Cartaz da Conferência de Paris. |
Paris está na mídia mundial por conta dos atentados que ocorreram na última sexta-feira 13. O choque do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos até hoje é uma referência para a chamada “guerra ao terror”. Em Nova Iorque o grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda se responsabilizou pelos ataques suicidas. Em Paris, o grupo fundamentalista Estado Islâmico (cisão do al-Qaeda) assumiu a autoria dos múltiplos ataques e poderá desencadear um novo cenário vigiado para a capital internacional do turismo e para as fronteiras de países europeus. O combate ao terrorismo deverá se manter por um longo período e uma nova geopolítica dos deslocamentos de contingentes humanos deve ser implementada. Num dos piores períodos para o fluxo de refugiados em direção a Europa, o terrorismo poderá ser um fator devastador para milhões de pessoas que fogem da guerra civil na Síria, da violência no Afeganistão e na Eritréia, da miséria de outros países. A preocupação é a infiltração de terroristas junto aos refugiados e como se dará a inserção de grande número de refugiados nas economias destes países. O período é de turbulência e a preocupação com novos atentados passou a ser o objetivo primordial de países europeus ao lado de um combate diuturno contra o Estado Islâmico.
Este cenário
de guerra é que será encontrado pelos participantes da Conferência do Clima
(COP 21) a ser realizada em Paris entre 30 de novembro e 11 de dezembro. Pelo
menos 117 chefes de governo participarão do evento que tem por objetivo firmar
um pacto, através da Organização
das Nações Unidas, para promover um amplo combate as transformações pelas quais passa o clima
mundial. As resoluções que forem tiradas permitiria que a partir de 2020, o acordo de Paris implementasse
amplos esforços para contenção das
emissões de gases do efeito estufa, diminuindo o aquecimento global. O objetivo
é chegar até 2100 com a elevação da temperatura global em até 2ºC (comparada ao
período pré-industrial) temperatura que em 2015 já chegou a 1°C de elevação.
Com o crescimento da população mundial e do mercado de consumo, as indústrias
queimando num crescendo carvão e petróleo, o cenário é promissor para a emissão
de gases de efeito estufa e para uma catalisação deste processo que modificará
negativamente a vida de grande parte dos habitantes do planeta, especialmente
os mais pobres.
O capitalismo acredita que inventou a
globalização como hoje está posta mas não há nada mais globalizante do que
modificações no clima. A ciência, a técnica e a sobrevivência serão postas em
cheque e toda a capacidade humana de adaptação às diversidades serão acionadas.
A insanidade de um crescimento populacional não sustentável no Planeta
acarretará em cenários de extrema miséria e conflitos por água e alimentos. A
poluição e acidificação dos oceanos está comprometendo os mananciais pesqueiros
e a sobrevivência de inumeráveis espécies. Hoje, as biodiversidades vão
desaparecendo frente a demandas de expansão econômicas, de mercados ou de
assentamentos populacionais destrutivos. Uma população de 7 bilhões e 271
milhões de habitantes, que aumenta em 3 pessoas por segundo, já não terá
excedido o limite racional da ocupação dos ecossistemas do planeta Terra?
O aquecimento
global poderá causar perdas econômicas radicais nos países mais pobres da África, Ásia, América do Sul e Oriente Médio,
podendo ocorrer grandes perdas no PIB per capita com as mudanças climáticas,
aumentando o fosso social entre países do norte e do sul do planeta.
Paris estará lutando contra o terrorismo
fundamentalista e contra o das mudanças climáticas. O segundo terror poderá
mudar as concepções de como vivemos e construímos a civilização nas próximas
décadas, podendo tornar obsoleto o nosso modo de vida. Não será apenas a
manutenção dos princípios emancipadores de liberdade, igualdade e fraternidade
(para quem fez a grande revolução burguesa – o Brasil fez?), mas os de água,
alimento e sobrevivência frente a eventos extremos (excesso de chuvas ou de
secas) e elevação do nível do mar (ocupando parte da planície costeira dos
continentes que são as áreas mais populosas do planeta).
Infelizmente, os resultados das conferencias
sobre o clima até hoje foram relativamente frustrantes. Afinal, é um processo
politizado que diz respeito à população mais ampla mas também as grandes
potências que medem suas possíveis perdas no processo global do capitalismo. O
custo de busca/utilização de outras alternativas de energia e a perda de fôlego
no mercado poderia ocasionar em falência e desemprego para milhões. Nesta
direção, o professor do Instituto de relações Internacionais da Universidade de
Brasília (UnB) é pouco otimista com a Conferência. Para ele os atores globais
da questão climática não tem metas suficientes para a descarbonização de suas
economias. “Por que Paris vai
produzir um acordo muito limitado? Porque no centro do sistema nós temos apenas
uma unidade, a União Europeia, que tem um compromisso consistente com a
descarbonização. Nós temos dois no meio, Estados Unidos e China com políticas
de descarbonização parcial, muito defasados com o que seria necessário. Por último,
temos a Índia, com um crescimento totalmente intensivo em carbono”. Para ele
colocar o acordo em prática e punir os países que desrespeitam as metas é
difícil pois “o nível de governança global é pobríssimo”. Na visão do
ex-presidente dos EUA Bill Clinton, não se deve esperar grandes acordos “mas
penso que como resultado da cúpula teremos mais investimentos em eficiência
energética e mais investimentos em energia limpa". Um indicador negativo
para a Conferência foi o comunicado do G20 (as maiores economias do planeta)
reunidos neste mês na Turquia que fez referências genéricas a meta de 2°C e não
enfatizou a descarbonização da economia global. Parece que a gravidade do processo
de aquecimento ainda não sensibilizou os poderosos...
Estamos repletos de contradições até por parte
da ONU que defende que 1 bilhão de pessoas que hoje não tem energia elétrica, tenham
garantido o acesso universal a
energia moderna e ao mesmo tempo deliberou em tomar medidas urgentes para combater
as mudanças climáticas. Entretanto, o setor energético é responsável por grande
parte das emissões mundiais de gases de efeito estufa, produzir tanta energia
com a matriz atual pode significar a aceleração das mudanças climáticas e não o
contrário!
A discussão
fundamental que se coloca é desenvolver formas alternativas de energia; reduzir
as emissões de gases de efeito estufa; promover um controle de natalidade
melhorando a qualidade de vida das pessoas; combater a poluição terrestre e
marinha; reciclar/tratar os resíduos industriais e biológicos; recuperar a
biodiversidade de ecossistemas agredidos pela intervenção humana. Em curto,
médio e longo prazo, talvez seja mais fácil e menos fantástico acreditar em
duendes e seres encantados da floresta...
*Matéria publicada no Jornal Agora em 24 de janeiro de 2015.
*Matéria publicada no Jornal Agora em 24 de janeiro de 2015.
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