Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 2 de julho de 2021

BAUDELAIRE E A VAMPIRA

 

Charles Baudelaire em 1855 na fotografia de Félix Nadar.  

O poeta Charles Baudelaire publicou em 1857 a coletânea de poemas "As Flores do Mal" (Les Fleurs du Mal) é uma referência da poesia moderna e simbolista. 

Um destes poemas é reproduzido a seguir, em tradução de Ivan Junqueira. O tema é a atuação noturna de uma vampira.  


As Metamorfoses do Vampiro


E no entanto a mulher, com lábios de framboesa,


Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,


E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,


Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:


- "A boca úmida eu tenho e trago em minha ciência


De no fundo de um leito afogar a consciência.


Sou como, a quem vê sem véus a imagem nua,


As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!


Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,


Quando um homem sufoco à borda dos meus lábios,


Ou quando o seio oferto ao dente que mordisca,


Ingênua ou libertina, apática ou arisca,


Que sobre tais coxins macios e envolventes


Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"




Quando após me sugar dos ossos a medula,


Para ela me voltei já lânguido e sem gula


À procura de um beijo, uma outra eu vi então


Em cujo ventre o pus se unia à podridão!




Os dois olhos fechei em trêmula agonia,


E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,


A meu lado, em lugar do manequim altivo,


No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,


Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,


Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos


Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,


Que nas noites de inverno ao vento se balança.


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