O cartão-postal do editor Pitombo Lima aqui
reproduzido mostra uma cena urbana da cidade do Rio Grande por volta de 1930. É
a esquina das ruas 24 de Maio com Senador Correa e a movimentação dos
trabalhadores da Fábrica Nova é intensa. A bomba de gasolina com a “suástica
nazista” salta aos olhos! É evidente que até a gasolina consumida na cidade
vinha da Alemanha nazista! Será correto? Não, são duas afirmações erradas!
A pesquisa histórica possibilita explicar esta
imagem congelada no tempo e repleta de significados. A suástica se tornou um
dos símbolos mais fortes e de reação imediata nas pessoas pela associação ao
nazismo. Porém, o símbolo recua milênios no passado e foi usado por várias
civilizações orientais e ocidentais, como povos indígenas norte-americanos,
hindus, budistas, gregos, celtas, povos nórdicos, eslavos etc. Até a coca-cola
usou o símbolo em chaveiros e “relógios da sorte” em 1925 assim como outras
empresas que desde o século 19 já o utilizavam.
O Partido Nazista passou a utilizar a
suástica (“hakenkreuz”, cruz em gancho) no verão de 1920, mas, Hitler somente
chegou ao poder em 1933 e a suástica se tornou símbolo oficial em 1935, quando
podemos falar em “Alemanha Nazista”, portanto, são eventos posteriores a este
cartão-postal e a presença da bomba de gasolina na cidade! Na Alemanha da
década de 1920 o Código Penal alemão proibia o uso da suástica por ser um
símbolo do Partido Nazista.
A bomba de gasolina com a suástica se fazia
presente em várias cidades brasileiras e pertencia a empresa petroleira “Anglo-Mexican
Petroleum Company Limited” que hoje conhecemos por “Shell” (a empresa deu seus
primeiros passos em 1897, mas, passou a se chamar "Royal Dutch Shell Grupo"
em 1907). A “Shell Brasil” chega ao país em 1913 ostentando o nome “Anglo-Mexican”
(local de procedência dos produtos que era o petróleo “El Aguila” no México). As
primeiras bombas de gasolina são instaladas, nas ruas e garagens, a partir de
1922. Propagandas no jornal O Estado de São Paulo da década de 1920 divulgam a
gasolina “Energina” e a querosene “Aurora” da marca “svastica” (lançada em abril
de 1920). O significado da palavra suástica é variado, mas, remete, na maioria
das representações, a “cruz da boa sorte” e a proteção espiritual. Já os
nazistas o utilizaram como “supremacia da raça ariana”. A inclinação da cruz
também tem variações culturais com significados diversos. A suástica também
denominada de “cruz gamada” indica um movimento de rotação em torno do centro,
sendo um símbolo de ação, de ciclo e de eterna regeneração.
Somente em 1933 é que, frente ao contexto
internacional do avanço nazista, a Shell abandonou o uso da suástica em seus
produtos da “Anglo-Mexican” distribuídos no Brasil e padronizou a marca com a
famosa “concha” (mexilhão) que foi criada em 1897 e que em 1907 passou a ser a “concha
vieira” que é utilizada até o presente.
Portanto, a gasolina e a querosene consumida
na cidade do Rio Grande neste período não era de origem alemã, mas, sim da “Shell”
ou da concorrente americana “Standard Motor Oil”. A partir de 1937, com a inauguração
da Refinaria Ipiranga, a cidade se tornaria um pólo nacional na produção de
derivados do petróleo e sua marca passou a concorrer com as duas multinacionais.
Cartão-Postal editado por volta de 1930. Esquina das ruas 24 de Maio com Senador Corrêa. |
O Estado de São Paulo, abril de 1920. |
O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930. |
O Estado de São Paulo, 10 de julho de 1930. |
O Estado de São Paulo, 31 de dezembro de 1933. |
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