Ritualizar
os fazeres cotidianos e dar sentido a existência com o recurso ao sobrenatural
e ao mítico foi fundamental para a sobrevivência humana! Das sociedades de
caçadores e coletores para as comunidades agrícolas dos últimos dez milênios,
radicais transformações se processaram e conduziram a tentativa humana de
dominar os ciclos do tempo e ritualizá-los com danças, cantos, oralidades e
festejos pagãos ou cristãos. As
colheitas ensejaram à criação de calendários a partir da observação da marcha
das estrelas e da sequência das estações do ano. Esta observação era essencial para propiciar ou inviabilizar os plantios ou as colheitas.
Festejar o Ano Novo é buscar, tal qual nos plantios, estar em sintonia com um ciclo de renovações em que o negativo/superado é deixado no passado e o novo passa a ser construído a partir do dia primeiro do ano que tem início. A domesticação do tempo passou pelo calendário onde a temporalidade é domesticada e convertida numa seqüência de dias e meses envoltos em datas festivas/religiosas/cívicas em que navegamos com mais segurança no complexo desenrolar de eventos que muitas vezes nos surpreendem e outras vezes nos arrastam: é a busca do equilíbrio frente aos eventos indomáveis que conduziram a busca filosófica e espiritual da sabedoria.
Os seres humanos são produtores de cultura material e imaterial que se manifesta, por vezes, em ritualizações e construções simbólicas da passagem do tempo enquanto uma marcha de superação das mazelas. A ilusão de transcendência flutua entre o ilusório e o necessário!
Empresas, inclusive em Rio Grande, distribuíam aos seus clientes calendários (ainda distribuem) e cartões de boas vindas ao novo ano. Alguns destes cartões reproduziam imagens de pontos turísticos da cidade. Neste sentido, as imagens de espaços públicos se voltavam ao passado daquilo que compunha o cotidiano local e que transmitia referenciais de segurança, de beleza, de ligação com gerações do passado/presente. O Ano Novo se alimentava desta caminhada anterior de referenciais de memória local e almejava manter vivo estes “lugares” materiais do dia-a-dia.
Cartões de 1951, 1952 e 1953 da Casa Foto. Acervo: papareia. |