Bram Stoker em 1906. |
Em 1897, ano de publicação de Drácula, Bram Stoker já era um
escritor maduro e reconhecido. Estava prestes a completar 50 anos e
estabelecera-se como um talentoso romancista de sua geração.
Natural de
Dublin, Stoker começou a escrever no início da adolescência. Graduado em
Matemática (!), jamais exerceu a profissão. Uma de suas paixões era o teatro.
Foi crítico teatral do Dublin Evening Mail, de propriedade de um conterrâneo e
colega autor seu, Joseph Sheridan Le Fanu — que tornou-se também uma
influência fundamental.
Drácula foi o quinto
livro publicado por Stoker. Na narrativa, o autor explora, com grande
habilidade, um recurso retórico que começava a surgir na época: o romance
epistolar. Ou seja, a história contada por meio de cartas — e de
atualizações em diários, de notícias de jornais, de documentos náuticos etc. O
formato fortalece uma característica indispensável para qualquer narrativa de
teor sobrenatural: a verossimilhança. Tanto que,
na ocasião do lançamento, Drácula foi considerado tétrico e excessivamente
violento. Em uma resenha do mesmo ano, o jornal britânico Manchester Guardian classificou o romance como “grotesco demais” e Stoker
teria cometido “um erro artístico ao preencher todo um volume com horrores”.
De acordo com especulações (não há confirmação do fato), o autor
serviu-se de uma figura real para compor seu protagonista: Vlad Tepes (Vlad, o
Impalador, em romeno), sanguinário príncipe da Valáquia, hoje Romênia, que
tinha o hábito de trespassar os prisioneiros de guerra com imensas lanças.
Para além
disso, escrever boa parte da história por meio de cartas e de telegramas
trocadas entre personagens, bem como de atualizações de diários e de
memorandos, foi uma das grandes ideias de Bram Stoker. Porque o recurso não só
acrescenta verossimilhança ao que é narrado, mas também deixa os leitores em
suspenso quanto à certeza sobre o que realmente ocorreu.
Há, ainda,
notícias de jornais, registros náuticos e outros documentos que são inseridos
ao longo do texto. É fato que o procedimento interfere na nossa fruição da
história — pois, sem um narrador onisciente, temos que montar, nós mesmos,
uma espécie de quebra-cabeça, o que pode atenuar o suspense ou enfraquecer
certas passagens. Neste sentido, vale lembrar que o personagem-título não é,
curiosamente, o protagonista; seu ponto de vista não é apresentado. Por outro
lado, isso acaba envolvendo o Conde em brumas de mistério ainda mais espessas.
Aliás, o
próprio formato epistolar acentua as brumas de enigma que pairam sobre a
narrativa, fustigando a nossa imaginação em vários sentidos. Tanto que o
formato segue fazendo escola até hoje: George R. R. Martin e suas Crônicas
de Gelo e Fogo são provas disso.
É consenso,
entre leitores e críticos, que a ambiência carregada de Drácula funciona, e
muito bem. O cuidado do autor na criação de cenários sinistros e o tom pesaroso
com que ele relata a história acentuam o efeito do horror, provocando nos
leitores uma tensão que permanece vibrante até hoje.
Para tanto, Stoker serviu-se fartamente da
tradição gótica na literatura. Vemos essa influência já no início do
romance: quando Jonathan Harker, advogado de uma firma imobiliária, viaja até a
propriedade do Conde Drácula na Transilvânia, a descrição é profundamente
gótica.
O ambiente
noturno, os povoados desolados pelos quais o jovem passa, a aura de
sobrenatural que paira por todos os lados e, claro, o assustador castelo do
Conde não deixam dúvidas quanto a isso. E são vários os outros indícios do
gótico encontrados no texto.
Matéria parcialmente reproduzida do endereço https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2017/10/dracula-tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-obra-de-bram-stoker.html
Primeira edição de Drácula, 1897. Arquibald Constable and Company. |
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