Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

QUADRINHOS E CARIMBOS



        Os anos 1960-70 foram de grande expansão na indústria dos quadrinhos. No ano de 1977, a revista mais vendida do Brasil era a Tio Patinhas com 392 mil exemplares mensais (conforme o Almanaque Abril). A revista “Veja” ocupava a nona colocação com 232 mil exemplares. Os anos de ouro da circulação foram ficando no passado e as leituras de Histórias em Quadrinhos foram se tornando rarefeitas em direção ao tempo presente com números tão pífios que não são divulgados pelas editoras. Esta ausência de leituras no campo dos Quadrinhos e no campo da Literatura pode ser um fator explicativo para o atual cenário de analfabetismo funcional.
Obviamente, toda a publicação (jornal, revista ou quadrinhos) está repleta de significados e de visões de mundo que traduzem uma forma de construir a realidade. Mas a primeira relevância dos quadrinhos é desenvolver a criatividade e permitir viagens em histórias que são inconcebíveis no plano da realidade. É o direito em ser criança ou adolescente antes do peso do cárcere do trabalho e do mundo concreto lançar a âncora do centramento nas relações sociais/familiares do mundo adulto.  
Sempre colecionei quadrinhos e, mesmo antes de ser alfabetizado, lia “tudo o que aparecia pela frente”: a leitura pode ser feita nas próprias imagens que levam a construção de um suposto sentido e pseudo-enredos fantasiosos. Das leituras prediletas, nos primeiros anos, estava o “Almanaque Tio Patinhas” surgido no Brasil em dezembro de 1963. O famoso número 1 do Almanaque é quase tão difícil de ser adquirido do que a própria moeda número 1 do Tio Patinhas. Este pato “sovina” foi criado pelo brilhante artista Carl Barks em 1947. A primeira história do Tio Patinhas foi uma adaptação ao “Conto de Natal” de Charles Dickens onde o avarento Ebenezer Scrooge é interpretado pelo pato.
A revista foi um fenômeno brasileiro de vendas, não diferente em Rio Grande, onde muitas crianças esperavam a chegada da próxima edição que era vendida nas bancas de jornais/revistas da cidade. Por vezes, estas bancas colocavam um carimbo nas capas, acrescentando uma valorização histórica às revistas. Reproduzo a capa de quatro revistas do Tio Patinhas: os números 47 de junho de 1969 (a querme$$e) e o n.63 de outubro de 1970 (a pesca de dinheiro) com o carimbo da banca “A Noiva do Mar – Rua Benjamin Constant 189; o número 82 de maio de 1972 (o gaúcho e a boleadeira) com o carimbo da banca “Ponto Certo” – Rua Silva Paes 253; o número 11 de junho de 1966 (montando o javali) com o carimbo da tradicional “Tabacaria Lages” – Rua Floriano Peixoto 371. O carimbo da “Tabacaria Lages” informa que ela já existia a 63 anos, o que recuaria o seu surgimento a 1903, nos tempos que ocupava um quiosque da Praça Xavier Ferreira.

     Ilustrações: acervo do autor.
Tio Patinhas n. 11.

Tio Patinhas n. 47.

Tio Patinhas n. 63.

Tio Patinhas n. 82. 


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