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Capa do catálogo da exposição da Semana de Arte Moderna, 1922, Di Cavalcanti. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP |
A Semana de Arte ocorreu em São Paulo entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922. |
Divulgação da Semana de Arte Moderna. Acervo: wikipedia.
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No ano do centenário da Independência do Brasil eclodiu este movimento artístico que de fato utilizou a efeméride para divulgar a nova proposta estético-cultural. Os caminhos trilhados pela República proclama em 1889 estava sendo duramente questionados na década de 1920. Qual seria a identidade brasileira no século XX: navegava entre os valores do latifúndio e da dominação coronelística; entre as novas práticas geradas pela urbanização e pelos novos segmentos sociais da burguesia e do proletariado. Como equilibrar a tradição do passado e a modernidade da técnica e do novo cotidiano desencadeado pelo capitalismo? Como tecer a trama entre o universal e o regional, entre o popular e o erudito? |
Alguns artistas e literatos que participaram da Semana. Acervo: wikipedia. |
Essa relação entre o passado e o presente, o rural e o urbano, a centralização política e a autonomia estadual, vinha produzindo mal estar em segmentos da sociedade como os militares (o movimento tenentista) e literatos e artistas que buscavam superar as estéticas tradicionais (além de vários outros segmentos intelectuais, políticos, operariado etc). No caso dos literatos e artistas, ocorria uma influência das vanguardas europeias que desconstruíram as estéticas tradicionais como o parnasianismo. Alguns exemplos é o cubismo, surrealismo, dadaísmo e expressionismo. Porém, o objetivo não é adaptar aos trópicos novos modelos, mas, usá-los como um referencial flexível para a construção de uma cultura brasileira alicerçada na modernidade que estava trazendo novas práticas sociais e novas formas de ver o Brasil.
Para obter uma ideia geral do movimento, reproduzo o texto abaixo reproduzido da página da Enciclopédia Itaú Cultural.
"A Semana de Arte Moderna apresenta-se como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural brasileira a favor de um espírito novo e moderno em oposição à cultura e à arte de teor conservador, predominantes no país desde o século XIX.
Inserida nas festividades em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil em 1922, entre os dias 13 e 17 de fevereiro, realiza-se no Teatro Municipal de São Paulo um festival que inclui exposição com cerca de 100 obras, aberta diariamente no saguão do teatro, e três sessões lítero-musicais noturnas.
Entre os pintores participam Anita Malfatti (1889-1964), Di Cavalcanti (1897-1976), Ferrignac (1892-1958), John Graz (1891-1980), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Zina Aita (1900-1967), Yan de Almeida Prado (1898-1987) e Antônio Paim Vieira (1895-1988), com dois trabalhos feitos a quatro mãos. No campo da escultura, estão presentes Victor Brecheret (1894-1955), Wilhelm Haarberg (1891-1986) e Hildegardo Velloso (1899-1966).
A arquitetura vem representada pelo espanhol Antônio Garcia Moya (1891-1949) e pelo polonês Georg Przyrembel (1885-1956). Entre os literatos e poetas, participam Graça Aranha (1868-1931), Guilherme de Almeida (1890-1969), Mário de Andrade (1893-1945), Menotti Del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-1954), Renato de Almeida, Ronald de Carvalho (1893-1935), Tácito de Almeida (1889-1940), além de Manuel Bandeira (1884-1968), com a leitura do poema “Os Sapos”. A programação musical traz composições de Villa-Lobos (1887-1959) e do francês Debussy (1862-1918), interpretadas pela pianista Guiomar Novaes (1894-1979) e por Ernani Braga (1888-1948).
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Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, autoria de Di Cavalcanti Di Cavalcanti. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros - USP. In: Enciclopédia Itaú.
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As discussões em torno da necessidade de renovação das artes surgem em meados dos anos 1910, em textos de revistas e exposições, como a Exposição de Arte Moderna (1917), de Anita Malfatti. Em 1921, a intenção de transformar as comemorações do Centenário em momento de emancipação artística já se manifesta entre intelectuais como Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia. No entanto, é no salão do mecenas Paulo Prado (1869-1943), em fins do mesmo ano, que toma forma a ideia de um festival com duração de uma semana, trazendo manifestações artísticas diversas, inspirado na Semaine de Fêtes de Deauville, França. O projeto sai do papel graças ao empenho desse mecenas. Paulo Prado, homem influente e de prestígio na sociedade paulistana, consegue que outros barões do café e nomes de peso patrocinem o aluguel do teatro mediante doações para a realização do evento. Também é fundamental sua influência na adesão de Graça Aranha à causa dos artistas "revolucionários". Recém-chegado da Europa como romancista aclamado, a presença de Aranha serve estrategicamente para legitimar a seriedade das reivindicações do jovem e pouco conhecido grupo modernista.
Sem programa estético definido, a Semana desempenha na história da arte brasileira muito mais uma etapa destrutiva de rejeição ao conservadorismo vigente na produção literária, musical e visual, do que um acontecimento construtivo de propostas e criação de novas linguagens. Se existe um elo entre seus tão diversos artífices, este se constitui, segundo seus dois ideólogos principais, Mário e Oswald de Andrade, como a negação de todo e qualquer "passadismo": a recusa à literatura e à arte importadas com os traços de uma civilização cada vez mais superada, no espaço e no tempo. Em geral, todos clamam em seus discursos por liberdade de expressão e pelo fim de regras na arte. Faz-se presente também um certo ideário futurista, que exige a deposição dos temas tradicionalistas em nome da sociedade da eletricidade, da máquina e da velocidade.
Na palestra proferida por Mário de Andrade na tarde do dia 15, posteriormente publicada como o ensaio A Escrava que Não é Isaura (1925), ocorre uma das primeiras tentativas de formulação de ideias estéticas modernas em nosso país. Nessa conferência, o autor antevê a importância de temperar o processo de importação da estética moderna com o nativismo, o movimento de voltar-se para as raízes da cultura popular brasileira. A dinâmica entre nacional e internacional torna-se a questão principal desses artistas nos anos subsequentes à Semana.
Com respeito à elaboração e à apresentação de uma linguagem verdadeiramente moderna, a Semana de Arte Moderna de 1922 não representa um rompimento profundo na história da arte brasileira. No conjunto de qualidade irregular de obras expostas, não se identifica uma unidade de expressão, ou algo como uma estética radical do modernismo. No entanto, há de se reconhecer que, a despeito de todos os seus antagonismos, esse evento configura-se como um fato cultural fundamental para a compreensão do desenvolvimento da arte moderna no Brasil, sobretudo pelos debates públicos mobilizados (cercados por reações negativas ou de apoio) e pela riqueza de seus desdobramentos na obra de alguns de seus realizadores" (https://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento84382/semana-de-arte-moderna?gclid=Cj0KCQiAip-PBhDVARIsAPP2xc1BdefClIwIFTuIm6F6YYoRaeKYMwQ9Qs1poAvey4GtKkgSlP9XK7waAreFEALw_wcB).
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Críticas a Semana de Arte Moderna. In: revista A Cigarra, 15-02-1922. Acervo: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoria_imprensa/edicao_03/secao_cultura.php |