|
Fritz, um relógio americano da década de 1870. Acervo: Luiz Henrique Torres. |
Desde de criança, eu ficava observando um relógio fixado na parede da sala de meus pais na cidade de Santa Maria. Na época, até saber o que dizia as informações em inglês (do funcionamento do relógio) era um procedimento difícil pela ausência da internet e do google tradutor.
Mas questionar a origem, o ano em que foi fabricado e qual o caminho que ele percorreu até ficar naquela parede, pressuponha a busca de sua história, pois ali poderia residir o sentido para sua confecção, comercialização e deslocamento por milhares de quilômetros de distância: do norte dos Estados Unidos para o extremo sul do Brasil.
É emocionante, para o historiador, quando um objeto passa a ter historicidade, ou seja, fazer parte de uma história. E o relógio, apelidado de Fritz, tinha uma história contada que envolvia imigrantes europeus (alemães), norte-americanos em tempos de Industrialização, navios e marinheiros que aportaram no Rio Grande do Sul a partir do Porto do Rio Grande e uma longa viagem de aventuras em espaços luso-brasileiros.
Esta longa viagem recua aos anos de 1870 e busquei, esboçando linhas gerais, traçar a trajetória de um objeto que fazia parte de uma história de grandes dimensões e que modificou o planeta, como nunca ocorrera nos 4 milhões de anos anteriores (desde o surgimento dos hominídeos).
Foram apenas 150 anos necessários para que os ecossistemas e os padrões climáticos começassem a se modificar frente a expansão populacional, os impactos ambientais provocados pelo processo industrial e sua capacidade de poluir em escala cada vez mais ampliada.
Já em 1975 o planeta chegava no nível crítico de emissão de CO2. Quem sabia disso? Eu e Fritz ignorávamos. Mas no presente a informação é disponível e asfixiante porém, parece não ser importante...
Este livro com a história de Fritz eu dei o título de A Longa Viagem de um Relógio. Ele continua meu companheiro e nasceu há 150 anos nos primórdios da Revolução Industrial que se tornará impactante e por isso chega a ser chamada de período pré-grande indústria (na década de 1880 é que iniciam medições de emissões atmosféricas). Ele é um personagem que acompanhou as origens tímidas da produção, do consumo e da conversão da matéria em mercadoria; hoje observa os efeitos da produção industrial desenfreada e do aumento populacional de 1,5 bilhão (1870) para 8 bilhões (2022). Consumidores, em diferentes padrões de consumo, aumentaram mais de 5 vezes no período.
Nunca o planeta sapiens mudou tanto como nos últimos 150 anos. O que aconteceu neste período (em especial, o surgimento de armamento nuclear) e os desafios para os próximos anos/décadas nos colocam numa situação muito difícil: o aquecimento global pode alimentar o enfrentamento/descontrole no uso bélico convencional e nuclear.
Em A Longa Viagem de um Relógio escrevi um pouco sobre esta trajetória da investigação da historicidade de um objeto. Ao fazer isto comecei a flertar que Fritz viveu um momento muito especial da história humana.
Convido a quem quiser conhecer o livro acessar aqui no blog ou pelo link:
https://drive.google.com/file/d/1NhtBO6ks-B1pvs9R-BblA1cIXxuWZoj8/view?usp=sharing