Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

O PRIMEIRO RELATO DA ELIMINAÇÃO DE UM VAMPIRO

 

Página do livro de William of Newburgh. Acervo: British Library. 

Uma crônica escrita no século XII é o mais antigo relato de eliminação de um vampiro. Ao se espalhar uma peste na cidade, alguns homens decidem que o responsável é um morto, considerado vampiro. Vão até sua a sepultura e o desenterram, levando-o para a floresta onde arrancam e despedaçam o coração, cortam a cabeça e queimam os restos (Claude Lecouteaux, Vampiros: autópsia de um mito, 2005:141-142). Nesta crônica William de Newbury (1136-1198) deixou registrado os procedimentos para eliminar um vampiro que neste caso, é um marido traído que volta depois de morto:

“À noite, com efeito, saindo de seu túmulo por obra de Satã, perseguido por um bando de cães soltando latidos horríveis, ele voltava às praças públicas e rondava as casas... Infectado pelas emanações deste corpo repelente, o ar enchia todas as casas de doentes e mortos, porque respiravam essa pestilência. Todos se reuniram em assembleia a pedido do padre local.

Enquanto essas pessoas comiam, dois irmãos, que tinham perdido o pai por causa dessa epidemia, tomaram a palavra e se encorajaram mutuamente: “esse monstro, diziam eles, causou a perda de nosso pai, e logo causará a nossa se não tomarmos cuidado. Pratiquemos um ato viril, não só por prudência para nos salvar, como para vingar a morte violenta de nosso pai. Nada nos impede, aproveitemos que na casa do padre estão no meio da refeição e toda cidade está calma como se estivesse deserta. Vamos desenterrar este flagelo e queimá-lo!”. Então, pegando uma enxada bem afiada, chegaram ao cemitério e se puseram a cavar. Depois de tirar muito pouca terra, quando pensavam dever cavar mais profundamente, o cadáver subitamente apareceu. Ele estava inchado a ponto de apresentar uma dimensão enorme, com um rosto vermelho e inflado para além de qualquer medida. A mortalha que o envolvia parecia ter sido dilacerada de dentro. Nada assustados, os rapazes animados pela cólera aplicaram um ferimento nesse corpo inanimado: imediatamente saiu tal quantidade de sangue que ficou evidente que ele tinha sido a sanguessuga de muitas pessoas. Os jovens arrastaram, então, o cadáver para fora da cidade e armaram rapidamente uma fogueira. Um deles disse que um cadáver portador de peste não podia queimar enquanto o seu coração não fosse extraído, então o outro abriu o flanco do corpo com repetidos golpes de sua enxada afiada, enfiou a mão e arrancou o coração maldito que foi feito em pedaços na mesma hora... A partir desse momento, após a destruição desta besta infernal, a peste que fazia furor entre a população se acalmou, como se o fogo, que tinha feito desaparecer o cadáver de maneira terrível, tivesse purificado o ar das impurezas devidas às perambulações do fantasma pestilento” (NEWBURY, reproduzido por LECOUTEAUX:141).

Portanto, na Inglaterra, há cerca de 1.000, ficou registrado um ritual anti-vampiro que fazia parte de crenças sobrenaturais muito mais antigas. 

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