Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

CARNAVAL NO HOTEL CASSINO


      Um colunista do jornal “Echo do Sul” que assinava como “Periscopio” publicava a “Chronica Casinense”. Na edição do dia 15 de fevereiro de 1918 ele relatou as atividades do carnaval daquele ano no salão do Hotel Cassino.
      “Carnét repleto de notas. Repórter satisfeito pela fartura de assumpto. Elegância. Distinção. Chiquismo.
       Todo o mundo "snob" mexeu-se nestes últimos dias e a Alegria de braço dado com a Folia alvoroçaram o Casino neste Carnaval triste e sério como o mais grave homem que se possa imaginar.
       Carnaval calmo e quieto porque não existe o reboliço e os apertões de rua, mas alegre porque o povo no Brasil não pode deixar passar um Carnaval sem expansão da alma, embora esta expansão seja exteriorização pura.
       Mas, mesmo superficial a alegria do brasileiro no Carnaval é de notar e nós no Cassino tivemos a prova com o baile de sexta-feira última.
       Fantasias a fartar, mascarados elegantes e com ar de prazer; mascarados bonitos com ar tristonho; mascarados medíocres com ar medíocre... tudo, tudo tinha no salão do hotel nesta noite de satisfação, de gozo e de culto a Momo, o deus do brasileiro, por assim dizer...
      No salão a Alegria reinava em toda sua plenitude; a elegância dominava o ambiente; o Amor se sentia orgulhoso pelo séquito enorme de vassalos que possuía; à Beleza se prestava homenagens a cada instante e o salão do Cassino naquela noite, era incontestavelmente o Paraíso e o Inferno ao mesmo tempo pelo gozo que dava a uns e pela tristeza que dava aos já de alma velha que olhavam com pesar a confusão enorme das grandes cousas que constituem a Vida, a razão de ser da gente, a verdadeira significação da existência do mundo...
      Era o salão da elegância onde era preciso estar para conhecer “le bel air des choses et savoir ce qui se porte.”
     Quem chegava tinha a impressão da Loucura dentro do salão, às soltas, sem domínio, invadindo os espíritos de todos e fazendo todos, sem excepção desde o mais requintado “smart” ao mais vulgar burguês, perderem a linha, sacrificarem o ar grave, prejudicarem a sisudez. Era o Carnaval, o Carnaval dentro de um salão onde o tamanho não era grande para deixar escapar sem ser visto este Momo que ama, este Momo que alegra, este Momo que perde, este Momo que enlouquece...
      Às 23 horas já o entusiasmo tinha chegado ao auge e as danças corriam com uma grande animação. Dançou-se tudo: valsa, quadrilha, one-step, rag-time, tango que, como sempre dominava as outras danças porque hoje no Brasil já há uma verdadeira tangomania, é já uma dança mental, coletiva. Cremos mesmo que a população inteira só pensa seriamente no tango.
    No salão, a harmonia da Beleza, da Graça e da Arte era completa, a harmonia da Alegria e do Gozo era absoluta; a harmonia da Dança e da Música era confusa...
     A orquestra portou-se bem porque tocou sempre sem cansaço e esteve toda noite na “altura” do palco.
      Mas já quase meia-noite chegou um grupo de dominós pretos que fez uma entrada triunfal. Dominou o salão e o primeiro momento foi de perplexidade até que uma quadrilha de “sensação” pôs o pessoal todo em movimento. Este grupo de dominós pretos dançou com tal graça e tanto barulho que a alegria chegou ao auge, atingiu ao seu máximo limite.
     Estes dominós todos tinham uma interrogação no ombro e isso aguçou a curiosidade de Periscopio que, orientando melhor sua lente descobriu os das dúzias com alguns “attachés” chegados da cidade só para esse fim. Só não declino o nome deles por discrição e gentileza. Eram eles que, como sempre, davam a nota predominante no Cassino, eram eles cheios de alegria vinham encher o salão de bom humor”.

Hotel Cassino em 1908. Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.

Hotel Cassino em 1908. Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.

domingo, 27 de janeiro de 2019

PRIMÓRDIOS DO BALNEÁRIO

   
Cartões do Balneário Cassino de 1908 editados por Estúdios Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.
         A coluna “Crônica balneária” do Jornal Echo do Sul que circulou no dia 11 de fevereiro de 1890 descreveu algumas atividades realizadas no recém inaugurado balneário Vila Sequeira ou Mangueira (Cassino). 


“Mais de 600 excursionistas visitaram anteontem a Mangueira, espalhando-se uma parte deles pelas poucas vivendas que formam ali o núcleo a nossa futura Biarritz. O trem da manhã levara grande número de passageiros e do da meia hora fora tão concorrido que houve necessidade de adicionar-lhe mais um carro. O das 4 e meia conduziu também muitos passeantes e na volta, trazia tantos passageiros, que mais de 50 tiveram de vir a pé, por falta de lugares. Estava soberba aquela pequena porção da campanha. A falta de paisagens que distraíssem o espírito e amenizassem a vilegiatura viam-se por toda a parte grupos errantes de famílias, uns a cavalo, outros em carrocinhas e muitos a pé, vagando pelas planícies verdes, nas quais punham os tons claros das toilettes campesinas e as palpitações dos leques, irrequietos como asas de borboletas. O dia estava magnífico e a temperatura benigna. Sob o alpendre do hotel balneário fervilhava a concorrência de famílias, muitas das quais ali passaram o dia vendo desfilar as caravanas de banhistas nos seus carretões preguiçosos ou nas suas pilecas ossudas, de uma mansidão dorminhoca.
A construção do hotel avança rapidamente. Dos quatro corpos do seu plano, um, o da frente, está a receber a última de mão; outro, o do lado do mar, já se acha coberto e pronto a ser assoalhado; o terceiro, que se destina ao salão das refeições, uma peça vastíssima, já tem as suas paredes erguidas; o quarto, finalmente, que cerra o vasto perímetro da edificação, está em alicerces. Nos ângulos do edifício preparam-se alojamentos para uma confeitaria, uma barbearia, uma loja de miudezas e outra de fazendas e objetos para banhistas. Já se acham ocupados alguns alojamentos do primeiro corpo do edifício; e convém advertir que ao contrário do que se há propalado, os quartos são convenientemente espaçosos e arejados, se não tanto como os das casas da cidade, ao menos o suficiente para quem não vai ali fazer residência fixa, mas apenas veranear.
Nas proximidades do hotel remove-se e amanha-se uma pequena área de terra na qual se lançam as sementes de várias árvores, que oportunamente serão transplantadas, para a arborização do local. Na praia alvejam numerosas barracas que, de longe, dão a ideia de um povoado em formação. Estão atualmente residindo na Mangueira umas dez ou doze das principais famílias de Rio Grande.
Tivemos notícias de alguns acidentes ocorridos durante o dia de anteontem, felizmente sem maior significação. Um cavaleiro que ia por aquelas planícies pondo a prova o sangue crioulo da sua fogosa cavalgadura, esquecendo por um momento as leis da alta equitação, adiantou-se ao brioso animal saindo-lhe pela cabeça fora e experimentando na região lombar a dureza do solo, no qual estendeu elegantemente o corpo, conservando as pernas erguidas para o ar em forma de um V maiúsculo. Uma exma. família que voltava da praia numa carreta dos tempos patriarcais caiu num atoleiro e uma das gentilíssimas meninas, bela como um anjo, mergulhou as roupas ou os arminhos das cândidas asas (estilo ultrarromântico) nas turvas águas do charco. Apenas um pequeno susto a que se seguiram cristalinas gargalhadas e as indefectíveis queixas contra a imperícia do cocheiro, autor daquele naufrágio em terra firme. O mar, monstro de indiscrições levianas, arrojou ao areal parte das roupas de um banhista que lá se deixou ficar não se sabe quando nem como. Uns rapazes fizeram daquele precioso trapo uma bandeira, espetando-o na ponta de uma bengala, e andaram como uma legião bárbara a provocar as valentias do oceano, que lhes respondia com os rugidos das suas vagas mansas. À tarde quando o trem voltou ao Parque, vimos ainda muitos grupos que saudavam os excursionistas, agitando os seus lenços brancos como gaivotas vagabundas. De chegada os passageiros assaltaram os cinco bonds que ali estacionavam, de modo que muitas famílias tiveram de ficar na estação a espera de novos carros. Serviço mal determinado, por que sabendo-se da enorme quantidade de viajantes, não custava avisar pelo telefone a estação dos bonds, mandando vir número suficiente de carros”.
Cartões do Balneário Cassino de 1908 editados por Estúdios Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O CASSINO E OS CAMPOS DA MANGUEIRA



Cassino em 1908 pelo Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.
         Matéria do jornal “Diário do Rio Grande” de 12 de fevereiro de 1890 registrou a inauguração do Balneário Vila Sequeira (Cassino) no dia 26 de janeiro de 1890. O periódico ainda se refere ao local como sendo  os Campos da Mangueira, terminologia que já está na cartografia desde 1737.
          “Inauguração da linha suburbana de bonds a vapor. No dia 26 do mês de janeiro último, inaugurou-se esta estrada de bonds a vapor, ficando desde então aberta ao serviço público entre esta cidade e o sitio da Mangueira na costa oceânica a O. da nossa barra, havendo duas viagens ordinárias de ida e volta.
         O fim útil de poder o Rio Grande oferecer a todos os seus conterrâneos os salutares banhos de mar, sugeriu a Empresa Suburbana a ideia da construção da dita linha; porém, ela está destinada a prestar grande serviço a esta localidade e a todos os pontos intermediários onde toca, até a Mangueira.
         Ela transportará ao Rio Grande todos os produtos agrícolas, que em breve tempo produziram estes campos que ladeiam, e é mais um atestado permanente da presente atividade industrial rio-grandense.
         Em poucos anos a Mangueira será não um ponto unicamente balnear, mas uma nova povoação de recreio onde residira a flor do Rio Grande e o ponto convergente dos passeantes despreocupados; cujos arrabaldes ficarão reservados para lugares das merendas domingueiras do laborioso operário.
         As melhores propriedades rurais do município hão de espraiar-se em torno da linha suburbana, sendo ela a melhor garantia do estabelecimento das futuras colônias dos campos da Mangueira; e quem sabe quantas iniciativas em todo o seu percurso poderão achar nela o principal apoio de sua efetividade.
         Não seria para admirar se da Mangueira, com o decorrer dos anos surgisse sua povoação que rivalizasse com o Rio Grande, posta a barra em condições de atrair aqui muita navegação, e os campos colonizados convenientemente; mas devido principalmente a iniciativa da Empresa suburbana, pela facilidade de comunicação e de transporte na pequena linha que contrasta com a sua importância.
         Finalmente quando tudo isto não se realizasse, temos a satisfação de ver empresas de certo porte afrontando a crise; isto é, animadas no trabalho, levando avante os seus desígnios ante a fatalidade geral do indiferentismo; pelo qual são dignas dos maiores encômios.
         Congratulando-nos com a Empresa da linha da Mangueira, cujos interesses desejamos que progridam, como os de todas as empresas laboriosas, fazemos votos para que os silvos das suas máquinas chamem a vida do trabalho os mortos da descrença injustificável.” 

Cassino em 1908 pelo Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.




sábado, 12 de janeiro de 2019

COLDPLAY


           
    O Coldplay iniciou sua trajetória musical em 1996 em Londres. O estilo musical navegou entre o rock alternativo, o hard rock e art rock. Em 2008 lançaram o álbum “Viva la Vida or Death and All His Friends” com a identidade do art rock e o experimentalismo instrumental. Neste álbum se destacou a música “Viva la Vida” que esboça um rock barroco. O título está e espanhol e foi inspirado em pintura do francês Delacroix. 
      A letra é de difícil interpretação e já gerou muitas controvérsias. Referências à cristandade, ao poder real do Rei Luís XVI e a Revolução Francesa? Paranoia do poder? Referências históricas sem precisão, mas, com imagens da conservação do status, revolução e perda de referenciais humanos no exercício da dominação? 

Atalho para o vídeo: https://youtu.be/dvgZkm1xWPE




Viva A Vida (Coldplay)
“Eu costumava dominar o mundo
Oceanos se abriam quando eu ordenava
Agora pela manhã durmo sozinho
Varro as ruas que já foram minhas

Eu costumava rolar os dados
Sentir o medo nos olhos dos meus inimigos
Ouvia enquanto a multidão cantava
Agora o velho rei está morto! Vida longa ao rei!

Em um minuto eu segurava a chave
No outro as paredes estavam fechadas contra mim
E eu descobri, que meus castelos se apoiavam
Sobre pilares de sal e pilares de areia

Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando
Corais da cavalaria romana estão cantando
Seja meu espelho, minha espada e escudo
Meus missionários em um campo estrangeiro

Por algum motivo que não sei explicar
Desde que você se foi, nunca mais houve
Nunca houve uma palavra honesta
Isso foi quando eu dominava o mundo

Foi o vento cruel e selvagem que
Derrubou as portas para me deixar entrar
Janelas estilhaçadas e o som de tambores
O povo não podia acreditar no que eu havia me tornado

Revolucionários esperam
Pela minha cabeça numa bandeja de prata
Apenas uma marionete numa corda solitária
Oh, quem jamais desejaria ser rei?

Eu ouço os sinos de Jerusalém tocando
Corais da cavalaria romana estão cantando
Seja meu espelho, minha espada e escudo
Meus missionários em um campo estrangeiro

Por algum motivo que não sei explicar
Eu sei que São Pedro não chamará o meu nome
Nunca houve uma palavra honesta
Mas isso foi quando eu dominava o mundo

Oh, oh, ooh, oh, oh, oh
Oh, oh, ooh, oh, oh, oh
Oh, oh, ooh, oh, oh, oh
Oh, oh, ooh, oh, oh, oh
Oh, oh, ooh, oh, oh, oh

Ouço os sinos de Jerusalém tocando
Corais da cavalaria romana estão cantando
Seja meu espelho, minha espada e escudo
Meus missionários em um campo estrangeiro

Por algum motivo que não sei explicar
Eu sei que São Pedro não chamará o meu nome
Nunca houve uma palavra honesta
Mas isso foi quando eu dominava o mundo”.




Integrantes do Coldplay.

ASTON

         Aston (band) está completando 10 anos. O grupo australiano foi criado em Sydney em 2009 e os integrantes são oriundos do Conservatório de Música desta cidade. O resultado é aproximar a música clássica de uma leitura jovial e pop. Qualidade musical para ampliar a sensibilidade auditiva.
           Um dos seus destaques é a versão instrumental da música do Coldplay “Viva la Vida”.  
           O vídeo conseguiu captar a vibração da música e as expressões faciais dos integrantes transmitem um vigor jovial que caracteriza a melodia. 

https://youtu.be/WareYBKqbzs?list=PLB8D5538320641421




Clipe da música Viva la Vida. 



quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

MARC-PHILIPPE ZALLONY

Marc-Philippe Zallony. Acervo: Biblioteca Nacional da França.

       

            A rua Zallony recebeu esta denominação em dezembro de 1858 em reconhecimento aos serviços prestados por Timoleon Zallony que atuou em Rio Grande a partir de 1844 como professor de francês, geografia e desenho e esgrima. Possuía um ateliê fotográfico e em 1854, foi um dos fundadores da “Sociedade Instrução e Recreio” que além das atividades sociais também oferecia aulas aos seus sócios. Durante a epidemia de cólera deflagrada em Rio Grande em novembro de 1855, ele se destacou no atendimento dos doentes e usou técnicas que reduziram a mortalidade. Neste período, a imprensa se referia a ele como um enfermeiro que ajudou efetivamente no atendimento dos coléricos. Em 1884 publicou em Paris um livro com sua experiência sobre a epidemia de cólera na cidade do Rio Grande e no Uruguai. Retornou a França em 1864 e em matéria em jornal francês de 1897 ficou registrada a sua atuação como médico em Paris.
          O interesse e a habilidade de Timoleon Zallony pela arte médica teve um componente familiar que certamente o influenciou: seu pai era médico que atuava na França e também foi um escritor que investigou aspectos do mundo grego do século XVIII com ênfase na dimensão político-administrativa. O saber médico e a escrita também foram uma marca de Timoleon... 
         Mas quem foi o seu pai? A exatidão é restrita, mas, as fontes indicam que o nascimento de Marc-Philippe Zallony ocorreu em 29 de março de 1782 em Tinos (Grécia) e o falecimento na década de 1850. Ele era médico e evidenciava o princípio da reflexão intelectual que buscava um pensamento amplo do seu contexto histórico através da escrita de livros. A classe médica muitas vezes se voltava à reflexão da sociedade de seu tempo e das perspectivas da aplicação da ciência às necessidades de melhoria das comunidades. Deste esforço nasceu a “medicina social”. Este espírito novecentista permaneceu vivo em Rio Grande e se intensificou até as primeiras décadas do século XX, com a ampla da classe médica em debates nos jornais.
         Conforme o site da Biblioteca Nacional da França Marc-Philippe (ou Márkos-Fílippos Zallónis) era Docteur en Médecine (Paris, 1809). Foi autor de vários livros sendo o mais citado o “Journal of a voyage up the Mediterranean : principally among the islands of the Archipelago, and in Asia Minor, including many interesting partemiculars relative to the Greek revolution, especially a journey through Maina to the camp of Ibrahim Pacha: together with observations on the antiquities, opinions, and usages of Greece, as they now exist : to which is added an essay of the Fanariotes / (London : Printed for C. and J. Rivington, St. Paul's Church Yard, Waterloo-Place, and 148, Strand, 1826)”. Também escreveu “Essai sur les Fanariotes où l'on voit les causes primitives de leur élévation aux hospodariats de la Valachie et de la Moldavie, leur mode d'administration, et les causes principales de leur chute, suivi de quelques réflexions sur l'état actuel de la Grèce”.  Edition : Marseille : A. Ricard , 1824; “Voyage à Tine, l'une des îles de l'archipel de la Grèce, suivi d'un Traité de l'asthme, par Marcaky Zallony,... avec la carte générale de l'Ile de Tine dessinée par M. Barbié-Dubocage et gravée par M. B. Tardieu Traité de l'asthme”. Paris : Arthus-Bertrand , 1809; “Traité sur l'asthme”. Paris , 4 août 1809; “Voyage à Tine, l'une des îles de l'archipel de la Grèce, suivi d'un Traité de l'asthme, par Marcaky Zallony,... avec la carte générale de l'Ile de Tine dessinée par M. Barbié-Dubocage et gravée par M. B. Tardieu”. Paris : Arthus-Bertrand , 1809.
         Em língua inglesa, um livro muito citado e ainda com novas edições é “Journal of a voyage up the Mediterranean: to which is added an essay of the Fanariotes” / (London : Printed for C. and J. Rivington, St. Paul's Church Yard, Waterloo-Place, and 148, Strand, 1826). Edições de livros em grego também foram publicadas pelo autor.  Ele se tornou conhecido pelos estudos sobre os fanariotes (elites econômicas, políticas e intelectuais gregas que se fixaram em Constantinopla e administraram a Walachia e a Moldávia).
         O legado intelectual deixado por Marc-Philippe e por Timoleon pode ser acessado por meio digital ou adquirido em formato impresso.






sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

RIO GRANDE: ORIGENS



           A Barra do Rio Grande foi descoberta em 1532 por Pero Lopes de Souza que navegou próximo a costa na busca de vestígios de uma embarcação que se perdeu da frota de Martin Afonso de Souza que rumara ao Prata. O desconhecido e caudaloso volume de água que desembocava no Oceano foi chamado de Rio de São Pedro, devido ao calendário eclesiástico dedicar a São Pedro o dia desta primeira observação. Na cartografia foi citado no mapa de Gaspar Viegas, cartógrafo da expedição, já no ano de 1534. Posteriormente, passou a ser chamado de Rio Grande de São Pedro.
            O “Rio Grande de São Pedro” que aparece assinalado na cartografia desde 1534 nada mais é que o afunilamento da Lagoa dos Patos quando do seu escoamento no Oceano Atlântico. Esta denominação dada a um “suposto rio”, acabou por ser o nome geográfico que caracteriza todo o Rio Grande do Sul e não apenas ao atual Município do Rio Grande. Fundamentalmente, as fontes historiográficas evidenciam que somente nas primeiras décadas do século XVIII é que se busca investigar o interior do Continente cujo acesso se dá pela Lagoa dos Patos. Olhares ambiciosos estavam voltados à ocupação da Barra em 1732: os comerciantes judeus Antônio da Costa (que aqui esteve em 1726) e João da Costa tentam vender o projeto de ocupação para os russos e também para os ingleses. Porém, nada da certo nestas tratativas! Os espanhóis também almejavam a ocupação, mas os portugueses é que efetivam o povoamento. Com a chegada do Brigadeiro Silva Paes e o povoamento sistemático luso-brasileiro é que começam a ser criadas as condições para a integração geopolítica do Rio Grande do Sul a Portugal: através da ocupação militar e do povoamento civil.
           A atual cidade do Rio Grande foi o primeiro referencial urbanístico luso-brasileiro nas terras meridionais do Brasil. A fundação de um povoado português no espaço platino fez parte de um planejamento do Conselho Ultramarino Português. Segundo Carta Régia datada de 24 de março de 1736, uma frota comandada por José da Silva Paes deveria partir do Rio de Janeiro para o Rio da Prata, buscando três objetivos: desalojar os espanhóis de Montevidéu; levantar o bloqueio espanhol à Colônia do Sacramento e fundar uma colônia na margem sul do Rio Grande de São Pedro. Somente este último objetivo foi realizado com sucesso, pois no dia 19 de fevereiro de 1737, ao desembarcarem num inóspito sítio formado por areia, pântano e dunas, teve início um processo militar e colonizatório que se consolidou, entre avanços e recuos, ao longo do século XVIII.
           Devido à formação geológica arenosa, o controle deste espaço da Restinga foi um desafio constante aos militares e civis desde os primórdios. A areia hostil foi presença persistente ao longo do tempo! Os desafios para o estabelecimento de uma civilização na Barra do Rio Grande foi sintetizada pelo historiador lusitano Simão Pereira de Sá: “na costa arenosa e hostil, a tenacidade dos homens venceu a inconstância e a agressividade dos elementos” (meados do século XVIII).

Vista superior da cidade do Rio Grande. Fotografia: Luiz Henrique Torres. 

Vista superior da cidade do Rio Grande. Fotografia: Luiz Henrique Torres. 

Vista superior da cidade do Rio Grande. Fotografia: Luiz Henrique Torres. 


CARTOGRAFIA E FORMAÇÃO LUSO-BRASILEIRA


                
           O cartógrafo português João Teixeira Albernaz é o autor da coleção de mapas que compõem a “Descripção de todo o marítimo da Terra de Santa Cruz chamado vulgarmente, o Brazil”. Lisboa: Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo, 1640. O litoral do Rio Grande do Sul até a entrada do Rio da Prata foi de forma vaga desenhada, evidenciando o desconhecimento da hinterland. A Lagoa dos Patos corre paralela ao litoral médio e norte e a Lagoa Mirim não existe. Albernaz descreve que a Barra do Rio Grande era chamada de Alagoa com oito palmos de água. Rio de Martin Afonso de Souza é o Arroio Chuy.
        Neste ano de 1640 o litoral está vazio de edificações. Nos anos seguintes começará a formação da Vacaria Del Mar, com o abandono das reduções e os movimentos de tropeiros após a fundação da Colônia do Sacramento (1680).
        O Rio Grande do Sul começou a ser identificado na cartografia a partir da década de 1530, mas experiências civilizatórias europeias começam a se processar a partir de 1605. Com a fundação da Colônia do Sacramento em 1680 e a criação do Bispado do Rio de Janeiro que se estendia até o Rio da Prata, inicia um movimento lento e gradual de tropeiros que buscavam o gado chimarrão disperso entre o Rio Grande do Sul e o atual Uruguai.
       O caminho da praia passava junto à zona costeira rio-grandense sem o reconhecimento do interland da Lagoa dos Patos e Mirim. Uma ocupação sistemática que será a cabeça de ponte para ocupação do interior do território se deu a partir das orientações do Conselho Ultramarino português na década de 1730 que foi efetivado em 1737 com a fundação lusitana junto a Barra do Rio Grande.
      O objetivo inicial era estabelecer a ocupação militar que propiciaria o controle de um vasto território que poderia receber o povoamento civil com condições mínimas de segurança. Povoadores de capitanias brasileiras, militares e a partir de 1752, os açorianos, comporão os troncos seculares que balizarão o desenvolvimento histórico posterior.
       O fundamento da colonização está voltado à sesmaria, a estância de criação de gado e a posterior charqueada, a escravidão negra, a vida militarizada fundada nas disputas de fronteira/laços de complementaridade com os espanhóis. O perfil da identidade rio-grandense no século XIX, quando da Revolução Farroupilha, só pode ser explicado por esta genética luso-brasileira e pampeana/platina. E o início do processo decisivo está na fundação da Colônia do Sacramento do Rio da Prata.

Litoral do Rio Grande do Sul (sul e médio) e Litoral do Uruguai (norte). ALBERNAZ, 1640.