Ruínas de indústrias próximas a Av. Portugal. Google Earth. |
Ruínas de estruturas industriais se espalham em várias áreas da cidade,
especialmente próximas às margens da Lagoa dos Patos. Falências, litígios
judiciais ou outros problemas como as crises econômicas e as dificuldades
financeiras públicas acabam não propiciando uma revitalização e construção de
uma nova funcionalidade para estes espaços.
O geógrafo Solismar Fraga Martins (Programa de Pós-Graduação em
Geografia FURG), em artigo, de forma pertinente aborda o tema e esclarece que o
conceito de friches industrielles “vem sendo cada vez mais
utilizado como forma de analisar os espaços industriais produtivos outrora e
que hoje não mais desempenham tal atividade representando “vazios industriais”.
Isso significa para as cidades fabris do passado ou que não mais dispõe de
fábricas na sua área urbana de ocupação intensiva, uma quantidade de grandes
estruturas industriais abandonadas ou com uma funcionalidade diferente daquela
para o qual foi concebida. Rio Grande como cidade industrial desde o final do
século XIX e com uma história econômica marcada por avanços e retrocessos em
sua economia fabril, representa um espaço significativo de análise para a
existência das friches industrielles” (Friches Industrielles no Extremo Sul do Brasil: uma análise sobre o
caso da Cidade do Rio Grande/RS. IX Colóquio Internacional de
Geocrítica. Porto Alegre, UFRGS, 2007).
Solismar ressalta que a compreensão de
como a cidade vai se estruturando e conformando sua paisagem a partir dos
processos históricos produtivos constitui um passo primordial, no sentido de
desvendar a lógica de desenvolvimento da cidade do Rio Grande, apontando alguns
componentes que se generalizam por diversos pontos territoriais, motivados
pelas oscilações de inserções contextuais dos diferentes períodos da economia
local.
Economicamente, Rio Grande pode ser contextualizado
na interação com o espaço portuário que propiciou uma forte presença do
comércio de exportação e importação desde a segunda década do século 19. O
parque industrial, em parte essencial, é fruto desta acumulação de capitais oriundo
daquele comércio marítimo nacional e internacional. Para o autor, “o período
áureo para a cidade estendeu-se de 1874, data da implantação do primeiro grande
parque fabril até 1930, quando transformações na economia nacional ditaram
novas mudanças locais na disputa de mercado com a economia fabril do centro do
país essencialmente São Paulo. Este importante ciclo industrial conheceu seu
declínio, fazendo com que a estagnação fabril de determinados setores acabasse
culminando no fechamento de várias empresas industriais nas décadas de 1950 e
1960, resultado da integração da economia nacional que prejudicava diretamente
o tipo de indústria que em Rio Grande havia se instalado no período
da industrialização dispersa. Isso também trouxe novas formas de ocupação
espacial para a cidade, pondo fim à cidade planejada pela municipalidade sob
inspiração do urbanismo francês, cedendo lugar a todo tipo de especulação
fundiária sob os ditames da iniciativa privada e com participação direta das
empresas fabris em crise”.
Rio Grande chegou a apresentar 30 indústrias
com mais de 100 operários reduzidas no presente a apenas 5. Esses parques
industriais, apesar de não terem mais a funcionalidade original podem ainda ser
ocupados como depósitos, comércio, serviços etc, porém, a maioria está
abandonada ou em ruínas. O exemplo que mais salta aos olhos é o do complexo
Rheingantz que possui uma área de 143.000 m² (construída de 43.000 m²). Nas
imediações da Avs. Portugal e Henrique Pancada, adentrando no Bosque, é
possível observar várias destas estruturas industriais, especialmente ligadas
ao ciclo da indústria pesqueira das décadas de 1950-1980.
Para o autor, os efeitos de ordem visual
estão diretamente ligados à degradação do espaço, ou seja, grandes espaços sem
função que acabam trazendo consequências para aquela área da cidade em termos
espacial e econômica, devido à desvalorização dos terrenos ou imóveis contíguos
ou mesmo próxima a cada friche. Os efeitos de ordem social estão
imbricados aos anteriores, já que como já mencionado anteriormente tais áreas
são vistas como receptivas para atração de marginais, traficantes e outros
problemas sociais.
Conforme Solismar, “é mister entender o que
representa uma friche industrielle no espaço urbano, pois
embora represente e seja vista como problema, na verdade são resquícios de outro
período histórico e representam em muitos casos um patrimônio histórico a ser
preservado. Para isso devemos encontrar outras funções para estes espaços, pois
se há impedimento para que retomem sua atividade anterior, devemos ser
criativos e participativos como sociedade civil buscando uma nova atividade que
venha beneficiar aquela área circunvizinha sem descaracterizá-la, dar-lhe uma
nova função sem precisar destruir toda a estrutura existente como já ocorreu em
outras antigas indústrias da cidade do Rio Grande. Tais áreas podem abrigar
áreas residenciais, áreas que alojem outros equipamentos urbanos ligados ao
lazer assim como espaços verdes e que sirvam como receptáculo para eventos
culturais. Isso representa não somente uma valorização do espaço de uso para
população, mas também dar à cidade novas funções que aproximem mais as pessoas
e façam com que a vivência urbana tome as ruas novamente, algo que tem andado
no esquecimento nos últimos tempos, quando a rua é vista mais como lugar de
passagem do que de encontro”.
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