Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O DICIONÁRIO GEOGRÁFICO DE 1845


O militar francês Milliet de Saint-Adolphe é o autor do “Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil”, que foi publicado em Paris no ano de 1845. Neste ano, a população da cidade do Rio Grande era de aproximadamente 11 mil pessoas. A população do Império do Brasil era assim constituída: "brasileiros por nascimento ou adoção" somavam 60 mil; "estrangeiros de diversas nações", 25 mil; "escravos de toda cor e sexo", 85 mil; num total de "170 mil almas".
Milliet de Saint-Adolphe chegou ao Brasil em 1816, ano da missão artística francesa que retratou cenários do Brasil em representações pictográficas que hoje são clássicas. O autor ficou 26 anos no Brasil e realizou um amplo levantamento de informações sobre o país que se tornou independente de Portugal em 1822. Fundado no espírito de investigação iluminista, Saint-Adolphe viajou pelo Brasil e pesquisou informações históricas, geográficas, econômicas, populacionais e observações do cotidiano.
A cidade do Rio Grande foi contemplada no estudo com informações geográficas, históricas e econômicas.




Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil. Paris: J. P. Aillaud Editor, 1845.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

PALEOCLIMA E A CIVILIZAÇÃO MAIA


A dependência dos seres humanos das condições climáticas se expressa historicamente através da superação de condições adversas ou da extinção de civilizações. O desaparecimento  dos Maias é um exemplo do impacto das mudanças climáticas numa sociedade. O artigo de Edison Veiga “Seca que pode ter levado ao colapso da civilização maia provocou queda de até 70% nas chuvas” (https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979) aborda o artigo publicado na revista Science de autoria de cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade da Flórida. Segundo um dos autores: "Descobrimos que a precipitação média anual diminuiu em cerca de 41 a 54% em relação a hoje ao longo de várias décadas de seca. Períodos com até 70% de redução da precipitação podem ter ocorrido em períodos de tempo mais curtos dentro das secas", afirma o geoquímico Nicholas Evans, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, em entrevista à BBC News Brasil. Segundo ele, a pesquisa demonstrou que a umidade relativa diminuiu de 2 a 7% no período. "Nossos resultados podem agora ser usados para prever melhor como essas condições de seca podem ter afetado a agricultura, incluindo os rendimentos das culturas básicas dos maias, como o milho."
A teoria de que uma mudança climática por volta do ano 1000 teria levado a civilização ao colapso já havia sido apresentada anteriormente. Essa, entretanto, é a primeira vez que uma pesquisa mostra o quão seca foi essa longa estiagem. O auge civilizatório do povo maia ocorreu entre anos 250 e 950, quando população chegou a 13 milhões de habitantes
Segundo Edison Veiga, os pesquisadores reconstruíram a composição isotópica da água do lago Chichancanab, no México, a partir de núcleos de sedimentos de sulfato de cálcio hidratado. Eles mediram a presença de oxigênio e hidrogênio - ou seja, as moléculas da água - nesse material decantado há séculos, depositado como camadas no fundo do lago. Com isso, conseguiram um retrato meteorológico da época do declínio dos maias, entre os anos 800 e 1000. Os cientistas descobriram que, no período, a precipitação anual nas planícies maias foi reduzida em quase 50% em média - chegando a picos de 70%.
Nos últimos anos, a versão climática tem ganhado força, sobretudo por conta de indícios encontrados por cientistas no solo e no fundo de lagos mexicanos. "Outros estudos em toda a região das planícies maias também fornecem pistas de sincronicidade da seca, com apenas pequenas variações temporais em toda a região. Não podemos dizer se essa seca foi experimentada em outras áreas do planeta", ressalta o cientista Nicholas Evans.
A hipótese da escassez de água devido a longa estiagem já fora defendida em 1994 pelo arqueólogo Richardson Benedict Gill. Recentemente, estudos de geólogos e geógrafos da Universidade da Flórida concluíram que, na América Central, o intervalo mais seco dos últimos 7 mil anos ocorreu justamente entre os anos 800 e 1000 – coincidindo com o ocaso maia.
Veiga ressalta que uma longa seca não significa que a população maia morreu de sede - ou de fome, considerando a decadência da atividade agrícola devido ao clima complicado. A estiagem não dizimou os maias, mas dispersou a civilização. Os centros populacionais foram sendo abandonados. Cada grupo tratou de buscar algum outro meio de vida. Foi um retrocesso do ponto de vista social. E por que essa seca teria ocorrido? De acordo com Nicholas Evans, é impossível chegar a uma única explicação: "Existem várias teorias, mas os dados não sustentam qualquer causa singular. Possíveis teorias incluem o desmatamento, mudanças na frequência dos ciclones tropicais, mudanças na frequência dos eventos El Niño e mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical, entre outros."
Para o pesquisador, não há razão para olharmos para o passado da civilização maia imaginando que algo semelhante possa ocorrer no futuro, em tempos de aquecimento global e outros descontroles. Pelo menos não pelas mesmas razões. "Não há ligações diretas entre a seca estudada e os períodos futuros de seca, já que a globalização hoje significa que os seres humanos são capazes de movimentar recursos hídricos e alimentares em todo o planeta, enquanto os maias eram dependentes de chuvas e viviam como uma sociedade agrícola local. Recursos hídricos, no entanto, são críticos para a sociedade humana, e sem água o mundo não seria capaz de funcionar. Outros cientistas preveem que a severidade da seca em regiões que já são suscetíveis a baixos níveis de chuva e altos níveis de evaporação provavelmente aumentará à medida que os humanos continuarem a influenciar o sistema climático", conclui Evans.(https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979).

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

ANTROPOCENO


      
       “Antropoceno: os desafios essenciais de um debate científico” é um artigo publicado no periódico Correio da Unesco, 2018-2. A autoria é de Liz-Rejane Issberner (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Philippe Léna (Muséum National d’Histoire Naturelle , em Paris). Trechos deste material será reproduzido a seguir e o texto completo pode ser acessado em https://pt.unesco.org/courier/2018-2/antropoceno-os-desafios-essenciais-um-debate-cientifico
Conforme os autores Liz-Rejane Issberner e Philippe Léna “o termo Antropoceno foi criado para levar em consideração o impacto da acelerada acumulação de gases de efeito estufa sobre o clima e a biodiversidade e, da mesma forma, dos danos irreversíveis causados pelo consumo excessivo de recursos naturais. Contudo, é preciso transformá-lo em uma nova época geológica. Enquanto o debate continua entre cientistas, ainda precisam ser encontradas soluções. Nós estamos, de fato, testemunhando uma forma coletiva de negação, que é o resultado de uma fé ingênua no progresso, de uma ideologia consumista e de poderosos lobbies econômicos.
A palavra Antropoceno aparece hoje no título de centenas de livros e artigos científicos, em milhares de citações, e seu uso continua a crescer nos meios de comunicação. Referindo-se à época em que as ações humanas começaram a provocar alterações biofísicas em escala planetária, ela foi criada nos anos 1980 pelo biólogo norte-americano Eugene Stoermer e popularizado na década de 2000 por Paul Crutzen (link is external), o cientista atmosférico holandês e vencedor do Prêmio Nobel de Química de 1995. Os especialistas constataram que essas alterações afastavam o Sistema Terra do relativo equilíbrio observado desde o início do Holoceno, há 11.700 anos. Para marcar o início dessa nova era, eles propuseram simbolicamente o ano de 1784, o ano em que o inventor escocês James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor com novas invenções, que também corresponde ao início da revolução industrial e da utilização dos combustíveis fósseis.
Parece haver um consenso de que vários parâmetros do Sistema Terra apresentam uma evolução recente além do espectro da variabilidade natural característica do Holoceno – agora, é mais ou menos aceito o uso do termo Antropoceno para caracterizar as mudanças que têm origem humana. Porém, um grupo de cientistas resolveu ir além de usar o termo como uma simples metáfora ou uma ferramenta prática e interdisciplinar, e propuseram que o Antropoceno seja considerado formalmente como uma nova época geológica, como o Holoceno e o Pleistoceno.
Um Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno (Anthropocene Working Group – AWG (link is external)) se encarregou de apresentar essa proposta à União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences – IUGS (link is external)). Contudo, para uma nova época ser aceita pelos estratigrafistas, é necessário existir uma ruptura observável e universal entre as camadas sedimentares de duas épocas. Embora o carbono antropogênico esteja presente em sedimentos desde os anos 1850, isso não foi considerado suficiente. Com isso, o AWG propõe mudança de época em 1950, ano a partir do qual vários componentes químicos e partículas de plástico de origem antrópica começaram a aparecer nos sedimentos. Nota-se que o ano de 1950 é também o início da grande aceleração. De qualquer forma, um eventual não reconhecimento do Antropoceno como época geológica não invalidaria em nada o uso científico do termo, como é o caso atualmente.
Apesar do seu curto período de existência, o conceito de Antropoceno gerou várias controvérsias – a própria denominação foi questionada. Historiadores e antropólogos colocaram em dúvida a referência a antropos, esse ser humano genérico. Afinal de contas, quem é o responsável pela transgressão dos limites biogeofísicos, senão o humano ocidental e um sistema socioeconômico específico? Daí a multiplicação de propostas alternativas como “Ocidentaloceno”, “Capitaloceno” etc. Outros, em particular especialistas da história mundial ou ambiental, pensam que não há uma descontinuidade ontológica, e que o caráter excepcional do crescimento ocidental (a “grande divergência”), deveria ser reposicionado no longo prazo. 
De acordo com eles, pelo menos durante os últimos 40 mil anos, o ser humano sempre causou um impacto crescente em seu ambiente. Ele contribuiu, por exemplo, para o desaparecimento da megafauna americana e australiana. Assim, alguns cientistas defendem um longo Antropoceno, dividido em subperíodos tais como a industrialização capitalista (1850-1950) e a grande aceleração. No entanto, a maioria concorda com a necessidade de se abandonar uma visão linear e determinista do tempo histórico.
Por que nós nos recusamos a ver isso? Podemos listar alguns fatores: a fé cega no progresso e no desenvolvimento – em outras palavras, em um sistema que aumenta indefinidamente a quantidade de riqueza disponível; poderosos interesses que se beneficiam dessa dinâmica e realizam um lobbying intenso; a crença na capacidade da ciência e da tecnologia para resolver todos os problemas e as externalidades negativas (como, por exemplo, a poluição); o controle do imaginário dos consumidores pela mídia, que cria uma ânsia pelo consumo individual, visando tanto ao conforto, quanto para se distinguir e ser reconhecido.
É surpreendente que as ciências humanas e sociais tenham permanecido durante muito tempo alheias a essa problemática, considerando que ela determinará o futuro da humanidade. Além de serem antropocêntricas por definição, essas disciplinas consideravam que esse campo de estudos pertencia, por excelência, às ciências da natureza. A emergência do conceito de Antropoceno confere a essas áreas a responsabilidade de investigar e explicar como as sociedades humanas foram capazes de provocar tal magnitude de transformações no modus operandi do planeta, bem como os diferentes impactos dessas transformações sobre o mapa terrestre. As ciências sociais e humanas terão de desenvolver e encampar novos objetos e conhecimentos para responder as questões típicas dessa nova época: desastres naturais, energias renováveis, esgotamento de recursos naturais, desertificação, ecocídio, poluição generalizada, migrações, injustiça social e ambiental.
Um dos grandes impasses do Antropoceno é que o seu enfrentamento implica lidar com a delicada questão da justiça ambiental. A mudança climática ampliará os riscos existentes e criará outros riscos para os sistemas naturais e humanos, sendo que tais riscos são distribuídos de forma desigual e geralmente são maiores para pessoas e grupos desfavorecidos. Porém, uma solução satisfatória para esse problema não é simples, pois os países apresentam diferentes graus de desenvolvimento, tamanho, população, recursos naturais etc.
Além disso, a pegada ecológica humana já excede em 50% a capacidade de regeneração e absorção do planeta, e 80% de sua população vive em países cuja biocapacidade já está abaixo de sua pegada ecológica. Um país como o Brasil – e outros países das Américas – ainda apresenta um superávit importante em termos de biocapacidade, embora já consuma 1,8 planeta. Contudo, 26% das suas emissões de GEE são devidas ao desmatamento. Uma parte significativa de sua pegada ecológica vem da exportação de produtos primários, que estão na origem de boa parte desse desmatamento. O sistema competitivo e globalizado procura se abastecer com o menor custo, estimulando o extrativismo em muitos países e a apropriação de terras (landgrabbing) em outros.
Mesmo se fosse possível parar imediata e completamente as emissões de CO2 dos países de alta renda, isso não seria o bastante para reduzir a pegada de carbono global de modo a se manter dentro dos limites impostos para a biosfera até 2050. Ou seja, apesar das consideráveis diferenças do tamanho de suas economias e de suas reservas de recursos naturais, todos os países deverão se empenhar no enfrentamento do problema mais urgente do Antropoceno: a redução drástica das emissões de GEE.
Isso é exatamente o que nos leva ao impasse que normalmente ressurge em todas as negociações internacionais: a busca por culpados, o que faz com que os países relutem em assumir compromissos, pelo receio de comprometer o seu crescimento econômico e seus empregos, assim como de contrariar interesses poderosos.
    Submersos em contradições, dilemas e ignorância, os gravíssimos problemas ambientais do Antropoceno não constam nas agendas nacionais e sociais com a prioridade que merecem. É como se a humanidade, entorpecida, aguardasse o fim do filme, onde os heróis apareceriam para resolver tudo e, assim, e seríamos todos felizes para sempre”, concluem Liz-Rejane Issberner e Philippe Léna.

INDÍGENAS DAS AMÉRICAS E A PEQUENA ERA DO GELO

A Pequena Era do Gelo': ilustração do século 17 mostra o rio Tâmisa, em Londres, congelado. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188. GETTY IMAGES. 


Cientistas da University College London (UCL), no Reino Unido levantaram uma hipótese para explicar a “Pequena Era do Gelo” (o resfriamento ocorrido entre 1500 e 1600): “a colonização das Américas no fim do século 15 matou tanta gente que afetou o clima na Terra”. Os pesquisadores afirmam que o massacre decorrente da colonização europeia levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas, que acabaram sendo reflorestadas. A recuperação da vegetação tirou dióxido de carbono (CO) suficiente da atmosfera para resfriar o planeta.
Jonathan Amos, correspondente da BBC Ciência aborda este tema em matéria do dia 31 de janeiro de 2019 (https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188). "O massacre dos povos indígenas das Américas levou ao abandono de áreas desmatadas suficientes para afetar a absorção de carbono terrestre, com impacto que pôde ser observado tanto no dióxido de carbono na atmosfera quanto na temperatura do ar na superfície da Terra", escreveram Alexander Koch, um dos autores da pesquisa, e seus colegas no estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews.
A pesquisa foi baseada numa revisão de dados populacionais referentes as Américas antes da chegada dos europeus a partir de 1492. Também avaliaram como os números mudaram nas décadas seguintes, à medida que os continentes foram devastados por doenças (varíola, sarampo, etc.), guerras, escravidão e questões sociais. No final do século 15, a estimativa é de que 60 milhões de pessoas viviam nas Américas (cerca de 10% da população total do planeta), e que este número foi reduzido a apenas cinco ou seis milhões em apenas cem anos. Eles calcularam a quantidade de terra cultivada por povos indígenas que teria caído em desuso, e qual seria o impacto se essas terras fossem substituídas por florestas e savanas. A área em questão teria cerca de 56 milhões de hectares, quase o mesmo tamanho de um país moderno como a França. Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm (isto é, de 7-10 moléculas de CO para cada um milhão de moléculas no ar).
Conforme Jonathan Amos, os pesquisadores associam a forte queda no CO que levou ao resfriamento global com o genocídio dos índios das Américas! Uma das bases da investigação foi a análise da queda nos níveis globais de dióxido de carbono é registrada nas bolhas de ar presas em amostras de núcleos de gelo. “A queda no CO após o despovoamente no continente americano é evidente em amostras coletadas de núcleo de gelo da Antártida. “As bolhas de ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de dióxido de carbono nesse período. A composição atômica do gás também sugere fortemente que o declínio é impulsionado por processos no solo em algum lugar do planeta. Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registros de reservas de carvão e pólen nas Américas. Eles mostram o tipo de efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural”.
Para Ed Hawkins, professor de ciência do clima da Universidade de Reading, no Reino Unido "os cientistas entendem que a chamada Pequena Era do Gelo foi causada por vários fatores - uma queda nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, uma série de grandes erupções vulcânicas, mudanças no uso da terra e um declínio temporário da atividade solar. Este novo estudo demonstra que a queda no CO aconteceu em parte devido à colonização das Américas e o consequente colapso da população indígena, que permitiu que a vegetação natural voltasse a crescer. Isso mostra que as atividades humanas afetaram o clima muito antes do início da revolução industrial".

AQUECIMENTO GLOBAL



Matéria publicada em 7 de fevereiro de 2019 por Matt McGrath “Aquecimento global: década pode ser a mais quente da história” (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47152178) enfatiza que a atual década pode ser a mais quente já registrada. O ano passado, 2018, foi o quarto ano mais quente já registrado!
O estudo foi realizado pelo Met Office (o serviço meteorológico do governo britânico) que possui registros das temperaturas desde 1850. A projeção é que as temperaturas nos próximos cinco anos estarão até 1°C mais altas do que aquelas observadas no período pré-revolução industrial. Há uma pequena possibilidade de que um destes anos registre temperaturas até 1,5°C maiores o que é tido como um limite crítico para caracterizar o aquecimento global. Conforme o Met Office  o período de 2014 até 2023 será a década mais quente nos 150 anos de dados da agência. O ano mais quente já registrado foi o de 2015 quando a média global da superfície da Terra atingiu 1°C acima dos níveis pré-revolução industrial. "Acabamos de fazer as previsões deste ano e elas vão até 2023 e o que sugerem é um rápido aquecimento global", disse o professor Adam Scaife, chefe de previsão de longo prazo do Met Office. "Olhando individualmente para cada ano nessa previsão, podemos ver agora, pela primeira vez, que há o risco de uma superação temporária, e repito, temporária, do limiar de 1,5°C estabelecido no acordo climático de Paris." As previsões indicam um risco significativo de chegar, de forma temporária, a 1,5° nos próximos cinco anos: "O fato de que isso possa acontecer nos próximos anos devido a uma combinação de aquecimento geral e flutuações devido a eventos como os do El Niño significa que estamos chegando perto desse limiar", afirmou Scaife.
Conforme Matt McGrath, segundo o Met Office, “de 2019 a 2023, veremos temperaturas variando de 1,03°C a 1,57°C acima do nível de 1850-1900, com aumento do aquecimento em grande parte do globo, especialmente em áreas como o Ártico (...). Se as observações do Met Office para os próximos cinco anos corresponderem às expectativas, a década entre 2014 e 2023 será a mais quente em mais de 150 anos de registros”.

Gráfico da Nasa mostra anomalias na temperatura global entre 2014 e 2018 - as temperaturas superiores a tendências de longo prazo são mostradas em vermelho. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47152178


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

A CARTOGRAFIA EM SILVA PAES

Plano do Rio Grande de São Pedro em 1737 por Silva Paes. Acervo:   http://acervo.redememoria.bn.br


       O endereço eletrônico do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (http://www.ihgrgs.org.br) destacou o papel de cartógrafos setecentistas portugueses. Entre estes está o Brigadeiro José da Silva Paes que teve um papel decisivo na fundação e na organização político-administrativa quando da ocupação e povoamento da atual cidade do Rio Grande.
O trecho referente a Silva Paes será reproduzido a seguir.
“Nasceu em Lisboa, em 1679, faleceu na mesma cidade em 1760. Formou-se na Aula de Arquitetura Militar de Lisboa, ingressou no Exército, servindo na Infantaria e chegando ao posto de coronel-engenheiro agregado, em 1723. Foi destacado pelo Conselho Ultramarino para acompanhar as obras do aqueduto da Carioca.
     Em 1736, foi designado pelo Vice-rei, Gomes Freire de Andrade, para comandar uma expedição à Colônia do Sacramento, cercada pelos espanhóis. Entre os objetivos da expedição estavam: expulsar os espanhóis da região de Montevidéu; levantar o cerco inimigo sobre a Colônia e fundar um presídio em Rio Grande, a meio caminho entre Santa Catarina e Colônia. Entretanto, a expedição, iniciada em 1. 736, não conseguiu lograr seu primeiro objetivo, pois os espanhóis já se encontravam bem fortificados na região. Quanto ao segundo, seu êxito foi relativo, pois juntamente, com o governador de Colônia conseguiu expulsar e destruir acampamentos espanhóis na região; porém frente à negativa de um dos chefes da esquadra, desistiu do ataque a Buenos Aires. Retornando de Colônia, tentou ancorar em Maldonado, para ali fundar uma base portuguesa, porém desistiu do intento devido à falta de água e lenha na região e à pouca amplitude da baía para a proteção dos navios. Desse modo, fixou-se em executar o terceiro objetivo, chegando a Barra do Rio Grande e desembarcando em 19 de fevereiro de 1737, para fundar e construir o Forte Jesus-Maria-José, que deu origem à Vila de Rio Grande.
      Como engenheiro militar, Silva Paes já havia realizado inúmeros trabalhos, destacando-se especialmente na construção de projetos militares, como o projeto defensivo da Baía da Guanabara, iniciado em 1735, que constituía-se na planta da Fortaleza do Patriarca São José da Ilha das Cobras, que tornava inacessíveis as escarpas da ilha, dando-lhe um aspecto de um castelo elevado. Neste projeto a defesa ficava integrada por três fortes: o de São José, em cujo terrapleno estavam compreendidas as edificações de serviço, como a Casa do Governador, capela, casa da pólvora e corpo da guarda; o do Pau da Bandeira, aproximadamente ao centro da ilha; e o de Santo Antônio, na ponta alongada e mais baixa, na direção da Ilha dos Ratos, hoje Ilha Fiscal.
Foi o primeiro governador da capitania de Santa Catarina, de 7 de março de 1739 a 25 de agosto de 1743, reassumindo o governo de 20 de março de 1746 a 2 de fevereiro de 1749. Ali projetou e construiu as fortalezas que constituíram o sistema de defesa da ilha de Santa Catarina, composto de quatro fortes, ao norte: São José da Ponta Grossa, Anhatomirim e Ratones; e ao sul, Conceição de Araçatuba. 
Entre os seus trabalhos cartográficos estão:
a) Planta das fortificações da Barra de Santos e da Fortaleza de Itapema, em 1735 ou 1736;
b) Planta topográfica da Praça da Nova Colônia do Sacramento, em 1736; 
c) Levantamento topográfico da costa referente ao trecho da Lagoa Mirim e da Barra de Rio Grande, em 1737.
O século XVIII foi fundamental para o desenvolvimento da cartografia portuguesa. A formação dos engenheiros militares e a sua atuação dos mesmos na colônia foram fatores decisivos para o conhecimento da natureza brasileira. Para o historiador José Honório Rodrigues, a chamada “cartografia dos limites”, com a assinatura dos Tratados de 1750 e 1777, "delineou com extraordinários resultados o corpo físico do Brasil. São verdadeiros monumentos cartográficos que elucidam complicadas questões de limites".
Em pleno século das luzes, o racionalismo e o cientificismo imperavam e dominavam não só as Universidades, mas os próprios governos através da doutrina do despotismo esclarecido. Nesta doutrina para a nação alcançar a soberania era necessário dominar a natureza e isto só poderia ocorrer pelo conhecimento. Assim a premissa do período: a natureza deve se subordinar à razão pelo exato conhecimento: a razão só pode avançar apoiada na realidade. 
Assim o acervo cartográfico elaborado pelos cartógrafos portugueses possibilitou a criação de uma estratégia de defesa, segundo a qual redes de fortificações começaram a se estruturar e  núcleos urbanos começaram a se consolidar, permitindo a definitiva ocupação da colônia, de seus sertões e não apenas do litoral (http://www.ihgrgs.org.br/mapoteca/cd_mapas_rs/CD/Cartografos.htm).


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A ILHA DOS MARINHEIROS


A Ilha dos Marinheiros atraiu a atenção das autoridades portuguesas desde o esboço das primeiras plantas em 1737. Em 1739, a Ilha foi dividida pelo comandante do Rio Grande André Ribeiro Coutinho em três sesmarias pertencentes a Antônio dos Anjos, Antônio Araújo Vilella e Antônio Pereira de Farias, que deveriam conter a derrubada indiscriminada da mata nativa. Porém, em 1744, a propriedade da Ilha foi alterada, passando para Marçal da Silva Veiga. Em Rio Grande, na indisponibilidade de material de pedra, as fortificações e residências acabavam sendo construídas com madeira, arbustos e lama. A restrita disponibilidade de madeira em Rio Grande fez com que as autoridades buscassem na mata nativa da Ilha dos Marinheiros o suprimento necessário, inclusive para a população sobreviver as baixas temperaturas do inverno. Não causa estranheza que um mapa de 1737 de autoria de Silva Paes, assinala a presença da Ilha na cartografia lusitana da época (denominada de Ilha do Marinheyro). Uma embarcação era destacada para conduzir soldados que retirariam madeira e trariam para o consumo em Rio Grande. Além da madeira, a qualidade da água da Ilha passou a ser apreciada pela população da Vila do Rio Grande. Com a invasão espanhola na Vila, a exploração de madeira pode ter se intensificado.
No século 18 e 19, a Ilha dos Marinheiros era constituída por uma extensa planície arenosa com pequenas elevações, apresentando vegetação rasteira e capões de mato. Atualmente é constituída por uma grande planície arenosa e extensos cordões de dunas em sua parte interior. A cobertura vegetal ficou bastante reduzida e as dunas chegaram a 10 metros de altura invadindo áreas agriculturáveis desde a década de 1930. Antes de uma ocupação humana mais intensificada, a Ilha foi descrita no jornal Diário do Rio Grande em 1853 como um espaço paradisíaco que precisava ser conhecido pelos moradores da então Vila do Rio Grande de São Pedro. O grande desafio em meados do século 19 era o de ligar a Ilha com a cidade através de uma ponte. As discussões e a cotização financeira acabaram não se realizando antes do final do século 20.
Nos últimos anos a Ilha tem sido redescoberta pela população com o surgimento de locais de gastronomia portuguesa e de frutos do mar, camping, lazer e trilha ecológica, nas proximidades do Santuário de Nossa Senhora de Lourdes (Porto do Rei) ou em outros locais da Ilha. Uma alternativa que tem se consolidado de veraneio/turismo voltado a “água doce” junto a Lagoa das Noivas ou nas margens da Lagoa dos Patos.