Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 31 de agosto de 2019

JANNA LEVIN -FRONTEIRAS DO PENSAMENTO




         No próximo dia 2 de setembro a física Janna Levin estará em Porto Alegre para palestrar no Fronteiras do Pensamento. Este projeto teve início em 2006, na cidade de Porto Alegre, com o objetivo de oferecer uma ampla compreensão das mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas do mundo contemporâneo. O projeto Fronteiras "propõe uma profunda análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade, o projeto promove conferências internacionais e desenvolve conteúdos múltiplos com pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação".
As informações e imagens foram retiradas do site https://www.fronteiras.com/.

         A conferencista é física teórica e astrônoma norte-americana. Com os olhos voltados para o vasto espaço acima de nós, o trabalho de Janna Levin busca compreender os buracos negros e as ondas gravitacionais no espaço-tempo. Professora de física e astronomia, Levin escreve sobre a obstinação do homem em desvendar os mistérios do universo. Formada em física e astronomia pela Universidade de Columbia, onde leciona atualmente, e Ph.D em física teórica pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Além disso, é diretora de ciências do centro cultural Pioneer Works, em Nova York. Em suas pesquisas aborda o início do cosmos, buscando evidências de sua finitude. 
Em 2012, foi condecorada com a Guggenheim Fellowship. É autora de Um louco sonha a máquina universal, romance que traz referências ao filósofo e matemático Kurt Gödel e ao matemático Alan Turing. Seu livro mais recente é A música do universo, publicado em 2016 no Brasil e que conta a história da obsessão de três cientistas e físicos – que acabaram recebendo o Prêmio Nobel de Física em 2017 –, em uma jornada de 50 anos para detectar as ondas gravitacionais por meio do grupo chamado Ligo (Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais). Para Janna Levin, uma das coisas belas sobre a ciência é que ela unifica as pessoas.

Algumas reflexões de Janna estão em uma entrevista reproduzida na página https://www.fronteiras.com/entrevistas/conheca-janna-levin-a-mais-descontraida-astrofisica-em-atividade. Um pequeno trecho é reproduzido a seguir.
Seu romance de 2006, A Madman Dreams of Turing Machines lida com os conceitos do infinito, da verdade e dos limites do conhecimento – temas que você também explorou em suas pesquisas em cosmologia, ao debater se o universo é finito ou infinito. Você conta essa estória através de um relato ficcional das vidas e das mortes terríveis de Alan Turing e Kurt Gödel. Você poderia dizer o que o trabalho deles revelou sobre a natureza da verdade?
Janna Levin: O teorema de Gödel afirma que há fatos que são verdadeiros, mas que jamais poderão ser provados como tal. Há fatos em meio aos números que jamais saberemos ao certo se são verdadeiros ou falsos. Quando Gödel mostrou isso – para não falarmos de quando Turing apareceu e mostrou que jamais saberemos nada sobre a maioria dos fatos em meio aos números –, foi muito chocante. Isso significa que não há uma “teoria de tudo” na matemática. O baque foi imenso. Gostei da ideia de aplicar o teorema de Gödel a uma narrativa ficcional em que conto uma história verdadeira, muito embora eu não o faça meramente citando informações factuais. Há uma sensação de verdade nas estórias ficcionais que talvez constituam, de certo modo, uma experiência mais visceral da história. Talvez, seja uma sensação mais lúcida, capaz de fornecer um panorama muito mais amplo do que uma simples listagem de fatos biográficos. Além disso, sinto que a ciência faz parte da cultura, o que motiva minha conexão com a Pioneer Works. Por que não posso escrever um romance sobre ciência? É possível escrever sobre violência doméstica. É possível escrever um romance sobre a indústria naval de Boston. Por que não posso escrever um romance sobre matemáticos? É apenas uma parte natural da cultura.
Tendo em vista que, em sua carreira como física, você pensou muito profundamente no teorema de Gödel, você acha que a ausência de uma teoria de tudo na matemática sugere que, talvez, tampouco seja viável uma teoria de tudo na física?
Janna Levin: Penso muito nisso. Se a física é tão arraigada na matemática, por que deveríamos pensar que surgirá uma teoria física de tudo? O modo como costumamos pensar sobre o Big Bang é: o universo nasceu, e nasceu com dados iniciais. Existem leis da física, e de algum modo os dados iniciais são apenas... diferentes. 
Somos muito desonestos quando falamos da origem desses dados. E se as leis da física que descrevem a origem do universo forem uma dessas leis que precisam validar a si mesmas – um dos clássicos emaranhados autorreferentes delineados por Gödelian? [Um emaranhado gödeliano é uma proposição matemática autorreferente e impossível de ser provada, como, por exemplo, “É impossível provar esta proposição”.] E se as leis da física precisam validar a si mesmas de tal modo que elas próprias se tornam de alguma forma incomputáveis?
Também sou super interessada na ideia de que os dados iniciais do universo possam conter números irracionais ou incomputáveis. Nesse caso, o universo jamais terminaria de computar as consequências de suas condições iniciais. Talvez não sejamos capazes de prever o que acontecerá no futuro porque cada dígito dos dados iniciais equivale a jogar uma moeda. Mas isso não é o suficiente se eu não tiver nada além de palavras, e nunca encontrei um modo de escrever sobre matemática. Por isso, é só conversa fiada. Acho que uma coisa inteligente a se fazer seria olhar para um emaranhado gödeliano existente dentro da matemática e tentar mapeá-lo em leis fictícias da física. Assim, teríamos um universo capaz de abrigar um emaranhado gödeliano. Seria um experimento construtivo.
Você pretende tentar fazer isso?
Janna Levin: Sim, é algo que sempre volta à tona. Nos últimos tempos, voltei a conversar com uma pessoa sobre um Big Bang autorreferente. Na verdade, venho tomando notas a respeito disso. Essas notas ajudam a esclarecer o que sabemos, o que compreendemos, e o que não compreendemos de fato. 
(Reportagem original reimpressa com a autorização da Quanta Magazine. Via Wired)


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