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Exposição de produtos da Pescal. Acervo: papareia. |
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Exposição de produtos da Torquato Pontes. Acervo: papareia. |
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Caviar de ovas de Miragaia. Acervo: papareia. |
O cientista
alemão Hermann von Ihering no livro A Lagoa dos Patos no século XIX na visão
do naturalista Hermann von Ihering. (Rio Grande: Ecoscientia, 2003, p.
24-27, tradução de Clarisse Odebrecht), enfatizou da importância da pesca para
a cidade do Rio Grande na primeira metade da década de 1880. Segundo ele, o
mercado público do Rio Grande dispõe de peixes todos os dias, com exceção, naturalmente,
de dias com muita chuva e trovoada, quando o trabalho na água é
impossibilitado. Existem quatro a cinco grandes companhias de pescado, que não
trabalham para o mercado, mas sim para a exportação. A maioria dos produtos
capturados são embalados em barris ou tonéis e enviados para o Rio de Janeiro,
Bahia ou Pernambuco, mas em parte também para Montevidéo, principalmente os
camarões. Os produtos destinados ao Rio de Janeiro são levados normalmente em
barcos a vapor (2$000 Rs. de frete por barril), e os para a Bahia e Pernambuco
são embarcados em navios a vela”.
Não resta
dúvida de que a atividade pesqueira do Rio Grande ainda poderia ser expandida
consideravelmente. Mesmo se, de acordo com a natureza do produto – peixes
salgados e secos - exportação do Rio Grande se dirige principalmente para o
mercado no Norte do Brasil, ainda assim existem, entre os produtos locais, uma
série de artigos que poderiam garantir rapidamente uma posição no mercado
internacional. Seria de grande interesse para a população do litoral brasileiro
que o governo brasileiro desenvolvesse a pesca marinha, a qual até o presente
não foi bem estudada ou cuidada nem no Brasil nem em outros locais da América
do Sul. Essa atenção seria de interesse para o bem-estar da população. Especialmente
as dainhas e os linguados, bem como os camarões, poderiam tornar-se
significativos na exportação ultramar. Pelos dados parciais levantados por
Ihering, cerca de 15.000 quilos de miragaia seca eram produzidas por ano A
dainha é capturada principalmente em maio, quando freqüentemente é capturada em
quantidade tão grande que os pescadores só retiram tantos peixes da rede
quantos podem guardar, jogando o resto de volta à água. Elas são preparadas com
sal em barris. Em
cada barril cabem 108-120 peças, com produção anual de cerca de 1.000 barris.
Na década de
1950 a
cidade do Rio Grande passou por uma forte crise no setor industrial que
promoveu alto índice de desemprego. A indústria têxtil, de alimentos e
frigorífica estavam em
decadência. O setor pesqueiro, na década de 1960 absorveu
significativa mão-de-obra operária até a segunda metade da década de 1980
quando entra em falência. A
indústria pesqueira na década de 1960 apresentava 17 empresas atuando no
beneficiamento e exportação de pescado, voltado para diferentes mercados do
Brasil e exterior. Significativo número de trabalhadores atuaram neste ramo
industrial.
Fator de
destaque para a implementação da indústria pesqueira no município foi a criação
da SUDEPE em 1962 com incentivos fiscais previstos pelo Decreto-Lei n° 267, de
1967. Estes benefícios incluíam isenção de impostos e taxas federais sobre
produtos importados, produtos industrializados, taxas aduaneiras na importação
de máquinas e outros benefícios. O capital disponibilizado para o setor foi aproveitado
pelo empresariado deste ramo que consolida em Rio Grande um parque
industrial pesqueiro de renome nacional. O município apresentava as condições
necessárias para ampliação do parque produtivo, como matéria-prima abundante e
mão-de-obra qualificada na captura e no processamento fabril. (ver MARTINS,
Solismar. Cidade do Rio Grande:
industrialização e urbanidade (1873-1990). Rio Grande: Editora da FURG,
2006). Antigas salgas se transformam em novas plantas industriais sendo a
comercialização do pescado industrializado direcionado para outros estados
brasileiro.
O avanço
tecnológico do setor pesqueiro e a disponibilidade do mar territorial do
Uruguai e da Argentina, fez com que em 1970 a captura chegasse a 120.000 toneladas.
Com a delimitação do mar territorial brasileiro em 1970 e as restrições então
feitas pelo Uruguai e Argentina na pesca brasileira em seu mar territorial, a
área de captura do pescado ficou bastante reduzida. No início dos anos 1980 o
setor era constituído por 27 empresas que abarcavam o congelamento, salga,
enlatamento, feitura da farinha, óleos e gelo. O setor empregava 20.000
trabalhadores, ou cerca de 90% da mão-de-obra industrial pesqueira empregada no
Rio Grande do Sul. As empresas aqui atuando eram: Jahu Indústria e Comércio de
Pescado, Torquato Pontes Pescados, Pescal, Eduardo Ballester Ind. de Pescados,
Cooperativa Mista de Pescados Nipo-Brasileira, Atlântica Pescados, Guanapesca
Indústria e Comércio de Pescados, Joqueira Indústria Alimentícia, Junca
Indústria e Comércio de Pescados, Abel Dourado Indústria Alimentícia, Leal
Santos Pescados, Albano Oliveira e Irmão, Manoel Pereira de Almeida,
Frigorífico Anselmi, Rio Grande Produtos Alimentícios, Domar Ind. e Com. de
Pescados, Furtado, Pesqueira Nacional, Cunha Amaral, Indústria e Comércio
Figueiredo, Promar, Redentor, Indústria Charrua de Pescados, Marsilva
Importação e Exportação de Pescados, Atlantis Comércio de Pescados, Nilmarsul
Comércio e Exportação de Pescados, F.R. Amaral Indústria e Comércio de
Pescados.
A crise do setor está relacionada com a
redução da área de captura, a escassez do
pescado devido à sobrepesca de algumas espécies e a retirada o Estado como
incentivador fiscal. Em 1985 ocorreu o desembarque de 87.490 toneladas de
pescado com o declínio a partir do ano seguinte.
Conforme
Solismar Martins, o parque industrial pesqueiro não proporcionou a formação de
uma classe média para a cidade, visto que seus operários trabalhavam em troca
de baixa remuneração e, muitas vezes, com empregos temporários. Se a indústria
pesqueira era moderna quanto ao processamento do pescado, tal riqueza,
concentrada nas mãos de poucos, não se transferia para os demais trabalhadores
envolvidos no processo. Além disso, a intensificação do processo de capturas
levou ao descompasso dos ritmos reprodutivos das espécies de maior valor
comercial. A partir da década de 1990 o pescado chegou a Rio Grande em menores
quantidades sendo absorvido pelas poucas indústrias pesqueiras que permaneceram
em Rio Grande,
sendo consumido na própria cidade e principalmente sendo enviado in natura para processamento em outros
centros por meio de caminhões frigoríficos ou containers. De cidade pioneira na indústria da pesca, Rio Grande
foi se moldando como um grande entreposto de pesca, num caminho de industrialização
às avessas.