Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A LUA E A (APARENTE) ESTRELA NA NOITE CARIOCA



Conjunção do planeta Vênus com a Lua em 1925. Canal do Mangue no Rio de Janeiro. Fotógrafo Carlos Bippus. Acervo: Instituto Moreira Salles.

Vista noturna do Rio de Janeiro foi uma das especialidades do fotógrafo Carlos Bippus. Ele atuou nas primeiras décadas do século XX e produziu algumas fotografias magistrais da noite carioca.  Seu nome está relacionado a dois ateliês fotográficos: Photographia Bippus e posteriormente Photo Brasil.
Andrea C. T. Wanderley (Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica) é autora da matéria “Carlos Bippus e as paisagens cariocas” - 18 de janeiro de 2019. A matéria completa pode ser lida no site http://brasilianafotografica.bn.br/?p=13091
 
Carlos Bippus fotografou a Praia do Botafogo com Lua cheia em 1922. Acervo: Instituto Moreira Salles. 


Luzes noturnas no Rio de Janeiro nas comemorações do Centenário da Independência do Brasil em 1922. Acervo: Biblioteca Nacional. 


Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes - FANTASMA DA ÓPERA

Cena do filme "O Fantasma da Ópera". Universal Studios, 1925. 
           O "Fantasma da Ópera” é um romance francês de ficção gótica, escrito por Gaston Leroux. Sua primeira publicação foi em capítulos entre 1909 e 1910.
A primeira versão para o cinema ocorreu no ano de 1925 no filme mudo “The Phantom of the Opera” (O Fantasma da Ópera), dos gêneros terror e drama, dirigido por Rupert Julian e com Lon Chaney (apelidado de “o homem das mil faces”) no papel do Fantasma que é apaixonado pela soprano. O filme foi o mais fiel ao romance de Leroux e é um clássico do cinema mudo.   
            O livro e o filme serão analisados na Oficina "Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes" durante a Mostra da Produção Universitária da FURG. 
           A atividade ocorrerá no dia 7 de outubro das 14h-17h, sala 4101, e será ministrada por mim e por alunos do Pós-Graduação em Letras (Mestrado e Doutorado em História da Literatura). A proposta da Oficina partiu dos alunos que são aficionados pela relação Literatura e Cinema.  

Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes - DRÁCULA


Cartaz de "Drácula" da Universal Studios. 

            
        Bela Lugosi, ator húngaro da região da Transilvânia, que no século XV viveu Vlad Tapes II, interpretou o Conde Drácula no filme dirigido por Tod Browning em 1931. Ele se tornou um dos maiores ícones da história do terror e contribuiu para difundir a imagem do vampiro aristocrático mas preso aos valores medievais/aristocráticos em decadência. 
           O filme da Universal Studios foi uma adaptação relativamente fiel ao romance Drácula publicado por Bram Stoker em 1897. O livro e o filme serão analisados na Oficina "Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes" durante a Mostra da Produção Universitária da FURG. 
           A atividade ocorrerá no dia 7 de outubro das 14h-17h, sala 4101, e será ministrada por mim e por alunos do Pós-Graduação em Letras (Mestrado e Doutorado em História da Literatura). A proposta da Oficina partiu dos alunos que são aficionados pela relação Literatura e Cinema.  

Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes - FRANKENSTEIN

Boris Karloff no filme "Frankenstein" da Universal (1931).

             O ator Boris Karloff sintetizou uma imagem de terror no cinema: o monstro criado pelo Dr. Victor Frankenstein. O filme de 1931, livremente adaptado do romance gótico de Mary Shelley "Frankenstein ou o Prometeu Moderno" (1818) será analisado na Oficina "Horror Clássico Literário e a Estética Gótica da Universal Filmes" durante a Mostra da Produção Universitária. A atividade ocorrerá no dia 7 de outubro das 14h-17h, sala 4101, e será ministrada por mim e por alunos do Pós-Graduação em Letras (Mestrado e Doutorado em História da Literatura). A proposta da Oficina partiu dos alunos que são aficionados pela relação Literatura e Cinema.  

RIO GRANDE NOS PRIMÓRDIOS DA REPÚBLICA

https://libsysdigi.library.illinois.edu/oca/Books2008-08/universalgeograp/universalgeograp19recl/universalgeograp19recl.pdf


           No livro "The Universal Geography"; by Élisée Reclus, Edited by A.H. Keane, Published by J.S. Virtue & Co., London, tomo XIX, está reproduzida esta imagem do centro da cidade do Rio Grande. 

O livro foi publicado em 1894 (Reclus esteve no Brasil em 1893) e parte do prédio da Alfândega e da rua Ewbank são visíveis. Algumas pessoas estão caminhando na Rua Marechal Floriano. 

        O detalhismo do traço impressiona e a imagem foi obtida de um prédio de três andares com um mirante "tradicional" na cidade. 

Conforme informação contida na edição em língua portuguesa de 1900 (livro Estados Unidos do Brasil: geografia, etnografia e estatística), o desenho da "vista geral do Rio Grande" foi feito por Taylor a partir de uma fotografia.

No canto esquerdo superior da imagem aparece a Igreja do Bomfim que foi inaugurada em dezembro de 1887. Portanto, estamos olhando para Rio Grande entre 1888 a 1893. Data hipotética de 1890. 

A CIDADE VISTA DA ILHA DOS MARINHEIROS - 1867



            Raríssima imagem da cidade do Rio Grande - vista ao fundo - separada pelas águas da Lagoa dos Patos. O texto em inglês faz referência a Rua da Boa Vista (Riachuelo) que está envolvida por uma floresta de mastros dos navios (como escreveu Conde D'Eu). A Ilha dos Marinheiros é representada envolta em vegetação numa contraposição entre natureza e civilização. Num primeiro olhar, não acreditei que poderia ser uma vista da Ilha e do Rio Grande, afinal, a iconografia foi publicada no The Illustrated London News de 30 de novembro de 1867 (página 21 e autoria de David Powel). Este jornal ilustrado tinha publicado uma imagem das atividades no cais da Cais da Boa Vista (Porto Velho) no ano de 1865. Desconhecia outra imagem que pode ter sido feita naquela ocasião e publicada dois anos depois (hipótese de trabalho). A matéria faz referência a visita do Imperador D. Pedro II a Rio Grande no contexto da Guerra do Paraguai e continua chamando a Rua Riachuelo (que recebeu esta denominação em 1865) de Rua da Boa Vista e Cais da Boa Vista. O que sugere que as informações do jornal ainda são aquelas do ano da visita do Imperador, inclusive, na Ilha dos Marinheiros.  
          É preciso ressaltar esta perspectiva iconográfica diferenciada que havia escapado ao olhar dos pesquisadores, ficando esquecida num jornal publicado há 152 no passado.   

VISTA DO PORTO VELHO

Acervo: ebay.co.uk

          Este cartão-postal é o primeiro lançado pela Livraria Americana com cenários da cidade do Rio Grande. O número 1 apresenta uma vista geral do Porto Velho do Rio Grande em quase toda a extensão da Rua Riachuelo.  Ao fundo, o prédio da Alfândega.
          Esta imagem era o cartão de visita para os navegadores que chegavam a urbe. Circulado a partir de 1900-1901.

domingo, 29 de setembro de 2019

O CORVO






Fiz a análise da publicação de "O Corvo" (edição do Sebo Clepsidra). Trabalho primoroso cuja leitura é indispensável para conhecer Poe e também a iconografia gótica de Doré.  


"Graças à sua melancolia e à sua impressionante descida pelas espirais do luto, "O Corvo" (1845) se tornou um dos poemas mais célebres da história. Traduzido por mestres como Charles Baudelaire e Fernando Pessoa, a obra-prima de Edgar Allan Poe atraiu por aqui a atenção de ninguém menos que Machado de Assis, que recriou o poema de maneira mais universal e mais condizente com os modelos métricos do português brasileiro. Nesta edição, tanto o poema original quando a tradução machadiana são acompanhados de uma “terceira tradução”, desta vez pictórica, pelo francês Gustave Doré, autor de 26 impressionantes ilustrações de página inteira que ressignificam cada passagem do poema e expandem as fronteiras destes versos imortais" (metadado adicionado por Sebo Clepsidra). 


O FOTÓGRAFO EM AÇÃO

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 


        A movimentação de populares é intensa na rua dos Andradas entre a Av. Silva Paes e a Rua Luiz Loréa (que cruza onde estão aparecendo algumas árvores da praça Júlio de Castilhos - historicamente denominada de Praça das Carroças, Praça São Pedro e informalmente e erroneamente de Praça 7). 
      Especialmente crianças estão fazendo pose para o fotógrafo que está no meio da rua, em frente ao atual prédio da Associação Comercial dos Varejistas e de costas para a Av. Silva Paes. 
         A fotografia é de 1892 e o fotógrafo é Amílcar Fontana que realizou inúmeras fotografias de paisagens urbanas da cidade.  
     O tripé e os equipamentos fotográficos chamaram a atenção de várias pessoas que curiosamente observam o trabalho do fotógrafo. 

sábado, 28 de setembro de 2019

O FUNDADOR DA BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE

Comendador João Barbosa Coelho em 1869. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


               Esta fotografia tirada a 150 anos preservou a imagem do maior mobilizador para a fundação do Gabinete de Leitura em 15 de agosto de 1846. Nascia a primeira biblioteca do Rio Grande do Sul que passaria a se chamar Biblioteca Rio-Grandense no ano de 1878. 
              O português Barbosa Coelho, nasceu em Lisboa em 1809 e faleceu na mesma cidade aos noventa anos de idade. Sua família, fugindo das consequências da invasão Napoleônica em Portugal e do conflito que se seguiu, vieram para o Brasil em 1828 residindo na Bahia e no Rio de Janeiro. Em 21 de outubro de 1845, Barbosa Coelho chega a cidade do Rio Grande para trabalhar como guarda-livros na casa comercial de Manuel Marques das Neves. A expectativa com o final da Revolução Farroupilha era de retomada das atividades econômicas que ficaram quase dez anos parcialmente estagnadas. 
       Em poucos meses, Barbosa Coelho conseguiu mobilizar  outras vinte e cinco pessoas para criarem um espaço que propiciasse o desenvolvimento intelectual e o incentivo a formação escolar que era extremamente carente na Província: o Gabinete de Leitura. 
           É uma tradição nas reuniões da diretoria da Biblioteca Rio-Grandense fazer uma referência ao seu fundador, evocando o espírito de dedicação e combatividade que Barbosa Coelho deixou como legado para as gerações que o sucederam.   

Em 1878

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

             As fotografias podem ser enigmáticas. Na legenda está escrito: retrato da Senhora Hermínia na janela datado de 24 de abril de 1878. Quem será a personagem? O retrato foi feito em estúdio ou em alguma residência? Quem será o fotógrafo que atuava na cidade do Rio Grande na década de 1870 que foi o autor? 

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

PRÉDIO DA ALFÂNDEGA: 140 ANOS

Cartão-postal circulado em 1904 com a face do prédio da Alfândega voltada para o Cais do Porto Velho. 

            O cenário urbano da cidade do Rio Grande modificou-se quando da construção do monumental prédio da Alfândega o qual teve início em 1874 e finalizado em 1879. 
A Ordem do Tesouro Nacional nº 61, datada de 18 de maio de 1874, faz referência à planta e orçamento do novo prédio: “O Visconde do Rio Branco, Presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, resolve enviar inclusos ao Sr. Inspetor da Tesouraria da Fazenda da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a planta e orçamento que acompanharam o seu ofício de nº 53 de 31 de março de 1873, organizados pelo coronel Carlos Résin Filho, para a construção de um edifício destinado à Alfândega da cidade do Rio Grande; afim do que ponha em hasta pública a execução das citadas obras, pela quantia de 232:967$391rs. em que estão orçadas; ficando porém o respectivo contrato dependendo da aprovação do Tesouro Nacional. Visconde do Rio Branco”. 
           O prédio da Alfândega foi a maior obra civil realizada na cidade do Rio Grande no século XIX. O custo da obra, quase 700 contos de réis somente no período de 1874-82 e cujo governo Imperial era responsável, foi extremamente alto se compararmos com o próprio o orçamento anual da cidade do Rio Grande que neste período variava entre 51 e 60 contos de réis. Apenas como comparação, gastou-se na construção do prédio as receitas de aproximadamente 12 anos de arrecadação em nível local.

A GUERRA NA IMPRENSA



           Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) a maioria da imprensa do Rio Grande do Sul participou discursivamente do conflito. A Revolução não se manteve nos limites dos campos de batalha, mas, iniciou bem mais cedo nos conflitos de ideais e fricções político-partidárias entre liberais e conservadores. Em tempos de enfrentamento, os discursos se armaram com voracidade e a busca da veracidade na informação chegou a ficar para segundo plano. Este tema, tão atual em tempos de fake news, foi abordado no artigo a seguir, o qual é parcialmente reproduzido:

         “A guerra que durou quase um decênio não foi travada apenas pelas armas, pois, ao lado destas, foram utilizados verdadeiros arsenais de palavras, constituindo-se, à parte do enfrentamento unicamente bélico, uma batalha de manifestos que teria no meio impresso um contumaz divulgador. Em todo o Rio Grande do Sul, desde os maiores centro urbanos até os mais longínquos rincões, circularam folhas impressas que sustentaram o conflito discursivo entre rebeldes e legalistas, de modo que a gênese da imprensa gaúcha esteve marcada de forma irretorquível pelas relações com o contexto revolucionário de então. Ocorreria um grande crescimento de atividades jornalísticas, uma vez que, numa localidade onde houvesse um jornal favorável a uma das partes em conflito, era natural que o grupo adversário também buscasse organizar sua folha de modo a combater o inimigo. Desse modo, num processo de ação e reação, o número de jornais circulando na província multiplicou-se desde a época pré-revolucionária e durante os primeiros anos da Revolução Farroupilha. A imprensa rio-grandense nascia assim sob a égide do partidarismo, uma vez que os jornais tinham por característica essencial o engajamento partidário, buscando sustentar uma causa e derruir a do adversário. Os periódicos serviam à sustentação do confronto discursivo, demarcavam os estereótipos do aliado e do inimigo, do que era “o nosso” e o que era “dos outros”, numa perspectiva muitas vezes maniqueísta de apresentar aos leitores uma versão do “bem” e do “mal” O debate dava-se no campo político-ideológico, mas, por vezes, descambava para os ataques pessoais, em valia qualquer argumento para convencer a opinião pública sobre a justeza do lado que se buscava sustentar. O conflito no campo discursivo buscava assim legitimar as formas de agir e pensar do aliado, bem como deslegitimar as do adversário, de modo que rebeldes e legalistas se digladiariam à extenuação por meio do papel impresso. Nessa época, as páginas dos jornais recendiam a pólvora e a chumbo, quase como nos campos de batalha, e o sangue também parecia correr pelo papel. A linguagem era forte e vibrante, muitas vezes direcionava-se mais à emoção do que à razão, no constante intento de promover a exaltação da opinião pública.    
        As matérias editoriais, as transcrições de notícias e a publicação de manifestos eram notoriamente calcadas na intenção de incitar os espíritos em favor de uma das causas em jogo, não importando, por diversas vezes, os argumentos de ordem ideológica, utilizando-se, isto sim, um jogo de palavras que movesse os sentimentos dos leitores. Ao lado desse tipo de construção discursiva baseada na instigação de ódios e paixões partidaristas, também se organizava uma prática doutrinária por meio da imprensa, objetivando a didática difusão dos princípios então em debate. Ocorria nessa época, por meio do periodismo, uma notável articulação de discursos que, emocionais ou racionais, tinham por única meta a vitória na batalha travada através das palavras, inaugurando-se uma tradição que se reproduziria em outros conflitos bélicos intraoligárquicos da história sul-rio-grandense. Nesse sentido, os farroupilhas eram apontados por meio de sua imprensa como os propugnadores de uma causa justa, acima de tudo em nome da liberdade, enquanto os legalistas eram descritos como retrógrados, sebastianistas e conservadores. Por outro lado, os jornais legalistas consideravam estes como os defensores da ordem, enquanto os rebeldes eram qualificados como anarquistas e subversivos que desejavam corromper e destruir as instituições estabelecidas. 
           A perspectiva dos periódicos voltava-se essencialmente para a questão dos temas provinciais, mas demonstravam conhecimento de causa ao debater a conjuntura nacional e internacional. Segundo os farroupilhas, o “espírito da revolução” se espalharia pelo país, pela América e pela Europa, e era seu desejo que a “liberdade” fosse a vencedora nos “dois mundos”, quer seja, no contexto americano e europeu; já os governistas propugnavam que a ameaça rebelde buscava espalhar-se pelo mundo, mas que este “mal” logo viria a ser controlado pelos adeptos da ordem institucional. Além do combate ideológico, os jornais, por vezes, baixavam o nível da discussão, levando o confronto para o campo do insulto, de modo que o adversário chegava a ser descrito como figuras sanhudas, selvagens e sanguinárias que levariam a província à perdição. Os dois lados do confronto bélico utilizavam-se também da imprensa para desmentir o inimigo. Dessa maneira, para os jornais farrapos ou legalistas, as folhas provenientes dos adversários estariam a desvirtuar a função da imprensa, ao omitir notícias, adulterar informações, ou mentir desbragadamente, com o intuito de enganar a opinião pública. De acordo com essa perspectiva, nas versões dos jornais, as batalhas sempre eram vencidas pelos aliados, que contavam baixas mínimas e infringiam aos adversários derrotas acachapantes e aniquiladoras. 
        Seguindo esta modalidade discursiva, predominava uma prática essencialmente opinativa em detrimento do caráter informativo, pois, além dos longos enunciados em que o jornal deixava evidenciado seu posicionamento partidário, a própria divulgação de notícias era utilizada como arma de convencimento sobre a causa e os propalados sucessos de lado a lado. Era também intenção dos redatores das folhas demonstrar que o responsável pelas dificuldades advindas da guerra era sempre o inimigo, quer seja, para os legalistas, os culpados pela continuidade da luta eram os farroupilhas por terem anarquizado as instituições, ao passo que os farrapos imputavam a culpa pelo prosseguimento das lides bélicas aos governistas por insistirem na manutenção de um estado centralizador e concentrador de poderes. Nesse sentido, os jornais muito esforçavam-se para mostrar à população a destruição trazida pela guerra, a qual só terminaria, de acordo com o prisma do engajamento, se fossem exterminados os rebeldes ou se a revolução saísse vitoriosa” (ALVES, Francisco das Neves. O Periodismo Gaúcho no século XIX: breves impressões históricas. Biblos. Rio Grande: ICHI-FURG, 2009).  


          Ilustração: Jornal anti-farroupilha “O Mercantil do Rio Grande” de 21-10-1840. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

CAIS DA BOA VISTA EM 1860



               A legenda em inglês faz referência ao Cais da Boa Vista no Porto de São Pedro do Rio Grande do Sul no ano de 1860. A ilustração foi publicada no jornal The Illustrated London News de agosto de 1860 e seu autor é Francis Richard. Outros portos de todo o planeta foram retratados e buscavam difundir informações sobre os entrepostos comerciais que realizavam transporte marítimo com a Grã-Bretanha. 
          Os detalhes da ilustração são uma viagem no tempo quando a rua Riachuelo tinha uma largura diminuta e o cais era construído de estacadas e levava o nome da rua: Boa Vista. Os casarões já formavam uma muralha de casas comerciais ligadas ao comércio de exportação e importação. 
         O desembarque de produtos é acompanhado por um vigia com uma espingarda e muitos objetos podem ser observados no chão do cais (barris, madeira etc). Mais ao fundo três personagens são identificáveis (escravas negras sendo duas com vasilhames na cabeça). Os últimos prédios, no lado oposto da carroça, podem corresponder atualmente a rua Ewbank ou Andradas. O prédio da Alfândega, ótimo para o georeferenciamento, ainda fora construído no local atual.  

CENOGRAFIA E AS NEREIDAS


            A fotografia parece uma montagem cenográfica em que roupas antigas e uma bicicleta foi distribuída entre os participantes. Porém, de fato, é uma imagem realizada por volta do ano de 1905 junto ao chafariz francês das Nereidas na Praça General Telles (atual Xavier Ferreira). Acervo: Walter Albrecht. 

O LAGO DOS CISNES


           Uma das imagens mais bonitas da cidade do Rio Grande: o lago da Praça Xavier Ferreira e os cisnes (inclusive o cisne do pescoço negro). A ampla remodelação da praça ocorrida, a partir de 1935, contemplou este cenário que se integrava com a muralha de prédios da rua Marechal Floriano. A fotografia retrata o cenário no ano de 1939. Acervo: Walter Albrecht. 

VISTA DO INTERIOR DA PRAÇA


              Vista do interior da Praça Xavier Ferreira (na época General Telles) em direção à esquina das ruas Marechal Floriano com Duque de Caxias (na época "Marquez de Caxias"). Um homem pousa para a fotografia próximo a escadaria do chafariz das Nereidas. Cartão-postal do editor José Regina, com datação aproximada entre 1925-1930. Acervo: Leonardo Barbosa Lopes. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

FÁBRICA NOVA


Cartão-postal (Edição Meira & Cia) da Fábrica Ítalo-Brasileira por volta de 1940. 


Em abril de 1896 começou a funcionar a “Companhia Fiação e Tecelagem Rio Grande” propriedade do empresário Giovanni Hesselberger.  O controle e nome social da empresa passou para Santo Becchi & Cia, da cidade italiana de Gênova e a denominação passou para “Tecelagem Ítalo-Brasileira” que será uma das maiores empresas do período da expansão industrial da cidade do Rio Grande durante a República Velha. Esta indústria têxtil empregava 600 operários e também era chamada informalmente de “Fábrica Nova”. A maioria dos trabalhadores tinha residência no bairro Cidade Nova.

PALACETE POOCK



         Raro cartão-postal mostrando um ângulo incomum ao retratar este cenário da Praça Tamandaré. O chafariz francês dos anjinhos (instalado na Praça em 1876) foi retirado do local original e colocado neste lago entre 1902-1903 (para construção da base do monumento-túmulo de Bento Gonçalves da Silva). Na esquina (direita) a Igreja do Salvador e o prédio que centraliza o cartão (ao fundo e raríssimo de ser retratado) é o Palacete Poock (atual Câmara de Vereadores). 
        Cartão-postal colorizado da Livraria Americana que leva o número 18 e cuja composição visual remete a aproximadamente 1903 (mas pode ter circulado anos depois).    

CARTÃO-POSTAL DO CAIS DO PORTO VELHO



        Cartão-postal da editora "Livraria Americana" cujo número de série é 23. Três imagens são retratadas e que remetem ao mesmo tema: o Porto Velho do Rio Grande por volta de 1903-4. 
        A imagem maior mostra o cais junto a Rua Riachuelo com várias embarcações atracadas. 
        Na imagem menor são vistos, na Rua Riachuelo, vários barris e um prédio de três pisos nas proximidades do prédio da Alfândega. 
        A última imagem no canto direito superior, retrata o Cais da Boa Vista, local de desembarque dos navios que traziam ou levavam os passageiros e ao fundo está a antiga Igreja do Carmo (esquina das ruas Marechal Floriano com Benjamin Constant).    
        Parte essencial da história local está associada a estes recortes nos espaços portuários que desde o século XVIII foram responsáveis por parte essencial da dinamização econômica da cidade e pela definição do seu perfil.  

domingo, 22 de setembro de 2019

30 DIAS DE NOITE - GRAPHIC NOVEL - HISTÓRIA E TERROR


30 Dias de Noite (DarkSide Books)



Na próxima semana, o selo  DarkSide Graphic Novel estará lançando mais uma obra de referência do horror: 30 Dias de Noite. Uma parte da sinopse foi retirada da página da darkside, onde estão disponíveis maiores informações:
“A pequena cidade de Barrow, no extremo norte do Alasca, não tem mais esse nome desde um referendo realizado em outubro de 2016, quando os eleitores da cidade aprovaram a mudança do nome para Utqiaġvik, na língua Iñupiaq, falada pelos nativos nômades que habitam a região desde tempos pré-histórico. Mas antes disso, Barrow já havia sido eternizada nas páginas da HQ 30 Dias de Noite, de Ben Templesmith, que ganharia uma adaptação de sucesso para os cinemas em 2007.
O nome da HQ se dá ao fato de Barrow, atualmente Utqiaġvik, permanecer mais de um mês no mais completo escuro — isso acontece quando o sol se põe em novembro e fica abaixo do horizonte durante cerca de 65 dias. A noite polar, que parece ser interminável, dura até o sol nascer novamente no fim do mês de janeiro. Durante metade da noite polar, o tempo do crepúsculo diminui até ao solstício de inverno em dezembro, quando dura apenas 3 horas.
As sombras de Barrow e o frio do Alasca são brilhantemente retratados em 30 Dias de Noite, anunciada pelo selo DarkSide Graphic Novel, da DarkSide Books. O traço marcante de Templesmith revela uma trama alucinante envolvendo os moradores de Barrow com quadros inteiros e de cores frias combinadas às horrendas criaturas que surgem ao longo da trama. Ali, quando o sol se põe e a cidadezinha entra na escuridão, vampiros sanguinários e sem escrúpulos invadem o local e provocam um verdadeiro banquete de sangue. A atmosfera gélida e crua da cidade é perfeitamente ambientalizada na HQ.
       Atualmente, a cidade de Utqiaġvik tem uma população estimada de 4.581 habitantes segundo o último censo populacional, e as temperaturas por lá permanecem abaixo de zero durante boa parte do ano — o clima polar da cidade também provoca muita neblina colocando Utqiaġvik como um dos lugares mais nublados do mundo. Templesmith retratou a escuridão, as sombras e a fria Barrow com seu traço característico levando o leitor diretamente para o longínquo Alasca abaixo de zero e infestado por vampiros. Em sua arte, Barrow é o lugar perfeito para ser invadido por vampiros — na vida real, a pequena Utqiaġvik, sobrevive da caça (de animais, não de vampiros) e trabalhando nas operações dos campos de exploração de petróleo que circundam a região”.

BATMAN - 80 ANOS






Um dos personagens com maior longevidade nos quadrinhos completou 80 anos. O octogenário Batman, cada vez em melhor forma, apareceu pela primeira vez na revista Detective Comics 27 de maio de 1939. Ao longo das décadas o personagem se tornou um ícone cultural americano. O homem morcego foi criado por Bob Kane, mas, aprimorado em sua dimensão sombria por Bill Finger. A Era de Ouro dos Quadrinhos caminhou lado a lado com Batman, Robin, Gotham City, Coringa, Mulher-Gato, Pinguim, Charada e tantos personagens que marcaram as HQs, o Cinema, a TV e os games.
  Neste dia 21 de setembro, está ocorrendo em São Paulo o “Batman Day”, evento anual promovido pela DC Comics para celebrar a criação de Bob Kane e Bill Finger e uma série de eventos acontece em diversos lugares do mundo. O Memorial da América Latina em São Paulo/SP, deixará a mostra Batman 80 – A Exposição -, aberta 35 horas ininterruptas, de sábado às 10h até domingo às 21h). Maiores informações: http://www.universohq.com/noticias/batman-80/.

A MÚMIA - 60 ANOS - HISTÓRIA E TERROR



Em 25 de setembro de 1959 foi feito o lançamento, na Inglaterra, do filme “A Múmia” (The Mummy) da produtora britânica Hammer Film Production. A direção foi de Terence Fisher (o mestre do filme gótico colorido) e o roteiro de Jimmy Sangster. A dupla Peter Cushing (como o arqueólogo John Banning) e Christopher Lee (sacerdote e múmia Kharis) protagonizaram uma refilmagem modificada do clássico “A Múmia” (1932 – Boris Karloff) da Universal Films. O diálogo entre o personagem egípcio Mehemet Bey e o arqueólogo é muito interessante para a discussão da violação dos templos sagrados em escavações arqueológicas inglesas e o contraponto entre fé e ciência.
Portanto, ha 60 anos o horror gótico colorido lançava a temática da maldição das múmias do Antigo Egito numa versão que vale a ser visitada ou revisitada.



Cartaz do filme A Múmia de 1959. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

PALESTRA PRIMAVERA DOS MUSEUS

LEITURAS DE UMA FOTOGRAFIA


            O que uma fotografia pode nos dizer sobre o passado? Façamos um exercício para aqueles que conhecem esta rua da cidade do Rio Grande. 
                 O negativo de vidro original, apresentava uma rachadura em sua parte inferior. Pela inclinação da sombra projetada pelo sol no calçamento, a foto foi obtida na parte da tarde pois o sol já está no seu poente (Oeste) que está localizado a direita do observador. 
         Entre os vários personagens que estão observando o fotógrafo, como é recorrente, estão crianças que aparentemente passavam parte dos dias nas ruas pois são presença constante nas fotografias do final do século XIX e primeiras décadas do século XX. 





         Vendedores ambulantes, com seus cestos, também são um cenário muito comum.   


         As árvores que estão se projetando para a Rua General Neto estão no Largo Dr. Pio no tempo que era a Praça Dr. Pio (em frente da Igreja Matriz de São Pedro). O local da árvore está hoje ocupado pelo prédios dos Correios. 




           Esquina das ruas General Bacelar com General Neto Nenhum destes prédios sobreviveu a especulação imobiliária e os períodos de opulência e decadência da cidade. Nesta área central, as mudanças arquitetônicas foram intensas com rara persistência do estilo eclético e neoclássico, além do colonial, arquiteturas que caracterizaram as ruas centrais nos períodos oitocentistas e parte do novecentista. O moinho de vento, que aparece parcialmente, ficava numa estrutura localizada na Praça Tamandaré (esquina das ruas General Neto com Luiz Loréa).  



         À direita é visível a cobertura vegetal da Praça Tamandaré, a torre da Igreja do Salvador (junto a rua General Vitorino) e, ao fundo, a chaminé (ainda existente), da Fábrica Ítalo-Brasileira. Esta indústria têxtil foi inaugurada em 1896 e está na localizada na rua Senador Corrêa.   


          A datação provável desta fotografia do acervo da Biblioteca Rio-Grandense, enquanto hipótese de pesquisa e levando em considerações variáveis urbanas e vestimentas dos personagens, é o ano de 1915. 
       Que outras leituras podemos obter com esta fotografia? Que pergunta podemos fazer ao passado?

ONDE E EM QUE MOMENTO DO TEMPO?


           Esta fotografia (acervo da Biblioteca Rio-Grandense) dá algumas pistas para sua datação. Os trilhos são da Estação Marítima, inaugurada em 1888, última parada da Linha Rio Grande-Bagé (inaugurada em 1884). O prédio do Sobrado da Macega (à esquerda, na antiga rua Marechal Andréa e atual Av. Alm. Cerqueira e Souza), em estilo gótico, foi construído em 1877. Em frente ao prédio do Sobrado da Macega está este cais que se tornaria, num futuro distante, parte da estrutura ocupada pela PESCAL, com direito a aterramento da área. Para localização do leitor, no lado direito, não registrado na foto, está o fim da Rua Riachuelo em sua esquina com a rua Barroso. Na parte central, ao fundo da fotografia, está uma chaminé e atrás uma edificação que dá uma boa dica de datação: é o Moinho Rio-Grandense (moagem de farinha de trigo), uma empresa inaugurada em 1895, cujas ruínas ainda persistem no presente. 
         Pelas características técnicas da imagem, referencial de datação mínima de 1895, roupas dos meninos na beira do trilho e outros detalhes arquitetônicos, a provável e hipotética datação desta fotografia se situa entre 1900-1910.    

A PRAÇA E O PRÉDIO DOS CORREIOS



Praça Dr. Pio, as árvores à esquerda ficavam onde foi construído o prédio dos Correios. À direita, os plátanos de 1877 em frente a entrada da Igreja de São Pedro. Acervo: papareia.

Prédio dos Correios em estilo art-deco. Atualmente encontra-se em estado decrépito de conservação. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  


          Antes de sua efetivação, já havia reprovação em relação a construção do prédio do Correio em local que constituía a Praça Dr. Pio. O foco estava em dar destaque ao prédio da Igreja Matriz de São Pedro evitando a descaracterização colonial daquele espaço onde estava o templo religioso mais antigo do Rio Grande do Sul. Manter e arborizar a Praça Dr. Pio também era o objetivo de algumas vozes para garantir a harmonia daquele conjunto histórico, recreativo e paisagístico. 
      Argumentos não adiantaram e o prédio foi erguido com inauguração no ano de 1950. A Praça receberá um golpe que a descaracterizou. Nos últimos longos anos, o abandono se apossou do prédio dos Correios que configura, hoje, numa aberração decadente no centro da cidade. Somou-se a este cenário a construção de um desatino arquitetônico num dos  lados da Igreja, sufocando o barroco colonial e despejando o concreto no visual.  

A seguir, o argumento apresentado pelo arquiteto Lucio Costa em 1947 para a sua reprovação em relação a construção de um prédio na área da Praça Dr. Pio. 


O BONDE E A PRAÇA FRAGMENTADA

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 

               Bonde urbano percorrendo a lateral de uma praça que foi, posteriormente, dividida para o cruzamento de veículos! O bonde ruma para a Rua Aquidaban se deslocando da área central pela Rua  Marechal Floriano. Em seu caminho ficava a Praça Barão de São José do Norte, a qual obrigava uma manobra radical a esquerda e depois a direita para contornar o "obstáculo". 
             Em meados da década de 1930 o problema foi resolvido: a praça foi dividida, sendo aberta uma rua relativamente larga, ficando o chafariz francês dos "anjinhos" mantido no face junto ao prédio da Santa Casa do Rio Grande. No lado oposto, serão edificados os monumentos do Tiro de Guerra (1937).  
Com o passar do tempo e das gerações, as mudanças urbanas vão ficando no esquecimento: a pesquisa histórica possibilita escrever as histórias que parece nunca terem existido. 

VISTA AÉREA NA DÉCADA DE 1950

Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.


           Esta fotografia aérea da empresa FotoPostal Colombo mostra o crescimento urbano da restinga do Rio Grande em sua área urbana central. Se destaca, da direita para a esquerda, o prédio da Biblioteca Rio-Grandense, o entreposto de venda de pescado, o Mercado Público (com dois andares na face para a Praça Xavier Ferreira), a Câmara do Comércio e o prédio da Alfândega. Todos estes prédios foram edificados junto ao Cais do Porto Velho do Rio Grande. 
              A imagem remete a meados dos anos de 1950, período que iniciava uma longa crise econômica nas empresas industriais da cidade do Rio Grande, ocasionando um grande desemprego. Nas três décadas posteriores, amenizando a crise, o crescimento da indústria pesqueira propiciará uma grande geração de empregos sazonais ou estáveis.