Uma
sugestão de leitura para os alunos da disciplina “História e Terror” na
temática vampirismo: Erzsébet. O autor da graphic
novel é Nunsky (do norte de Portugal) que fez raras incursões em HQs underground
e se dedicou a outra arte: vocalista da banda The ID’s. Em 2014 ele edita em
Portugal pela Editora Chili com Carne uma versão quadrinizada da atuação da
infame condessa húngara Erzsébet Báthory (1560-1614). Em 2017 a Zarabatana Books de
Campinas, lançou uma edição para o público brasileiro. A contra capa contextualiza
a proposta: Erzsébet, “contemporânea de Shakespeare, ao contrário deste,
incarnou como poucos o lado negro e animalesco do ser humano. Atribuem a
Erzsébet centenas de crimes inomináveis – e por isso ficou conhecida como “Tigresa
de Csejthe” e “Condessa de Sanguinária” que a colocaram n mesmo lendário
patamar de Gilles de Rais e Vlad, o Empalador. Por detrás de seu rosto pálido,
de olhar impassível e melancólico, ocultava-se o próprio demônio, Ördög”. A
publicação teve apoio da República Portuguesa e ao lado está escrito “aconselhável
para adultos”.
Erzsébet
Báthory é uma personagem histórica da Hungria, mas que foi recontada tantas
vezes até parecer pura ficção. A documentação do século XVI deixa claro os seus
crimes e o de seus ajudantes em tortura, sadismo e execução das vítimas por
motivo torpe. Ela existiu! A psicopatia existiu e existe! Os monstros caminham
entre os homo sapiens ou homo sapiens caminham entre os monstros –
historicamente, não é nada simples discernir um do outro.
A HQ
apresenta traços pesados, onde o preto, o branco e o cinza, transportam o
leitor para uma psique doentia, mas ao mesmo tempo natural: tempos de violência
nas guerras entre ocidente e oriente, onde o sadismo personalizado em Báthory é
um esboço a mais do ódio e do desequilíbrio que campeia as sociedades em
conflito.
O
sangue das camponesas conflui para o pensamento milenar de que a vida flui nas
veias e permite a manutenção do tempo nos corpos flácidos pela gravidade
inclemente contada pela cronologia do tempo. A velhice poderia ser espantada
pelo consumo de sangue de jovens? Seja apenas para banhar-se ou consumir
algumas gotas, este sangue poderia estender a permanência e afugentar a
decomposição. A dança da morte te chama e tu jogas sangue jovem sobre ela
afugentando este mau agouro inclemente. A ilusão de parar o tempo e garantir a
eternidade foge das fronteiras da fantasia e se torna sadismo e monstruosidade.
A
perpetuação da vida é um tema revisitado no horror: grande parte do fruto da
maldade é a não aceitação nos limites da repetição dos eventos que dão
satisfação e o desejo da eternização dos vícios. A eternidade do desejo e do
prazer pode se transformar em insanidade e desumanidade.
Erzsébet é leitura breve, com imagens explícitas, sem
rebuscos fugidios e expondo cruamente a maldade.
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