A dependência
dos seres humanos das condições climáticas se expressa historicamente através
da superação de condições adversas ou da extinção de civilizações. O
desaparecimento dos Maias é um exemplo
do impacto das mudanças climáticas numa sociedade. O artigo de Edison Veiga “Seca
que pode ter levado ao colapso da civilização maia provocou queda de até 70%
nas chuvas” (https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979)
aborda o artigo publicado na revista Science de autoria de cientistas da Universidade
de Cambridge e da Universidade da Flórida. Segundo um dos autores: "Descobrimos
que a precipitação média anual diminuiu em cerca de 41 a 54% em relação a hoje
ao longo de várias décadas de seca. Períodos com até 70% de redução da
precipitação podem ter ocorrido em períodos de tempo mais curtos dentro das
secas", afirma o geoquímico Nicholas Evans, do Departamento de Ciências da
Terra da Universidade de Cambridge, em entrevista à BBC News Brasil. Segundo
ele, a pesquisa demonstrou que a umidade relativa diminuiu de 2 a 7% no
período. "Nossos resultados podem agora ser usados para prever melhor como
essas condições de seca podem ter afetado a agricultura, incluindo os
rendimentos das culturas básicas dos maias, como o milho."
A teoria de
que uma mudança climática por volta do ano 1000 teria levado a civilização ao
colapso já havia sido apresentada anteriormente. Essa, entretanto, é a primeira
vez que uma pesquisa mostra o quão seca foi essa longa estiagem. O auge
civilizatório do povo maia ocorreu entre anos 250 e 950, quando população
chegou a 13 milhões de habitantes
Segundo Edison
Veiga, os pesquisadores reconstruíram a composição isotópica da água do lago
Chichancanab, no México, a partir de núcleos de sedimentos de sulfato de cálcio
hidratado. Eles mediram a presença de oxigênio e hidrogênio - ou seja, as
moléculas da água - nesse material decantado há séculos, depositado como
camadas no fundo do lago. Com isso, conseguiram um retrato meteorológico da
época do declínio dos maias, entre os anos 800 e 1000. Os cientistas
descobriram que, no período, a precipitação anual nas planícies maias foi
reduzida em quase 50% em média - chegando a picos de 70%.
Nos últimos
anos, a versão climática tem ganhado força, sobretudo por conta de indícios
encontrados por cientistas no solo e no fundo de lagos mexicanos. "Outros
estudos em toda a região das planícies maias também fornecem pistas de
sincronicidade da seca, com apenas pequenas variações temporais em toda a
região. Não podemos dizer se essa seca foi experimentada em outras áreas do
planeta", ressalta o cientista Nicholas Evans.
A hipótese da
escassez de água devido a longa estiagem já fora defendida em 1994 pelo arqueólogo
Richardson Benedict Gill. Recentemente, estudos de geólogos e geógrafos da
Universidade da Flórida concluíram que, na América Central, o intervalo mais
seco dos últimos 7 mil anos ocorreu justamente entre os anos 800 e 1000 –
coincidindo com o ocaso maia.
Veiga ressalta
que uma longa seca não significa que a população maia morreu de sede - ou de
fome, considerando a decadência da atividade agrícola devido ao clima
complicado. A estiagem não dizimou os maias, mas dispersou a civilização. Os
centros populacionais foram sendo abandonados. Cada grupo tratou de buscar
algum outro meio de vida. Foi um retrocesso do ponto de vista social. E por que
essa seca teria ocorrido? De acordo com Nicholas Evans, é impossível chegar a
uma única explicação: "Existem várias teorias, mas os dados não sustentam
qualquer causa singular. Possíveis teorias incluem o desmatamento, mudanças na
frequência dos ciclones tropicais, mudanças na frequência dos eventos El Niño e
mudanças na posição da Zona de Convergência Intertropical, entre outros."
Para o
pesquisador, não há razão para olharmos para o passado da civilização maia
imaginando que algo semelhante possa ocorrer no futuro, em tempos de
aquecimento global e outros descontroles. Pelo menos não pelas mesmas razões. "Não
há ligações diretas entre a seca estudada e os períodos futuros de seca, já que
a globalização hoje significa que os seres humanos são capazes de movimentar
recursos hídricos e alimentares em todo o planeta, enquanto os maias eram
dependentes de chuvas e viviam como uma sociedade agrícola local. Recursos
hídricos, no entanto, são críticos para a sociedade humana, e sem água o mundo
não seria capaz de funcionar. Outros cientistas preveem que a severidade da
seca em regiões que já são suscetíveis a baixos níveis de chuva e altos níveis
de evaporação provavelmente aumentará à medida que os humanos continuarem a
influenciar o sistema climático", conclui Evans.(https://www.bbc.com/portuguese/geral-45039979).
Frederick Catherwood - Views of Ancient Monuments in Central America, Chiapas, and Yucatan by Frederick Catherwood, London, 1844. |
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