No próximo
dia 2 de setembro a física Janna Levin estará em Porto Alegre para palestrar no Fronteiras
do Pensamento. Este projeto teve início em 2006, na cidade de Porto Alegre, com o
objetivo de oferecer uma ampla compreensão das mudanças sociais, econômicas,
culturais e políticas do mundo contemporâneo. O projeto Fronteiras "propõe uma profunda análise da
contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. Comprometido com a
liberdade de expressão, a diversidade de ideias e a educação de alta qualidade,
o projeto promove conferências internacionais e desenvolve conteúdos múltiplos
com pensadores, artistas, cientistas e líderes em seus campos de atuação".
As informações e imagens foram retiradas do site https://www.fronteiras.com/.
A
conferencista é física teórica e astrônoma norte-americana. Com
os olhos voltados para o vasto espaço acima de nós, o trabalho de Janna Levin
busca compreender os buracos negros e as ondas gravitacionais no espaço-tempo.
Professora de física e astronomia, Levin escreve sobre a obstinação do homem em
desvendar os mistérios do universo. Formada em física e astronomia pela
Universidade de Columbia, onde leciona atualmente, e Ph.D em física teórica
pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Além disso, é diretora de
ciências do centro cultural Pioneer Works, em Nova York. Em suas pesquisas
aborda o início do cosmos, buscando evidências de sua finitude.
Em 2012, foi condecorada com a
Guggenheim Fellowship. É autora de Um louco sonha a máquina
universal, romance que traz referências ao filósofo e matemático
Kurt Gödel e ao matemático Alan Turing. Seu livro mais recente é A música do universo, publicado em 2016 no Brasil e que
conta a história da obsessão de três cientistas e físicos – que acabaram
recebendo o Prêmio Nobel de Física em 2017 –, em uma jornada de 50 anos para
detectar as ondas gravitacionais por meio do grupo chamado Ligo
(Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais). Para Janna Levin, uma das
coisas belas sobre a ciência é que ela unifica as pessoas.
Algumas
reflexões de Janna estão em uma entrevista reproduzida na página https://www.fronteiras.com/entrevistas/conheca-janna-levin-a-mais-descontraida-astrofisica-em-atividade.
Um pequeno trecho é reproduzido a seguir.
Seu romance de 2006, A Madman Dreams of Turing Machines lida com os conceitos do infinito, da verdade e dos limites
do conhecimento – temas que você também explorou em suas pesquisas em
cosmologia, ao debater se o universo é finito ou infinito. Você conta essa
estória através de um relato ficcional das vidas e das mortes terríveis de Alan
Turing e Kurt Gödel. Você poderia dizer o que o trabalho deles revelou sobre a
natureza da verdade?
Janna Levin: O teorema de Gödel afirma que há fatos que são verdadeiros, mas
que jamais poderão ser provados como tal. Há fatos em meio aos números que
jamais saberemos ao certo se são verdadeiros ou falsos. Quando Gödel
mostrou isso – para não falarmos de quando Turing apareceu e mostrou que jamais
saberemos nada sobre a maioria dos fatos em meio aos números –, foi muito
chocante. Isso significa que não há uma “teoria de tudo” na matemática. O baque
foi imenso. Gostei da ideia de aplicar o teorema de Gödel a uma narrativa
ficcional em que conto uma história verdadeira, muito embora eu não o faça
meramente citando informações factuais. Há uma sensação de verdade nas
estórias ficcionais que talvez constituam, de certo modo, uma experiência mais
visceral da história. Talvez, seja uma sensação mais lúcida, capaz de fornecer
um panorama muito mais amplo do que uma simples listagem de fatos biográficos. Além
disso, sinto que a ciência faz parte da cultura, o que motiva minha conexão com
a Pioneer Works. Por que não posso escrever um romance sobre ciência? É
possível escrever sobre violência doméstica. É possível escrever um romance
sobre a indústria naval de Boston. Por que não posso escrever um romance sobre
matemáticos? É apenas uma parte natural da cultura.
Tendo em vista que, em sua carreira como física, você pensou muito
profundamente no teorema de Gödel, você acha que a ausência de uma teoria de
tudo na matemática sugere que, talvez, tampouco seja viável uma teoria de tudo
na física?
Janna Levin: Penso muito nisso. Se a física é tão arraigada na matemática,
por que deveríamos pensar que surgirá uma teoria física de tudo? O modo como
costumamos pensar sobre o Big Bang é: o universo nasceu, e nasceu com dados
iniciais. Existem leis da física, e de algum modo os dados iniciais são
apenas... diferentes.
Somos muito desonestos quando falamos da origem desses dados. E
se as leis da física que descrevem a origem do universo forem uma dessas leis
que precisam validar a si mesmas – um dos clássicos emaranhados autorreferentes
delineados por Gödelian? [Um emaranhado gödeliano é uma proposição matemática
autorreferente e impossível de ser provada, como, por exemplo, “É impossível
provar esta proposição”.] E se as leis da física precisam validar a si mesmas
de tal modo que elas próprias se tornam de alguma forma incomputáveis?
Também sou super interessada na ideia de que os dados iniciais
do universo possam conter números irracionais ou incomputáveis. Nesse caso, o
universo jamais terminaria de computar as consequências de suas condições
iniciais. Talvez não sejamos capazes de prever o que acontecerá no futuro
porque cada dígito dos dados iniciais equivale a jogar uma moeda. Mas isso não
é o suficiente se eu não tiver nada além de palavras, e nunca encontrei um modo
de escrever sobre matemática. Por isso, é só conversa fiada. Acho que uma coisa
inteligente a se fazer seria olhar para um emaranhado gödeliano existente
dentro da matemática e tentar mapeá-lo em leis fictícias da física. Assim,
teríamos um universo capaz de abrigar um emaranhado gödeliano. Seria um
experimento construtivo.
Você pretende tentar fazer isso?
Janna Levin: Sim, é algo que sempre volta à tona. Nos últimos tempos, voltei
a conversar com uma pessoa sobre um Big Bang autorreferente. Na verdade, venho
tomando notas a respeito disso. Essas notas ajudam a esclarecer o que sabemos,
o que compreendemos, e o que não compreendemos de fato.
(Reportagem original reimpressa com a autorização da Quanta
Magazine. Via Wired)
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