Um Códice de 112 folhas
de pergaminho constituindo 254 poemas e textos dramáticos escritos entre os
séculos XI a XIII é chamado de “Carmina Burana” (Canções de Beuern – localidade
da Baviera). As peças que o compõem são quase sempre satíricas, picantes e
irreverentes, tendo sido escritas em latim medieval, em médio-alto-alemão,
francês provençal ou macarrônicas (latim vernáculo com francês ou alemão).
Este Códice
encontrado em Benediktbeuern (Baviera) é composto por poemas escritos por goliardos -
monges e eruditos errantes. Os monges goliardos (cléricos pobres –estudantes
das Universidades que ainda não fazem parte do corpo eclesiástico - que se
tornam vagantes), surgiram no século XII e produziram hinos orgiásticos,
paródicas blasfemas e canções amorosas de cunho erótico. Recusavam a riqueza e
a denunciaram a corrupção clerical em nome do poder. Eram os “boca do inferno”
da Igreja sendo perseguidos até o seu desaparecimento no século XIII, porém
alguns escritos foram secretamente transcritos.
Os textos são diversificados e não se pode pensar num movimento cultural
e literário homogêneo mas num somatório de poemas profanos que questionavam a
cristandade tradicional e apegavam-se a exaltação do sexo, do amor, da bebida e
da dança. Sua condição de peregrinos e ao mesmo tempo com uma forte bagagem
erudita adquirida nos mosteiros, os tornava menestréis ligados a poesia e a
composição musical que era divulgada nos burgos medievais mas especialmente nas
tabernas. Para o medievalista Jacques Le Goff, os goliardos eram poetas pobres e
errantes que praticavam praticavam a vagabundagem intelectual num período em se difundia o “Culto as Tabernas” e a devoção
ao “beber, comer e descansar” os poemas lúdico-tabernários.
Os poemas que compõem “Carmina Burana” foram escritos para o canto porém, os copistas do Códice, não
reproduziram o andamento melódico da maioria dos poemas e apenas 47 puderam ser
musicados. O Códice foi encontrado em 1803 num convento benedito na Baviera. No
ano de 1847, o filólogo Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção com o
título de “Carmina Burana” e dividiu o Código em seis partes. Em 1937, o
compositor alemão Carl Orff começou a musicar vinte e quatro poemas entre eles,
fazendo imediato sucesso, “O Fortuna, Imperatrix Mundi” que se tornou uma das
músicas clássicas mais reproduzidas das últimas oito décadas. Orff descreveu a
cantata encenada como "a celebração do triunfo do espírito humano pelo balanço holístico
e sexual".
“O Fortuna” é uma cantata cênica
(composição profana ou religiosa descrevendo uma situação psicológica) que pode
ser definida como uma quase ópera, apesar de não possuir um enredo e sim uma
declamação cantada de poemas com intensa força rítmica. A “roda da fortuna” é um símbolo que recua a
antiguidade e o seu giro traz alternadamente boa e má sorte. Pode ser
interpretada com uma parábola da vida humana marcada pela mudança e passagem do
tempo e não pela perene felicidade. Um trecho da cantata diz o seguinte: “Ó
Sorte, És como a Lua Mutável, Sempre aumentas Ou diminuis; A detestável vida, Ora
oprime E ora cura Para brincar com a mente; Miséria, Poder, Ela os funde como
gelo”.
O leitor tem várias gravações disponíveis desta obra de arte da música
clássica como a versão da London Symphoni Orchestra dirigida por Richard
Hickox; Seiji Ozawa frente à
Orquestra Filarmônica de Berlim ou do maestro André Rieu e Orquestra com o seu estilo pop e irreverente.
Sugestão de endereço: https://youtu.be/EJC-_j3SnXk
Sugestão de endereço: https://youtu.be/EJC-_j3SnXk
Manuscritos de Carmina Burana (cerca de 1220).Acervo: Biblioteca Regia Monacensis. |
Carl Orff. In: http://www.wissen.de/lexikon/orff-carl |
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