Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

PALEOCLIMA E A CIVILIZAÇÃO MAIA


A dependência dos seres humanos das condições climáticas se expressa historicamente através da superação de condições adversas ou da extinção de civilizações. O desaparecimento  dos Maias é um exemplo do impacto das mudanças climáticas numa sociedade. O artigo de Edison Veiga “Seca que pode ter levado ao colapso da civilização maia provocou queda de até 70% nas chuvas” (https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979) aborda o artigo publicado na revista Science de autoria de cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade da Flórida. Segundo um dos autores: "Descobrimos que a precipitação média anual diminuiu em cerca de 41 a 54% em relação a hoje ao longo de várias décadas de seca. Períodos com até 70% de redução da precipitação podem ter ocorrido em períodos de tempo mais curtos dentro das secas", afirma o geoquímico Nicholas Evans, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, em entrevista à BBC News Brasil. Segundo ele, a pesquisa demonstrou que a umidade relativa diminuiu de 2 a 7% no período. "Nossos resultados podem agora ser usados para prever melhor como essas condições de seca podem ter afetado a agricultura, incluindo os rendimentos das culturas básicas dos maias, como o milho."
A teoria de que uma mudança climática por volta do ano 1000 teria levado a civilização ao colapso já havia sido apresentada anteriormente. Essa, entretanto, é a primeira vez que uma pesquisa mostra o quão seca foi essa longa estiagem. O auge civilizatório do povo maia ocorreu entre anos 250 e 950, quando população chegou a 13 milhões de habitantes
Segundo Edison Veiga, os pesquisadores reconstruíram a composição isotópica da água do lago Chichancanab, no México, a partir de núcleos de sedimentos de sulfato de cálcio hidratado. Eles mediram a presença de oxigênio e hidrogênio - ou seja, as moléculas da água - nesse material decantado há séculos, depositado como camadas no fundo do lago. Com isso, conseguiram um retrato meteorológico da época do declínio dos maias, entre os anos 800 e 1000. Os cientistas descobriram que, no período, a precipitação anual nas planícies maias foi reduzida em quase 50% em média - chegando a picos de 70%.
Nos últimos anos, a versão climática tem ganhado força, sobretudo por conta de indícios encontrados por cientistas no solo e no fundo de lagos mexicanos. "Outros estudos em toda a região das planícies maias também fornecem pistas de sincronicidade da seca, com apenas pequenas variações temporais em toda a região. Não podemos dizer se essa seca foi experimentada em outras áreas do planeta", ressalta o cientista Nicholas Evans.
A hipótese da escassez de água devido a longa estiagem já fora defendida em 1994 pelo arqueólogo Richardson Benedict Gill. Recentemente, estudos de geólogos e geógrafos da Universidade da Flórida concluíram que, na América Central, o intervalo mais seco dos últimos 7 mil anos ocorreu justamente entre os anos 800 e 1000 – coincidindo com o ocaso maia.
Veiga ressalta que uma longa seca não significa que a população maia morreu de sede - ou de fome, considerando a decadência da atividade agrícola devido ao clima complicado. A estiagem não dizimou os maias, mas dispersou a civilização. Os centros populacionais foram sendo abandonados. Cada grupo tratou de buscar algum outro meio de vida. Foi um retrocesso do ponto de vista social. E por que essa seca teria ocorrido? De acordo com Nicholas Evans, é impossível chegar a uma única explicação: "Existem várias teorias, mas os dados não sustentam qualquer causa singular. Possíveis teorias incluem o desmatamento, mudanças na frequência dos ciclones tropicais, mudanças na frequência dos eventos El Niño e mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical, entre outros."
Para o pesquisador, não há razão para olharmos para o passado da civilização maia imaginando que algo semelhante possa ocorrer no futuro, em tempos de aquecimento global e outros descontroles. Pelo menos não pelas mesmas razões. "Não há ligações diretas entre a seca estudada e os períodos futuros de seca, já que a globalização hoje significa que os seres humanos são capazes de movimentar recursos hídricos e alimentares em todo o planeta, enquanto os maias eram dependentes de chuvas e viviam como uma sociedade agrícola local. Recursos hídricos, no entanto, são críticos para a sociedade humana, e sem água o mundo não seria capaz de funcionar. Outros cientistas preveem que a severidade da seca em regiões que já são suscetíveis a baixos níveis de chuva e altos níveis de evaporação provavelmente aumentará à medida que os humanos continuarem a influenciar o sistema climático", conclui Evans.(https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979).

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