Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 27 de março de 2018

NOVIDADE: HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL vol. I

             Em especial para as turmas do Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande (Licenciatura e Bacharelado) está disponível para leitura ou download o livro "História do Rio Grande do Sul vol. I".
             Basta dar um clique na capa do livro que está do lado esquerdo da página. No smartphone (inicialmente, clicar no fim da página em "visualizar versão para web"). 


NOVIDADE – A COLEÇÃO RIO-GRANDENSE

         No ano de 2017 dez livros foram publicados na Coleção Rio-Grandense (convênio Biblioteca Rio-grandense e Cátedra Infante D. Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização – Lisboa. Quatro destes livros estão sendo disponibilizados neste blog (para ler ou fazer download). São eles:
-História e epidemia na cidade do Rio Grande: dois ensaios históricos. Francisco das Neves Alves e Luiz Henrique Torres.
-A conjuntura histórica da fundação do Rio Grande do Sul. Francisco das Neves Alves, Luiz Henrique Torres e Anselmo Alves Neetzow.
-O Bicentenário da Cidade do Rio Grande e seu contexto histórico. Francisco das Neves Alves, Luiz Henrique Torres e Reto Monico.
-O Estado Novo no Rio Grande do Sul e outros ensaios. Derocina Alves Campos Sosa, Francisco das Neves Alves (org.), Luiz Henrique Torres, Michelle Vasconcelos Oliveira do Nascimento, Reto Monico e Rodrigo Santos de Oliveira.




quinta-feira, 22 de março de 2018

UM JANTAR COM SAINT-HILAIRE


UM JANTAR COM SAINT-HILAIRE

O Tenente-General Manoel Marques de Souza convida o Governador da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul “Conde de Figueiras” e o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire para um jantar no dia 6 de agosto de 1820 em sua residência a rua Direita próxima a Igreja Matriz de São Pedro.


O Edifício Galeria Conde foi construído no espaço que foi outrora ocupado pelo casarão da família Marques de Souza. O avô, o pai e o filho, tiveram uma trajetória militar e administrativa de projeção nos quadros do Brasil Colonial e Imperial, sendo o casarão, uma referência no cenário urbano da cidade até a sua demolição.

O botânico francês Auguste de Saint-Hilaire foi recebido na casa de Manoel Marques de Souza (o “avô”, o primeiro dos “três centauros”), nascido em 1743 e que em setembro assumiria o cargo de Governador. Saint-Hilaire foi um dos mais importantes cientistas a visitarem e pesquisarem no Rio Grande do Sul. O naturalista esteve em outras residências, mas, não deixou pistas que permitam localizar estes lugares diferentes da atual Galeria Conde.

Saint-Hilaire chegou a Rio Grande no dia 6 de agosto a Rio Grande. Na mesma noite foi convidado para um jantar na residência de Manoel Marques de Souza. Estava acompanhado do Governador do Rio Grande de São Pedro o Conde de Figueiras que deixaria em breve o cargo que passaria a ser ocupado pelo anfitrião do jantar. Ao chegarem à cidade foram recepcionados pela Câmara de Vereadores, autoridades e populares. Assim como era lugar comum quando da chegada a Rio Grande, os visitantes foram até a Igreja do Carmo (a antiga) para assistirem a missa. Conforme registrado no diário do naturalista francês: “Após a prática, o padre deu a bênção, e o conde dirigiu-se à casa do Tenente-General Marques, para onde o seguimos. Fomos recebidos num lindo salão e, em seguida, levados para uma sala de refeições onde nos serviram um esplêndido jantar. A mesa estava coberta de uma quantidade de travessas, guisados e ensopados de toda qualidade. Um segundo serviço, composto de assados, saladas e massas, sucedeu ao primeiro; retiraram a carne e acrescentaram novas massas às primeiras. Depois, levantamo-nos da mesa e fizeram-nos passar a uma outra sala, onde encontramos uma sobremesa magnífica, composta de uma variedade de bombons e doces. De fruta só havia laranjas de uma qualidade deliciosa, chamada laranja-de-umbigo ou laranja-da-bahia. Após a sobremesa nos serviram café, seguido de licores. Durante o jantar, foram trocados vários brindes, repetidos agora com os licores. A reunião prolongou-se até alta madrugada e a maioria dos convivas estava de pileque quando se retirou. Não pude deixar de admirar a mulher do tenente-general que, com setenta e quatro anos, respondeu a todos os brindes, comeu e bebeu mais que todos e conservou perfeita lucidez, mostrando uma vivacidade rara, mesmo entre pessoas jovens. Os portugueses e os brasileiros costumam beber o vinho puro, e nos grandes banquetes, o nocivo hábito de erguer brindes excita-os a tomarem em excesso”.

         Após este jantar com carnes e massas, muitos brindes e doces e frutas (como a laranja-de-umbigo), no dia seguinte, 7 de agosto “todos estavam tristes e fatigados. Visitei a senhora do tenente-general, talvez a única de todos os convivas do jantar de ontem à noite que não demonstra cansaço. Além dessa visita, fiz uma ao cura do Rio Grande, que conhece francês e não é absolutamente estranho à história natural. Tem ele em sua companhia uma sobrinha, também apreciadora dessa ciência, e que aprendeu a falar sem mestre a nossa língua”.

          Saint-Hilaire deixou este relato do jantar ocorrido há quase 200 anos na noite do dia 6 de agosto de 1820. Pena que o seu olhar rigoroso de naturalista não tenha dado mais detalhes sobre a gastronomia e indicações sobre como foram preparadas as massas e as carnes: receitas criadas local ou regionalmente ou inspiradas em pratos europeus?

Ilustração: folha e selo filatélico emitidos em homenagem a Auguste de Saint-Hilaire em 1953 (centenário da morte do botânico francês). 





terça-feira, 20 de março de 2018

CARMINA BURANA

       Um Códice de 112 folhas de pergaminho constituindo 254 poemas e textos dramáticos escritos entre os séculos XI a XIII é chamado de “Carmina Burana” (Canções de Beuern – localidade da Baviera). As peças que o compõem são quase sempre satíricas, picantes e irreverentes, tendo sido escritas em latim medieval, em médio-alto-alemão, francês provençal ou macarrônicas (latim vernáculo com francês ou alemão).

Este Códice encontrado em Benediktbeuern (Baviera) é composto por poemas escritos por goliardos - monges e eruditos errantes. Os monges goliardos (cléricos pobres –estudantes das Universidades que ainda não fazem parte do corpo eclesiástico - que se tornam vagantes), surgiram no século XII e produziram hinos orgiásticos, paródicas blasfemas e canções amorosas de cunho erótico. Recusavam a riqueza e a denunciaram a corrupção clerical em nome do poder. Eram os “boca do inferno” da Igreja sendo perseguidos até o seu desaparecimento no século XIII, porém alguns escritos foram secretamente transcritos.

Os textos são diversificados e não se pode pensar num movimento cultural e literário homogêneo mas num somatório de poemas profanos que questionavam a cristandade tradicional e apegavam-se a exaltação do sexo, do amor, da bebida e da dança. Sua condição de peregrinos e ao mesmo tempo com uma forte bagagem erudita adquirida nos mosteiros, os tornava menestréis ligados a poesia e a composição musical que era divulgada nos burgos medievais mas especialmente nas tabernas. Para o medievalista Jacques Le Goff, os goliardos eram poetas pobres e errantes que praticavam praticavam a vagabundagem intelectual num período em se difundia o “Culto as Tabernas” e a devoção ao “beber, comer e descansar” os poemas lúdico-tabernários. 

Os poemas que compõem “Carmina Burana” foram escritos para  o canto porém, os copistas do Códice, não reproduziram o andamento melódico da maioria dos poemas e apenas 47 puderam ser musicados. O Códice foi encontrado em 1803 num convento benedito na Baviera. No ano de 1847, o filólogo Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção com o título de “Carmina Burana” e dividiu o Código em seis partes. Em 1937, o compositor alemão Carl Orff começou a musicar vinte e quatro poemas entre eles, fazendo imediato sucesso, “O Fortuna, Imperatrix Mundi” que se tornou uma das músicas clássicas mais reproduzidas das últimas oito décadas. Orff descreveu a cantata encenada como "a celebração do triunfo do espírito humano pelo balanço holístico e sexual".  

“O Fortuna” é uma cantata cênica (composição profana ou religiosa descrevendo uma situação psicológica) que pode ser definida como uma quase ópera, apesar de não possuir um enredo e sim uma declamação cantada de poemas com intensa força rítmica.  A “roda da fortuna” é um símbolo que recua a antiguidade e o seu giro traz alternadamente boa e má sorte. Pode ser interpretada com uma parábola da vida humana marcada pela mudança e passagem do tempo e não pela perene felicidade. Um trecho da cantata diz o seguinte: “Ó Sorte, És como a Lua Mutável, Sempre aumentas Ou diminuis; A detestável vida, Ora oprime E ora cura Para brincar com a mente; Miséria, Poder, Ela os funde como gelo”.

O leitor tem várias gravações disponíveis desta obra de arte da música clássica como a versão da London Symphoni Orchestra dirigida por Richard Hickox; Seiji Ozawa frente à Orquestra Filarmônica de Berlim ou do maestro André Rieu e Orquestra com o seu estilo pop e irreverente.  
  
Sugestão de endereço: https://youtu.be/EJC-_j3SnXk


Manuscritos de Carmina Burana (cerca de 1220).Acervo: Biblioteca Regia Monacensis.

Carl Orff. In: http://www.wissen.de/lexikon/orff-carl

domingo, 18 de março de 2018

EDGAR ALLAN POE NO CASSINO


O
 despertar foi opressor! Os olhos estavam demasiadamente embaçados e os pensamentos intraduzíveis. Tenho sentido tanto mal estar ultimamente, tantas dores generalizadas e tenho me superado no excesso do consumo de álcool. Tudo para aliviar esta insuportável dor existencial! Porém, não conseguir nem abrir os olhos? Sinto algo espigando a minha pele, um cheiro de maresia e um som de ondas ofegantes. O vento é gélido e minha carne parece estar sendo cortada. Espere aí? Depois das noites e dias de bebedeiras, ao despertar eu nunca senti isto! Sempre despertava com uma fome imensa, não de comida, mas de ideias desconcertantes para os meus contos. Imensos e impagáveis momentos de prazer que sentia ao despertar da letargia etílica ainda com o meu cérebro embriagado pelo torpor alcoólico, e pronto para explodir em imaginação funérea, porém criativa, que permitia minha sobrevivência num mundo cruel de venda de força de trabalho e de prostituição da essência intelectual. Entretanto, tenho que confessar que não consigo viver sem estas explosões criativas que brotam do obscuro de minha psique. 
E volto a insistir que a minha sensação atual é diferente a tudo que já senti de sofrimento e horror! Estou congelando e rodeado por sons e movimento de matéria que num turbilhão me envolve. Estarei morto e este é um pedaço ainda ignorado do inferno de Dante? Sempre imaginei que com a morte o calor seria sufocante, todavia o que sinto é um frio que me lança num abismo gélido. Sinto meu cabelo se movimentar freneticamente com o vento e sinto que ele está repleto de grânulos minúsculos que deve ser areia. Meus pés estão parcialmente enterrados e sem movimento e não consegui me mexer e nem respirar. É quando se sente que as coisas estão acontecendo, entretanto nenhum sentido físico pode afirmar que realmente estejam, ou seja, é como quando eu sentia os fantasmas a minha volta, a razão não permitia que eu os trouxe-se para o plano real. Estranhamente estou deitado na horizontal como se estivesse num caixão a céu aberto... O que me restou é a areia, o vento, o barulho da água ritmada em ondas, uma praia ignorada e sem sons humanos pela eternidade? Mas se morri deveria estar em algum caixão num cemitério em Baltimore, pois agora me lembro que tropecei e caí no meio fio e tudo se apagou em minha memória. Até este despertar...  
Será que o inferno ou o purgatório é ficar estendido numa beira de praia nos confins do fim do mundo?  E agora... Nevermore?


*Uma das traduções de “O Corvo” em língua portuguesa foi feita, em 1915, pelo intelectual nascido no Povo Novo Alfredo Ferreira Rodrigues e publicado em seu fabuloso “Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul” foi uma inspiração para este escrito que acaba evocando E. A. Poe que vaga entre as dunas do atual Cassino, tropeçando em seu sono etílico pelas sarjetas mudas das ruas embriagadas. Em 7 de outubro de 1849, dia da morte de Poe, a solidão das dunas e do mar é que constituíam o Balneário que foi inaugurado em 1890. Entretanto, o poeta/contista cambaleou em seu sono mortis das ruas de Baltimore até as dunas do Cassino. Será que algum veranista, no passado, encontrou a sepultura perdida de Poe?
**Retirado do livro Histórias Irreais do Rio Grande, disponível neste blog. 



Poe em daguerriótipo de 1849. 

Edgar Allan Poe em seu caixão. 07-10-1849. 

Poe em 1848. 

Poe em 1848.

Edição norte-americana da Sterling (2015) com 1.040 páginas de escritos de Poe.


sábado, 17 de março de 2018

UN VIAGGIO A RIO GRANDE DEL SUR (1904)

O livro Un Viaggio a Rio Grande del Sur foi publicado em Milão em 1906. Esta narrativa de viagem é de autoria do deputado italiano Vittorio Buccelli (1861-1929), que esteve no Rio Grande do Sul em 1904 a convite do Partido Republicano Rio-grandense. O genovês visitou as colônias italianas e produziu 500 páginas de material que recebeu uma versão recente da Livraria do Senado Federal (2016). A tradução aqui utilizada foi feita por Carlos Altmayer Gonçalves a partir do livro de 1904 e está disponível em http://www.popa.com.br/diarios/viaggio_rgsud/. Serão reproduzidas apenas algumas passagens que tem por referência o Cassino, Rio Grande, São José do Norte e o início da viagem pela Lagoa dos Patos.
No Rio de Janeiro “Embarcamos abordo do vapor “Júpiter”, um dos mais modernos da frota da “Companhia Cruzeiro do Sul”, que há alguns anos foi constituída para aumentar a comunicação marítima dos estados do Sul com a capital (...). O “Júpiter” parou nas proximidades da Barra, a alguns metros da “Bóia de espera”, perto da qual é obrigatória a espera a todos os vapores que desejam entrar no Rio Grande. Em poucos momentos percorremos com a vista tudo que havia ao nosso arredor: a esquerda um grupo de casas de construção leve, sendo que a principal delas serve de centro à estação balneária preferida do Estado, denominada “O Cassino”. O estabelecimento é bem mantido, lá se encontra todo tipo de comodidade e conforto. Acolhe a flor da sociedade rio-grandense que pode desfrutar de ágio e diversões. Em frente ao Cassino encontra-se um número considerável de cabanas, alinhadas em fila e que servem de vestiário. Mais adiante a casas muito elegantes, de proprietários que passam longos períodos na estação balneária, usando o Cassino como centro da vida social.
À direita, sobre a ponta de terra mais emergente na linha do canal, vemos diversos grupos de casas que deverão ser o princípio de uma futura cidade, no local chamado “Pontal da Barra”. Mais adiante ainda, o observatório com seu edifício antigo, todo branco, e a torre do farol, com trinta metros de altura, toda vermelha, dominam uma longa extensão de terra e de mar. A praia baixa dispersa-se  numa espécie de névoa tênue, que no horizonte distante confunde todo perfil e coloração.
Sem grandes atrativos para enganar a curiosidade durante nossa espera, procuramos o segundo comandante para dar-nos informações locais.
A barra do Rio Grande é formada por diversos bancos de areia, que devido ao vento predominante de Nordeste, fecham o canal deste lado. Mas graças ao trabalho contínuo da Companhia de Melhoramentos da Barra, hoje é mantida sempre aberta à entrada Sul. Mas a quantidade de água que se encontra é variável. Com vento Sudoeste o nível eleva-se e a passagem é fácil. Mas com o vento de Este, o mar se agita de tal forma ao ponto de tornar impossível a perigosa travessia e obrigar os vapores há aguardar algumas horas e até dias. Ordinariamente, porém, não podem tentar a passagem navios de mais de 12 pés de calado. Este em que chegamos tem 18, devemos esperar condições favoráveis de tempo e mar. Grandes navios não podem penetrar em condição alguma.
Finalmente, duma das antenas do observatório vem o sinal de “água suficiente”, e o “Júpiter” que tinha mantido constantemente a pressão da caldeira, avançou lentamente aproximando-se da praia esquerda onde o fundo é maior, quase roçando o embarcadouro da Companhia de Melhoramentos, que fica defronte a torre do farol da barra. Um hábil piloto dirigiu a manobra, seguimos entre as duas praias baixas, sem nada de notável. As casas esparsas no Pontal da Barra, ainda estão longe de constituir um vilarejo.
A certo ponto vimos á direita um grupo de casas e um embarcadouro que nos disseram ser acessível a navios de médio porte (São José do Norte), mas o “Júpiter”, justo agora se volta para a esquerda e entra num canal estreito e tortuoso sinalizado por duas linhas de marcas flutuantes que indicam os bancos de areia existentes no local e que em certos pontos são muito visíveis entre estas marcações. Após uma hora de travessia, da Barra a Rio Grande, o sol nos havia abandonado, de maneira que quando o “Júpiter” iniciou a lançar âncora, estávamos circundados pela escuridão e obrigados a renunciar a todo tipo de observação e estudo. Em Rio Grande terminou a viagem do “Júpiter”. Viajantes e mercadorias foram transbordados, e um outro vapor da Companhia, o “Vênus”, ancorado a poucos metros de nós, estava pronta a receber-nos. Apesar de ser nove da noite, o transbordo foi feito com a maior rapidez e segurança, graças à boa organização dos serviçais da Companhia e da iluminação das poderosas lâmpadas elétricas dos dois vapores. As duas da madrugada, o “Vênus” poderia ter zarpado, mas devido às especiais condições de navegação na laguna, especialmente no trecho que vai de Rio Grande a Pelotas, a partida é feita apenas durante o dia.
Às oito da manhã seguinte, enquanto o “Venus” levantava a âncora, dávamos uma olhada na cidade de Rio Grande, que se encontra próxima ao porto; a impressão foi boa; os prédios apresentam um aspecto alegre e numa linha simpática: as mais importantes casas comerciais alinhadas perto do cais, sobressaindo  o belo prédio da Aduana, a estação marítima da estrada de ferro e o Hospital de Caridade. Um bom número de barcaças à vela, de lanchas a vapor e alguns pequenos navios de carga animavam a estreita área navegável, fronteira ao porto de Rio Grande. Denominação imprópria, pois mais parece um trecho de mar que une o Atlântico à laguna; esta, por sua vez, pode ser considerada um mar interno, e pela qualidade da água e por sua extensão e conformação, tendo 140 milhas de comprimento e 40 de largura.
O “Vênus” se afastou lentamente do porto e dirigindo-se primeiramente a São José do Norte, seguiu adiante para seguir a rota a Pelotas, uma das cidades mais importantes do estado, que se encontra a 29 milhas mais ao Norte de Rio Grande. Duas horas depois nos encontramos na embocadura do rio São Gonçalo, um verdadeiro canal formado pela natureza para unir a laguna “dos Patos” e a laguna “Mirim”, que se encontra ao Sul da Barra do Rio Grande e que se estende até a fronteira da República Oriental do Uruguay (...)”.


Cartão-postal do Porto Velho datado de 1909. Acervo: Leonardo Lopes.

Capa do livro de Buccelli (2016). Senado Federal. 





quinta-feira, 8 de março de 2018

FRANKENSTEIN: 200 ANOS

No dia 1 janeiro de 1818 foi lançada a primeira edição do livro “Frankenstein, o Moderno Prometeu”. O livro foi escrito por Mary Shelley (escritora inglesa (Londres 1797-1851) e que nesta época ainda mantinha o nome de solteira Mary Wollstonecraft Godwin) consistindo num romance de horror gótico com inspiração no movimento romântico personalizado em Lorde Byron. A história foi escrita entre 1816 e 1817 quando Mary tinha apenas 19 anos. O tema tratado é a história do estudante de ciências naturais Victor Frankenstein que constrói um monstro em seu laboratório a partir de cadáveres retirados de cemitérios, ou seja, ele teria descoberto o segredo da geração da vida. A repulsa e abandono do criador em relação à aparência sepulcral da criatura acarretam na explosão de violência da criatura quando rejeitado por Victor. O livro trata de questões éticas dos limites da ciência na interferência do ciclo da vida e da morte e do poder exercido pela humanidade sobre a natureza através da ciência e da tecnologia. É considerada a primeira obra de ficção científica que se desdobrou em leituras teatrais e cinematográficas que chegam até o presente.
Um tema tão complexo foi criação de uma mulher que sequer pode assinar a autoria da primeira edição: seu marido, o poeta Percy Shelley. A sociedade inglesa não aceitava a escrita feminina em temáticas pesadas e em polêmicas sobre o confronto do homem (cientista) com Deus. Na edição de 1831, Mary Shelley explica a elaboração da obra na “introdução”. Alguns trechos são reproduzidos e contribuem para pensar o cenário da criação de um dos principais ícones da cultura ocidental.  

Os editores de romances, ao decidirem publicar Frankenstein para uma de suas séries, ficaram curiosos para que eu lhes contasse sobre a origem da história. Aceitei com muito boa vontade, pois isso me dá a oportunidade de responder de um modo geral à pergunta que freqüentemente me fazem — como é que eu, então uma jovem, pude pensar e discorrer sobre um assunto tão horrível. Por ser filha de duas personalidades de notável celebridade literária (filósofo William Godwin e da escritora Mary Wollstonecraf), não é surpresa alguma que eu pretendesse escrever ainda no início de minha vida.
No verão de 1816, nós (Mary e Percy) visitamos a Suíça e tornamo-nos vizinhos de Lord Byron. Aquele, entretanto, estava sendo um verão muito desagradável, e as chuvas incessantes nos obrigavam a permanecer em casa durante vários dias. Caíram em nossas mãos alguns volumes das histórias de fantasmas, traduzidas do alemão para o francês. “Cada um de nós vai escrever uma história de fantasmas", disse Lord Byron, e sua proposição foi aceita. Éramos quatro. Concentrei-me para criar alguma história — uma história que rivalizasse com as que nos tinham incitado a realizar aquele trabalho. Uma história que falasse aos misteriosos medos de nossa natureza e despertasse um espantoso horror — capaz de fazer o leitor olhar em torno, amedrontado, capaz de gelar o seu sangue e acelerar os batimentos do seu coração. Se eu não conseguisse isso, minha estória de fantasmas seria indigna do seu nome. Pensei e ponderei, mas em vão. Senti aquela total incapacidade de invenção que é a maior desgraça dos autores, quando um estúpido nada responde às nossas ansiosas invocações. "Já encontrou a história?", perguntavam-me todas as manhãs, e eu era obrigada a responder com uma mortificante negativa.
A invenção consiste na capacidade de julgar um objeto e no poder de moldar e arrumar as idéias sugeridas por ele. Muitas e longas eram as conversas entre Lord Byron e Shelley às quais eu assistia como ouvinte devota, mas silenciosa. Talvez se pudesse reanimar um cadáver; as correntes galvânicas tinham dado sinal disso; talvez se pudesse fabricar as partes componentes de uma criatura, juntá-las e animá-las com o calor da vida. A noite se estendeu nessa conversa, e até mesmo a hora das bruxarias há muito havia passado, quando nos retiramos para repousar. Coloquei a cabeça sobre o travesseiro, mas não consegui dormir, nem podia dizer que estivesse pensando. Minha imaginação, solta, possuía-me e guiava-me, dotando as sucessivas imagens que se erguiam em minha mente de uma clareza que ia além dos habituais limites do sonho. Eu via — com os olhos fechados, mas com uma penetrante visão mental —, eu via o pálido estudioso das artes profanas ajoelhado junto à coisa que ele tinha reunido. Eu via o horrível espectro de um homem estendido, que, sob a ação de alguma máquina poderosa, mostrava sinais de vida e se agitava com um movimento meio-vivo, desajeitado. Deve ter sido medonho, pois terrivelmente espantoso devia ser qualquer tentativa humana para imitar o estupendo mecanismo do Criador do mundo. O sucesso deveria aterrorizar o artista; ele devia fugir de sua odiosa obra cheio de horror. Ele esperaria que, entregue a si mesma, a centelha de vida que ele lhe comunicara extinguir-se-ia, que aquela coisa que recebera uma animação tão imperfeita mergulharia na matéria morta, e ele poderia então dormir na crença de que o silêncio do túmulo envolveria para sempre a breve existência do hediondo cadáver que ele olhara como berço de uma vida. Ele dorme; mas é acordado; abre os olhos; avista a horrorosa coisa de pé ao lado de sua cama, afastando as cortinas e contemplando-o com os olhos amarelos, vazios de expressão, mas especulativos. Horrorizada, eu abri os meus. Aquela idéia tanto se apossou de meu cérebro que um arrepio de medo percorreu meu corpo, e eu desejei substituir a horrenda imagem da minha fantasia pelas realidades que me rodeavam. Ainda as vejo: o próprio quarto, o assoalho negro, as cortinas fechadas, através das quais a luz da Lua lutava para entrar, e a sensação de que a superfície vítrea do lago e os cumes dos Alpes brancos de neve estavam longe. Não pude livrar-me facilmente do meu tétrico fantasma; ele ainda me assombrava. Na manhã seguinte, anunciei que já havia encontrado uma história. Comecei a escrevê-la naquele mesmo dia com seguintes palavras: "Era uma sombria noite de novembro", transcrevendo apenas os lúgubres terrores do meu sonho acordado. No princípio pensei apenas em escrever algumas páginas, um conto curto, porém Shelley incitou-me a estender a idéia. Devo esclarecer que não devo a sugestão de um só incidente nem a menor orientação dos meus pensamentos ao meu marido e, no entanto, não fosse pela sua insistência, ele jamais teria tomado a forma sob a qual foi apresentado ao mundo. Dessa declaração devo excetuar o prefácio. Tanto quanto me recordo, foi inteiramente escrito por ele. Desejo mais uma vez que minha hedionda criação prossiga e prospere. Tenho afeição por ela, pois foi o fruto de dias felizes, quando a morte e a dor não eram senão palavras que não encontravam eco em meu coração. Suas várias páginas falam de muitos passeios, de muitas conversas, quando eu não estava sozinha; e quando meu companheiro era um que, neste mundo, eu jamais verei”. Londres, 15 de outubro de 1831.

Primeira edição do livro em 3 volumes com tiragem de 500 exemplares.

Edição de 1831.




Frankenstein clássico interpretado por Boris Karloff (1931) da Universal Pictures.  


Manuscritos de Frankenstein de 1816.

 
Mary Shelley em 1839. National Portrait Gallery.


sexta-feira, 2 de março de 2018

SAMBAQUIS, CERRITOS E O TUBARÃO

Um artefato que chama muito a atenção pública é o zoólito de tubarão. Para os moradores da Planície Costeira, como é o caso de Rio Grande, Pelotas, Capão do Leão etc, o tubarão é uma das representações oceânicas mais fortes. A escultura em pedra também é um contundente recurso “didático” para falarmos de populações indígenas milenares que também tiveram suas vidas, assim como nós, inseridas na zona costeira e seus ambientes afins.
         Os tubarões freqüentavam o litoral do Rio Grande do Sul e faziam parte do cotidiano de populações que passaram a ocupar as praias do litoral Norte e Médio nos últimos 4 mil anos. O zoólito em foco é uma peça esculpida e polida em rocha que foi produzida por populações que edificaram os Sambaquis (acumulo de restos de alimentação e de enterramentos que se estenderam por milênios podendo apresentar entre 1 a 30 metros de altura). Porém, foi encontrado centenas de quilômetros de seu local de origem em sítio característico da Tradição Vieira. Como o zoólito viajou tanto?
O tubarão, além de sua beleza estética e simbólica, é um artefato motivador para conhecer as populações que estiveram relacionadas à sua elaboração e circulação. Para tanto, serão reproduzidos alguns trechos do artigo de Manuel Gonzalez e Rafael Guedes Milheira “Reinterpretando o zoomorfo de tubarão da coleção Carla Rosane Duarte Costa” (Cadernos do LEPAARQ – Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. UFPEL, 2005).
O tema me faz lembrar de conversas mantidas na Furg com o saudoso prof. Pedro Mentz Ribeiro. Naquele período ele participava das tratativas de tornar o “tubarão” um bem cultural de acesso público e objeto de pesquisas o que se tornou uma realidade.
No artigo de Gonzalez e Milheira, os autores historiam o achado e buscam interpretações para a circulação desta peça e contatos mantidos por culturas indígenas muito tempo antes da descoberta do Brasil.

“O zoólito de tubarão do presente estudo faz parte da coleção lítica “Carla Rosane Duarte Costa” que recebeu número de catálogo 008. A coleção se encontra sob a salvaguarda do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ – UFPel), sendo constituída por dois zoólitos (um tubarão e uma ave), uma mó, dois bastonetes polidos, uma lâmina de machado polida e duas bolas de boleadeira mamilar. Esses artefatos foram encontrados pelo pai da Sra. Carla Rosane Duarte Costa há aproximadamente 25 anos (atualmente, 38 anos), no município do Capão do Leão - RS, quando da retirada de areia, por sua empresa de extração, com uma retro-escavadeira. Na ocasião, as peças da coleção foram retiradas de uma única vez, estando provavelmente depositadas em contexto. Essa coleção somente veio ao conhecimento público quando houve o processo de formação do LEPAARQ – UFPel. Nesse momento, os arqueólogos Pedro Augusto Mentz Ribeiro (FURG) e Fábio Vergara Cerqueira (UFPEL), entraram em contato com a Sra. Carla Costa no sentido de conhecer as peças e conseqüentemente solicitar a doação das mesmas, o que foi realizado imediatamente.
O zoólito tornou-se bastante conhecido dentro e fora do meio acadêmico em função de sua monumentalidade. Tem sido foco de estudo não só de arqueólogos em função de sua origem cultural, mas também de artistas plásticos interessados no estilo formal da peça, pois a mesma apresenta aspectos de simetria, volumetria e representação naturalista que impressionam pela sua perfeição técnica.
Essa peça também tem sido alvo de estudo de biólogos, já que incita a discussões não só com relação à questão homem/meio, mas também a questões sobre a ocorrência da espécie numa região específica. O artefato teve por matéria-prima o serpentinito que é uma rocha vulcânica, tem um comprimento de 57,2 cm, largura de 22,3 cm, altura de 13,5 cm e um peso de 11.950 g. A peça é tão detalhada que foi possível identificar a espécie do tubarão: família Lamnidae, gênero Carcharodon carcharias (tubarão branco).
O local onde foi encontrada fica no município de Capão do Leão o qual se situa numa área de fronteira geográfica, em que, por um lado, tem-se a borda oriental da Serra do Sudeste e, por outro lado, a porção meridional da Laguna dos Patos. O local onde foram coletadas as peças da coleção se localiza próximo à Lagoa do Fragata, a qual deságua no canal São Gonçalo. Esse recurso hídrico é considerado como de extrema importância no sistema lagunar, pois liga a referida Laguna à lagoa Mirim, no território uruguaio. A porção meridional da Laguna dos Patos é tratada pela literatura arqueológica como uma área de fronteiras culturais, em que se articulam e interagem populações portadoras de grupos ceramistas construtores de Cerritos (Tradição Vieira) com grupos referentes às culturas Guarani (Tradição Guarani). Além disso, os sítios arqueológicos das culturas sambaquieiras mais próximos se localizam na restinga da Laguna dos Patos (litoral sul do Estado), há aproximadamente 120 Km do município do Capão do Leão. Nesse sentido, a coleção de zoólitos e boleadeiras permite pensar, numa perspectiva empiricista, na possibilidade de contatos interculturais, pois se pensarmos em materiais diagnósticos, as esculturas são consideradas pela literatura arqueológica, como pertencente às sociedades sambaquieiras, enquanto que, as bolas de boleadeiras mamilares, por sua vez, são diagnósticos dos grupos construtores de Cerritos. Ademais, a matéria-prima do zoólito que representa o tubarão (serpentinito), segundo Pedro Ribeiro somente seria encontrada a aproximadamente 150 Km, em direção ao interior da área onde foi encontrada a coleção, sendo necessário um grande deslocamento para obtenção desse recurso.
As trocas de materiais indicam, num primeiro momento, a possibilidade de manutenção de relações interculturais numa perspectiva de interação social. As sociedades Sambaquieiras e os construtores de Cerritos devem ser pensados como grupos que se articulam em um espaço determinado mantido por um período de longa duração. Para pensar nessa manutenção territorial os autores destacam o conceito de ‘circunscrição territorial’ que se refere aos espaços habitáveis e de acesso e controle aos recursos naturais. Considerando que os grupos caçadores-coletores construtores dos Cerritos mantinham um espaço territorial bem delimitado, percebe-se que, para a obtenção dessa matéria prima, a sociedade sambaquieira teria que ter entrado em contato com os construtores de Cerritos. Se articularmos essas três questões: disponibilidade de matéria-prima, territorialidade e composição da coleção, podemos pensar em questões como trocas de materiais entre grupos construtores de Cerritos com grupos sambaquieiros que permeiam tanto a esfera das relações econômicas como simbólicas.

A interação entre grupos se adequa ao modelo de manutenção de fronteiras que define a laguna dos Patos como uma área de fronteira entre os grupos da Tradição Vieira e Tradição Guarani. Nesse caso, a ocorrência dessa coleção permite pensar nas populações sambaquieiras como um terceiro elemento a ser inserido nesses fenômenos de fronteiras. As interações de manutenção de fronteiras poderiam explicar a obtenção de matéria prima para a confecção do zoólito. Na medida em que relações sociais se estabelecem, pode-se esperar que não só ocorram relações na esfera imaterial, mas que haja circulação de materiais que contribuam para a concretização das relações e facilitem a subsistência dos grupos. Nesse sentido, a própria matéria prima pode ter sido utilizada como um elemento de troca e que deve ter fortalecido a interação e manutenção das relações, assim como outros elementos materiais e imateriais a que não temos acesso”. 

Cartão-postal. Prefeitura Municipal de Pelotas.

Três ângulos do zoólito. Universidade Federal de Pelotas. 

A SUÁSTICA E A BOMBA DE GASOLINA

        O cartão-postal do editor Pitombo Lima aqui reproduzido mostra uma cena urbana da cidade do Rio Grande por volta de 1930. É a esquina das ruas 24 de Maio com Senador Correa e a movimentação dos trabalhadores da Fábrica Nova é intensa. A bomba de gasolina com a “suástica nazista” salta aos olhos! É evidente que até a gasolina consumida na cidade vinha da Alemanha nazista! Será correto? Não, são duas afirmações erradas!
        A pesquisa histórica possibilita explicar esta imagem congelada no tempo e repleta de significados. A suástica se tornou um dos símbolos mais fortes e de reação imediata nas pessoas pela associação ao nazismo. Porém, o símbolo recua milênios no passado e foi usado por várias civilizações orientais e ocidentais, como povos indígenas norte-americanos, hindus, budistas, gregos, celtas, povos nórdicos, eslavos etc. Até a coca-cola usou o símbolo em chaveiros e “relógios da sorte” em 1925 assim como outras empresas que desde o século 19 já o utilizavam.    
     O Partido Nazista passou a utilizar a suástica (“hakenkreuz”, cruz em gancho) no verão de 1920, mas, Hitler somente chegou ao poder em 1933 e a suástica se tornou símbolo oficial em 1935, quando podemos falar em “Alemanha Nazista”, portanto, são eventos posteriores a este cartão-postal e a presença da bomba de gasolina na cidade! Na Alemanha da década de 1920 o Código Penal alemão proibia o uso da suástica por ser um símbolo do Partido Nazista.
       A bomba de gasolina com a suástica se fazia presente em várias cidades brasileiras e pertencia a empresa petroleira “Anglo-Mexican Petroleum Company Limited” que hoje conhecemos por “Shell” (a empresa deu seus primeiros passos em 1897, mas, passou a se chamar "Royal Dutch Shell Grupo" em 1907). A “Shell Brasil” chega ao país em 1913 ostentando o nome “Anglo-Mexican” (local de procedência dos produtos que era o petróleo “El Aguila” no México). As primeiras bombas de gasolina são instaladas, nas ruas e garagens, a partir de 1922. Propagandas no jornal O Estado de São Paulo da década de 1920 divulgam a gasolina “Energina” e a querosene “Aurora” da marca “svastica” (lançada em abril de 1920). O significado da palavra suástica é variado, mas, remete, na maioria das representações, a “cruz da boa sorte” e a proteção espiritual. Já os nazistas o utilizaram como “supremacia da raça ariana”. A inclinação da cruz também tem variações culturais com significados diversos. A suástica também denominada de “cruz gamada” indica um movimento de rotação em torno do centro, sendo um símbolo de ação, de ciclo e de eterna regeneração.
     Somente em 1933 é que, frente ao contexto internacional do avanço nazista, a Shell abandonou o uso da suástica em seus produtos da “Anglo-Mexican” distribuídos no Brasil e padronizou a marca com a famosa “concha” (mexilhão) que foi criada em 1897 e que em 1907 passou a ser a “concha vieira” que é utilizada até o presente.
         Portanto, a gasolina e a querosene consumida na cidade do Rio Grande neste período não era de origem alemã, mas, sim da “Shell” ou da concorrente americana “Standard Motor Oil”. A partir de 1937, com a inauguração da Refinaria Ipiranga, a cidade se tornaria um pólo nacional na produção de derivados do petróleo e sua marca passou a concorrer com as duas multinacionais.

Cartão-Postal editado por volta de 1930. Esquina das ruas 24 de Maio com Senador Corrêa. 

O Estado de São Paulo, abril de 1920.

 

O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930. 

O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930.


O Estado de São Paulo, 31 de dezembro de 1933.