Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

DRÁCULA DE BRAM STOKER

Bram Stoker em 1906. 


Em 1897, ano de publicação de Drácula, Bram Stoker já era um escritor maduro e reconhecido. Estava prestes a completar 50 anos e estabelecera-se como um talentoso romancista de sua geração.
Natural de Dublin, Stoker começou a escrever no início da adolescência. Graduado em Matemática (!), jamais exerceu a profissão. Uma de suas paixões era o teatro. Foi crítico teatral do Dublin Evening Mail, de propriedade de um conterrâneo e colega autor seu, Joseph Sheridan Le Fanu — que tornou-se também uma influência fundamental.
Drácula foi o quinto livro publicado por Stoker. Na narrativa, o autor explora, com grande habilidade, um recurso retórico que começava a surgir na época: o romance epistolar. Ou seja, a história contada por meio de cartas — e de atualizações em diários, de notícias de jornais, de documentos náuticos etc. O formato fortalece uma característica indispensável para qualquer narrativa de teor sobrenatural: a verossimilhança. Tanto que, na ocasião do lançamento, Drácula foi considerado tétrico e excessivamente violento. Em uma resenha do mesmo ano, o jornal britânico Manchester Guardian classificou o romance como “grotesco demais” e Stoker teria cometido “um erro artístico ao preencher todo um volume com horrores”.
De acordo com especulações (não há confirmação do fato), o autor serviu-se de uma figura real para compor seu protagonista: Vlad Tepes (Vlad, o Impalador, em romeno), sanguinário príncipe da Valáquia, hoje Romênia, que tinha o hábito de trespassar os prisioneiros de guerra com imensas lanças.
Para além disso, escrever boa parte da história por meio de cartas e de telegramas trocadas entre personagens, bem como de atualizações de diários e de memorandos, foi uma das grandes ideias de Bram Stoker. Porque o recurso não só acrescenta verossimilhança ao que é narrado, mas também deixa os leitores em suspenso quanto à certeza sobre o que realmente ocorreu.
Há, ainda, notícias de jornais, registros náuticos e outros documentos que são inseridos ao longo do texto. É fato que o procedimento interfere na nossa fruição da história — pois, sem um narrador onisciente, temos que montar, nós mesmos, uma espécie de quebra-cabeça, o que pode atenuar o suspense ou enfraquecer certas passagens. Neste sentido, vale lembrar que o personagem-título não é, curiosamente, o protagonista; seu ponto de vista não é apresentado. Por outro lado, isso acaba envolvendo o Conde em brumas de mistério ainda mais espessas.
Aliás, o próprio formato epistolar acentua as brumas de enigma que pairam sobre a narrativa, fustigando a nossa imaginação em vários sentidos. Tanto que o formato segue fazendo escola até hoje: George R. R. Martin e suas Crônicas de Gelo e Fogo são provas disso.
É consenso, entre leitores e críticos, que a ambiência carregada de Drácula funciona, e muito bem. O cuidado do autor na criação de cenários sinistros e o tom pesaroso com que ele relata a história acentuam o efeito do horror, provocando nos leitores uma tensão que permanece vibrante até hoje.
Para tanto, Stoker serviu-se fartamente da tradição gótica na literatura. Vemos essa influência já no início do romance: quando Jonathan Harker, advogado de uma firma imobiliária, viaja até a propriedade do Conde Drácula na Transilvânia, a descrição é profundamente gótica.
O ambiente noturno, os povoados desolados pelos quais o jovem passa, a aura de sobrenatural que paira por todos os lados e, claro, o assustador castelo do Conde não deixam dúvidas quanto a isso. E são vários os outros indícios do gótico encontrados no texto.

Primeira edição de Drácula, 1897. Arquibald Constable and Company. 


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