Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

INDÍGENAS DAS AMÉRICAS E A PEQUENA ERA DO GELO

A Pequena Era do Gelo': ilustração do século 17 mostra o rio Tâmisa, em Londres, congelado. Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188. GETTY IMAGES. 


Cientistas da University College London (UCL), no Reino Unido levantaram uma hipótese para explicar a “Pequena Era do Gelo” (o resfriamento ocorrido entre 1500 e 1600): “a colonização das Américas no fim do século 15 matou tanta gente que afetou o clima na Terra”. Os pesquisadores afirmam que o massacre decorrente da colonização europeia levou ao abandono de imensas áreas de terras agrícolas, que acabaram sendo reflorestadas. A recuperação da vegetação tirou dióxido de carbono (CO) suficiente da atmosfera para resfriar o planeta.
Jonathan Amos, correspondente da BBC Ciência aborda este tema em matéria do dia 31 de janeiro de 2019 (https://www.bbc.com/portuguese/geral-47069188). "O massacre dos povos indígenas das Américas levou ao abandono de áreas desmatadas suficientes para afetar a absorção de carbono terrestre, com impacto que pôde ser observado tanto no dióxido de carbono na atmosfera quanto na temperatura do ar na superfície da Terra", escreveram Alexander Koch, um dos autores da pesquisa, e seus colegas no estudo publicado na revista científica Quaternary Science Reviews.
A pesquisa foi baseada numa revisão de dados populacionais referentes as Américas antes da chegada dos europeus a partir de 1492. Também avaliaram como os números mudaram nas décadas seguintes, à medida que os continentes foram devastados por doenças (varíola, sarampo, etc.), guerras, escravidão e questões sociais. No final do século 15, a estimativa é de que 60 milhões de pessoas viviam nas Américas (cerca de 10% da população total do planeta), e que este número foi reduzido a apenas cinco ou seis milhões em apenas cem anos. Eles calcularam a quantidade de terra cultivada por povos indígenas que teria caído em desuso, e qual seria o impacto se essas terras fossem substituídas por florestas e savanas. A área em questão teria cerca de 56 milhões de hectares, quase o mesmo tamanho de um país moderno como a França. Acredita-se que esta escala de renovação do solo absorveu CO suficiente do ar para a concentração do gás na atmosfera apresentar uma queda de 7-10ppm (isto é, de 7-10 moléculas de CO para cada um milhão de moléculas no ar).
Conforme Jonathan Amos, os pesquisadores associam a forte queda no CO que levou ao resfriamento global com o genocídio dos índios das Américas! Uma das bases da investigação foi a análise da queda nos níveis globais de dióxido de carbono é registrada nas bolhas de ar presas em amostras de núcleos de gelo. “A queda no CO após o despovoamente no continente americano é evidente em amostras coletadas de núcleo de gelo da Antártida. “As bolhas de ar presas nessas amostras congeladas revelam uma queda na concentração de dióxido de carbono nesse período. A composição atômica do gás também sugere fortemente que o declínio é impulsionado por processos no solo em algum lugar do planeta. Além disso, os cientistas da UCL argumentam que a tese coincide com os registros de reservas de carvão e pólen nas Américas. Eles mostram o tipo de efeito esperado do declínio no uso do fogo no manejo da terra e um grande crescimento da vegetação natural”.
Para Ed Hawkins, professor de ciência do clima da Universidade de Reading, no Reino Unido "os cientistas entendem que a chamada Pequena Era do Gelo foi causada por vários fatores - uma queda nos níveis de dióxido de carbono na atmosfera, uma série de grandes erupções vulcânicas, mudanças no uso da terra e um declínio temporário da atividade solar. Este novo estudo demonstra que a queda no CO aconteceu em parte devido à colonização das Américas e o consequente colapso da população indígena, que permitiu que a vegetação natural voltasse a crescer. Isso mostra que as atividades humanas afetaram o clima muito antes do início da revolução industrial".

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