O
personagem Tex está completando 70 anos! Criado na Itália por Gianluigi Bonelli
e tendo por primeiro desenhista Aurelio Galleppini, o “Galep”, é o mais antigo
cowboy de quadrinhos ainda em circulação. Foi no dia 30 de setembro de 1948 que
surgiu a primeira história de Tex. Chamava-se "Il Totem Misterioso"
(em italiano, "O Totem Misterioso"). A partir de 1957 Sergio Bonelli assumiu a editora.
A
primeira aparição de Tex no Brasil foi na Revista Júnior nº 28 que circulou em 25
de fevereiro de 1951. Ele recebeu o nome de Texas Kid e a revista era editada
pela Rio Gráfica e Editora em formato de tira (lembrando um talão de cheques).
O
destaque maior será dado ao personagem quando da estreia de revista exclusiva
para suas histórias. Foi a Editora Vecchi que lançou Tex em fevereiro de 1971
com a história “O Signo da Serpente”. Esta primeira edição da Vecchi teve 174
números e tinha uma tiragem de aproximadamente 150 mil exemplares. Uma reedição
dos números já lançados teve início em abril de 1977 perdurando até 1983. Tex
também foi editado pela Globo, Rge, Opera Graphica e desde 1999 pela Mythos que
tem produzido edições populares e também de luxo. Um exemplo é a Edição Gigante
em Cores com qualidade gráfica superior até ao que já foi publicado na Itália
(entre 2014-2016 em capa dura/couchet com 12 exemplares). Atualmente, a Editora
Salvat publica uma coleção com 60 volumes de Tex em capa dura/couchet que já
chegou ao número 20.
As
histórias são diversificadas mas se passam nos cenários do Velho Oeste
americano com contrabandistas, caçadores de recompensas, assaltantes de trem ou
bancos, assassinos de aluguel, cavalaria, índios, pioneiros, guerra da secessão
e também aproximações com eventos históricos que se passavam no meio árido do
sul dos Estados Unidos em sua fronteira com o México. Muitos números são
dedicados a temas sobrenaturais (como Bruxo Mouro) e até com formas de vida
extra-terrestre como no episódio “A Flor da Morte”.
Tex Willer era filho de um rancheiro que se
recusou a vender suas terras e foi morto por pistoleiros. Ao matar os
assassinos de seu pai ele se tornou um fora da lei e vingador que futuramente
passou a trabalhar como ranger (delegado do Texas). Casou-se com a filha de um
chefe Navajo e teve um filho que quando não está na aldeia se faz presente em
aventuras. Tem por companheiros (ou “pards”), Kit Carson e o navajo Jack Tigre.
Um livro recente traz as memórias de Tex “A História da minha Vida”
evidenciando que ele se sente mais índio do que branco ao fundir sua existência
com as paisagens vividas pelos Navajos nas planícies áridas e nas formações rochosas.
Uma
característica das histórias é a busca de contextualização da ação dos
personagens no tempo e especialmente no espaço: mapas são feitos explicando as
referencias geográficas e a localização de cidades e aldeias indígenas.
Contexto de conflito entre pioneiros, territórios indígenas, presença de
contrabandistas e comancheros, ação da cavalaria, velhacarias inúmeras em busca
de lucro fácil e destruição física e cultural das populações indígenas são
temas persistentes.
O Tex jovem recua a 1860 e o homem maduro
cobre o período de 1880-1890. Os Estados Unidos do avanço para o Oeste estarão
completando este processo de integração acelerado pela Guerra Civil Americana
(1861-1865). As fronteiras do capitalismo se ampliaram e consolidaram e os
cenários memorias das populações nativas pouco a pouco se tornarão apenas memórias
e histórias a serem contadas ou inventadas.
As Histórias em Quadrinhos são uma destas construções discursivas que recriam o tempo passado e projetam doses ficcionais de vida aos personagens e aos cenários que -os envolvem- e que por vezes definem a sua vida. Recriação alicerçada no presente mas que busca um diálogo com o passado e seus fragmentos. Quando Tex começou a ser escrito, em 1948, se estava 70 anos mais próximo dos episódios relatados e inclusive fontes orais de vivências reais poderiam ser entrevistadas. Sete décadas depois Tex já constitui uma historicidade de média duração com momentos criativos marcados pelos fundadores e com recriações pelos continuadores da obra. O personagem sofreu releituras, novos traços, diálogos existenciais e ficção exotérica que transcende ao tempo e ao espaço. A sociedade mudou muito entre o final dos anos 1940 e os primórdios da Era Nuclear, da Guerra Fria e da Pós-modernidade. A tecnologia modificou drasticamente, as formas de comunicação, o processo de globalização encurtou as distâncias, a verbalização excessiva pelas redes sociais pode ter promovido um caminho inverso do crescimento intelectual: por vezes, alimentou o umbigo e distanciou os conectados da universalização cultural. As facilidades e redundâncias podem ter reduzido a criatividade e afastado os leitores mais percucientes que se fartavam no grafismo de um pedaço de papel. Se no passado, os poucos recursos técnicos ou a ausência deles (computadores, internet etc) possibilitou o surgimento de legiões de leitores ávidos por arte sequencial, no presente as publicações tem dificuldades em se manter ou muitas desaparecem frente a demanda reduzida de leitores.
Os quadrinhos, a literatura e as visitas a história da humanidade, são formas de se investigar o passado e de tentar se colocar em outras vidas/experiências por algumas horas. Os Quadrinhos inteligentes e sensíveis permitem o exercício deste processo de "fantasia", de construção do "extraordinário", de incursões ao "fantástico", de se sentir parte "real" de uma história ao acompanhar os desenhos e os diálogos que ganham vida graças a competência/sensibilidade dos artistas que trabalham com a arte sequencial. Ou seja, em vários momentos de Tex, ao longo de sete décadas, momentos brilhantes desta arte podem ser colhidos para compor o que de melhor os Quadrinhos já produziram desde o seu surgimento.
Primeira revista Tex na Itália em 30 de setembro de 1948. |
Primeira aparição de Tex no Brasil em 1951. |
Tex n. 1 Editora Vecchi, fevereiro de 1971. |
Tex da Editora Vecchi. Maio de 1971. |
Álbum de figurinhas lançado pela Editora Vecchi em 1981. |
Álbum de figurinhas de 1981. |
Editora Mythos, edição n.3, novembro 2014. |
Coleção da Salvat. |