Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

CARNAVAL NO HOTEL CASSINO


      Um colunista do jornal “Echo do Sul” que assinava como “Periscopio” publicava a “Chronica Casinense”. Na edição do dia 15 de fevereiro de 1918 ele relatou as atividades do carnaval daquele ano no salão do Hotel Cassino.
      “Carnét repleto de notas. Repórter satisfeito pela fartura de assumpto. Elegância. Distinção. Chiquismo.
       Todo o mundo "snob" mexeu-se nestes últimos dias e a Alegria de braço dado com a Folia alvoroçaram o Casino neste Carnaval triste e sério como o mais grave homem que se possa imaginar.
       Carnaval calmo e quieto porque não existe o reboliço e os apertões de rua, mas alegre porque o povo no Brasil não pode deixar passar um Carnaval sem expansão da alma, embora esta expansão seja exteriorização pura.
       Mas, mesmo superficial a alegria do brasileiro no Carnaval é de notar e nós no Cassino tivemos a prova com o baile de sexta-feira última.
       Fantasias a fartar, mascarados elegantes e com ar de prazer; mascarados bonitos com ar tristonho; mascarados medíocres com ar medíocre... tudo, tudo tinha no salão do hotel nesta noite de satisfação, de gozo e de culto a Momo, o deus do brasileiro, por assim dizer...
      No salão a Alegria reinava em toda sua plenitude; a elegância dominava o ambiente; o Amor se sentia orgulhoso pelo séquito enorme de vassalos que possuía; à Beleza se prestava homenagens a cada instante e o salão do Cassino naquela noite, era incontestavelmente o Paraíso e o Inferno ao mesmo tempo pelo gozo que dava a uns e pela tristeza que dava aos já de alma velha que olhavam com pesar a confusão enorme das grandes cousas que constituem a Vida, a razão de ser da gente, a verdadeira significação da existência do mundo...
      Era o salão da elegância onde era preciso estar para conhecer “le bel air des choses et savoir ce qui se porte.”
     Quem chegava tinha a impressão da Loucura dentro do salão, às soltas, sem domínio, invadindo os espíritos de todos e fazendo todos, sem excepção desde o mais requintado “smart” ao mais vulgar burguês, perderem a linha, sacrificarem o ar grave, prejudicarem a sisudez. Era o Carnaval, o Carnaval dentro de um salão onde o tamanho não era grande para deixar escapar sem ser visto este Momo que ama, este Momo que alegra, este Momo que perde, este Momo que enlouquece...
      Às 23 horas já o entusiasmo tinha chegado ao auge e as danças corriam com uma grande animação. Dançou-se tudo: valsa, quadrilha, one-step, rag-time, tango que, como sempre dominava as outras danças porque hoje no Brasil já há uma verdadeira tangomania, é já uma dança mental, coletiva. Cremos mesmo que a população inteira só pensa seriamente no tango.
    No salão, a harmonia da Beleza, da Graça e da Arte era completa, a harmonia da Alegria e do Gozo era absoluta; a harmonia da Dança e da Música era confusa...
     A orquestra portou-se bem porque tocou sempre sem cansaço e esteve toda noite na “altura” do palco.
      Mas já quase meia-noite chegou um grupo de dominós pretos que fez uma entrada triunfal. Dominou o salão e o primeiro momento foi de perplexidade até que uma quadrilha de “sensação” pôs o pessoal todo em movimento. Este grupo de dominós pretos dançou com tal graça e tanto barulho que a alegria chegou ao auge, atingiu ao seu máximo limite.
     Estes dominós todos tinham uma interrogação no ombro e isso aguçou a curiosidade de Periscopio que, orientando melhor sua lente descobriu os das dúzias com alguns “attachés” chegados da cidade só para esse fim. Só não declino o nome deles por discrição e gentileza. Eram eles que, como sempre, davam a nota predominante no Cassino, eram eles cheios de alegria vinham encher o salão de bom humor”.

Hotel Cassino em 1908. Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.

Hotel Cassino em 1908. Estúdio Fontana. Acervo: Museu da Cidade do Rio Grande.

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