Caligari de Alexandre Teles. |
Caligari de Alexandre Teles. |
O filme “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920) é
um dos maiores clássicos do expressionismo alemão. Este filme mudo alemão de
horror foi dirigido por Robert Wiene e escrito por Hans Janowitz e Carl Mayer. O
filme é considerado o primeiro verdadeiro filme de horror (Roger Ebert), o
primeiro cult movie (Danny Peary) e a primeira obra de arte da história do
cinema (Siegfried Kracauer).
O “Gabinete...” é uma metáfora da deformação visual, recorrendo a imagens de ruas
estreitas e distorcidas, telhados góticos e cubistas e prédios e objetos deformados. Reflexo de uma
alma torturada pelas experiências da Primeira Guerra Mundial e a derrota alemã.
No expressionismo
alemão a cenografia caótica e a distorção dos cenários nebulizam a realidade e
criam uma narrativa intimista e potencialmente ansiosa. “O expressionismo, nascido na Alemanha no final do
século XIX, é maior que a ideia de um movimento de arte, e antes de tudo, uma
negação ao mundo burguês. Seu surgimento contribuiu para refletir posições
contrárias ao racionalismo moderno e ao trabalho mecânico, através de obras que
combatiam a razão com a fantasia. Influenciados pela filosofia de Nietzsche e
pela teoria do inconsciente de Freud, os artistas alemães do início do século
fizeram a arte ultrapassar os limites da realidade, tornando-se expressão pura
da subjetividade psicológica e emocional” (Pedro MONTEIRO,
“O Expressionismo Recriando conceitos e valores”).
O artista
plástico e quadrinista Alexandre Teles buscou contar à história que transcorre
no filme, alterando apenas o prólogo e o epílogo. Em uma placa de metal ele
reproduziu frames do filme produzindo um resultado estético coerente com o
clássico alemão. Ele utilizou o monotipo que
é um tipo de gravura feita por desenho ou pintura sobre uma
superfície lisa, não absorvente. Monotipia é a técnica para transferir a imagem
para uma folha de papel, produzindo uma gravura única, pois, a maior parte da
tinta é removida na prensagem inicial. O processo foi inventado pelo pintor
italiano Giovanni Benedetto Castiglione na década de 1640. No caso de Teles,
ele utilizou à técnica de monotipia a maneira negra e o resultado foi trazer ao
leitor a morbidez do Gabinete do Dr. Caligari e com uma vantagem: o olhar pode
se prender aos detalhes das cenas o que nem sempre é possível frente à rapidez da
imagem em movimento do cinema.
O autor produziu 649 monótipos para reproduzir o filme buscando a
veracidade das imagens resultando num produto diferenciado em relação aos
modelos de graphic novel usuais.
Uma experiência para
os sentidos que merece ser conhecida.
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