Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 3 de setembro de 2019

ERZSÉBET - HISTÓRIA E TERROR






               Uma sugestão de leitura para os alunos da disciplina “História e Terror” na temática vampirismo: Erzsébet. O autor da graphic novel é Nunsky (do norte de Portugal) que fez raras incursões em HQs underground e se dedicou a outra arte: vocalista da banda The ID’s. Em 2014 ele edita em Portugal pela Editora Chili com Carne uma versão quadrinizada da atuação da infame condessa húngara Erzsébet Báthory (1560-1614). Em 2017 a Zarabatana Books de Campinas, lançou uma edição para o público brasileiro. A contra capa contextualiza a proposta: Erzsébet, “contemporânea de Shakespeare, ao contrário deste, incarnou como poucos o lado negro e animalesco do ser humano. Atribuem a Erzsébet centenas de crimes inomináveis – e por isso ficou conhecida como “Tigresa de Csejthe” e “Condessa de Sanguinária” que a colocaram n mesmo lendário patamar de Gilles de Rais e Vlad, o Empalador. Por detrás de seu rosto pálido, de olhar impassível e melancólico, ocultava-se o próprio demônio, Ördög”. A publicação teve apoio da República Portuguesa e ao lado está escrito “aconselhável para adultos”.

Erzsébet Báthory é uma personagem histórica da Hungria, mas que foi recontada tantas vezes até parecer pura ficção. A documentação do século XVI deixa claro os seus crimes e o de seus ajudantes em tortura, sadismo e execução das vítimas por motivo torpe. Ela existiu! A psicopatia existiu e existe! Os monstros caminham entre os homo sapiens ou homo sapiens caminham entre os monstros – historicamente, não é nada simples discernir um do outro.
A HQ apresenta traços pesados, onde o preto, o branco e o cinza, transportam o leitor para uma psique doentia, mas ao mesmo tempo natural: tempos de violência nas guerras entre ocidente e oriente, onde o sadismo personalizado em Báthory é um esboço a mais do ódio e do desequilíbrio que campeia as sociedades em conflito.
O sangue das camponesas conflui para o pensamento milenar de que a vida flui nas veias e permite a manutenção do tempo nos corpos flácidos pela gravidade inclemente contada pela cronologia do tempo. A velhice poderia ser espantada pelo consumo de sangue de jovens? Seja apenas para banhar-se ou consumir algumas gotas, este sangue poderia estender a permanência e afugentar a decomposição. A dança da morte te chama e tu jogas sangue jovem sobre ela afugentando este mau agouro inclemente. A ilusão de parar o tempo e garantir a eternidade foge das fronteiras da fantasia e se torna sadismo e monstruosidade.
A perpetuação da vida é um tema revisitado no horror: grande parte do fruto da maldade é a não aceitação nos limites da repetição dos eventos que dão satisfação e o desejo da eternização dos vícios. A eternidade do desejo e do prazer pode se transformar em insanidade e desumanidade.  
         Erzsébet é leitura breve, com imagens explícitas, sem rebuscos fugidios e expondo cruamente a maldade.  




  


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