Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sexta-feira, 31 de julho de 2020

SUÁSTICAS NO CASSINO

Notícia do Jornal Rio Grande de 23 de janeiro de 1960 informa sobre cruzes suásticas que foram desenhadas no asfalto em frente ao Hotel Cassino. 

Isto soma a uma suposta "lenda urbana" que se criou, após o final da Guerra, de que Adolf Hitler estivera numa apresentação artística no Hotel Cassino no ano de 1947. 

Terá sido apenas "molecagem" como afirma a matéria?

Jornal Rio Grande, 23 de janeiro de 1960. Acervo: Biblioteca  Rio-Grandense. 

"PRÉ-BARÃO" DE ITARARÉ EM 1919

Alguns dias antes de completar 24 anos (nasceu em Rio Grande a 29 de janeiro de 1895), Apparício Torelly, apresentou em sua cidade natal uma palestra literária e humorística junto com o francês André Dumanoir. 

Foi no dia 24 de janeiro de 1919, conforme registro do jornal

Torelly, que em 1930 se auto-denominou de Barão de Itararé, era apelidado neste momento de "Aporelly das Pontas de Cigarros", um boêmio das letras. Teve destacada atuação jornalística, a partir de 1925, em jornais do Rio de Janeiro. Projetou-se na escrita de colunas irreverentes e de crítica política. 

Jornal Rio Grande, 25 de janeiro de 1919. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

A MORTE DE STÁLIN - HQ


      NURY, Fabien; ROBIN, Thierry; AUREYERE, Lorien. A Morte de Stálin. São Paulo: Editora Três Estrelas, capa dura/couch30,8 x 23,4 152, 2015.

"A Morte de Stálin é uma referência para os fãs de Quadrinhos e para os que são fascinados pela noção de Verdade à maneira soviética". Le Monde. 

    Esta HQ se debruçou sobre a transição do poder na União Soviética com a morte de Josef Stálin em fevereiro de 1953. As lutas pelo poder e o início das denúncias das perseguições do período stalinista tiveram início imediatamente ao falecimento. Estes bastidores são abordados- entre elementos reais e ficcionais-, por Fabien Nury (roteirista), Thierry Robin (roteirista e ilustrador) e Lorien Aureyre (colorização) em

    O historiador francês Jean-Jacques Marie escreveu no posfácio da HQ: "Os quadrinhos se permitem, tomar liberdades em relação à História. Eles a recompõem para revelar a sua essência profunda. Neles, o importante não é a exatidão dos fatos, mas a autenticidade do olhar. A caricatura dos Quadrinhos fornece uma imagem da realidade profunda que por vezes é mais precisa que quilômetros de páginas de artigos, relatórios diplomáticos e até mesmo obras de historiadores, não raro submissos às modas políticas". O potencial comunicativo dos Quadrinhos se evidenciou na abordagem deste tema difícil e cercado em segredos de Estado, pois quem sabia muito, não vivia tanto tempo para poder contar. 

    Além de Stálin, o epicentro do romance gráfico é Béria, Comissário de Assuntos Internos o temido serviço secreto (NKVD). Sua trajetória truculenta sintetiza uma vertente da paranoia deste período.     

   Jean-Jacques Marie afirma, remetendo novamente a linguagem dos Quadrinhos que eles permitem reconstituir "a atmosfera recorrendo aos múltiplos procedimentos da hipérbole: carregam nas tintas, juntam o factual, o verossímil, o imaginário e o simbólico, recortando determinados fatos no tempo, comprimindo as fases de seu desenvolvimento ou transferindo um acontecimento de um registro para outro a fim de traçar uma imagem que muitas vezes é mais verídica que a verdade dos fatos" (p. 125). 

    Abordagens de processos históricos, são um dos eixos produtivos a serem investigados nas HQs: possibilitam uma primeira incursão aos acontecimentos, conjunturas, ideologias e processos, que deverão ser aprofundados com leituras especializadas. Em sala de aula são um ótimo recurso para o avanço das reflexões. E no calor desta discussão, será a hora da HQ também receber a devida crítica. 
NURY & ROBIN. A Morte de Stálin, Três Estrelas, 2015. 

quinta-feira, 30 de julho de 2020

CENTRO FILATÉLICO

Quem recorda?

Foi muito atuante em Rio Grande um Centro Filatélico criado na década de 1930. 

No ano de 1960, filatelistas buscavam construir sua sede própria com uma campanha de contribuições.

60 anos depois, filatelistas continuam tentando manter o Centro Filatélico em funcionamento e realizam atividades com lançamento de selos comemorativos.

Meu tio, Jorge, trabalhava nos Correios e Telégrafos e, na década de 1970, me presenteava com selos incentivando o colecionismo. Nunca fiz grandes avanços nesta arte, porém, até hoje guardo algumas centenas de selos que trazem boas lembranças deste convívio.   

Jornal Rio Grande, 20 de janeiro de 1960. Biblioteca Rio-Grandense. 

UMA IMAGEM ESQUECIDA NO TEMPO

A denominação ”Casa dos Governadores” se refere ao espaço físico onde surgiu o poder administrativo público que comandava todo o Rio Grande do Sul português. Em 13 de agosto de 1760 foi criada a Capitania do Rio Grande de São Pedro e nomeado seu primeiro governador. Porém, já em 1763, com a invasão espanhola da Vila do Rio Grande, a Casa dos Governadores é usada como quartel general pelos espanhóis. Com a retomada portuguesa em 1776, o Tenente-General Heinrich Böhn passa a utilizá-la como Quartel General.

É neste ano que o cirurgião militar Francisco Ferreira de Souza elaborou esta aquarela (Demonstração da Vila de. S. Pedro do Rio Grande) muito conhecida dos pesquisadores. Porém, um detalhe escapou nas observações: a única imagem preservada da Casa dos Governadores está na aquarela! O georreferenciamento é feito pela Igreja Matriz de São Pedro em cuja frente está a Rua Direita (atual General Bacelar) que nos conduz a esquina da atual Rua Comendador Pinto Lima. Poucos prédios estão ilustrados com telhado de telhas, a maioria é de capim santa fé ou material semelhante.  Observa-se na esquina um prédio com duas portas e três janelas em sua fachada com a Rua General Bacelar: a Casa dos Governadores nesta aquarela é denominada de Quartel General.

Um deleite visual no presente: estamos observando o primeiro prédio de administração civil do Rio Grande do Sul, comparável, de forma aproximada, com a função exercida, posteriormente, pelo Palácio Piratini em Porto Alegre. 


Francisco Ferreira de Souza (1776). Acervo: Biblioteca de Évora (Portugal).

MISTER NO REVOLUÇÃO, VIETNÃ - HQ

Mister No é um personagem criado pelo italiano Sérgio Bonelli em 1975. A Amazônia é um dos espaços geográficos onde as aventuras ocorrem e Mister No é o mais brasileiro dos personagens bonellianos. 




Este álbum em formato gigante e com acabamento de luxo, faz parte de uma coleção de três volumes que a Panini está lançando. Mister No, Revolução - Vietnã é o primeiro volume (Panini, capa dura, 31,5 x 21,0 cm, 144 p., 2019, desaconselhável para menores de 18 anos). Os desenhos são de Matteo Cremona e o roteiro de Michele Masiero. 
Mister No - Revolução- Vietnã, Panini, 2019. 
 
O tema é a Guerra do Vietnã, no período de 1967-1968, na conjuntura do militarismo, guerra fria, contra-cultura hippie, consumo de alucinógenos, liberdade sexual, questionamentos do american way of life etc. E brutal violência da Guerra do Vietnã é o cenário deste período de contestação e crise, retratada na HQ de forma crua.  

Já estou com o volume 2, Mister No - Califórnia que se passa no final dos anos 1960 após o seu retorno do Vietnã. Brevemente, farei alguns comentários desta nova leitura aqui no blog. 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

FESTA DOS NAVEGANTES

A tradicional Festa de Nossa Senhora dos Navegantes é uma tradição que teve início em 2 de fevereiro de 1811. Ou seja, é a primeira Festa dos Navegantes do Rio Grande do Sul. 

No ano de 1860, foi inaugurada a Igreja Matriz de São José do Norte que estava em construção desde 1832. Em 1960, o jornal Rio Grande do dia 21 de janeiro está divulgando a Festa dos Navegantes e o Primeiro Centenário da Igreja Matriz.  

Jornal Rio Grande, 21 de janeiro de 1960. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

A PREMONIÇÃO DOS CUPINS

Há 60 anos...

Este breve informe do Jornal Rio Grande do dia 23 de janeiro de 1960 faz comentários sobre um inseto que tem se tornado uma praga na cidade: os cupins. 

Eles atacam móveis, aberturas em madeira e estrutura de telhados. Já abri livros que estavam "edificados com túneis largos" do início ao fim do miolo. 

O informe é cronologicamente interessante pois demarca a expansão da praga que contínua em expansão. 

Em tom de premonição é feito o alerta: 

"Há poucos anos, em algumas casas velhas, eles esvoaçavam ao redor das lâmpadas acesas, em noite de verão e ninguém lhes ligava importância. Agora, até ao entardecer, eles são vistos e em larga extensão do nosso perímetro urbano. Cada vez avançam mais não devendo tardar o seu completo domínio por toda a cidade".   

Jornal Rio Grande, 23 de janeiro de 1960. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

O ELÍSIO - HQ


    Acabei de fazer a leitura de O Elísio (Porto Alegre: Editora AVEC, 27,8 x 18,6 cm, capa cartonada, miolo em couché, 96 p., 2019). O roteiro e a arte são de Renato Dalmaso. E que arte... Não são desenhos e sim pinturas... Estamos frente a uma referência de HQ produzida no Brasil. 

    O tema são as memórias de um pracinha da FEB quando de sua participação militar contra os alemães na Itália. A base foram os relatos do soldado Eliseu de Oliveira nos combates e também como prisioneiro de guerra na Alemanha.  

    Esta é uma parte da História do Brasil que foi caindo no esquecimento. O relato é duro, cruel e a arte transmite veracidade. Não é ficção e sim a guerra real feita por pessoas reais. Das memórias de um pracinha da Força Expedicionária Brasileira, publicadas em 1947, para a linguagem de uma graphic novel. Leitura recomendadíssima.  
O Elísio, Renato Dalmaso, AVEC, 2019.

terça-feira, 28 de julho de 2020

CORES DO CÉU

As cores do céu ao entardecer são admiráveis. 

Tendo paciência é possível obter, ao longo dos anos, no mesmo local, fotografias com múltiplas cores.  




Fotografias: Luiz Henrique Torres. 

FECHAMENTO DO FRIGORÍFICO SWIFT

O Frigorífico Swift foi a empresa com maior mão-de-obra empregada na história industrial da cidade do Rio Grande. Iniciou as atividades em 1918 e empregava, já nos anos iniciais, 2.000 operários. 

Seu fechamento em 1959, depois de uma longa crise, gerou um impacto em termos de desempregado no imaginário relacionado a decadência da "cidade das chaminés". 

O jornal Rio Grande do dia 18 de janeiro de 1960 lança farpas para todos os lados, mas, especialmente, culpa o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, pelo fechamento do frigorífico norte-americano. De fato, os motivos são muito mais complexos, mas, interessante também pesquisar a variável "anti-multinacionais" e "estatizações" neste período da história do "brizolismo" no Rio Grande do Sul.  

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

O VELHO E O MAR - HQ



O roteirista e ilustrador francês Thierry Murat elaborou uma versão em Quadrinhos do livro de Ernest Hemingway, publicado em 1952, O Velho e o Mar (Bertrand Brasil, 26,6 x 19,4, p. 128, 2017). 

É uma adaptação livre e com distanciamentos da obra de Hemingway, porém, com um fluxo textual coerente que se centra na relação do menino com o velho; no pescador com o peixe; na relação humanidade e natureza; na busca de superação e no sentido existencial dos atos. 

O uso das cores são um espetáculo visual que se equaliza com a narrativa e o impacto emotivo das situações vividas. A arte de Murat já valeria esta excelente adaptação que merece ser conhecida e replicada.  
  
Thierry Murat O Velho e o Mar. Bertrand do Brasil, 2017. 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

PRÉDIO DO BANCO DA PROVÍNCIA

Medalha emitida no centenário da Banco da Província em 1958. https://levyleiloeiros3.s3.amazonaws.com/imagens/img_m/238/206282.jpg

A leitura de jornais com frequência traz dicas para respostas, mesmo que parciais, referentes as mudanças no cenário urbano e patrimonial. 

Me questionava quando foi demolido o monumental prédio do Banco da Província que ficava na esquina das ruas Marechal Floriano com Benjamin Constant. 

O jornal Rio Grande do dia 28 de janeiro de 1960 informou que o prédio estava em demolição e que seria construído um novo edifício. O novo prédio, frustrando a expectativa, não teria a imponência do antigo. E eles tinham total razão. 
Banco da Província em 1913. Acervo: Reginald Lloyd. Impressões do Brasil no século XX. 
 
Portanto, há sessenta anos no passado estava sendo demolido um dos mais belos prédios já construídos em Rio Grande. E em seu lugar... 


Jornal Rio Grande, 28 de janeiro de 1960. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

CHURRASCO NA PRAIA

No verão de 1960, o Cassino sediou o Campeonato Estadual de Bridge, com participantes de Rio Grande, Porto Alegre e Pelotas. Uma das atividades, fora da programação, foi realizada nos Molhes da Barra de forma improvisada. Afinal, já era duas horas da madrugada quando teve início. A colunista do Jornal Rio Grande considerou a experiência "um dos programas mais notáveis e diferentes que já tive". 

Portanto, nas mais diferentes classes sociais, a ideia do churrasco no Cassino é antiga e pode funcionar durante o dia ou na madrugada...  

A atividade do churrasco na praia, dada a longevidade e persistência da prática, poderá se constituir futuramente em patrimônio cultural imaterial do Cassino. 

Jornal Rio Grande, 26 de janeiro de 1960. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

SAINT-HILAIRE E O RIO DE JANEIRO

     No registro de seu volumoso Diário, datado de 29 de janeiro de 1822, Auguste Saint-Hilaire escreveu uma breve mas eloquente descrição da natureza que envolvia a cidade do Rio de Janeiro nas vésperas da Independência do Brasil.
 
  Com toda a motivação fisiográfica e paisagística, Saint-Hilaire, assim como muitos viajantes e escritores, enalteceram a beleza natural e projetaram o Rio de Janeiro no imaginário tropical dos europeus.  

Rio de Janeiro. Pintor italiano Nicolau, 1869. Acervo: http://historia.jbrj.gov.br/original/foto0043original.jpg

      "Talvez nada no mundo seja tão belo quanto as cercanias do Rio de Janeiro. No verão, o céu é de um azul carregado; no inverno, as cores se suavizam, apresentando o azul esbatido de nossos mais belos dias de outono. Aqui, a vegetação nunca descansa, e em todos os meses do ano, os bosques e campos estão floridos. Florestas virgens, tão antigas  quanto o mundo, exibem sua majestade quase às portas da cidade, formando um contraste com as obras humanas. As casas de campo em torno da cidade não têm nenhuma magnificência; nelas não foram seguidas as regras da arte, mas a originalidade de sua construção contribui para
tornar a paisagem mais pitoresca. 

    Quem poderia pintar as belezas que a baía do Rio de Janeiro apresenta, essa baía que, segundo o Almirante Jacob, poderia conter todos os portos da Europa! Quem poderia pintar essas ilhas de formas tão diversas que se levantam de seu seio, a multidão de enseadas que desenham seus contornos, as montanhas tão pitorescas em sua orla, a vegetação tão variada que embeleza suas margens!" (Viagem ao Rio Grande do Sul / Auguste de Saint-Hilaire; tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. -- Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2002).

domingo, 26 de julho de 2020

TORRE EIFFEL E O BIPLANO

Este cartão-postal foi editado em Paris por volta de 1910-1912 e mostra um biplano de corrida se dirigindo a comuna Issy-les-Moulineaux, ao sudoeste de Paris.  

Belíssima imagem da Torre Eiffel no Champ de Mars e uma visão de parte de Paris. 

Uma versão colorida deste cartão tem um carimbo de setembro de 1912. 


Cartão-postal de Paris.  Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  



Verso do cartão-postal de Paris.  Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  

PONCHO DE MOSTARDAS

Auguste de Saint-Hilaire cruzou pelo Litoral Médio do Rio Grande do Sul e no dia 4 de agosto de 1820, deixou um relato sobre os ponchos produzidos em Mostardas. Isto faz lembrar o conto de Simões Lopes Neto, "O Cobertorzinho de Mostardas". 

Este escrito está completando 200 anos:

"Não se planta mandioca na paróquia de Mostardas, mas, em compensação, cultivam-se o trigo e o centeio. O gado é aqui geralmente pequeno, mas possui carne saborosa. A principal riqueza do lugar é a criação de carneiros. Cada estancieiro possui um rebanho constituído, muitas vezes, de vários milhares de carneiros, e com a lã produzida as mulheres fabricam no tear ponchos muito grosseiros que se vendem a seis patacas, enviando-os a Porto Alegre, Rio Grande e outros lugares da capitania. Esses ponchos são brancos com listras pardas ou pretas, e usados exclusivamente pelos negros e índios". (Viagem ao Rio Grande do Sul / Auguste de Saint-Hilaire; tradução de Adroaldo Mesquita da Costa. -- Brasília : Senado Federal,Conselho Editorial, 2002).
Emissão de selos dos Correios no ano do centenário da morte de Saint-Hilaire, em 1953.

EMBARCAÇÕES FRANCESAS NO PORTO DO RIO GRANDE

O jornal O Noticiador de 31 de julho de 1834 faz referência a um episódio histórico que ocorreu na cidade francesa de Lyon quando de uma greve e levante militar dos trabalhadores da seda, com apoio de republicanos-, no mês de abril deste ano.

O jornal associa o levante aos "tiranos" e que os navios franceses em Rio Grande exaltavam a vitória do Rei Cidadão (referência a monarquia constitucional de do reio francês Luís Filipe, defensor do nacionalismo e do liberalismo). 
 

O Noticiador, 31-07-1834. Acervo: Instituto Histórico e Geográfico do RS.

sábado, 25 de julho de 2020

O CÃO E O LEÃO

 Mostrando aos leitores minha super força mandibular ao levantar este pesado alteres. 

Somente um pequinês seria tão poderoso!

É preciso ser um leão para encarar este alteres.  

Mascote do blog. Acervo: Luiz Henrique Torres.

CASAS NO MATO

A coleção de cartões-postais impressas por Ricardo Strauch/Livraria Rio-Grandense é numerosa e qualitativa. Já identifiquei cerca de 50 cartões e novas surpresas ocorrem, cada vez que descubro um novo exemplar. 

O título do cartão é "casas no mato" e não identifica o local em que a fotografia foi realizada. 

A verticalidade cerrada da formação florestal permite aferir que é uma área do Planalto Sul-Rio-Grandense  A expressão facial das pessoas retratadas, remetem a etnia indígena, possivelmente, Kaingangs. Tudo são hipóteses iniciais para o avanço nas pesquisas. Nesta direção, também hipoteticamente, o cartão-postal foi editado na década de 1920. 

Uma curiosidade: onde o fotógrafo estava localizado para obter esta imagem?

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

Verso do Cartão-postal. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

PHARÓES

Os faróis tem a função de orientar os navegadores durante a noite ou na ausência de iluminação. Seu papel, historicamente, é fundamental para a segurança da navegação. 

No Rio Grande do Sul, os primeiros a serem construídos foram na Quinta Secção da Barra em São José do Norte (que fazia parte da Vila do Rio Grande até 1832). O objetivo da Praticagem da Barra, desde os primórdios do século XIX, era conciliar o uso de catraias, bandeiras de sinalização e iluminação noturna, para evitar os naufrágios na perigosa Barra do Rio Grande. 

No ano de 1868, conforme Eleutério de Camargo, o sistema de faróis já estava muito ampliado contanto a segurança da Barra e da Lagoa dos Patos com os faróis da Barra, do Estreito, do Capão da Marca, de Bojurú, de Cristóvão Pereira e de Itapoã.     


Quadro Estatístico e Geográfico da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1868. Antonio Eleutério de Camargo. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

COBERTORZINHO DE MOSTARDAS

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     Depois do agradável veranico de julho, ao olhar para este termômetro da Praticagem da Barra veio a vontade de dividir com vocês a leitura deste conto de Simões Lopes Neto.  Para esquentar, só assim: 

O COBERTORZINHO DE
MOSTARDAS
Fui mandado para Mostardas, a passar uns dias com o meu padrinho.
Foi um rega-bofe a viagem, que durou três dias, a bordo dum lanchão;
foi outro rega-bofe a estadia, que durou duas semanas, em casa do padrinho.
Mostardas é uma povoação perdida entre areais, junto à
costa do oceano. Gente boa, do bom tempo. Tece o linho, de que faz desde os
enxovais de casamento até as camisas do diário; tece a lã
desde os xergões grosseiros até o picotinho lustroso.
Nesse tempo existia ai uma raça especial de ovelhas que produziam uma
lã tão aquecedora como nunca mais vi outra. Essas ovelhas morriam
muito no verão abafadas na pele, era necessário tosqueá-las
à navalha. A gente que trabalhava com tal lã suava em barba e
ficava com as mãos vermelhas, quentes, fumegando, como se estivesse lidando
com água esperta.
Mas eu, como criançola, pouca atenção dava a estas cousas.
O lanchão amarrou novamente; nele devia eu regressar. Na véspera
da partida, a santa da madrinha arrumou a minha bagagem. Minha, propriamente,
era apenas uma canastra pequena, forrada de couro cru, peludo. O mais eram presentes
que eu levava: um fardo de miraguaia salgada, uma barrica de camarões
secos, uma peça de picote, umas toalhas com renda de bilros, etc.
E para mim, expressamente meu, um cobertorzinho, feito da tal lã das
tais ovelhas especiais. O meu cobertorzinho era pequeno; dava apenas bem para
o meu corpo: muito leve, transparente e felpudinho. Do lado que devia ficar
com os pés tinha duas barras vermelhas e do lado da cabeça tinha
o meu – Romualdo – em letras azuis.
Fiquei encantado! E como já queria utilizá-lo na viagem, emalei-o
atando-o com uma embira larga, descascada a capricho.
Na manhã seguinte, sob bênçãos e lágrimas
dos meus padrinhos, embarquei.
O lanchão içou velas. Ainda uns abanados de mãos, de lenços…
e tudo lá ficou, para sempre, na volta do arroio!
Mal pus os pés em terra, meu pai disse-me que eu marcharia para Bagé…
como caixeiro.
Chorando, entreguei os presentes, as cartas, dei as lembranças, os recados
e os abraços que me confiaram.
Na minha desgraça só o meu
cobertorzinho me consolava. Mal toquei-lhe, para mostrá-lo a minha mãe,
a embira, de ressequida, esfarinhou-se. Não prestei a isso maior atenção,
mas já foi suando que o amarrei com uma ourela de pano piloto.
Minha mãe abanava-se de leque, como em dezembro.
Segui para Bagé. Na chegada, vi que meu patrão era um espanhol
baixinho, gordo e gritão. Pus a canastra ao ombro e marchamos para casa
do negócio.
Fazia frio!…frio!… Que frio fazia!… As fumaças o cigarro do espanhol
ficavam paradas no ar, endurecidas, talvez congeladas… Pouca gente a pé.
Muitos homens a cavalo; emponchados, todos. Na casa, o patrão conduziu-me
ao meu quarto, isto é, ao quarto da caxeirada. Atirei-me sobre o meu
pelêgo. Mas o frio cortava…
Meio de gatinhas, pés duros, canelas duras, ombros duros, mãos
duras, consegui abrira canastra e sacar meu cobertorzinho. Provavelmente eu
devia estar com a cara como uma batata roxa…
Tocar no cobertor foi uma satisfação, abri-lo um prazer, estendê-lo
sobre os meus pelêgos, uma alegria; meter-me debaixo dele, um consolo
divino… E ferrei num sono de pedra.
Lá pelas tantas acordei-me meio afogado, lavado em suor.
Acordei-me sob uma granizada de risadas e falaraz dos rapazes companheiros,
todos em trajes menores, sentados nos peitoris das janelas que davam para o
quintal.
— Que abafamento! que calor! diziam eles.
— Parece meio-dia de fevereiro!
— Se tivesse água agora, era banho certo!
Eu, por mim, não podia mais; parecia-me que tinha um pano de fogo em
cima do corpo. Fui para a janela, como os outros.
Nisto o espanhol abriu a porta do nosso quarto e — descalço, em ceroulas
e de poncho de pala enfiado — bradou:
— Eh! muchachos! Habrá fuego em la calle?
Que está caliente como um sol dormiendo!…
— Que fuego, nem fuego! Calor da noite é que é.
— Isto é tormenta!
E o calor aumentava. Casas abriam-se com rumor, acendiam-se os candeeiros e
as velas das “mangas” de vidro. Ouviam-se risadas, conversas, chamados.
Havia movimento em toda a parte, como se fosse dia.
As pessoas que chegavam de outros lugares queixavam-se de que o calor aqui no
armazém ainda era mais insuportável que lá.
De repente ouvimos um estouro forte, dentro do balcão; era um barril
de melado que arrebentava, espumando. Um dos caixeiros que fora servir a um
freguês avisou ao patrão que as velas de sebo e as barras de sabão
estavam pegadas, tudo quase como uma pasta.
O espanhol, corado, pingando suor, e sempre em ceroulas e de pala enfiado, correu
para os fundos.
— Mira! Que cosa barbara!…
Do lado do arroio vinha uma algazarra alegre, gritos, gargalhadas, ditos: era
o povo que tomava banho!
Aquilo estava esquisito, estava… Nunca se tinha visto um tão curioso
calor em junho, entre Santo António e São João, que é
o tempo justo em que a geada cura as laranjas e branqueia como farinha, no terreiro
e nos telhados.
E o espanhol, bufando, repetia:
— Que cosa barbara! que cosa barbara!
Eu, bem se imagina, estava atarantado com tudo aquilo; e sentindo a roupa empapada,
com receio de alguma constipação, resolvi mudar outra, enxuta…
e esgueirei-me para o quarto.
Quase não pude entrar, sufocava, lá dentro; era um forno. Contudo,
avancei até minha canastra: era insuportável, aí perto.
Então, só então, como um raio, foi que me lembrei do meu
cobertorzinho!
Era ele, só ele, o calor, a quentura da sua lã, que estava causando
todo aquele estrupido na cidade.
Fiquei aterrorizado… se o espanhol descobrisse!…
Muito caladinho, apressado, dobrei-o, amarrei-o e atirei-o para o fundo da canastra,
que fechei com o cadeado.
E disfarçado, vim para o balcão, com os companheiros. Dai a pouco
começou a abrandar a torreira; Foi abrandando; veio a viração
da madrugada; já se respirava melhor. Surgiram as barras do dia e todos
se foram deitar, para aproveitar ainda uma hora de sono.
Nunca ninguém soube disto. Dias depois, para tirar-lhe as pulgas, estendi
o meu cobertorzinho ao sol.
Foi o meu prejuízo: combinaram-se a quentura da lã e o calor do
astro… e pegou fogo!
Quando fui levantar a minha coberta, era pura cinza… e nem fumaça tinha
havido!
Olhem que era um cobertorzinho quente, aquele!…

sexta-feira, 24 de julho de 2020

"VENDEDEIRAS" DE PEIXE

 Este cartão-postal retrata um "grupo de vendedeiras de peixe" em uma rua de Lisboa. 

As mulheres estão descalças, vestem saias compridas e levam o peixe numa canastra de vime sobre as cabeças. Cartão-postal emitido por volta de 1910. 

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 
Verso do cartão-postal. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

O TRANSPORTE NAS ÁGUAS

O problema dos transportes era tido como um dos maiores desafios a serem enfrentados no Rio Grande do Sul da década de 1860. Em relação as estradas terrestres basicamente tudo ainda estava por ser feito. A "bússola e o nível de engenheiro ainda não mostraram as direções das estradas" e isto ainda demoraria muitas décadas.
 
O que permitiu o desenvolvimento das atividades agrícolas, pastoris e manufaturas era o sistema fluvial, lagunar e marítimo, modal que possibilitou a efetivação das atividades econômicas e  a acumulação de capitais no Rio Grande do Sul. 

Quadro Estatístico e Geográfico da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1868. Antonio Eleutério de Camargo. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. 

HOMICÍDIOS

Vamos fazer um exercício aproximado e hipotético do nível de violência do Rio Grande do Sul há 160 anos atrás e comparar com o ano de 2019 (o mais próximo do presente que possui dados completos). 

Muitas vezes pensamos o passado como um espaço da violência ou o espaço de uma vida mais segura. Estes dados brutos obtidos em Eleutério de Camargo (1868) são apenas uma aproximação 
quantitativa para investigarmos o tema. 

Camargo aponta que no ano de 1859 a Província do Rio Grande do Sul tinha 222.819 habitantes e que ocorreram 31 homicídios (basicamente a média do período de 1849-1860). 

Em 2019, o Estado do Rio Grande do Sul tem uma população de aproximadamente 11 milhões e quatrocentos mil habitantes e teve 1.793 homicídios (o menor índice em dez anos, pois, em 2017 foram 2.959).

Salta aos olhos os 31 contra os 1.793. Porém, a população em 1859 era 51,16 vezes menor do que a atual. Se multiplicarmos 31 homicídios por 51,16 obteremos: 1.581, ou seja, na  proporção da população, os índices de homicídio nos anos de 1859 e 2019 são muitos próximos. Se pegássemos o ano de 2017, daí sim, os homicídios seriam quase o dobro de 1859.

Fique claro que não se fez qualquer comparação sobre o perfil das vítimas pois teria de se buscar outras fontes. É apenas um dado bruto para refletir o imaginário: se, no presente, nos assustamos com os números da violência, no passado, estes números eram muito próximos. 

*Num estudo das percepções da morte, teríamos de levar em consideração que as chances da população masculina morrer nos conflitos platinos era real; que as condições médico higienistas eram precárias; que a expectativa de vida pela falta de medicamentos é baixa; que a epidemia de cólera em 1855 matou cerca de 10% da população de Porto Alegre etc. Ou seja, haviam muitos medos e perigos rondando os habitantes daquela época, além dos homicídios.   

  
Taxa de homicídios no RS nos últimos 10 anos — Foto: Secretaria de Segurança Pública-RS. 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

Esta fotografia remete a Estrada de Ferro Southern Brazilian, Rio Grande a Bagé, mostrando a fachada principal da Estação Ferroviária da cidade do Rio Grande. A inauguração da Estrada de Ferro ocorreu em 1884. 

Esta fotografia, hipoteticamente, deve ter sido realizada entre 1884-1890.  

Estação Ferroviária do Rio Grande. Acervo: Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. 

Detalhe da Estação Ferroviária do Rio Grande. Acervo: Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.