Elevação do nível dos mares. Acervo: NASA. |
O relatório do MetOffice, Serviço Britânico
de Meteorologia, evidenciou que o aquecimento global persiste e avança para a
marca histórica de 1,02°C acima da média registrada entre 1850-1900. Hoje a
temperatura média do planeta é de 14°C e a mais de cem anos era de 13°C. As
hipóteses de desaceleração do aquecimento não se confirmam com os dados que vem
sendo coletados. Porém, como a emissão de CO2 (queima de combustível fóssil e
carvão) é cada vez mais intensa (desde a Revolução Industrial já foram lançados
2 mil giga toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera), os efeitos
esperados do aquecimento planetário deveriam ser ainda mais sentidos. Um estudo
de pesquisadores da Nasa publicado na revista Science buscou explicar onde foi
parar o excesso de calor do planeta e combater o discurso dos céticos do
aquecimento global (devido à elevação do nível dos mares e do degelo dos polos
ainda ser tímido). A hipótese é que o calor acumulado nos últimos anos na
atmosfera e pela água dos mares se deslocou para camadas mais profundas dos
oceanos. Os primeiros cem metros de profundidade resfriaram mas as águas mais
profundas de até 300 metros sofreram um aquecimento. Os pesquisadores acreditam
que esse calor deve voltar à superfície em curto prazo aumentado bruscamente a
temperatura global. Segundo eles, os oceanos são reguladores da temperatura do
planeta, temperatura que já poderia ter chegado a um preocupante aquecimento de
1,5°C.
O último mês de julho de 2015 foi o mais
quente na Terra desde que os registros começaram a ser feitos, conforme
informou a Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA,
sigla em inglês). Segundo o relatório da NOAA, nove dos dez meses mais quentes
ocorreram desde 2005, e os primeiros sete meses de 2015 são o período mais
quente de janeiro a julho desde que se têm registros. Possivelmente este será o
ano mais quente já registrado: "Esse recorde nos mostra que a Terra
continua aquecendo", analisou Jessica Blunden, especialista em clima da
NOAA, que enfatizou a elevação na temperatura acarretará em aumento do nível do
mar e no derretimento das geleiras. Para Blunden as atuais condições do
fenômeno climático El Niño "estão realçando o efeito do aquecimento global
que vemos com o passar do tempo". Para ela, é importante levar em conta
que as temperaturas "são só uma parte da história" e que a população
mundial já presencia as mudanças causadas por esse aumento. "Vimos
recentemente um recorde de temperatura no oceano, recorde no aumento dos níveis
do mar e recorde no degelo das geleiras de todo o mundo". Blunden também afirmou
que são cada vez "mais severas" as condições meteorológicas extremas
como "secas, ondas de calor e inundações" e enfatizou que nestes
incidentes é possível observar os "inúmeros" impactos das altas
temperaturas "na população e nos ecossistemas de todo o mundo".
O diretor da Agência Meteorológica Britânica,
Stephen Belcher, afirmou que as altas temperaturas registradas em 2015 mostram
a dimensão do impacto dos gases do efeito estufa. "Sabemos que tendências
naturais afetam as temperaturas globais todos os anos, mas as temperaturas
muito quentes deste ano indicam o impacto contínuo dos gases do efeito estufa
(produzidos pelo homem). Com o potencial de que o próximo ano seja tão quente
quanto este, fica claro que nosso clima continua mudando", completou.
Rowan Sutton, da Universidade de Reading,
também enfatizou que “mundialmente, 2014, 2015 e 2016 estarão entre os anos
mais quentes da história. Isso não é um acaso. Vemos os efeitos da energia
acumulados de forma constante nos oceanos e na atmosfera, e eles são causados
pelos gases do efeito estufa."
Duas tendências que afetam os
"padrões" climáticos a médio e longo prazo estão no oceano Pacífico. O
fenômeno do El Niño acontece quando uma corrente do Pacífico se inverte - algo
que ocorre a cada três, quatro ou cinco anos -, trazendo chuvas onde
normalmente há secas, e secas onde normalmente há chuvas. O El Niño tende a elevar
as temperaturas mundiais. Este fenômeno está se expressando de forma intensa e
semelhante ao de 1998 que provou bilhões de dólares em prejuízos no planeta. O El
Niño de 2015 poderá aumentar as secas na África do Sul, no leste da Ásia e nas
Filipinas – e pode trazer enchentes ao sul da América do Sul, como já
constatamos no Rio Grande do Sul.
Projeções para o
aumento de temperatura até o final do século XXI não são nada animadoras com
uma elevação de 1,0 a 3,7°C. É preciso frear o aumento da temperatura pois se a
elevação chegar a 2,0°C isto significará 60 cm de aumento no nível dos oceanos
provocando o alagamento de áreas densamente povoadas em cidades litorâneas (desde
1850, o nível do mar subiu 20 cm).
Portanto, a
Conferência do Clima de Paris reunirá 190 países para novamente buscar um pacto
de sobrevivência no planeta. Como sempre, o momento será de difícil negociação
com os grandes emissores de CO2 como, por exemplo, a China (citado por ser o
mais difícil de ser sensibilizado) que não pretende entrar num processo
recessivo ao frear a sua produção industrial. Parece que as reações da natureza
deverão ser ainda mais contundentes para que “a voz da razão não estritamente
financeira” se faça ecoar para a sobrevivência humana neste planeta cada vez
mais aquecido.
*Matéria publicada no Jornal Agora no dia 17 de novembro de 2015.
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