Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 20 de março de 2018

CARMINA BURANA

       Um Códice de 112 folhas de pergaminho constituindo 254 poemas e textos dramáticos escritos entre os séculos XI a XIII é chamado de “Carmina Burana” (Canções de Beuern – localidade da Baviera). As peças que o compõem são quase sempre satíricas, picantes e irreverentes, tendo sido escritas em latim medieval, em médio-alto-alemão, francês provençal ou macarrônicas (latim vernáculo com francês ou alemão).

Este Códice encontrado em Benediktbeuern (Baviera) é composto por poemas escritos por goliardos - monges e eruditos errantes. Os monges goliardos (cléricos pobres –estudantes das Universidades que ainda não fazem parte do corpo eclesiástico - que se tornam vagantes), surgiram no século XII e produziram hinos orgiásticos, paródicas blasfemas e canções amorosas de cunho erótico. Recusavam a riqueza e a denunciaram a corrupção clerical em nome do poder. Eram os “boca do inferno” da Igreja sendo perseguidos até o seu desaparecimento no século XIII, porém alguns escritos foram secretamente transcritos.

Os textos são diversificados e não se pode pensar num movimento cultural e literário homogêneo mas num somatório de poemas profanos que questionavam a cristandade tradicional e apegavam-se a exaltação do sexo, do amor, da bebida e da dança. Sua condição de peregrinos e ao mesmo tempo com uma forte bagagem erudita adquirida nos mosteiros, os tornava menestréis ligados a poesia e a composição musical que era divulgada nos burgos medievais mas especialmente nas tabernas. Para o medievalista Jacques Le Goff, os goliardos eram poetas pobres e errantes que praticavam praticavam a vagabundagem intelectual num período em se difundia o “Culto as Tabernas” e a devoção ao “beber, comer e descansar” os poemas lúdico-tabernários. 

Os poemas que compõem “Carmina Burana” foram escritos para  o canto porém, os copistas do Códice, não reproduziram o andamento melódico da maioria dos poemas e apenas 47 puderam ser musicados. O Códice foi encontrado em 1803 num convento benedito na Baviera. No ano de 1847, o filólogo Johann Andreas Schmeller, publicou a coleção com o título de “Carmina Burana” e dividiu o Código em seis partes. Em 1937, o compositor alemão Carl Orff começou a musicar vinte e quatro poemas entre eles, fazendo imediato sucesso, “O Fortuna, Imperatrix Mundi” que se tornou uma das músicas clássicas mais reproduzidas das últimas oito décadas. Orff descreveu a cantata encenada como "a celebração do triunfo do espírito humano pelo balanço holístico e sexual".  

“O Fortuna” é uma cantata cênica (composição profana ou religiosa descrevendo uma situação psicológica) que pode ser definida como uma quase ópera, apesar de não possuir um enredo e sim uma declamação cantada de poemas com intensa força rítmica.  A “roda da fortuna” é um símbolo que recua a antiguidade e o seu giro traz alternadamente boa e má sorte. Pode ser interpretada com uma parábola da vida humana marcada pela mudança e passagem do tempo e não pela perene felicidade. Um trecho da cantata diz o seguinte: “Ó Sorte, És como a Lua Mutável, Sempre aumentas Ou diminuis; A detestável vida, Ora oprime E ora cura Para brincar com a mente; Miséria, Poder, Ela os funde como gelo”.

O leitor tem várias gravações disponíveis desta obra de arte da música clássica como a versão da London Symphoni Orchestra dirigida por Richard Hickox; Seiji Ozawa frente à Orquestra Filarmônica de Berlim ou do maestro André Rieu e Orquestra com o seu estilo pop e irreverente.  
  
Sugestão de endereço: https://youtu.be/EJC-_j3SnXk


Manuscritos de Carmina Burana (cerca de 1220).Acervo: Biblioteca Regia Monacensis.

Carl Orff. In: http://www.wissen.de/lexikon/orff-carl

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