Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 2 de março de 2018

A SUÁSTICA E A BOMBA DE GASOLINA

        O cartão-postal do editor Pitombo Lima aqui reproduzido mostra uma cena urbana da cidade do Rio Grande por volta de 1930. É a esquina das ruas 24 de Maio com Senador Correa e a movimentação dos trabalhadores da Fábrica Nova é intensa. A bomba de gasolina com a “suástica nazista” salta aos olhos! É evidente que até a gasolina consumida na cidade vinha da Alemanha nazista! Será correto? Não, são duas afirmações erradas!
        A pesquisa histórica possibilita explicar esta imagem congelada no tempo e repleta de significados. A suástica se tornou um dos símbolos mais fortes e de reação imediata nas pessoas pela associação ao nazismo. Porém, o símbolo recua milênios no passado e foi usado por várias civilizações orientais e ocidentais, como povos indígenas norte-americanos, hindus, budistas, gregos, celtas, povos nórdicos, eslavos etc. Até a coca-cola usou o símbolo em chaveiros e “relógios da sorte” em 1925 assim como outras empresas que desde o século 19 já o utilizavam.    
     O Partido Nazista passou a utilizar a suástica (“hakenkreuz”, cruz em gancho) no verão de 1920, mas, Hitler somente chegou ao poder em 1933 e a suástica se tornou símbolo oficial em 1935, quando podemos falar em “Alemanha Nazista”, portanto, são eventos posteriores a este cartão-postal e a presença da bomba de gasolina na cidade! Na Alemanha da década de 1920 o Código Penal alemão proibia o uso da suástica por ser um símbolo do Partido Nazista.
       A bomba de gasolina com a suástica se fazia presente em várias cidades brasileiras e pertencia a empresa petroleira “Anglo-Mexican Petroleum Company Limited” que hoje conhecemos por “Shell” (a empresa deu seus primeiros passos em 1897, mas, passou a se chamar "Royal Dutch Shell Grupo" em 1907). A “Shell Brasil” chega ao país em 1913 ostentando o nome “Anglo-Mexican” (local de procedência dos produtos que era o petróleo “El Aguila” no México). As primeiras bombas de gasolina são instaladas, nas ruas e garagens, a partir de 1922. Propagandas no jornal O Estado de São Paulo da década de 1920 divulgam a gasolina “Energina” e a querosene “Aurora” da marca “svastica” (lançada em abril de 1920). O significado da palavra suástica é variado, mas, remete, na maioria das representações, a “cruz da boa sorte” e a proteção espiritual. Já os nazistas o utilizaram como “supremacia da raça ariana”. A inclinação da cruz também tem variações culturais com significados diversos. A suástica também denominada de “cruz gamada” indica um movimento de rotação em torno do centro, sendo um símbolo de ação, de ciclo e de eterna regeneração.
     Somente em 1933 é que, frente ao contexto internacional do avanço nazista, a Shell abandonou o uso da suástica em seus produtos da “Anglo-Mexican” distribuídos no Brasil e padronizou a marca com a famosa “concha” (mexilhão) que foi criada em 1897 e que em 1907 passou a ser a “concha vieira” que é utilizada até o presente.
         Portanto, a gasolina e a querosene consumida na cidade do Rio Grande neste período não era de origem alemã, mas, sim da “Shell” ou da concorrente americana “Standard Motor Oil”. A partir de 1937, com a inauguração da Refinaria Ipiranga, a cidade se tornaria um pólo nacional na produção de derivados do petróleo e sua marca passou a concorrer com as duas multinacionais.

Cartão-Postal editado por volta de 1930. Esquina das ruas 24 de Maio com Senador Corrêa. 

O Estado de São Paulo, abril de 1920.

 

O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930. 

O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930.


O Estado de São Paulo, 31 de dezembro de 1933.



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