em 2016 no Brasil e que conta a história da obsessão de três cientistas e físicos – que acabaram recebendo o Prêmio Nobel de Física em 2017 –, em uma jornada de 50 anos para detectar as ondas gravitacionais por meio do grupo chamado Ligo (Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais). Para Janna Levin, uma das coisas belas sobre a ciência é que ela unifica as pessoas.

Algumas reflexões de Janna estão em uma entrevista reproduzida na página https://www.fronteiras.com/entrevistas/conheca-janna-levin-a-mais-descontraida-astrofisica-em-atividade. Um pequeno trecho é reproduzido a seguir.
Seu romance de 2006, A Madman Dreams of Turing Machines lida com os conceitos do infinito, da verdade e dos limites do conhecimento – temas que você também explorou em suas pesquisas em cosmologia, ao debater se o universo é finito ou infinito. Você conta essa estória através de um relato ficcional das vidas e das mortes terríveis de Alan Turing e Kurt Gödel. Você poderia dizer o que o trabalho deles revelou sobre a natureza da verdade?
Janna Levin: O teorema de Gödel afirma que há fatos que são verdadeiros, mas que jamais poderão ser provados como tal. Há fatos em meio aos números que jamais saberemos ao certo se são verdadeiros ou falsos. Quando Gödel mostrou isso – para não falarmos de quando Turing apareceu e mostrou que jamais saberemos nada sobre a maioria dos fatos em meio aos números –, foi muito chocante. Isso significa que não há uma “teoria de tudo” na matemática. O baque foi imenso. Gostei da ideia de aplicar o teorema de Gödel a uma narrativa ficcional em que conto uma história verdadeira, muito embora eu não o faça meramente citando informações factuais. Há uma sensação de verdade nas estórias ficcionais que talvez constituam, de certo modo, uma experiência mais visceral da história. Talvez, seja uma sensação mais lúcida, capaz de fornecer um panorama muito mais amplo do que uma simples listagem de fatos biográficos. Além disso, sinto que a ciência faz parte da cultura, o que motiva minha conexão com a Pioneer Works. Por que não posso escrever um romance sobre ciência? É possível escrever sobre violência doméstica. É possível escrever um romance sobre a indústria naval de Boston. Por que não posso escrever um romance sobre matemáticos? É apenas uma parte natural da cultura.
Tendo em vista que, em sua carreira como física, você pensou muito profundamente no teorema de Gödel, você acha que a ausência de uma teoria de tudo na matemática sugere que, talvez, tampouco seja viável uma teoria de tudo na física?
Janna Levin: Penso muito nisso. Se a física é tão arraigada na matemática, por que deveríamos pensar que surgirá uma teoria física de tudo? O modo como costumamos pensar sobre o Big Bang é: o universo nasceu, e nasceu com dados iniciais. Existem leis da física, e de algum modo os dados iniciais são apenas... diferentes. 
Somos muito desonestos quando falamos da origem desses dados. E se as leis da física que descrevem a origem do universo forem uma dessas leis que precisam validar a si mesmas – um dos clássicos emaranhados autorreferentes delineados por Gödelian? [Um emaranhado gödeliano é uma proposição matemática autorreferente e impossível de ser provada, como, por exemplo, “É impossível provar esta proposição”.] E se as leis da física precisam validar a si mesmas de tal modo que elas próprias se tornam de alguma forma incomputáveis?
Também sou super interessada na ideia de que os dados iniciais do universo possam conter números irracionais ou incomputáveis. Nesse caso, o universo jamais terminaria de computar as consequências de suas condições iniciais. Talvez não sejamos capazes de prever o que acontecerá no futuro porque cada dígito dos dados iniciais equivale a jogar uma moeda. Mas isso não é o suficiente se eu não tiver nada além de palavras, e nunca encontrei um modo de escrever sobre matemática. Por isso, é só conversa fiada. Acho que uma coisa inteligente a se fazer seria olhar para um emaranhado gödeliano existente dentro da matemática e tentar mapeá-lo em leis fictícias da física. Assim, teríamos um universo capaz de abrigar um emaranhado gödeliano. Seria um experimento construtivo.
Você pretende tentar fazer isso?
Janna Levin: Sim, é algo que sempre volta à tona. Nos últimos tempos, voltei a conversar com uma pessoa sobre um Big Bang autorreferente. Na verdade, venho tomando notas a respeito disso. Essas notas ajudam a esclarecer o que sabemos, o que compreendemos, e o que não compreendemos de fato. 
(Reportagem original reimpressa com a autorização da Quanta Magazine. Via Wired)


ANTIGAS PROPAGANDAS


          A publicação “Rio Grande do Sul – Revista Ilustrada” circulou na cidade do Rio Grande entre 1910 e 1911. Matérias sobre o desenvolvimento comercial e industrial, literatura e história, temáticas variadas, foram publicadas ao longo dos sete números que perdurou a Revista. Uma fonte para conhecer o passado, reside nas propagandas publicadas e que possibilitam uma visita a casas comerciais desaparecidas e produtos que não são mais usuais para os novos consumidores. Analisar as propagandas é uma amostra das técnicas, dimensão do mercado consumidor e hábitos de consumo de uma comunidade num momento do tempo. As empresas comerciais aqui contempladas (a maioria remete as últimas décadas do século XIX), são: Bromberg, Fábrica de Biscoitos Leal Santos, Contribuidor da Beleza, Fundição Dias, A Pérola, A Violeta de Roque Aita e Bazar de Móveis de Amancio Silva.  
Ilustrações: Rio Grande do Sul – Revista Ilustrada. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.









sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ERIC CLAPTON

Clássica participação de George Harrison e Eric Clapton no Concerto para Bangladesh (1971) com a música While My Guitar Gently Weeps.  

Eric Clapton é um guitarrista, cantor e compositor nascido na Inglaterra em 30 de março de 1945. Clapton é um solista de extrema habilidade e sensibilidade na construção de melodias que vagam entre o emotivo, o melancólico e a tristeza. Sua marca é o blues sendo considerado o maior guitarrista branco a tocar blues. Iniciou sua carreira em 1962, participando de bandas Yardbirds e o Cream ou em trabalhos solo. Gravou mais de 60 discos e sua vida foi uma luta de superação das drogas e álcool. Atualmente, uma doença (neuropatia periférica) torna muito doloroso tocar guitarra.

Inúmeras músicas poderiam ser sugeridas mas uma que remete a uma tragédia familiar de Clapton, merece ser visitada: Tears In Heaven (https://youtu.be/1qb8xDfPmFo)  

Tears In Heaven
Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Would it be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven

Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?
I'll find my way
Through night and day
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven

Time can bring you down
Time can bend your knees
Time can break your heart
Have you begging please
Begging please

Beyond the door
There's peace, I'm sure
And I know there'll be no more
Tears in Heaven

Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Would you be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven

'Cause I know I don't belong
Here in Heaven

Lágrimas no Paraíso
Será que você saberia o meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Será que as coisas seriam iguais
Se eu te visse no Paraíso?
Eu preciso ser forte
E seguir em frente
Porque eu sei que não pertenço
Ao Paraíso

Será que você seguraria na minha mão
Se eu te visse no Paraíso?
Será que você me ajudaria a levantar
Se eu te visse no Paraíso?
Eu encontrarei o meu caminho
Pela noite e pelo dia
Porque eu sei que não posso ficar
Aqui no Paraíso

O tempo pode te deixar deprimido
O tempo pode fazê-lo curvar-se
O tempo pode despedaçar o seu coração
Fazê-lo implorar por favor
Implorar por favor

Além dessa porta
Há paz, eu tenho certeza
E eu sei que não haverão mais
Lágrimas no paraíso

Será que você saberia o meu nome
Se eu te visse no Paraíso?
Será que você seria o mesmo
Se eu te visse no Paraíso?
Eu preciso ser forte
E seguir em frente
Porque eu sei que não pertenço
Ao Paraíso

Porque eu sei que não pertenço
Ao Paraíso





Divulgação no Japão da parceria Harrison e Clapton em dezembro de 1991. 



Disco de 1992 que vendeu mais de 26 milhões de cópias. 

AS PONTES DO SÃO GONÇALO

         A ligação entre Rio Grande e Pelotas consiste num problema histórico! A transposição do Canal São Gonçalo era feita, desde o século XVIII, por pelota (pequena embarcação em couro que levava uma pessoa e era arrastada por um nadador), por canoas, jangadas, pequenos barcos, balsas ou outras embarcações, de acordo com o período temporal.
       A primeira ponte sobre o São Gonçalo foi ferroviária em decorrência da construção da Estrada de Ferro Rio Grande-Bagé (Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway Company), Estrada que foi inaugurada em 1884. A ponte foi construída na França em 1882 e tinha um vão central giratório para a passagem das embarcações. Em 1982 ocorreu a substituição por um vão elevatório. Nas duas fotografias de Augusto Amoretty, estão perpetuados dois momentos da construção (entre 1882-1884).
       A edificação de uma ponte ferroviária foi uma longa espera muito mais longa. A defesa da obra se intensificou na imprensa do Rio Grande na década de 1950. Tendo iniciada a sua construção em 1960, a “Ponte Alberto Pasqualini” foi inaugurada em julho de 1963, totalizando 994,5 metros de comprimento e uma altura máxima de 27 metros.  Com o grande fluxo de caminhões conduzindo grãos para o SuperPorto do Rio Grande (no contexto do projeto “Corredor de Exportações”), a ponte foi interditada em 1974  e condenada por permitir o tráfego de veículos com carga máxima de até 36 toneladas mas recebia veículos de até 60 toneladas. A sobrecarga de peso produziu defeitos e fissuras que levaram a necessidade de construção de outra ponte a qual teve início em abril de 1975 e término em maio de 1976. Com maior largura que a “Ponte Velha”, a “Ponte Léo Guedes” tem um comprimento de 1.020 metros, altura máxima de 21,35 metros e permite um tráfego de até 10 mil veículos por dia.
       Com o avanço da duplicação da BR-392, deverá ser retomada a discussão da necessidade de recuperação e alargamento da “Ponte Alberto Pasqualini”. Desde o distante tempo em que era utilizada “pelota”, o São Gonçalo ainda persiste como um grande desafio à engenharia e aos cofres públicos para garantir a segurança em sua passagem. 


Ilustrações: 
Ponte Ferroviária. Fotógrafo: Amoretty. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Ponte Nova e Ponte Antiga vistas de baixo. Acervo: http://www.panoramio.com/







terça-feira, 20 de agosto de 2019

FURG 50 ANOS

Na tarde de hoje, 20 de agosto de 2019, a Universidade Federal do Rio Grande completou 50 anos. O Conselho Universitário esteve reunido em Assembléia Universitária numa cerimônia aberta a comunidade universitária e a sociedade rio-grandina. 
     O Oceanólogo Lauro Barcelos foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa. Homenagens e Distinções de Mérito foram concedidos a docentes, técnicos-administrativos e a Instituições. 
Na cerimônia foi concedido a Biblioteca Rio-Grandense, a distinção de Mérito Institucional. 
     Nos 173 anos de existência, a Biblioteca tem plantado as sementes da preservação e difusão do conhecimento. Em nível de Ensino Superior, o primeiro curso a ser instalado na cidade (Engenharia Industrial) teve suas aulas realizadas no Biblioteca, a partir do ano de 1956. 
Vida longa a FURG! Vida longa a Biblioteca Rio-Grandense!    





sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A MORTE DE VARGAS


        No dia 24 de agosto de 1954, uma terça-feira, o presidente Getúlio Vargas se suicidou. Desde 1930, ele obtivera projeção nacional e o respeito de milhões de admiradores e correligionários. Sua morte provocou perplexidade e revolta, frente ao complexo quadro de desgaste político em que estava envolto.
Em Rio Grande, uma cidade com forte presença operária, sua morte foi recebida com consternação.  O jornal “O Tempo” (24 e 27 de agosto) fez uma ampla cobertura da recepção de sua morte e deixou, em sua manchete, relatos das intensas mobilizações: “silêncio, flores e lágrimas na grandiosa passeata noturna; milhares de olhos choraram; a homenagem da Cidade Nova”. A passeata tomou as ruas da cidade percorrendo do Sindicato de Carnes e Derivados na rua Benjamin Constant, se deslocando entre a rua Marechal Floriano até a rua Cristóvão Colombo, passando por pessoas que ficavam aglomeradas nas calçadas.
O cortejo dirigiu-se à Estátua da Liberdade (Praça Xavier Ferreira) para realizar as homenagens. Coroas de Flores foram depositadas no pedestal. No topo do monumento, foram colocadas milhares de flores, em especial, pelo operariado rio-grandino. Carlos Santos, um excelente orador, fez um discurso de improviso que “arrancou mais lágrimas do povo”. “O Tempo”, como ocorreu com várias publicações naqueles dias, publicou a carta de despedida do presidente Vargas.  
Ilustrações: Jornal “O Tempo” de 24 e 27 de agosto de 1954. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.




quinta-feira, 8 de agosto de 2019

CONVITE PARA EXPOSIÇÃO

Convite para a Exposição "Guerra do Paraguai: fontes e historiografia" utilizando o formato dos antigos cartões-postais que circularam no final do século XIX e nos primórdios do século XX. Elaboração que eu fiz em parceria com o designer gráfico e Bacharel em História Giovani Marques Sequeira. 





segunda-feira, 5 de agosto de 2019

CARTOGRAFIA DO LITORAL SUL: IMAGEM DE 300 ANOS

À direita a Barra do Rio Grande e Lagoa Mirim. Ao centro o Rio Martim Afonso (Barra do Chuí). 

À direita o limite do litoral norte do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. O Curso de água mais destacado é o Rio Tramandaí. Alagoa se refere a Lagoa do Peixe. Barra do Rio Grande (à esquerda). 


O bandeirante Bartolomeu Pais de Abreu
 nasceu em 1674 na atual Ilhabela (São Paulo) e morreu em São Paulo em 1738 durante uma epidemia de bexiga (varíola). Foi nomeado capitão de ordenanças por sete anos e de Juiz ordinário em  1705 em São Paulo. Em 1712, foi nomeado capitão de infantaria paga. Ele explorou o sul-mineiro, a região de Curitiba, sul do Iguaçu e visitou o Rio Grande do Sul. Em 1722, foi o inspirador e organizador da bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva e seu irmão João Leite da silva Ortiz ao qual se atribuiu a descoberta do ouro em Goiás.
Bartolomeu Pais de Abreu elaborou vários mapas do litoral de São Paulo até o Rio da Prata com o título: Demonstração da Costa desde Buenos Aires até a Vila de Santos. O comércio na Colônia do Sacramento e o movimento das tropas foram fatores fundamentais para esta produção cartográfica que está completando 300 anos. Entre os 10 mapas, o litoral do Rio Grande do Sul está contemplado num período anterior a ocupação sistemática a partir da Barra do Rio Grande de São Pedro. Os mapas fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

COMPANHIA DE CONSERVAS RIO-GRANDENSE



      Um dos ramos industriais estabelecidos em Rio Grande foi o de conservas. Entre estas empresas, foi fundada em 1906 a fábrica Tullio de propriedade do Major Tullio Martins de Freitas. Conforme o Almank Laemmert para 1910, a empresa estava estabelecida na rua General Osório 32 a 36. Em 1911, a fábrica foi transferida para o Boulevard 14 de Julho n. 81 (Av. Portugal).  
Em 10 de agosto de 1911, a fábrica Tullio mudou a razão social para Companhia de Conservas Rio-grandense, constituída na mesma data, com o capital de Rs600:000$000, dividido em 3.000 ações do valor nominal de Rs.200$000.
De aproximadamente 30 funcionários passou para 112 pessoas, sendo que em período de safras poderia dobrar as contratações. A sua exportação no ano de 1910 atingiu a Rs 800:000$000. Além de muitas e variadas conservas de doces, carnes e peixes, refina também banha de porco. A empresa produz as próprias latas e caixas, utilizando máquinas a vapor. O horário de trabalho era das 7 as 11 e das 12 as 17h.
Nas imagens preservadas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro estão rótulos de conservas de pescado, camarão e morango. Um anúncio da empresa, no tempo da Fábrica Tullio também é reproduzido.







quinta-feira, 1 de agosto de 2019

RUA RIACHUELO


Em princípios do século XIX as águas da Lagoa dos Patos quase chegavam até a face norte da rua da Praia, atual Marechal Floriano. Havia o trapiche da Alfândega desde 1804 e outras estruturas de madeira que permitia descarregar e carregar matérias-primas e mercadorias até os navios. Desta precária estrutura portuária se observava os pátios da rua da Praia e com os prédios de costas para a Lagoa. A planta da Vila do Rio Grande de São Pedro, feita por ordem da Câmara Municipal em 1829, já apresenta o trecho aterrado da hoje rua Riachuelo, entre as atuais ruas Ewbank e Andrade Neves, com o nome de rua Nova das Flores. No entanto, desde a sua demarcação, foi ela denominada, de rua da Boa Vista. Um documento oficial demarca o nascimento desta rua. A sessão de vereança da Câmara, de 9 de janeiro de 1822, discutiu o requerimento de José Vieira Viana, que solicitava o alinhamento de seus terrenos. A Câmara, mandou proceder a abertura e alinhamento de uma nova rua junto ao Canal, a que se deu a denominação de Boa Vista. A atual rua Riachuelo foi edificada com aterramento que avançou pela Lagoa, parte dele, oriundo das ruínas do Forte Jesus-Maria-José, que ficava situado nas proximidades da Praça do Poço (atual Praça 7 de Setembro)
O nome de Riachuelo lhe foi dado em 9 de outubro de 1865, comemorando a grande batalha naval que se dera no Paraguai, em Riachuelo, na embocadura do rio Paraná, a 11 de junho de 1865, saindo vitoriosa a esquadra brasileira comandada pelo Almirante Barroso. O resultado desta batalha naval foi fundamental para a vitória dos aliados na Guerra da Tríplice Aliança.
 
Rua Riachuelo em 1909. Ateliêr Fontana. 

IMAGENS DE 1942


Um livro de quase 700 páginas e capa em madeira foi publicado no ano de 1942: Rio Grande do Sul  - imagem da terra gaúcha. Seus autores são Morency Silva, Arthur Pires e Léo Schidrowitz e a publicação buscou uma caracterização da história, geografia, economia e do povoamento do Rio Grande do Sul. Informações sobre as cidades foram compiladas de dados oficiais e mais de mil imagens acompanham a obra.
Entre estas imagens, alguns flagrantes visuais da cidade do Rio Grande foram reproduzidos sendo acompanhados de algumas informações sobre a população e a economia local. Rio Grande é chamada de a “enamorada do mar”.
Em 1942, conforme os dados reproduzidos no livro, Rio Grande possuía 203 fábricas e oficinas, com 6.761 operários. Havia incríveis 548 veículos nas ruas da cidade, cerca de 200 vezes menos do que no presente! A população era de 60.300 sendo 49.550 na cidade. Entre as surpresas, o principal produto agrícola era a cana-de-açúcar com uma produção de 6.300 toneladas. Em segundo, o arroz com 3.510 toneladas; em terceiro a produção de uva com 156 toneladas e 230 mil litros de vinho. A vinicultura era desenvolvida na Ilha dos Marinheiros! Entre bovinos, equinos, asininos, ovinos, suínos e caprinos, o rebanho municipal era de 140 mil cabeças.   
Alguns do cenários mostrados, respectivamente: o prédio da Câmara do Comércio; a Praça Xavier Ferreira; os fundos do prédio da Biblioteca Rio-Grandense e o cais do entreposto de venda de pescado; os Molhes da Barra.










DRÁCULA DE BRAM STOKER

Bram Stoker em 1906. 


Em 1897, ano de publicação de Drácula, Bram Stoker já era um escritor maduro e reconhecido. Estava prestes a completar 50 anos e estabelecera-se como um talentoso romancista de sua geração.
Natural de Dublin, Stoker começou a escrever no início da adolescência. Graduado em Matemática (!), jamais exerceu a profissão. Uma de suas paixões era o teatro. Foi crítico teatral do Dublin Evening Mail, de propriedade de um conterrâneo e colega autor seu, Joseph Sheridan Le Fanu — que tornou-se também uma influência fundamental.
Drácula foi o quinto livro publicado por Stoker. Na narrativa, o autor explora, com grande habilidade, um recurso retórico que começava a surgir na época: o romance epistolar. Ou seja, a história contada por meio de cartas — e de atualizações em diários, de notícias de jornais, de documentos náuticos etc. O formato fortalece uma característica indispensável para qualquer narrativa de teor sobrenatural: a verossimilhança. Tanto que, na ocasião do lançamento, Drácula foi considerado tétrico e excessivamente violento. Em uma resenha do mesmo ano, o jornal britânico Manchester Guardian classificou o romance como “grotesco demais” e Stoker teria cometido “um erro artístico ao preencher todo um volume com horrores”.
De acordo com especulações (não há confirmação do fato), o autor serviu-se de uma figura real para compor seu protagonista: Vlad Tepes (Vlad, o Impalador, em romeno), sanguinário príncipe da Valáquia, hoje Romênia, que tinha o hábito de trespassar os prisioneiros de guerra com imensas lanças.
Para além disso, escrever boa parte da história por meio de cartas e de telegramas trocadas entre personagens, bem como de atualizações de diários e de memorandos, foi uma das grandes ideias de Bram Stoker. Porque o recurso não só acrescenta verossimilhança ao que é narrado, mas também deixa os leitores em suspenso quanto à certeza sobre o que realmente ocorreu.
Há, ainda, notícias de jornais, registros náuticos e outros documentos que são inseridos ao longo do texto. É fato que o procedimento interfere na nossa fruição da história — pois, sem um narrador onisciente, temos que montar, nós mesmos, uma espécie de quebra-cabeça, o que pode atenuar o suspense ou enfraquecer certas passagens. Neste sentido, vale lembrar que o personagem-título não é, curiosamente, o protagonista; seu ponto de vista não é apresentado. Por outro lado, isso acaba envolvendo o Conde em brumas de mistério ainda mais espessas.
Aliás, o próprio formato epistolar acentua as brumas de enigma que pairam sobre a narrativa, fustigando a nossa imaginação em vários sentidos. Tanto que o formato segue fazendo escola até hoje: George R. R. Martin e suas Crônicas de Gelo e Fogo são provas disso.
É consenso, entre leitores e críticos, que a ambiência carregada de Drácula funciona, e muito bem. O cuidado do autor na criação de cenários sinistros e o tom pesaroso com que ele relata a história acentuam o efeito do horror, provocando nos leitores uma tensão que permanece vibrante até hoje.
Para tanto, Stoker serviu-se fartamente da tradição gótica na literatura. Vemos essa influência já no início do romance: quando Jonathan Harker, advogado de uma firma imobiliária, viaja até a propriedade do Conde Drácula na Transilvânia, a descrição é profundamente gótica.
O ambiente noturno, os povoados desolados pelos quais o jovem passa, a aura de sobrenatural que paira por todos os lados e, claro, o assustador castelo do Conde não deixam dúvidas quanto a isso. E são vários os outros indícios do gótico encontrados no texto.

Primeira edição de Drácula, 1897. Arquibald Constable and Company.