A Pequena Era do Gelo': ilustração do século 17 mostra o rio Tâmisa, em Londres, congelado. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188. GETTY IMAGES. |
Cientistas da
University College London (UCL), no Reino Unido levantaram uma hipótese para
explicar a “Pequena Era do Gelo” (o resfriamento ocorrido entre 1500 e 1600): “a
colonização das Américas no fim do século 15 matou tanta gente que afetou o
clima na Terra”. Os pesquisadores afirmam que o massacre decorrente da
colonização europeia levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas,
que acabaram sendo reflorestadas. A recuperação da vegetação tirou dióxido de
carbono (CO₂) suficiente
da atmosfera para resfriar o planeta.
Jonathan Amos,
correspondente da BBC Ciência aborda este tema em matéria do dia 31 de janeiro
de 2019 (https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188).
"O massacre dos povos indígenas das Américas levou ao abandono de áreas
desmatadas suficientes para afetar a absorção de carbono terrestre, com impacto
que pôde ser observado tanto no dióxido de carbono na atmosfera quanto na
temperatura do ar na superfície da Terra", escreveram Alexander Koch, um
dos autores da pesquisa, e seus colegas no estudo publicado na revista
científica Quaternary Science Reviews.
A pesquisa foi
baseada numa revisão de dados populacionais referentes as Américas antes da
chegada dos europeus a partir de 1492. Também avaliaram como os números mudaram
nas décadas seguintes, à medida que os continentes foram devastados por doenças
(varíola, sarampo, etc.), guerras, escravidão e questões sociais. No final do
século 15, a estimativa é de que 60 milhões de pessoas viviam nas Américas (cerca
de 10% da população total do planeta), e que este número foi reduzido a apenas
cinco ou seis milhões em apenas cem anos. Eles calcularam a quantidade de terra
cultivada por povos indígenas que teria caído em desuso, e qual seria o impacto
se essas terras fossem substituídas por florestas e savanas. A área em questão
teria cerca de 56 milhões de hectares, quase o mesmo tamanho de um país moderno
como a França. Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO₂ suficiente do ar para a concentração do gás
na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm (isto é, de 7-10 moléculas de CO₂ para cada um milhão de moléculas no ar).
Conforme
Jonathan Amos, os pesquisadores associam a forte queda no CO₂ que levou ao resfriamento global com o
genocídio dos índios das Américas! Uma das bases da investigação foi a análise
da queda nos níveis globais de dióxido de carbono é registrada nas bolhas de ar
presas em amostras de núcleos de gelo. “A queda no CO₂ após o despovoamente no continente americano
é evidente em amostras coletadas de núcleo de gelo da Antártida. “As bolhas de
ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de
dióxido de carbono nesse período. A composição atômica do gás também sugere
fortemente que o declínio é impulsionado por processos no solo em algum lugar
do planeta. Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com
os registros de reservas de carvão e pólen nas Américas. Eles mostram o tipo de
efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande
crescimento da vegetação natural”.
Para Ed
Hawkins, professor de ciência do clima da Universidade de Reading, no Reino
Unido "os cientistas entendem que a chamada Pequena Era do Gelo foi
causada por vários fatores - uma queda nos níveis de dióxido de carbono na
atmosfera, uma série de grandes erupções vulcânicas, mudanças no uso da terra e
um declínio temporário da atividade solar. Este novo estudo demonstra que a
queda no CO₂ aconteceu em
parte devido à colonização das Américas e o consequente colapso da população
indígena, que permitiu que a vegetação natural voltasse a crescer. Isso mostra
que as atividades humanas afetaram o clima muito antes do início da revolução
industrial".
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