UN VIAGGIO A RIO GRANDE DEL SUR (1904)
O livro Un Viaggio a Rio Grande del Sur foi
publicado em Milão em 1906. Esta narrativa de viagem é de autoria do deputado
italiano Vittorio Buccelli (1861-1929), que esteve no Rio Grande do Sul em 1904
a convite do Partido Republicano Rio-grandense. O genovês visitou as colônias
italianas e produziu 500 páginas de material que recebeu uma versão recente da
Livraria do Senado Federal (2016). A tradução aqui utilizada foi feita por Carlos Altmayer
Gonçalves a partir do livro de 1904 e está disponível em http://www.popa.com.br/diarios/viaggio_rgsud/.
Serão reproduzidas apenas algumas passagens que tem por referência o Cassino,
Rio Grande, São José do Norte e o início da viagem pela Lagoa dos Patos.
No Rio de
Janeiro “Embarcamos abordo do vapor “Júpiter”, um dos mais modernos da frota da
“Companhia Cruzeiro do Sul”, que há alguns anos foi constituída para aumentar a
comunicação marítima dos estados do Sul com a capital (...). O “Júpiter” parou
nas proximidades da Barra, a alguns metros da “Bóia de espera”, perto da qual é
obrigatória a espera a todos os vapores que desejam entrar no Rio Grande. Em
poucos momentos percorremos com a vista tudo que havia ao nosso arredor: a
esquerda um grupo de casas de construção leve, sendo que a principal delas
serve de centro à estação balneária preferida do Estado, denominada “O
Cassino”. O estabelecimento é bem mantido, lá se encontra todo tipo de
comodidade e conforto. Acolhe a flor da sociedade rio-grandense que
pode desfrutar de ágio e diversões. Em frente ao Cassino encontra-se um número
considerável de cabanas, alinhadas em fila e que servem de vestiário. Mais
adiante a casas muito elegantes, de proprietários que passam longos períodos na
estação balneária, usando o Cassino como centro da vida social.
À direita, sobre a ponta de terra mais emergente na linha do canal,
vemos diversos grupos de casas que deverão ser o princípio de uma futura
cidade, no local chamado “Pontal da Barra”. Mais adiante ainda, o observatório
com seu edifício antigo, todo branco, e a torre do farol, com trinta metros de
altura, toda vermelha, dominam uma longa extensão de terra e de mar. A praia
baixa dispersa-se numa espécie de névoa tênue, que no horizonte
distante confunde todo perfil e coloração.
Sem grandes atrativos para enganar a curiosidade durante nossa espera,
procuramos o segundo comandante para dar-nos informações locais.
A barra do Rio Grande é formada por diversos bancos de areia, que devido
ao vento predominante de Nordeste, fecham o canal deste lado. Mas graças ao
trabalho contínuo da Companhia de Melhoramentos da Barra, hoje é mantida sempre
aberta à entrada Sul. Mas a quantidade de água que se encontra é variável. Com
vento Sudoeste o nível eleva-se e a passagem é fácil. Mas com o vento de Este,
o mar se agita de tal forma ao ponto de tornar impossível a perigosa
travessia e obrigar os vapores há aguardar algumas horas e até dias. Ordinariamente, porém,
não podem tentar a passagem navios de mais de 12 pés de calado. Este em que
chegamos tem 18, devemos esperar condições favoráveis de tempo e mar.
Grandes navios não podem penetrar em condição alguma.
Finalmente, duma das antenas do observatório vem o sinal de “água
suficiente”, e o “Júpiter” que tinha mantido constantemente a pressão da
caldeira, avançou lentamente aproximando-se da praia esquerda onde o fundo é
maior, quase roçando o embarcadouro da Companhia de Melhoramentos, que fica
defronte a torre do farol da barra. Um hábil piloto dirigiu a manobra, seguimos
entre as duas praias baixas, sem nada de notável. As casas esparsas no Pontal
da Barra, ainda estão longe de constituir um vilarejo.
A certo ponto vimos á direita um grupo de casas e um embarcadouro que
nos disseram ser acessível a navios de médio porte (São José do Norte), mas o
“Júpiter”, justo agora se volta para a esquerda e entra num canal estreito e
tortuoso sinalizado por duas linhas de marcas flutuantes que indicam os bancos
de areia existentes no local e que em certos pontos são muito visíveis entre
estas marcações. Após uma hora de travessia, da Barra a Rio Grande, o sol nos
havia abandonado, de maneira que quando o “Júpiter” iniciou a lançar âncora,
estávamos circundados pela escuridão e obrigados a renunciar a todo tipo de
observação e estudo. Em Rio Grande terminou a viagem do “Júpiter”. Viajantes e
mercadorias foram transbordados, e um outro vapor da Companhia, o “Vênus”,
ancorado a poucos metros de nós, estava pronta a receber-nos. Apesar de ser
nove da noite, o transbordo foi feito com a maior rapidez e segurança,
graças à boa organização dos serviçais da Companhia e da iluminação
das poderosas lâmpadas elétricas dos dois vapores. As duas da madrugada, o
“Vênus” poderia ter zarpado, mas devido às especiais condições de navegação na
laguna, especialmente no trecho que vai de Rio Grande a Pelotas, a partida é
feita apenas durante o dia.
Às oito da manhã seguinte, enquanto o “Venus” levantava a âncora,
dávamos uma olhada na cidade de Rio Grande, que se encontra próxima ao porto; a
impressão foi boa; os prédios apresentam um aspecto alegre e numa linha
simpática: as mais importantes casas comerciais alinhadas perto do cais,
sobressaindo o belo prédio da Aduana, a estação marítima da estrada de
ferro e o Hospital de Caridade. Um bom número de barcaças à vela, de lanchas a
vapor e alguns pequenos navios de carga animavam a estreita área
navegável, fronteira ao porto de Rio Grande. Denominação imprópria, pois mais
parece um trecho de mar que une o Atlântico à laguna; esta, por sua vez, pode
ser considerada um mar interno, e pela qualidade da água e por sua extensão e
conformação, tendo 140 milhas de comprimento e 40 de largura.
O “Vênus” se afastou lentamente do porto e dirigindo-se primeiramente a
São José do Norte, seguiu adiante para seguir a rota a Pelotas, uma das cidades
mais importantes do estado, que se encontra a 29 milhas mais ao Norte de Rio
Grande. Duas horas depois nos encontramos na embocadura do rio São Gonçalo, um
verdadeiro canal formado pela natureza para unir a laguna “dos Patos” e a
laguna “Mirim”, que se encontra ao Sul da Barra do Rio Grande e que se estende
até a fronteira da República Oriental do Uruguay (...)”.
Cartão-postal do Porto Velho datado de 1909. Acervo: Leonardo Lopes. |
Capa do livro de Buccelli (2016). Senado Federal. |
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