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Charles Baudelaire em 1865 na fotografia de Charles Neyt, Brussels. |
No poema "A Uma Passante" publicado na secção "Quadros Parisienses" do livro "As Flores do Mal" (1857), Charles Baudelaire recorda a passagem de uma mulher por uma rua agitada da capital francesa em meados do século XIX. Descreve o encontro no pensamento e o distanciamento no plano real. O poeta magistralmente lapida a agitada urbanidade, o seu estado de espírito de flaneur e a impossibilidade da aproximação com a passante.
A UMA PASSANTE
(Tradução de Guilherme de Almeida)
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;
Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.
Brilho... e a noite depois! – Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?
Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!
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